“QUANTAS INJUSTIÇAS SE COMETEM EM NOME DA JUSTIÇA”
Cidade
de Araguari, interior de Minas Gerais, 29 de novembro de 1937,
Benedito Pereira Caetano, sócio dos irmãos Joaquim (Juca de Oliveira) e Sebastião
Naves (Raul Cortez) vende um carregamento de arroz, que trouxera para a
cidade, por uma quantia vultuosa de 90 contos e 40 mil réis (era época
dos réis). Em tempo atuais, mais de duzentos mil reais. Benedito hospeda-se na
casa do primo Joaquim e, durante uma festa, vai embora da cidade sem avisar a
ninguém. Com medo do desaparecimento do primo, que levava consigo o dinheiro e
o medo de que sofrera algum ataque, os irmão Naves vão a delegacia prestar
queixa.
Entra em cena o tenente (na função de delegado) da polícia Francisco Vieira dos
Santos (Anselmo Duarte). Este resolve elucidar o caso da forma mais improvável
possível: atribui a culpa aos irmãos acreditando que estes roubaram Benedito e
que deram uma falsa queixa de desaparecimento, mesmo com o depoimento de um
homem chamado Zé Prontidão que teria falado com Benedito e que seu patrão teria
dado um emprego ao desaparecido por três dias. Com isso, inicia uma série de
intimidações às testemunhas para que deponham ou mudem seus depoimentos de acordo
com o que acredita ter acontecido. Os irmãos e seus parentes são torturados,
inclusive a mãe dos acusados. As esposas são vítimas de tentativa de estupro e
assassinato de seus filhos de colo. O filme poupa o espectador das reais
agressões.
Enquanto
estão presos, os irmãos são torturados de várias maneiras. Levados a locais
ermos (no campo), sofrem novas torturas. Finalmente, um dos irmãos resolve
confessar, imaginando seu irmão morto pelos algozes e pela exaustão de seu
corpo diante das agressões.
Entra em cena o advogado João Alamy Filho (John Herbert) que tenta de todas as
maneiras retirar os irmãos da cadeia, porém tendo seus pedidos de Harbea Corpus
negados. Quando o julgamento absolve os acusados, um novo recurso é impetrado
anulando o anterior. Novamente os irmãos saem vencedores e, mesmo assim, a
justiça resolve determinar a sentença: 25 anos. 15 anos depois, o aparecimento
de Benedito Caetano dá uma reviravolta no caso que ficou conhecido como "o
maior erro judiciário do Brasil".
Os
fatos narrados acima são de autoria da produção do filme, baseado no livro de
João Alamy Filho, que teria se baseado em sua história e nos autos do processo.
O filme é de 1967 e o período é 1937, época do Estado Novo de Getúlio Vargas
(10/11/37 a 29/10/45). Um período de ditadura e supressão dos direitos civis.
Neste conturbado período se encaixa a história dos Naves .
O caso dos Irmãos Naves é uma tradução às telas, de uma forma mais branda, de
como homens inocentes e seus familiares sofreram torturas horríveis e deploráveis,
lhes sendo negado qualquer investigação prévia séria. Mesmo clamando por
inocência, sua vozes foram sufocadas e seus corpos mutilados até que seus
espíritos foram vencidos pelo sentimento de desespero e obrigados a assinarem
uma confissão fantasiosa. O filme é um líbero contra as injustiças. Um grito de
liberdade daqueles que são inocentes, mas não podem prová-lo e que acabam
cedendo a culpa para não mais sofrerem.
O
filme, apesar de ser da década de 60, possui ainda hoje uma força incrível
tanto em sua direção de Luís Sérgio Person como na atuação do quarteto
Juca de Oliveira, Raul Cortez, Anselmo Duarte e John Herbert. Sem dúvida
a escolha para os papéis foi mais do que acertada o que deu uma força adicional
ao filme. O filme possui cenas de torturas, tribunal e narração em off. A
alternância entre filme e documentário, devido a sua narrativa, deu o crédito
que a produção precisou.
É uma crítica ao totalitarismo que julga e
condena sem provas. Um período que a juventude atual só conhece dos livros de
história e uma boa oportunidade para conhecer um filme brasileiro de primeira
linha e os costumes da época.
Reportagem do programa Linha Direta de 2003:
Curiosidades:
O filme venceu o festival de Brasília de 1967 nas categorias: Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante (Lélia Abramo) e concorreu no Festival Grand Prix de Moscou.
O filme venceu o festival de Brasília de 1967 nas categorias: Melhor Roteiro e Melhor Atriz Coadjuvante (Lélia Abramo) e concorreu no Festival Grand Prix de Moscou.
Francisco Vieira dos Santos morreu de derrame 4 anos antes do encontro de Sebastião com Benedito.
Três meses da morte de Francisco Vieira, Joaquim Naves morre em um asilo, debilitado, em virtude das torturas.
Benedito alegou ter sido roubado e que fugiu por não ter como pagar as dívidas contraídas, além de não saber do caso, mas trocou de nome de modo oficial.
Benedito
foi preso. Sua mulher e os dois filhos, que moravam em Goiás, foram
convocados para depor sobre o caso, mas o avião caiu matando todos. Benedito
foi solto, desapareceu e não mais foi visto.
Em 1958 a mães dos irmãos naves, Dona Ana Rosa foi eleita a mãe do ano ganhando um colar de pérolas da então mulher de Juscelino Kubitcheck, sara Kubistechk.
Em 1960 o Estado de Minas Gerais foi condenado a pagar uma indenização
Raul
Cortez (1932-2006) faleceu aos 73 anos vítima de câncer
Anselmo
Duarte (1920 -2009) faleceu aos 89 de AVC hemorrágico. Anselmo foi o único
diretor brasileiro a ganhar a Palma de Ouro no festival de Cannes. em 1962.
pelo filme "O Pagador de Promessas".
John
Herbert (1929 -2011) faleceu aos 81 anos vítima de Enfisema Pulmonar
Houve
uma moda de Viola intitulada "Erro Judiciário" de Sulino e Antônio
Carlos que canta o episódio ocorrido. Esta versão é da dupla Leyde e Laura para
o extinto programa da Tv Cultura "Viola Minha Viola."
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