segunda-feira, 23 de maio de 2022

SCANNERS: SUA MENTE PODE DESTRUIR / SCANNERS (1981) - CANADÁ


CONFRONTO PARANORMAL

Uma corporação chamada Consec Corporation pesquisa pessoas com percepções extrassensoriais fora do comum. Em uma de suas salas de segurança, uma experiência ultrassecreta com um "Scanner" mostrará seus poderes psíquicos a uma selecionada plateia. Um voluntário é solicitado e suas mentes se interligam. De repente, o Scanner começa a apresentar dores e fortes convulsões passando a ser controlado pelo voluntário que literalmente explode sua cabeça. O voluntário é detido, mas consegue fugir. A Consec então descobre que uma companhia rival também vem utilizando os poderes de Scanners. Com a segurança quebrada e seu programa em perigo, a  corporação deve encontrar uma saída e o Dr. Ruth, um de seus especialistas, resolve capturar e recrutar um poderoso e desconhecido Scanner para se infiltrar e combater a organização criminosa: Cameron Vale (Stephen Lack), que vaga pelas ruas como  mendigo.

10 segundos a dor começa; 15 segundos você não respira; 20 segundos você explode, assim dizia o cartaz promocional do filme “Scanners: Sua Mente Pode Destruir”. A história do filme nos diz que nos anos 40 uma poderosa droga experimental chamada Ephemerol foi criada para amenizar os sintomas da gravidez. Só que o tranquilizante produzia um efeito colateral até então desconhecido: bebês nasciam com poderes telepáticos e telecinéticos. E dos 4 bilhões de habitantes no planeta, 237 cresceram e se tornaram Scanners, pessoas aparentemente normais, capazes de subjugar e até destruir seus adversários com a força de suas mentes. Alguns desses, secretamente, usam os dons para tentar viver em harmonia consigo mesmos e com o próximo, outros passaram a integrar um grupo liderado pelo mais poderoso Scanner conhecido: Darryl Revok (Michael Ironside), que arregimenta e lidera Scanners com intuito de criar uma nova sociedade.

Primeiro grande sucesso comercial do canadense David Cronenberg. Scanners, um dos filmes de horror mais originais da época é bem mais do que apenas cabeças explodindo e o uso de elementos pictóricos para impressionar o público. Há uma discussão sobre os limites éticos da ciência ao criarem pessoas com telepatia induzida artificialmente e o dom de destruir usando apenas a força do pensamento, assim como uma analogia a destruição da democracia pelo controle totalitário das mentes. Em determinado momento do filme, podemos ver o cartaz de “Metrópolis” de Fritz Lang. Também uma analogia de uma sociedade divida em classes onde os scanners usufruiriam das mordomias vivendo no alto e o resto da humanidade trabalhando como escravos autômatos abaixo? Seria esse o objetivo de Revok?

Recomendado para pessoas não impressionáveis, possui efeitos especiais explícitos que ainda hoje impressionam unidos a atores e trilha sonora com o intuito de causar um clima aterrador, mesmo que a lógica e a fragilidade dos conceitos apesentados pelo filme não suportem uma análise mais criteriosa. A sua finalidade é assustar e, na época, realmente conseguiu o seu intento. O filme foi produzido de forma independente (através de investidores canadenses) e o diretor estava escrevendo o roteiro enquanto filmava, então muitos dos atores não estavam bem certos do que estava acontecendo o tempo todo. E ter $4 milhões a disposição não era algo absoluto, havia muitos custos ocultos que esgotavam o orçamento como encargos financeiros, valores de seguros e outras despesas que diminuíam o valor bruto adquirido como na maioria das produções. Mas os anos oitenta estavam à procura de bons roteiros, novidades e efeitos especiais impressionáveis. E Cronenberg tinha os três. Faltava fazer o filme funcionar.

Scanners não foge a batida fórmula do bem versus o mal. Sabemos que Vale representa o bem e que Revok representa o mal. Só não sabemos, assim como Vale, que há algumas surpresas no caminho do nosso herói que surge em cena inicialmente como um pária da sociedade. E as perguntas, aos poucos, começam a ser respondidas de acordo com que Vale se insere em um grupo de Scanners, sem saber que ele os exporá de maneira mortal. Vale começa a ir fundo em sua investigação, arruma um amiga Kim Obrist (Jennifer O'Neill) a lhe ajudar, descobre um artista, Benjamin Pierce (Robert A. Silverman), que conseguiu controlar as dores e vozes internas que todos os Scanners sentem (e que Revok tentou solucionar de um modo pouco ortodoxo). O Dr. Ruth parece ter desenvolvido uma droga capaz de anular os poderes desses seres e lhes dar uma vida normal, mas nem todos veem como algo positivo, pois aceitar a ajuda de Ruth ou de Vale é ir contra Revok e este prefere destruir aqueles que não o seguem. O que Vale e Ruyth não conseguem descobrir é que como Revok conseguiu entrar na corporação,  na sala de segurança da Consec e matar um Scanner de forma assustadora durante a já comentada experiência. E uma pergunta permanecerá até o final do filme: Vale é, afinal, mais forte do que Revok? O final nos revelará algumas surpresas bem interessantes. 

Stephen Lack faz um Cameron Vale inicialmente hesitante, que vai ganhando determinação, mas não consegue entender como escapou várias vezes de ser executado pelos homens de Revok. E, na verdade, Revok sabe mais sobe o passado de Vale do que ele próprio. Michael Ironside esteve ótimo como vilão e se o filme consegue funcionar é graças a sua atuação. Jennifer O'Neill é outra que se destaca, sua personagem entra aos poucos na estória e passa a ser a ajuda que Vale precisava para enfrentar Revok, mesmo com medo de Revok e reticente quanto as possibilidades de Vale que começa a demonstrar ser mais forte do que até então aparentava. Patrick McGoohan (de Coração Valente) faz o Dr Ruth que deseja uma redenção e deter Revok, procurando fazer com que os Scanners, até então ocultos do conhecimento da maioria das pessoas, recebam sua nova substância e se adaptem ao mundo, mas o que ele descobre é algo bem nebuloso para o futuro da humanidade.

“Scanners Sua Mente Pode Destruir”, lançado no início dos anos 80, apesar da violência para a época e efeitos especiais a cargo de Dick Smith ("O Exorcista", "Viagens Alucinantes", "Amadeus"); Chris Wallas ("Gremlins", "Inimigo Meu", "A Mosca") e Gary Zeller ("Horário de Visitas", "O Último Dragão" e "Amityville 2"), considerados “gosmentos e asquerosos”, marca registrada do diretor para vários de seus filmes, fez sucesso e fixou a marca de Cronenberg no meio possibilitando dirigir filmes como: “Videodrome: A Síndrome do Vídeo”, “Na Hora da Zona Morta”, “A Mosca”, “Gêmeos - Mórbida Semelhança”, “Crash: Estranhos Prazeres”... Hoje, muitos consideram o filme como Trash, mas, na verdade, é uma obra original que mostrou ao mercado cinematográfico que havia público para filmes com temas diferentes do tradicional no gênero terror e horror. Atualmente sua violência não assusta mais, pois há muito o cinema amplificou essa questão e a banalizou. A dublagem original deixou a desejar, principalmente nas cenas em que os pensamentos dos Scanners vem à tona. Teve duas sequências diretas: "Scanners II- A Força do Poder" (1991) e "Scanners III - O Duelo Final" (1992) e dois derivados: "Scanner Cop - O Destruidor de Mentes" (1994)  e "Scanner Cop II ou Scanners: The Showdown" (1995). Nenhum desses com o envolvimento de Cronenberg.


Trailer (contém cenas fortes e spoiler):


Curiosidades:

David Cronenberg uma vez chamou este o filme mais frustrante que ele já fez. A produção do filme foi apressada - as filmagens tiveram que começar sem um roteiro finalizado e terminar em cerca de dois meses para que o financiamento se qualificasse como uma anulação de impostos, forçando Cronenberg a escrever e filmar ao mesmo tempo. Cronenberg também citou dificuldade e antagonismo entre os protagonistas, particularmente Patrick McGoohan e Jennifer O'Neill.

O romance de 1959 de William S. Burroughs "Naked Lunch" contém um capítulo sobre "Senders", uma organização hostil de telepatas empenhados em dominar o mundo, uma clara inspiração literária para este filme. Cronenberg dirigiria mais tarde uma versão cinematográfica de Mistérios e Paixões (1991).

Stephen Lack - anunciado como Steven Lack - que interpreta Cameron Vale, agora é um pintor de sucesso.

A droga efemerol tem uma estranha semelhança com o escândalo da vida real no final da década de 1950, quando mulheres que tomaram talidomida durante a gravidez (comercializada como alívio para enjoos matinais)

Robert A. Silverman, que interpreta o artista/scanner Benjamin Pierce, também aparece em Enraivecida na Fúria do Sexo (1977), Os Filhos do Medo (1979), Mistérios e Paixões (1991) e Existenz (1999), de David Cronenberg.

De acordo com Michael Ironside, a cabeça falsa na famosa cena da Explosão da Cabeça estava cheia de fígado de galinha e comida de cachorro.

As linhas "Eu posso ouvir-me", "Eu acho que estou um pouco com medo" e "Eles estavam me afogando" são sampleados para a faixa "Among Myselves" no álbum "Lifeforms" do The Future Sound of London.

O filme foi orçado em US$ 4 Milhões e arrecadou mais de US$ 14 Milhões


Cartaz:











Filmografia Parcial:

Stephen Lack



Head On (1980); Scanners: Sua Mente Pode Destruir (1981); Inocência Fatal (1984); Gêmeos - Mórbida Semelhança (1988);Ernstfall in Havanna (2002) 

 

Michael Ironside






Scanners - Sua Mente Pode Destruir (1981); Horário de Visitas (1982); Caçador do espaço: Aventura na Zona Proibida (1983); V: A Batalha Final (Minissérie 1984);  V: Os Extraterrestres no Planeta Terra (serie 1984-1985); A Traição do Falcão (1985); Top Gun: Ases Indomáveis (1986); O Limite da Traição (1987); Baile de Formatura 2 (1987); Noite dos Reféns (1988); O Limite do Terror (1988); Condenado Pela Memória (1989); O Vingador do Futuro (1990); Highlander II: A Ressureição (1991); Dívida de Sangue (1991); Expresso para Neon City (1991); Psicose Mortal (1992); Howard & Anita - Jovens Amantes (1992); Liberdade em Nome da Lei  (1993); Armadilha Noturna (1993); Free Willy (1993); Um Pai Fujão (1993); Fazendo Justiça  (1994); Jornada Mortal (1994); Karatê Kid 4: A Nova Aventura (1994); Escorpião Vermelho 2 (1994);  A Máquina Mortal (1994); Os Jovens Cavaleiros da Távola Redonda (1995); SeaQuest (seriado 1995-1996); Tropas Estelares (1997); Possuído pelo Ódio (1999); Omega Code (1999); Mar em Fúria (2000); O Elevador da Morte (2001); Colheita Maldita 7: A Revelação  (2001); Próxima Vítima (2001);  Contagem Regressiva (2001); Velocidade do Vento (2003); O Operário (2004) Pânico no Deserto (2005); A Guerra dos Vampiros (2005); No Topo do Mundo (2005); Abduction of Jesse Bookman (2008) O Assassino do Alfabeto (2008);  O Exterminador do Futuro - A Salvação (2009); Invasor de Mentes (2009); Eva (2010) Operação: Salvem os Golfinhos (2010); Pânico no Lago 3 (2010); X-Men: Primeira Classe (2011); Soldados do Gelo (2013); Lutando por uma chance (2014); Children of the Fall (2016); O Enviado Do Mal (2017); Sozinho com o Inimigo (2018); Sedenta de Sangue (2020); Segredos de Família (2020); Anônimo (2021); Dracula: The Original Living Vampire (2022)

Patrick McGoohan (1928–2009)







Trinta Homens e uma Mulher (1955); Zarak (1956); O Vale das Mil Montanhas (1958); Noite Insana (1962); Escravo de uma Obsessão (1962); O Cavaleiro da Máscara Negra (1963); The Prisoner (seriado 1967-1968); Estação Polar Zebra (1968); Mary Stuart, Rainha da Escócia (1971); Trinity e seus Companheiros (1975); O Homem da Máscara de Ferro (1977); Alcatraz: Fuga Impossível (1979); Scanners: Sua Mente Pode Destruir (1981); Baby, o Segredo da Lenda Perdida (1985); Coração Valente (1995); O Fantasma (1996); Tempo de Matar (1996); Hysteria (1997)


Jennifer O'Neill







Um Homem para Ivy (1968); Rio Lobo (1970); Houve uma Vez um Verão (1971); A Reencarnação de Peter Proud (1975); O Inocente (1976); Premonição (1977); Força Destruidora (1979); Ases do Céu (1980); Scanners: Sua Mente Pode Destruir (1981); Retrato Falado (seriado 1984-1985); Encontros Fatais (1990); Anjo Selvagem (1992); Anjo Selvagem (1995); Escalada do Poder (1997); A Jornada: Uma Viagem pelo Tempo (2002); Doonby: Todos Tem o Direito de Viver (2013); Uma Vida com Propósito (2016)


Fontes:

Revista Starlog

Revista Cinevideo

Revista Set Cinema & Vídeo

Jornal do Brasil

Jornal O Globo

The New York Times

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