terça-feira, 19 de outubro de 2021

O COLOSSO DE RODES / IL COLOSSO DI RODI (1961) - ITÁLIA / FRANÇA/ ESPANHA

BOM ESPETÁCULO, APESAR DA DISTORÇÃO DOS FATOS 

No ano 280 a.C, o herói de guerra grego Dario (Rory Calhoun),  após longo períodos de batalhas, resolve  visitar seu tio Lysippos (George Rigaud) na ilha de Rodes, no Mar Mediterrâneo. A data coincide com a inauguração da gigantesca estátua de Apolo (Hélios, o deus grego do sol) colocada pelo rei Xerxes na entrada do porto para servir de proteção contra piratas e exércitos inimigos. Dario fica fascinado por Diala (Lea Massari), filha de Carete di Lindo (Félix Fernández), idealizador da estátua. Durante um passeio com a jovem, termina encontrando uma passagem secreta no palácio que o leva diretamente a uma sala onde se encontra o comandante principal, Tiroo (Conrado San Martin), que busca secretamente um acordo com os fenícios e a deposição de Xerxes, permitindo que um exército inimigo entre na cidade e o coloque no poder. Enquanto isso rebeldes rodesianos, chefiados Peliocles (Goerge Marchal), planejam derrubar o rei Xerxes, visto como um tirano, trazendo a liberdade e a democracia que o povo tanto aguarda. Dario se percebe entre dois conflitos tendo que se aliar aos rebeldes para que a Grécia não seja vítima de futuros ataques.

O cinema sempre gostou de levar para as telas suas versões próprias de passados históricos ao criar novos personagens e situações, minimizando eventos e maximizando situações sem importância.   O Colosso de Rodes é um bom exemplo de como pode se contar de modo eficiente e convincente uma história sem necessariamente mostrar como estes fatos realmente ocorreram.  E há muitas coisas neste longa que não condizem com o que os historiadores descobriram ou registraram. A opção aqui foi criar um esqueleto da história e o restante preencher com a criatividade dos envolvidos. Quem, com isso, resolver adquirir conhecimentos históricos através de filmes pode ter a ingrata surpresa de se pegar falando inverdades, sendo contestado por quem resolveu pesquisar através de fontes mais confiáveis como livros e reportagens.  É bem verdade que a vida moderna nos permite pouco tempo para pesquisarmos se um filme é fiel à história ou não. Exemplos não faltam: Em Gladiador, os dois personagens principais nunca se encontraram e o “espanhol” nunca entrou em Roma. Em “O Patriota" houve uma discussão quando os ingleses reclamaram da glorificação de um personagem que em seus registros era um bandido sanguinário. Em “O Segredo de Beethoven” os historiadores apoiam que nunca houve uma “copista” que ajuda o personagem principal, e que em “Amadeus”, Saliere não teve relação com a morte de Mozart. Liberdades narrativas? A discussão sobre a indústria cinematográfica se permitir poder reviver visualmente períodos que outras gerações não conheceram e, deliberadamente, deixar de fora a confiabilidade histórica, com o intuito de gerar lucro comercial, é longa. Se por um lado diverte, pelo outro causa confusão na mente desses espectadores e os levam a ter um conhecimento deturpado dos fatos. Quantos espectadores conferem a real história por trás de um filme “baseado em fatos reais” ou de eventos históricos? Temos tempo para isso? Essa é uma das funções do blogs: buscar e elucidar, até onde for possível, essa dicotomia que separa realidade de ficção.

O Colosso de Rodes, no mar Egeu, foi uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo e teria aproximadamente de 32 a 34 metros de altura. A versão cinematográfica o apresenta com mais de 100 metros de altura. Uma das descrições mais aceitas seria de uma estátua cuja cabeça teria cabelos encaracolados com uma coroa com "raios" uniformemente espaçados de bronze ou de prata irradiando, de mãos separadas, empunhando na mão direita uma lança e na esquerda um caldeirão, com um arco e a flecha pendurados às costas. E vamos a outras breves inconsistências: Em 280 a.C terminaram-se os trabalhos de construção, mas a tragédia só ocorreu em 226 a.C (bem diferente do que o filme nos leva a crer); O monumento foi construído para comemorar a vitória dos gregos da ilha de Rodes contra o rei macedônico Demétrio I, que tentou invadi-la em 305 a.C; Carés de Lindos suicidou-se de desgosto após terminada sua obra; Nem o rei Xerxes I, nem o rei Xerxes II (Xerxes I era filho de Dario I – talvez daí a apropriação dos nomes) têm relação com Rodes; as guerras persas citadas no filme ocorreram um século antes, entre 492 e 449 a.C; a “Batalha de Isso”, da qual Dario diz ter participado, data de 333 A.c (na qual o rei macedônio Alexandre, o Grande venceu Dario III, rei dos persas.- Olha no nome Dario novamente!); a arena com carruagens é mais uma liberdade nessa Rodes pré-romana. Vou parar por aqui pois o texto ficaria gigantesco

Considerado o primeiro longa do cineasta Sergio Leone (em “Os Últimos Dias de Pompéia” houve uma codireção parcial) percebemos elementos bem interessantes quando ignoramos as liberdades acimas citadas: Leone fez uma homenagem a “Intriga Internacional” de Hitchcock, ao nos mostrar um homem comum (aqui o ateniense Darius) no centro da história, passando um curto período de descanso e jogado no meio de uma situação (aqui a guerra)  que ele certamente não desejava. Há também uma clara referência a luta de classes, assim como o uso da violência, um aspecto levado por Leone aos seus famosos “Faroestes Spagetthi”. A ironia, mostrada por Leone, encontra-se no fato de que, no final, nem Dario nem os rebeldes destruíram Tiroo e seus conspiradores e, sim, o terremoto que praticamente levou Rodes a escombros (fato real). A estátua não resistiu aos abalos e tombou. Seus destroços (não mostrados no filme) foram vendidos .

A época para a feitura do filme era propícia: tínhamos “Quo Vadis” (1951), “Os Dez Mandamentos” (1956),” Ben Hur” (1959) e “Spartacus” (1960). E os "Peplum" (subgênero de filme épico originário da Itália), também apelidado de “espada e sandália” (do inglês” sword and sandal”), estavam em franca ascensão com os filmes de heróis inverossímeis como os Hércules, Macistes, Ursos e Golias, entre outros. A diferença aqui é que “O Colosso de Rodes” veio com o  status de superprodução épica e percebe-se que foi feito com eficiência, o que permite um divertimento que agrada até os dias atuais.

Produção ítalo-franco-espanhola “O Colosso de Rodes” foi um filme massacrado pela crítica devido a sua salada histórica, mas que ganhou do público um reconhecimento de bom filme. Mesmo com um roteiro (co-escrito pelo diretor) desconexo, mas não ficcional, Leone manteve pulso firme e não deixou o bom ritmo escapar de suas mãos. Podemos entender o filme como um laboratório, onde Leone conseguiu pontos positivos e negativos. O Cineasta tem grande relevância na indústria, ao contrapor os faroestes clássicos americanos com seus faroeste “Made in Itália” que influenciaram toda uma geração. Sua aclamação viria com o filme “Era uma Vez na América”, exaltado por crítica e público.

 

Trailer:

 



Curiosidades:

Sergio Leone ainda era conhecido como assistente de diretores como William Wyler (Ben  Hur) e  Robert Wise (Helena de Troia)

O Colosso de Rodes tem uma duração total de 143 minutos, enquanto nas versões francesa e espanhola 127 minutos e 123 minutos respectivamente.

Um dos poucos filmes ambientados no período helênico, desde a morte de Alexandre, o Grande, até a ascensão de Roma como potência mundial.

Rory Calhoun, que estava na Itália para o papel-título em Marco Polo da MGM (1962), assumiu o papel principal de "Colosso" com apenas um dia de antecedência. Ele chegou inicialmente às 11h30 do primeiro dia em que deveria começar a filmar. De acordo com o biógrafo de 'Sergio Leone', Christopher Frayling, o primeiro dia de Calhoun incluiu uma queda acidental em uma piscina.

Durante a maioria de suas cenas, Rory Calhoun usa uma pulseira larga em seu braço esquerdo e a estende rigidamente coberta por uma capa. De acordo com o estudioso de Sergio Leone, Christopher Frayling e a viúva de Calhoun, o ator fez isso para esconder algumas tatuagens do século XX.

De acordo com 'Christopher Frayling', o conceito inicial de 'Sergio Leone para o Colosso era ter os braços cruzados e o rosto do ditador “Benito Mussolini”. Este conceito foi abandonado e substituído por Helios / Apollo.

O nome de batismo de Rory Calhoun  (1922–1999) era Francis Timothy McCown. O ator faleceu aos 76 anos em decorrência de um efisema e complicações de um diabetes

O nome de batismo de Lea Massari  é Anna Maria Massatani

O nome de batismo de Conrado San Martín era Higuera de las Dueñas. Faleceu aos 98 de causas não reveladas

O nome de batismo da atriz Mabel Karr (1934–2001) era  Mabel Campolongo Jaime. Foi casada com o ator Fernando Rey ("Operação França" e "Esse Obscuro Objeto de Desejo") até o falecimento deste em 1994. Mabel faleceu aos 66 anos em decorrência de uma infecção


Algumas representações do que teria sido o Colosso de Rodes





Cartazes:













Filmografia Parcial:

Rory Calhoun  (1922–1999)







A Casa Vermelha (1947);  A Ilha da Maldição (1947); Rio Sangrento (1949); Resgate de Honra (1940); Um Homem e sua Alma (1951); Ao Cair do Pano (1951); Meu Coração Canta (1952); Honra Sem Fronteiras (1953); O Rio das Almas Perdidas (1954); Dinastia do Terror (1954); Perdoa-me, Amor (1955); O Tesouro de Pancho Villa (1955); Rastros da Corrupção (1955); Onda de Paixões (1956); Onde Imperam as Balas (1956); Voo para Hong Kong (1956);  Roubo Audacioso (1957);  A Lei do Oeste (1957); Meu Sangue Por Minha Honra (1958); The Texan (seriado 1958 -1960); O Colosso de Rodes (1961); O Segredo de Monte Cristo (1961); Marco Polo (1962);  O Revólver é a Minha Lei (1963); A Vingança do Foragido (1964); Saraivada de Balas (1965); O Pistoleiro de Esporas Negras (1965); A Rebelião dos Apaches (1965); O Jogo dos Espiões (1966); A Noite dos Coelhos (1972); Na Estrada com Muito Amor (1979); Motel Diabólico (1980); Anjo - Inocência e Pecado (1983); Anjo Vingador (1985); O Inferno Chega a Frogtown (1988); Bad Jim - A Fúria do Oeste (1990); Coração de Cowboy (1992)


Lea Massari  







No Limiar da Realidade (1957);  Ressurreição (1958); A Aventura (1960); Um Dia de Enlouquecer (1960); O Colosso de Rodes (1961); Uma Vida Difícil (1961); O Elevador da Morte (1962); Os Heróis Também Matam (1962); Terei o Direito de Matar? (1964); Esses Italianos (1965); O Jardim Das Delícias (1967); Procurado Vivo ou Morto (1968); As Coisas da Vida (1970);  Céleste (1970); Sopro no Coração (1971); O Homem que Surgiu de Repente (1972); A Primeira Noite de Tranqüilidade (1972); Ange, O Gangster (1973); História de uma História de Amor (1973); Medo Sobre a Cidade (1975); Ensina-me a Roubar (1977); Antonio Gramsci Os Dias Do Cárcere (1977); Os Encontros de Anna (1978); Cristo Parou em Éboli (1979); Sarah (1983); Viaggio d'amore (1990)


Georges Marchal (1920–1997)







Luz de Verão (1943);  O Demônio de Paris (1943); Noite de Alerta (1945); Torrentes de Paixão (1947); História de um Pecado (1947); Pompéia, Cidade Maldita (1950); Mercado de Amor (1951); Os 7 Anões Contra o Príncipe Negro (1951); Messalina, a Imperatriz do Vício e do Pecado (1951); Les 3 Mousquetaires (1953); Teodora, Imperatriz de Bizâncio (1954); 18 Horas de Escala (1955); Ela Sabia Demais (1955); Uma Aventura de Gil Blas (1956); A Morte no Jardim (1956) ;  A Revolta dos Gladiadores (1958);  O Escudo Romano (1959); Romances no Inverno (1959); As Legiões de César (1959); Tormenta Sobre o Rio Amarelo (1960); Com Sangue se Escreve a História (1960); O Colosso de Rodes (1961); Ulisses Contra Hércules (1962); Il naufrago del Pacifico (1962); A Guerra Secreta (1965); Os Guerreiros (1966); A Bela da Tarde (1967); Via Láctea (1969); Uma Lágrima... Um Amor... (1972); Roméo et Juliette (1973); Sept hommes en enfer  (1981); Cinq-Mars  (1981); Le coeur cambriolé (1986)

Conrado San Martín (1921–2019)







Los últimos de Filipinas (1945); Dulcinea (1947); Delírio de Amor (1948); Pacto de Silêncio (1949); La forastera (1952); Lo que nunca muere (1955); Faustina (1957); A Revolta dos Gladiadores (1958); As Legiões de César (1959); O Colosso de Rodes (1961); Rei dos Reis (1961); O Terrível Dr. Orloff (1962); O Duque Negro (1963); A Ponte dos Suspiros (1964); Hércules, Sansão, Maciste e Ursus, os Invencíveis (1964); A Sombra de um Revolver (1965); Os Longos Dias da Vingança (1967); Era uma Vez no Oeste (1968); Simon Bolivar (1969); Quando Explode a Vingança (1971); Asesinato en el Comité Central (1982); Réquiem por un campesino español (1985); Extramuros (1985); Marbella, un golpe de cinco estrella (1985); A Beira do Machado (1988); Tiempos mejores (1994); Maestros (2000); El paraíso ya no es lo que era (2001); La mujer de mi vida (2001); Vampyres (2015)


Mabel Karr (1934–2001)







Las chicas de la Cruz Roja(1958); Dos tipos con suerte (1960); O Colosso de Rodes (1961); Rogelia (1962); La barca sin pescador (1964); La hora incógnita (1964); El diablo también llora (1965); Operação Lady Chapli (1966); O Diabólico Dr. Z (1966); Abuelo Made in Spain (1969);  Nada Menos que todo un Hombre (1972); Condenados a Viver (1972); Experiencia prematrimonial (1972); Língua Assassina (1996); Tu pasado me condena (1996); Quince (1998)

5 comentários:

  1. Olá! Preciso muito da ajuda de vcs, estou tentando lembrar o nome de um filme antigo meio apocalíptico no estilo Mad Max, mas só lembro que as pessoas viviam embaixo da terra tipo em montanhas pq o sol era muito quente e eles saiam antes do sol nascer, se não me engano tinha algum ser mutante. Por favor me ajudem a encontrar esse filme. Obrigado!

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  2. Bom dia Carlos Torres.
    Preciso de maiores informações, pois não acredito que seja "A Última Esperança da Terra" (The Omega Man)
    Você viu no cinema ou TV? Se na Tv, qual poderia ser a (s) emissora (s)? Foi durante a madrugada?
    Sabe se é muito antigo? Anos 60,70,80 ou a partir de 1990?
    Sabe como termina o filme?
    Há mais algum aspecto relevante que consiga se lembrar?
    Com essas informações talvez possa lhe ajudar ou alguém que ver a postagem possa nos auxiliar
    Um grande abraço

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  3. Oi! Estou em busca do nome de um filme que passou à noite na Globo no início dos anos 90. O filme deve ser dos anos 80. Parecia ser um filme de aventura, envolvia deserto, acho que o Oriente Médio, havia um casal (um aventureiro e uma moça loira) e um tesouro que era uma pedra/gema azul, que lembra uma safira. Ao final, o protagonista consegue a pedra azul e deixa com a amada, a loira, que o observa partir triste, olhando para ele de janela do alto de seu quarto estilo árabe (ou quem sabe, indiano).
    Não é o filme "Tudo pela pedra azul" de 1986; nem "Moonstone" (de 1996); nem "A Jóia do Nilo/The Jewel of the Nile"; nem "Tudo por uma esmeralda/ Romancing The Stone".
    Muito obrigado!

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    Respostas
    1. Bom dia Gustavo.
      Você listou as melhores possibilidades. Não consegui identificar o filme, mas vou continuar pesquisando. Quem sabe alguém possa nos dar uma resposta enquanto isso. Obrigado pela visita e um grande abraço.

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    2. Olá Gustavo.
      Houve um filme exibido em 1995, à noite, na Record, próximo a essas características "O Diamante Azul" (Der Blaue Diamant). Tem o aventureiro, a moça loira e um enorme diamante azul. Coloca no Youtube o título Der Blaue Diamant e veja se é esta produção. Abraços.

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