VISÕES
CONTRAPOSTAS EM UM TOM QUASE HAGIOGRÁFICO E DICOTÔMICO ENTRE OS PERSONAGENS
Ano: 2005.
Após a morte do Papa João Paulo II um conclave é realizado pelos cardeais da
Igreja Católica Romana. A decisão dos votantes declara um novo Papa: Joseph
Ratzinger (Anthony Hopkins) ou Bento XVI. Para a surpresa da maioria o segundo
colocado é Jorge Mario Bergoglio (Jonathan Pryce), um cardeal argentino.
Oito
anos se passam e Bergoglio vai a Roma solicitar um encontro com o Papa onde
requisitará sua aposentadoria, mas para a sua surpresa Bento XVI lhe convida
para uma série de conversas aonde o assunto aposentadoria não se encaixa.
Mesmo
que você não seja católico, ou mesmo religioso, "Dois Papas" poderá
soar como atraente e isso muito se deve a três fatores: a inspirada direção do
brasileiro Fernando Meirelles que levou "Cidade de Deus" (2002) a
concorrer ao Oscar de Melhor filme Estrangeiro e uma indicação ao Globo de Ouro
por "O Jardineiro Fiel" (2005); a ótima estória desenvolvida pelo Neozelandês
Anthony McCarten ("A Teoria de Tudo", "O Destino de uma Nação"
e "Bohemian Rhapsody") que concorre ao Oscar por seu trabalho e é inspirado
em sua própria peça "The Pope" e em seu livro "Dois Papas: Francisco e Bento e a Decisão
que Abalou o Mundo" além das interpretações impecáveis de Jonathan Pryce
(concorrendo ao Oscar de Melhor Ator) e Anthony Hopkins (concorrendo ao Oscar
de Melhor Ator Coadjuvante). Pela categoria de disputas já sabemos que o filme
é sobre o Papa Francisco, mas, na minha concepção Hopinks tem melhores chances
até porque a categoria de Pryce tem ninguém menos que Joaquim Phoenix e seu
"Coringa" cuja atuação vem sendo aclamada por público e crítica. Dois
Papas disputou o Globo de Ouro 2020 com 4 indicações: Melhor Filme de Drama
(perdeu para "1917"), Melhor Ator (perdeu para Joaquim Phoenix em
"Coringa"), Melhor Ator Coadjuvante (perdeu para Brad Pitt em "Era
Uma Vez em Hollywood") e Melhor Roteiro (perdeu para Quentin Tarantino em
"Era Uma Vez em Hollywood")
Dois
Papas (produção da Netflix) é uma daqueles filmes que exige um discernimento
maduro. No mundo atual dividido pela polarização vem uma mensagem de união
entre personagens diametralmente opostos, um embate intelectual entre o
reformismo e conservadorismo (algo que sem dúvida possui consequências). E talvez
a maior controvérsia do filme esteja na errônea percepção da plateia: o filme
não deve ser interpretado como uma fidedigna cinebiografia dos pontífices, na
verdade mostra a humanidade por trás de seus títulos: seus desafios, dúvidas,
falhas, mudanças de pensamento e comportamento, mas, ainda assim, a visão do
escritor e do diretor colhidas através de informações, entrevistas e uma boa
dose de ficção para dar substância ao filme. Ao colocar "baseado em fatos
reais" e preencher boa parte com diálogos e situações fictícias o filme
gerou polêmica, a noção de que o representante da doutrina de Jesus aqui na
Terra é uma pessoa imperfeita liderando um sistema imperfeito e a igreja um ente político pode soar herético e especulativo para alguns e aceitável para
outros e Meirelles talvez tenha tentado "levar" a questão de uma
forma mais leve e até engraçada.
Retratar
Bento como um papa mal-humorado, sarcástico, reacionário, distante do mundo em que vive e o
(até então) futuro Papa Francisco como um personagem carismático, atualizado,
bem-humorado e redentor é a representação de personagens opostos:
Francisco gosta de Beatles e assovia "Dancing Queen" do Abba, Bento é
mais sisudo, tradicionalista, reservado, até faz suas refeições sozinho. Os
Irmãos em Cristo, no início, não são amigos e nem se entendem como bem
percebido na frase (fictícia?) de Bento "Eu discordo de tudo que você
diz". Só que a antipatia mútua vai dando lugar, progressivamente, ao
respeito relutante, ao perceberem e respeitarem o ponto de vista mútuo em
diálogos inesperadamente divertidos repletos de questões permeadas de semântica
e metáforas que acrescentam muito ao filme:
Bergoglio diz que quer derrubar muros; Bento responde que “uma casa
precisa de paredes. Alguns podem se surpreender com estranhas colocações como a
menção de que não havia anjos na igreja até o século V ou que "Deus muda"
(???!!).
Mas
o filme não seria a bela produção que nos apresenta se seus interpretes
tivessem uma atuação apenas mediana. Se as personagens Bento e Francisco se duelam em gostos,
posturas e crenças do que é o melhor para a igreja, há outro duelo: entre os
atores. Com certeza a preferência será dividida. Se Hopkins interpreta um
perfeito Papa cansado, doente, à espera de um sucessor, Pryce traz aquela
simpatia que o verdadeiro Francisco gera. Os dois atores estão tão bem que em
determinado momento nos esquecemos que estamos diante de dois atores
interpretando seus papéis. O talento da dupla cativa e busca no braço o
espectador para dentro do filme que se surpreende com as "verdades"
que são reveladas. Ainda que o filme dissesse que tudo é um exercício de imaginação
(há os defensores da opinião de que nada em cena representa a verdade) seria
ótimo assisti-lo. O grande diferencial destes atores foi colocar sentimento nos
diálogos: eles não repetem os textos, os interpretam de maneira que voz e corpo
entram em perfeita sintonia e quando isso acontece estamos diante de um raro
momento.
Dois
Papas é um filme divertido, reflexivo e alterna entre o coerente e o difícil de
acreditar. Se esse molde esquemático não agradar a uma parcela do público, a
outra parte pode considerar bastante interessante. Ainda que não aprofunde nos escândalos
recentes da igreja, também não passa ao largo. Estão lá os assuntos mais
delicados (apesar de não ser a abordagem do filme), a vida de Francisco
(mas pouco se fala da juventude de Ratzinger).
Os flashbacks para alguns soarão como uma incômoda quebra de ritmo, mas para um
filme que se baseia em diálogos e contrapontos (nesse sentido me lembrou de passagem o interessante
filme "Entrevista com Deus") Dois Papas apresenta um produto de inegável
qualidade.
Trailer:
Curiosidades:
Jonathan Pryce comentou sua semelhança física com o Papa Francisco no Festival Internacional de Cinema de Toronto: "No dia em que o Papa Francisco foi declarado Papa, a Internet estava cheia de imagens de mim e dele, e 'Jonathan Pryce é o Papa?' Até meu filho me mandou uma mensagem: 'Papai, você é o Papa?
O diretor Fernando Meirelles só descobriu Jonathan Pryce enquanto procurava fotos do Papa Francisco online. Fotos de comparação lado a lado de Jonathan Pryce e Pope Francis apareciam com frequência nos resultados da pesquisa. Isso levou Fernando a procurar a filmografia e as entrevistas de Jonathan.
O roteiro foi originalmente intitulado "O Papa". Depois que Anthony Hopkins foi escalado, o título foi alterado para "Os Dois Papas", a pedido do agente de Anthony.
Anthony Hopkins realmente toca piano neste filme.
O filme é baseado em eventos históricos, incluindo discursos públicos e debates religiosos publicados, mas as conversas privadas entre Bergoglio e Ratzinger são baseadas principalmente em conjecturas. O escritor Anthony McCarten comentou: "O que você sempre faz é especular. Espero que a especulação seja baseada em fatos e na verdade, e espero que seja inspirada".
A Netflix recriou a obra-prima da Capela Sistina de Michelangelo em menos de 10 semanas depois que o Vaticano lhes negou acesso ao filme Os Dois Papas.
Anthony Hopkins e Jonathan Pryce são galeses.
Os livros com os quais Bergoglio aparece durante seus "dois anos de introspecção" como sacerdote entre os pobres de Córdoba são: Nova Evangelização da Perspectiva dos Excluídos pelo teólogo da libertação brasileiro Leonardo Boff, Pedagogia dos Oprimidos pelo educador brasileiro Paulo Freire, e Trigo Gaúcho e Pueblerina do dramaturgo e roteirista argentino Pedro E. Pico.
A música ouvida quando o helicóptero do papa pousa no Vaticano (e também quando o cardeal Bergoglio adormece, como uma versão em cappella) é chamada "Bella Ciao". Originou-se como uma canção folclórica de protesto com trabalhadores de campo italianos no final do século XIX e início do século XX, e mais tarde foi adotado como um hino da resistência partidária antifascista italiana de 1943-45, composta principalmente por comunistas. "Bella Ciao" manteve uma medida dessa popularidade desde depois da guerra até o presente como um hino antifascista da esquerda política italiana e, especialmente, com os comunistas italianos.
Jonathan Pryce assistiu a muitas cenas do Papa Francisco no YouTube para se preparar para o papel.
Uma das pizzas encomendadas para o papa e o cardeal é uma "diavola" que significa "o diabo" em italiano.
Sir Anthony Hopkins foi originalmente escalado como Elliot Carver em "007 - O Amanhã Nunca Morre" (1997), mas saiu pouco depois devido à produção caótica. Ele foi substituído por Jonathan Pryce.
O diretor Fernando Meirelles só descobriu Jonathan Pryce enquanto procurava fotos do Papa Francisco online. Fotos de comparação lado a lado de Jonathan Pryce e Pope Francis apareciam com frequência nos resultados da pesquisa. Isso levou Fernando a procurar a filmografia e as entrevistas de Jonathan.
O roteiro foi originalmente intitulado "O Papa". Depois que Anthony Hopkins foi escalado, o título foi alterado para "Os Dois Papas", a pedido do agente de Anthony.
Anthony Hopkins realmente toca piano neste filme.
O filme é baseado em eventos históricos, incluindo discursos públicos e debates religiosos publicados, mas as conversas privadas entre Bergoglio e Ratzinger são baseadas principalmente em conjecturas. O escritor Anthony McCarten comentou: "O que você sempre faz é especular. Espero que a especulação seja baseada em fatos e na verdade, e espero que seja inspirada".
A Netflix recriou a obra-prima da Capela Sistina de Michelangelo em menos de 10 semanas depois que o Vaticano lhes negou acesso ao filme Os Dois Papas.
Anthony Hopkins e Jonathan Pryce são galeses.
Os livros com os quais Bergoglio aparece durante seus "dois anos de introspecção" como sacerdote entre os pobres de Córdoba são: Nova Evangelização da Perspectiva dos Excluídos pelo teólogo da libertação brasileiro Leonardo Boff, Pedagogia dos Oprimidos pelo educador brasileiro Paulo Freire, e Trigo Gaúcho e Pueblerina do dramaturgo e roteirista argentino Pedro E. Pico.
A música ouvida quando o helicóptero do papa pousa no Vaticano (e também quando o cardeal Bergoglio adormece, como uma versão em cappella) é chamada "Bella Ciao". Originou-se como uma canção folclórica de protesto com trabalhadores de campo italianos no final do século XIX e início do século XX, e mais tarde foi adotado como um hino da resistência partidária antifascista italiana de 1943-45, composta principalmente por comunistas. "Bella Ciao" manteve uma medida dessa popularidade desde depois da guerra até o presente como um hino antifascista da esquerda política italiana e, especialmente, com os comunistas italianos.
Jonathan Pryce assistiu a muitas cenas do Papa Francisco no YouTube para se preparar para o papel.
Uma das pizzas encomendadas para o papa e o cardeal é uma "diavola" que significa "o diabo" em italiano.
Sir Anthony Hopkins foi originalmente escalado como Elliot Carver em "007 - O Amanhã Nunca Morre" (1997), mas saiu pouco depois devido à produção caótica. Ele foi substituído por Jonathan Pryce.
O Papa Bento tem , atualmente , 92 anos.
Papa emérito é o título adotado pelo papa quando este decide abdicar.
Bento XVI se tornou o primeiro pontífice a renunciar em quase 600 anos, ele reside em um antigo convento dentro dos jardins do Vaticano.
Entrevista Com o Diretor
Efeitos da Computação Gráfica Para o Filme
Entrevista Com o Diretor
Efeitos da Computação Gráfica Para o Filme
Trilha sonora:
- Ariwacumbé - Frente Cumbiero and Neil Fraser (como "Mad Professor")
- Clair de Lune - Claude Debussy
- Café Domínguez - Ángel D'Agostino
- Dancing Queen - Royal Philharmonic Orchestra
- Amplius Lava Me from Allegri's Miserere - The Tallis Scholars
- La fiesta terminó piñata - Los Pibes del Penal
- Tecleando - Carlos Figari
- Tango Italiano - Cocky Mazzetti
- Epistrophy - Thelonious Monk
- Antiphone Blues - Arne Domnérus and Gustaf Sjökvist
- Nobody Knows the Trouble I've Seen - Grant Green
- Clair de Lune - Claude Debussy
- Café Domínguez - Ángel D'Agostino
- Dancing Queen - Royal Philharmonic Orchestra
- Amplius Lava Me from Allegri's Miserere - The Tallis Scholars
- La fiesta terminó piñata - Los Pibes del Penal
- Tecleando - Carlos Figari
- Tango Italiano - Cocky Mazzetti
- Epistrophy - Thelonious Monk
- Antiphone Blues - Arne Domnérus and Gustaf Sjökvist
- Nobody Knows the Trouble I've Seen - Grant Green
- Bella Ciao - The Swingle Singers
- Cuando tenga la tierra - Mercedes Sosa
- Cuando tenga la tierra - Mercedes Sosa
- Ronda de niños en la montaña - Dino Saluzzi
- Minguito - Dino Saluzzi
- Tango a mi padre - Dino Saluzzi
- Minguito - Dino Saluzzi
- Tango a mi padre - Dino Saluzzi
- Por el sol y por la lluvia - Dino Saluzzi
- "Prelude to Concerto for Piano and Orchestra No. 20 in D Minor, K.466 (Vocal) - Bobby McFerrin, Chick Corea and The Saint Paul Chamber Orchestra
- Prelude to Concerto for Piano and Orchestra No. 20 in D Minor, K. 486 (Vocal) - Bobby McFerrin, Chick Corea and The Saint Paul Chamber Orchestra
- Prelude to Concerto for Piano and Orchestra No. 20 in D Minor, K. 486 (Vocal) - Bobby McFerrin, Chick Corea and The Saint Paul Chamber Orchestra
- Piano Concerto No. 23 in A Major, K. 433 (Vocal) - Bobby McFerrin, Chick Corea e The Saint Paul Chamber Orchestra - Blackbird - The Swingle Singers
- Piano Concerto No. 23 in A Major, K.488 (Vocal) - Bobby McFerrin, Chick Corea and The Saint Paul Chamber Orchestra
- Bésame Mucho - Ray Conniff & His Orchestra & Chorus
- Siete de Abril - Andres Avelino Chazarreta
- Sastanàqqàm - Tinariwen
- Zion Hört Die Wächter Singen, BWV 140 - Johann Sebastian Bach
- Bésame Mucho - Ray Conniff & His Orchestra & Chorus
- Siete de Abril - Andres Avelino Chazarreta
- Sastanàqqàm - Tinariwen
- Zion Hört Die Wächter Singen, BWV 140 - Johann Sebastian Bach
Poster:
Filmografia Parcial:
Anthony Hopkins
Hamlet (1969); Juggernaut: Inferno em Alto-Mar (1974); As Duas Vidas de Audrey Rose (1977); O Homem Elefante (1980); O Corcunda de Notre Dame (1982); Rebelião em Alto Mar (1984); Nunca Te Vi, Sempre Te Amei (1987); Horas de Desespero (1990); O Silêncio dos Inocentes (1991); Freejack: Os Imortais (1992); Retorno a Howards End (1992); Drácula de Bram Stoker (1992); Chaplin (1992); Vestígios do Dia (1993); Terra das Sombras (1993); Lendas da Paixão (1994); Nixon (1995); No Limite (1997); Amistad (1997); A Máscara do Zorro (1998); Instinto (1999); Hannibal (2001); Dragão Vermelho (2002); Alexandre (2004); Desafiando os Limites (2005); A Lenda de Beowulf (2007); O Lobisomem (2010); O Ritual (2011); Thor (2011); Hitchcock (2012); RED 2: Aposentados e Ainda Mais Perigosos (2013); Thor: O Mundo Sombrio (2013); Noé (2014); Má Conduta (2016); Transformers: O Último Cavaleiro (2017); Thor 3: Ragnarok (2017); Dois Papas (2019); Meu Pai (2020)
Jonathan Pryce
A Viagem dos Condenados (1976); Golpe Perigoso (1981); Brazil: O Filme (1985); Salve-me Quem Puder (1986); As Aventuras do Barão de Münchausen (1988); Namoros Eletrônicos (1989); O Sucesso a Qualquer Preço (1992); A Época da Inocência (1993); Carrington - Dias de Paixão (1995); Evita (1996); 007 - O Amanhã Nunca Morre (1997); Ronin (1998); Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra (2003); Os Irmãos Grimm (2005); Piratas do Caribe: O Baú da Morte (2006); Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (2007); G.I. Joe: A Origem de Cobra (2009); G.I. Joe: Retaliação (2013); A Salvação (2014); Game of Thrones (seriado 2015 -2016); The Man Who Killed Don Quixote (2018) ; Dois Papas (2019).
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