segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A CULPA / DEN SKYLDIGE / THE GUILTY (2018) - DINAMARCA


NOSSO COMPORTAMENTO É RESULTADO DE NOSSAS AÇÕES

Asger Holm (Jakob Cedergren) é um policial temporariamente designado para o serviço de emergência que atende várias ligações de socorro, onde avalia a gravidade ou não da situação até que recebe um telefonema desesperado de Iben (voz de Jessica Dinnage), uma mulher que está sendo sequestrada em um carro. Toda trama do filme se passará em duas salas, através de uma série de telefonemas.



A grande sacada do filme está em: colocar um personagem com alguns pouquíssimos coadjuvantes em duas pequenas salas, em tempo real, com um roteiro extremamente criativo e com camadas que vão emergindo de acordo com que a narrativa avança; ter um diretor (Gustav Möller em sua estreia) com um timing preciso na colocação das cenas certas agregadas às emoções certas; uma montagem dinâmica, algo raro para o tipo de filme (europeu), que prende o espectador do primeiro ao último minuto; um design de som elaborado a cargo de Oskar Skriver (essencial para o que se propõe, dando veracidade às cenas) e um ator cuja a presença cênica foi fundamental para o filme funcionar. Um filme muito difícil para o ator, porque suas expressões faciais quase que preenchem toda a tela e ter que reagir de acordo com as sucessões de eventos, passando para o espectador, o que ocorre do outro lado da linha, é para poucos. E quando no cinema a fórmula "menos é mais" funciona, sabemos que estamos diante de uma produção diferenciada.

O roteiro (de Moller e Emil Nygaard Albertsen)  nos diz pouco e funciona muito bem exatamente por nos revelar esse mínimo necessário. Sabemos que Asger foi afastado, mas não sabemos o motivo. Percebemos o seu descontentamento com a função e que seu atendimento telefônico vem precedido de suas crenças e valores acerca das pessoas com que lida nas ruas. Surge Iben. Surge o desespero. Asger está perto do final do expediente. O dia seguinte será crucial para a continuidade de sua carreira, mas ele resolve ficar. O que o impele a ajudar aquela pessoa quebrando o protocolo de apenas repassar a informação para os oficiais de campo?  A fazer o que seja o certo? Quais são suas motivações?  As percepções acerca de Asger são (apenas um pouco) perceptíveis ao espectador, pois este o vê. O que torna tudo ainda melhor é percebermos que o que ocorre na linha telefônica  nos emociona  tanto quanto o que ocorre na cabeça de Asger nos intriga, em um roteiro que parece estar contando uma historinha comum , mas que cresce a cada momento. Aliás, como regra da maioria dos filmes europeus, o final é sempre algo que incomoda o povo do lado de cá que, em sua maioria, deseja tudo bem mastigado.



Trazer o espectador para dentro do filme é algo para poucos e aqui nos sentimos ao lado do protagonista. Enquanto ele tenta desvendar os acontecimentos e tomar as melhores decisões sobre pressão, ao espectador também não lhe é dado tempo para conjecturar muita coisa. O filme não mostra as cenas que acontecem paralelamente, como na maioria, reduzindo expectadores a passivos. Aqui você sabe o que o protagonista sabe. Você só pode imaginar, reunir informações e tentar acompanhar a velocidade dos acontecimentos. Asger não tem tempo para teorias. O tempo é seu segundo maior inimigo. O primeiro está dentro do carro, da qual busca identificações para o salvamento, permitindo que o espectador seja um participante ativo, que descobre a trama pouco a pouco, desvendando as personalidades dos envolvidos, com uma incrível sutileza e, por isso, muitas pessoas passam a amar o filme. Afinal cinema não é apenas o que se passa na tela, é também o que se desenrola na mente do público e, imaginação,  é raramente solicitada ao público de cinema nos dias atuais.

Trailer:




Curiosidades: 

A cena onde Asger coloca aspirina no copo remete ao filme "Taxi Driver" com Robert De Niro;

Representante da Dinamarca no Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro;

O ator Jakob Cedergren  é sueco. 


Cartazes:
 






















Premiações:
Baltic Debuts Film Festival 2018
Camerimage 2018
International Film Festival & Awards Macao 2018
Jameson CineFest - Miskolc International Film Festival 2018
Montclair Film Festival (MFF) 2018
National Board of Review, USA 2018
Philadelphia Film Festival 2018
Rotterdam International Film Festival 2018
Seattle International Film Festival 2018
Stony Brook Film Festival 2018
Sundance Film Festival 2018
Thessaloniki Film Festival 2018
Torino Film Festival 2018
Valladolid International Film Festival 2018
Washington DC Filmfest 2018
Zurich Film Festival 2018 


Fontes:
The New York times
The Guardian

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