quarta-feira, 10 de março de 2021

MACGYVER: TESOURO PERDIDO DE ATLÂNTIDA / MACGYVER: LOST TREASURE OF ATLANTIS (1994) - ESTADOS UNIDOS

MACGYVER, SÓLON E ATLÂNTIDA

Angus MacGyver (Richard Dean Anderson) e seu outrora professor Atticus (Brian Blessed) estão em uma escavação arqueológica, até então desconhecida, na Grécia, onde descobrem um valioso medalhão que pode ter conexão com a mística cidade de Atlântida.  Cinco anos se passam e Atticus busca financiamento para uma expedição, na Universidade que leciona, mas suas teorias sobre a lendária cidade surgem mais como devaneios do que uma real possibilidade de estar no caminho certo para uma das descobertas mais incríveis do século XX.  MacGyver e Atticus viajam até os Balcãs onde descobrem uma urna que abrigaria a “Tocha da Verdade”, narrada pelo antigo filósofo Sólon, mas terminam por ser capturados. Após uma mirabolante fuga de volta para a Inglaterra, a dupla agora ajudados pela professora de arqueologia Kelly Carson (Sophie ward), utilizam o medalhão encontrado na Grécia para abrir o artefato. Quando o trio descobre que há um homem inescrupuloso atrás dos tesouros de Atlântida inicia-se uma corrida contra o tempo para descobrirem o local da tão procurada cidade.

Filmado na Inglaterra e na Grécia e tendo como produtor executivo o próprio Richard Anderson, “MacGyver: Tesouro Perdido de Atlântida” foi o primeiro de dois telefilmes feitos após “Profissão Perigo” (MacGyver, 1985-1992), que levou ao ar um total de 139 episódios na qual fez muito sucesso mundo afora apresentando um agente (uma perfeita antítese a James Bond) que resolvia seus casos com elementos do cotidiano como uma goma de mascar para consertar um fusível, a contrução de uma pequena bomba usando clip de papel, o uso de barras de chocolate para parar vazamento de ácido... Quem sempre achou tudo muito absurdo não sabe que John Koivula, diretor do Instituto Gemológico da América foi o consultor dos “macgyverismos”. Ao todo, Koivula ajudou a bolar 313 desses “macgyverismos”: 302 para a série e 11 para os dois telefilmes chegando a ser acordado de madrugada pela produção para explicar como se fazia explosivo com leite. “Se percebia que o truque oferecia qualquer risco de lesão, eu omitia detalhes importantes para evitar que os telespectadores o reproduzissem em casa” revela o consultor. Um programa que o herói abominava o uso de armas, usava sua inteligência contra a truculência para vencer os inimigos e, ao contrário de Indiana Jones, que usava o chicote, seu principal artefato de combate era um alicate suíço.

Já que estamos falando de Indiana Jones, não há como não percebermos que esta produção teve o enredo derivado dos filmes do icônico personagem: quando coloca a lente da máquina no lugar do medalhão; a urna que é uma miniatura da arca de "Os Caçadores da Arca Perdida", o vilão obrigando os personagens a enfrentar as armadilhas (A Última Cruzada) ... claro que sem a direção inspirada de um George Lucas e de um orçamento feito para o cinema, mas se você gostava do programa, com certeza vai simpatizar com o filme. Richard Dean Anderson revelou que após a série ser cancelada, a reação do público foi tanta que a rede televisiva ABC procurou a Paramount para a produção de seis telefilmes na qual ele concordou em fazer dois através de sua produtora Gekko Film Corp. Posteriormente, Anderson partiria para a ótima série Stargate (derivada do filme) em 1997 e criaria outro personagem que cativaria o público, saindo da série após algumas temporadas e aparecendo em seus spin-offs. Em 2013 o ator revelou ter se aposentado para se dedicar à família. Atualmente o ator está com 71 anos.

Apesar do filme ser autoexplicativo em sua narrativa (mesmo que necessariamente não utilize fatos totalmente verdadeiros, qual filme usa?) cabe alguns esclarecimentos para torná-lo mais interessante: Quando MacGyver e Atticus são capturado nos Balcãs  ou Península Balcânica precisamos saber que o ano da produção era 1994 (logo rodado entre 1992 e 1993). Nessa época essa região de aproximadamente 550 mil quilômetros quadrados virou um barril de pólvora com as guerras da Croácia (1991-1995), da Bósnia (1992-1995) e de Kosovo (1999). Logo podemos entender que os personagens estavam em uma porção desse território europeu em um desses momentos.

Quanto a questão central do filme, Sólon (638 a 558 a.C.) e “A Tocha da Verdade”, cabe alguns esclarecimentos: Sólon foi Governador de Atenas, nascido nesta cidade, estadista, legislador e poeta grego. Foi considerado pelos gregos como um dos sete sábios da Grécia antiga e fundador da democracia... Mas vamos para Atlântida. Recorrentemente citada em textos esotéricos, livros e filmes de aventura, Atlântida passou a fazer parte do imaginário popular, e o motivo desse mistério e popularidade deve-se ao filósofo grego Platão (427-347 a.C.) quando fez as primeiras referências em seus textos “Crítias e Timeu” escritos por volta de 360 a.C., descrevendo-a, entre outras qualidades, como sendo uma civilização rica, avançada e igualitária e que possivelmente ficaria além do que se chamava “Os Pilares de Hércules”, hoje conhecido como o estreito de Gibraltar. Essa informação teria surgido após o estadista ateniense Sólon viajar para o Egito e, na cidade de Saís, encontrar os sacerdotes da deusa Neith. Um desses, muito idoso, chamado de “Sônquis” ou “Sonchis de Saís” ou o “Saíta” (identificado posteriormente por Plutarco 46–120 d.C) lhe revelaria uma sociedade extremamente avançada que 9.000 anos antes (!!!) teria sido destruída por uma catástrofe. Solón teria ficado fascinado com a história, a tecnologia e a riqueza desse reino. (A partir daqui o texto é aberto a especulações). Com a ajuda dos egípcios tentou traduzir os manuscritos para o grego com informações sobre essa sociedade e teria mantido sua promessa aos sacerdotes egípcios de que nunca revelaria a verdadeira localização da Atlântida (um nome que talvez tenha sido inventado por Sólon ao traduzir para o grego). Seu manuscrito inacabado teria sido passado de geração em geração e em algum momento se tornado desconhecido. (Agora voltando aos fatos) A história ficou meio morta até que em 1627, o filósofo e cientista inglês Francis Bacon nos trouxe a publicação de um romance seu intitulado “A Nova Atlântida” e, em 1882, o ex-congressista norte-americano Ignatious L. Donnelly publicou "Atlantis: The Antediluvian World" que iniciou toda uma procura pelo continente perdido, cuja existência nunca realmente fora comprovada. Até porque em sua época Platão teria sido acusado de ter inventado a história para exemplificar uma sociedade moderna. Logo, o “Livro de Platina”, conforme o filme, escrito em 590 a.C e a busca pela “Tocha da Verdade” seriam uma “liberdade poética” dos realizadores.

Voltando ao filme, após essa necessária (ou não?) elucidação dos fatos podemos dizer que há momentos bem interessantes como a fuga da dupla dos Balcãs, bem ao estilo da série, mas há também buracos na estória como logo no início (como escaparam da armadilha na escavação?) e uma dúvida: porque Atticus levou cinco anos para convencer seus pares? O que fez nesse período? Mas a história ganha contornos de ação quando o trio parte para a busca da cidade e aventura perto do fim com um final ao estilo MacGyver de escapar das armadilhas mais perigosas. O elenco resume-se basicamente a uns seis atores, mas a produção bem cuidada até faz com esqueçamos esse detalhe.

“MacGyver: Tesouro Perdido de Atlântida” é um filme interessante que se mostra um bom divertimento para quem gostava da série e para quem curte filmes que abordem o “Mistério da Cidade Perdida”. A boa direção de Michael Vejar (diretor de vários seriados famosos entre 1979 e 2005), aliado a bons atores, com destaque para Anderson, à vontade no papel, e uma trilha sonora incidental agradável, valem a conferida.

 

Trailer:

 


Curiosidades:

Precedido por MacGyver: Julgamento Final" (1994)

A cena de estabelecimento da "Península Balcânica" é na verdade o interior da então abandonada Usina de Battersea, um marco icônico muito conhecido em Londres, Inglaterra.

O edifício usado para a "Universidade de Londres" é o Edifício do Fundador no Royal Holloway College, na Universidade de Londres em Egham, Surrey, na Inglaterra.

Quase no início, MacGyver e o professor escapam de um galpão usando um Land Rover propelido por um foguete. O grande edifício abandonado ao fundo é claramente a Central Elétrica de Battersea em Londres.

Esta é a terceira história em que MacGyver procura e encontra um artefato mitológico em uma caverna. Duas outras histórias formaram episódios na série de TV

Sophie Ward fez a jovem Elisabeth no filme "O Enigma da Pirâmide" (1985)


Tema de Abertura do Seriado:






 Brian Blessed em Flash Gordon (1980)








Sophie Ward em O Enigma da Piâmide (1985)








Richard Dean Anderson no Seriado Stargate







Richard Dean Anderson atualmente 








Cartazes:













Filmografia Parcial:

Richard Dean Anderson







General Hospital (seriado 1987 a 1991);  Médicos Loucos e Apaixonados (1982); Seven Brides for Seven Brothers (seriado 1982 a 1983); Apenas Heróis (1986); Cúmplice do Silêncio (1992); MacGyver - Profissão: Perigo (seriado 1985 -1992); O que os Olhos Não Vêem, o Coração Sente (1992); Macgyver: Tesouro Perdido de Atlântida (1994); Beyond Betrayal (1994); MacGyver: Julgamento Final (1994);  Legend (seriado 1995);  Firehouse (1996); Stargate SG-1 (1997-2007); Stargate: Atlantis (2004-2006); Stargate - Linha do Tempo (2008); Stargate: A Arca da Verdade (2008); Stargate SG-1: Children of the Gods - Final Cut (2009); SGU Stargate Universe (2009 -2010); Fairly Legal (seriado 2011)

Brian Blessed







Paixões Proibidas (1970); O Último Refúgio (1971); Henrique VIII e Suas Seis Esposas (1972); O Homem de la Mancha (1972); A História de Davi (1976); The Day After Tomorrow (1976); Flash Gordon (1980); Na Rota do Oriente (1983); Rivais de Sangue (1984); Os Últimos Dias de Pompéia (Mini-serie 1984);  Once in a Life Time (1988); Henrique V (1989); Robin Hood, o Príncipe dos Ladrões (1991); Conspiração na Rússia (1992); Muito Barulho por Nada (1993); Macgyver: Tesouro Perdido de Atlântida (1994); Seqüestrado (1995); King Lear (1999); A Safra do Diabo (2003); Alexandre (2004); Dia de Ira (2006); O Conclave (2006); Bruxos vs. Aliens (seriado 2012 -2013);  Katherine of Alexandria (2014); Robin Hood: The Rebellion (2018); The Apeman of the Amazon (2020)

Sophie Ward







Demônio Com Cara de Anjo (1977); Guardiões da Honra (1983); Fome de Viver (1983); O Mundo Fantástico de Oz (1985); O Enigma da Pirâmide (1985); Casanova, O Maior Amante de Todos os Tempos (1987); Uma História de Amor (1988); O Monge (1990); Perdidos no Tempo (1992); O Morro dos Ventos Uivantes (1992); Macgyver: Tesouro Perdido de Atlântida (1994); Bela Donna (1998); Ninguém Sabe Tudo (2003) Livro de Sangue (2009); Jane Eyre (2011); Picture Perfect Royal Christmas (2020); Swiperight (2020) e participações em seriados


Fontes:

IMDB

Variety

The L.A Times

The New York Times

Chicago Tribune

Wikipedia

History. com


3 comentários:

  1. Boa noite!
    Muito obrigada pela resenha.Também achei estranho esse salto de 5 anos na história.O "tesouro" do filme foi um murro no estômago pra quem pensa que arqueologia é só estar em busca de tesouro.Infelizmente a arqueologia só é contada mais na base da fantasia do que o que realmente é.É uma ciencia que existem metodologias,embasamento teórico.O cinema usa de licença poética pra mostrar o que fica bem aos olhos do público que é a fantasia a aventura ,Grécia e Egito.A realidade da arqueologia no Brasil é a cultura lítica,as produções ceramistas(peças ou artefatos feitas de barro)Muito produzidas pelos povos indígenas,as louças,porcelanas,garrafas do período pós Cabralino que são as culturas materiais produzidas pelos homens mais achadas em escavações arqueológicas aqui.Isso auxilia o arqueólogo a remontar o mais próximo possível como seria as sociedades pretéritas do nosso país.Será que esse tipo de produção conta com o auxílio de um profissional cientista no caso de um arqueólogo ou historiador?

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  2. Bom dia Fabiana.
    Sua considerações foram bem pertinentes e pontuais. Sem dúvida, o universo cinematográfico adora criar situações fictícias que, repetidas ad finitum, terminam por habitar o imaginário popular. A arqueologia é uma delas. A franquia Indiana Jones foi uma criou um personagem aventureiro, caçador de tesouros e relíquias que, como você bem exemplificou, destoa totalmente da vida real. As pessoas imaginam arqueólogos, paleontólogos ... de chapéu e chicote catando caveiras de cristais maias numa selva tropical ou em busca da Arca da Aliança em algum lugar do mundo. E há bons exemplos de como se muda uma história no cinema: No filme "O Expresso da Meia-Noite" pouco do que foi mostrado é real, inclusive houve um documentário mostrado na tv a cabo na qual o personagem real revela a sua estadia, não numa prisão, mas numa instiuição psiquiátrica e sua fuga bem mais tranquila de lá. "O Mistério da Passagem da Morte" (2008), já analisado por aqui, aproveita fatos reais e um mistério não solucionado para criar toda uma história especulativa que levará muitos a acreditarem no que está sendo narrado. "Projeto Filadelfia", também já analisado, baseado em um experimento realizado por Einstein (nunca realmente provado), aproveita e cria uma aventura no tempo. Sem falar nos filmes mitológicos como Fúrias de Titãs .... Na verdade sabemos que, muitas vezes, os "baseado em fatos reais" constituem uma porcentagem reduzida dos fatos, o restante (diálogos, personagens fictícios e fatos) é inserido para dar "maior dramatização". Por isso os documentários são mais fiéis, o que não impede que se aborde determinados fatos e se despreze outros mudando a percepção do espectador. Seja filme ou telefilme a visão sempre partirá daqueles que estão por trás das lentes e estes são contratados, muitas vezes, para criarem uma história que faça um sentido lógico para quem assiste e gere alto retorno financeiro. Afinal, cinema é fantasia como você bem explicou. Claro que há muitas produções que abordam com seriedade fatos e situações, assim como profissionais que levam um material o mais fidedigno possível às telas.
    Como filme de aventura, MacGyver ... é bem legal, mas se formos no aprofundar no que realmente é verdadeiro, pouco se sustenta. Quanto a questão se houve um consultor técnico, historiador ou arqueólogo, especularia que para esse telefilme houve um breve estudo e pesquisa de alguns aspectos para criar uma história e fazê-la funcionar. Muito obrigado por mais este comentário e volte sempre. Um grande abraço.

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  3. Mais uma vez eu agradeço sua boa vontade.Sempre preciso nas suas resenhas.
    Abraço.

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