segunda-feira, 2 de maio de 2022

O INCRÍVEL HOMEM QUE ENCOLHEU / THE INCREDIBLE SHRINKING MAN (1957) - ESTADOS UNIDOS

“TÃO PROXIMOS... O INFINITESIMAL E O INFINITO ... PARA DEUS, NÃO EXISTE ZERO .... EU AINDA EXISTO”

O casal Scott Carey (Grant Williams) e Louise Carey (Randy Stuart) estão de férias em um pequeno barco ao largo da costa da Califórnia. Enquanto a esposa está no interior do barco, Scott percebe uma estranha nevoa que se aproxima rapidamente terminado por envolve-lo. A dupla acredita que não tenha sido nada demais apesar de Scott parecer ter ficado com o corpo cheio de estranhas partículas.


As semanas passam e Scott começa a perceber que a roupas parecem ter sido danificadas na lavanderia visto que parecem ter esticado. Sua esposa acredita que ele talvez possa ter perdido peso. Scott vai até o médico e se assusta quando este lhe informa sua altura. O médico, por não possuir seu histórico anterior, acredita que seu paciente esteve enganado sobre sua altura, mas as semanas passam e exames comprovam que realmente Scott está encolhendo, contrariando tudo que a medicina conhece.

Scott é direcionado a um instituto de pesquisa que faz dezenas de exames e conclui que algo mudou sua estrutura molecular fazendo com que o casal se recorde da estranha nuvem, ao mesmo tempo que os médicos dizem ter descoberto traços de um inseticida pulverizado na cidade que pode ter sido absorvido e contribuído para o agravamento. Uma antitoxina é descoberta e conseguem desacelerar o seu encolhimento. Tudo leva a crer que terá 1,10m o resto da vida, mas Scott descobrirá que a cura é temporária. 

O Incrível Homem que Encolheu para muitos faz parte do triunvirato dos grandes clássicos da ficção cientifica dos anos 50 junto a “Vampiros de Almas” (1956) e “O Planeta Proibido” (1956), particularmente colocaria nessa lista “O Dia em que a Terra Parou” (1951). O filme fez muito sucesso, mas dividiu opiniões quanto ao seu final considerado demasiado filosófico e religioso. Inclusive alguns críticos levantaram a discussão sobre o que seria conceitualmente um filme de ficção-científica e quais os parâmetros básicos para considerarem uma produção como tal. A verdade é que a estória , bem ao estilo “Além da Imaginação”, foi retirada do livro homônimo de Richard Matheson (1926–2013) conhecido por ter várias histórias adaptadas para o cinema: “A Última Esperança da Terra” / “Eu Sou a Lenda”; “A Casa da Noite Eterna”, “Em Algum Lugar do Passado” ... fora os diversos roteiros escritos para produções do cinema e TV. Mas Matheson, na época, discordou do final alegando que não era o publicado originalmente e o diretor Jack Arnold (1912–1992), ao longo dos anos, manteve a posição de que a ideia fora sua e que inclusive os estúdios tentaram impor um final  em que Scott crescia e retornava feliz ao braços da esposa. Jack (do clássico “O Monstro da Lagoa Negra”) bancou o final criticado como uma solução falsa, que parece puxar o filme de um plano para outro. Assistir a uma história de aventura fantástica com perigo físico por mais de uma hora e, de repente, ser subitamente confrontado com um monólogo filosófico que parece brotar do nada incomodou aos estúdios que lhe proporiam uma continuação tendo agora a esposa sofrendo secundariamente os efeitos e seguindo os passos do marido até encontrá-lo, mas Arnold nunca se interessou em gravar “The Fantastic Shrinking Girl”. Além disso, o desejo em relação a filmes de ficção científica de qualidade estava mudando, e o filme de Jack Arnold foi um dos últimos filmes de ficção científica inteligentes a ser feitos naquela década.

Os anos 50 não tinham os bons efeitos dos anos 80, imaginem os atuais, logo criatividade era primordial e o foco central era uma história densa que pegasse o espectador, mas se  você for daqueles que não aceitam as ousadas liberdades de criação quase tudo soará implausível. Para as primeiras cenas de encolhimento, o ator Grant Williams foi cercado por móveis de grandes dimensões, dimensionados para fazê-lo parecer um pouco mais baixo do que o normal. O uso de tela dividida também mostrava o contraste entre o reduzido Jack e as pessoas normais. A direção de arte criou um dos conjuntos superdimensionados mais incríveis de todos os tempos construído para um filme: pedaços de pães, uma tesoura, latas de tintas e café, carretéis de linha, agulhas, ratoeiras (quem viu o seriado sessentista “Terra de Gigantes” verá certa inspiração desta produção, não por acaso, eles alugaram adereços desse filme). Mas também houve problemas: o uso de “anões”, não funcionou sendo perceptível que eram pessoas “diminuídas” em cena (Jack disse que na cena do bar aparece, quando um homem chama a jovem de volta para o circo), mas o resultado ficou ruim. 


O humor mordaz permeia o filme: Scott sente-se humilhado em um casamento em que sua esposa inconscientemente começa trata-lo como se ele fosse seu filho; as cenas em que os médicos de Carey gentilmente o informam que seu problema é "perda gradual de nitrogênio, cálcio, fósforo"; ou quando o anel de casamento de Carey cai logo após sua esposa prometer que ela ficaria com ele enquanto ele a estivesse usando. 

O elenco é muito bom. Grant Williams dá vida ao personagem título de forma convincente e muito do filme funcionar deve-se a sua atuação ora melancólica, ora de resignação e também a luta de seu personagem pela sobrevivência minuto a minuto. Randy Stuart também funciona com a esposa que acredita que perdeu o marido em um trágico acontecimento. April Kent, como Clarice Bruce, tem uma participação bem interessante, mas foi prejudicada por uma técnica que não deu veracidade ao tamanho de sua personagem. Foi o seu penúltimo filme em uma curta filmografia.

Visto por alguns como uma analogia à sociedade conformista dos anos 50, “O Incrível Homem que Encolheu” nos leva a uma busca pelo significado e limites da identidade humana na qual Scott aprende sobre si mesmo, sobre a natureza humana, sobre a natureza do universo - o Infinitesimal e o Infinito, as duas extremidades do mesmo conceito - e como ele aceita seu destino. A maturidade de Carey vem somente quando ele é reduzido a menor das criaturas; quando transformado em um mero ponto entre outros pontos ele percebe sua pequenez frente ao criador, uma reflexão de que, mesmo em seu minúsculo estado de existência, ele ainda significa algo na estrutura geral do universo... um quebra-cabeças muito à frente de seu tempo


Trailer:


Curiosidades:

O livro de Richard Matheson foi escrito como uma série de flashbacks para que você entrasse no porão com Scott rapidamente. A Universal insistiu em uma história linear. Eles também vetaram sequências importantes, como Scott passando a noite com a anã, um bêbado que abusa de Scott, uma gangue de adolescentes que o aterroriza, e Scott se tornando um bisbilhoteiro, espionando secretamente uma babá adolescente. Estes foram rejeitados como muito arriscados para 1957.

Os técnicos de efeitos especiais foram capazes de criar gotas gigantes de água enchendo preservativos e soltando-os.

Orson Welles fez a narração do trailer deste filme.

Quando Louise está ao telefone, pedindo à telefonista um novo número não listado, o rádio está ligado e a música que toca no rádio é a música tema de Palavras ao Vento (1956), que foi feita na Universal no ano anterior a este filme, e também contou com Grant Williams.

Segundo o livro "It Came From Horrorwood", os produtores queriam Mara Corday para o papel de Louise Carey. Ela achou que era um papel "ingrato".

Neste filme, o nome do personagem principal é Scott. Em Homem-Formiga (2015), outro filme sobre um homem que encolhe ao tamanho microscópico, o nome do personagem principal também é Scott.


Cartaz:










Filmografia Parcial:

Grant Williams (1931–1985)







Onde Imperam as Balas (1956); O Covil da Desordem (1956); Palavras ao Vento (1956); O Incrível Homem que Encolheu (1957); Rastros do Espaço (1957); Lone Texan (1959); 13 Fighting Men (1960); Vaidade que Mata (1960); O Erro de Susan Slade (1961); Demência (1962); Hawaiian Eye (seriado 1960-1963); Gor, o Monstro Sanguinário (1971); Doomsday Machine (1972)


Randy Stuart (1924–1996)






Ama-Seca por Acaso (1948); A Noiva Era Ele (1949); A Malvada (1950); Ambição de Mulher (1951); Crimes Vingados (1956); O Incrível Homem que Encolheu (1957); Duelo ao Amanhecer (1958) e participação em vários seriados


April Kent (1935–1998)







Eu Vivi Antes (1956);  Curvas e Requebros (1956); O Incrível Homem que Encolheu (1957); A Flor do Pântano (1957)


William Schallert (1922–2016)







Doctor Jim (1947); O Homem do Planeta X (1951); A um Passo do Fim (1951); Rosa de Cimarron (1952); 3000 Anos Depois de Cristo (1952); O Herdeiro de Monte Cristo (1953); A Ilha dos Homens Sem Alma (1953); A Vingança do Monstro (1954); Fuga Heróica (1955); Onda de Paixões (1956); A Lei dos Brutos (1956); O Incrível Homem que Encolheu (1957); A Prisioneira do Kremlin (1957); A História da Humanidade (1957); Confidências à Meia-Noite (1959); Sua Última Façanha (1962); No Calor da Noite (1967); A Hora da Pistola (1967); ...E o Bravo Ficou Só (1967); James West (seriado  1967-1969); Colossus 1980 (1970); O Homem que Burlou a Máfia (1973); O Homem Mais Forte do Mundo (1975); Hangar 18 (1980); No Limite da Realidade (1983); Gremlins (1984); Viagem Insólita (1987); Beethoven 2 (1993); True Blood (seriado - 3 episódios 2008-2011)



Fontes:

Revista Cinefantastique

Revista Starlog

Revista Horrorland

4 comentários:

  1. Luís, td bem?
    Sim, assisti O Incrível Homem que Encolheu. Na minha casa, á noite, esperando meu pai e minha voltarem do trabalho. Fiquei muito tocado pelo sofrimento progressivo do personagem e acho que este filme é o que é hoje justamente pelo seu tom filosófico, contemplativo, uma porta aberta ao maravilhamento. E pela aceitação final do personagem, que abraça seu misterioso destino ( o nada? ). Rapaz, e olha que eu nem conhecia os elementos do átomo naquela época, faça uma idéia de suas subpartículas, que hoje se fala até em The Big Bang Teory. Putz…
    Veja, até ler esta sua crítica nunca tinha pensado pelo lado religioso da questão, “ aos olhos de Deus ainda continuamos existindo “. Muito bonito.
    Vou te confessar uma coisa: este filme me diz mais que 2001. Fui um herege agora?
    Tentarei revê-lo, vamos ver se encontro.
    Sou muito grato por trazer aqui mais essa boa lembrança.
    Mais uma vez, um abração!

    ResponderExcluir
  2. Olá Mario (seu comentário veio como anônimo)
    O Incrível Homem Que Encolheu infelizmente nos dias atuais atrai muito poucas pessoas, acredito que devido o seu título que pode subtender que seja uma produção trash, muito comum nesse período, fora que muitos consideram anos 50 "muito velhos" . Mas o filme é muito bom, um daqueles que começa despretensioso e quando vemos fomos pego por sua estória cheia de pequenos pontos de reflexão com analogias ao comportamento da sociedade, o comportamento da mídia e até a questão das relações. A questão filosófica e religiosa do filme foi um aspecto que me levou a trazer essa obra para um novo olhar de quem assistiu ou venha a assistir. A questão de 2001? Bem, são filmes diferentes com alguns poucos pontos coincidentes, mas duas obras bem significativas. Eu tentaria responder essa questão com uma analogia: qual é mais importante? O microscópio (O Homem que Derreteu) ou o Telescópio (2001)?. Ambas nos fornecem uma incrível visão de dois opostos e quanto mais tecnológico os equipamentos se tornam mais ampla será nossa visão de um novo mundo. Dois grandes filmes, duas grandes abordagens do ser humano e das vastidões. Filme é uma questão de identificação (ou não) com o que é nos mostrado, sempre haverá discordâncias, pois gostos são distintos, logo nada de errado gostar de "O Homem que Derreteu" mais do que o filme de Kubrick até porque há outros filmes que colheram minha simpatia mais do que 2001. O filme não é difícil de ser encontrado, o que posso dizer é que as versões dubladas (que via na TV) e a legendada são igualmente boas.
    Ah, recebi seu comentário anterior e agradeço as palavras de incentivo e as ideias propostas. Obrigado por sempre comentar. Um grande abraço.

    ResponderExcluir
  3. Que bom que recebeu meu comentário anterior. Pense com carinho.
    Seu texto está inspirado, gostei das analogias que vc usou. Ainda bem que vc se lembrou de O Incrível Homem que Encolheu e evidenciou os pontos reflexivos deste filme, uma daquelas muitas pequenas jóias que o tempo vai enterrando nas cinematecas do mundo. Torço que as minhas filhotas possam assistir comigo e a cabecinha delas vire como a minha virou.
    Vi também seu texto de O Dia em que a Terra Parou, um clássico absoluto, vou tentar comentar no espaço adequado.
    Tudo de bom!

    ResponderExcluir
  4. Olá Mario.
    O filme não poderia ficar de fora de uma análise pelos motivos que abordamos nos comentários. Acredito que com a sua visão e conhecimento da vida a percepção delas se amplificará e as ajudará em seu crescimento intelectual.
    Um bom filme é sempre enriquecedor. Não tenho nada contra o "cinema junkie food" que hoje dominou as telas. Alguns passatempos são bem interessantes e você já deve ter visto alguns por aqui (talvez nem tão interessantes assim rsss). Estou dando mais ênfase nesse momento a filmes reflexivos, mas vou colocar filmes populares ( e também mais atuais) porque sei que é o que a maioria das pessoas gosta. É antes de tudo muito divertido analisar filmes e colocar minhas impressões. É algo que faço com prazer. Algumas análises fluem bem, outras nem tanto. É aquilo: 90 % de transpiração (leia-se leitura, pesquisa ... ) e 10 % inspiração (aquele momento que a gente para, olha o filme, volta e percebe algo que não tinha visto ou um novo olhar com mais experiência de vida) ou a falta de inspiração rsss. O Dia em que a Terra Parou é um daqueles filmes que vi quando criança e guardei na memória, até comprei o DVD há anos atrás. Esteja livre para fazer comentários por aqui, ou como você enviou anteriormente, ou pelo facebook ou até mesmo e-mail (muitos poucos mandam mensagem, mas eu repondo também. Só não publico o comentário quando há a solicitação da não publicação). Estou trabalhando na análise do filme "Os Gritos do Silêncio", um filme com material muito interessante, em breve postarei, mas tão logo identifico os comentários (as vezes não estou on line), eu publico e se puder respondo em seguida. Um grande abraço.

    ResponderExcluir

Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre