DIFÍCIL
DE SE CLASSIFICAR, MAS FÁCIL DE SE ADMIRAR
(o texto contém spoilers)
Kim
Ki-woo (Choi Woo-sik) e sua família vivem bem perto da pobreza, em uma casa abaixo
da linha da rua, em um bairro sul coreano. Dobram caixas de pizzas para uma
empresa, percorrem a pequena casa a procura de um sinal de wi-fi disponível e
deixam abertas as janelas quando o bairro está sendo fumigado para assim acabar
com seus próprios problemas com insetos. A vida da família está prestes a ser
transformada quando um amigo do jovem viaja para os Estados Unidos a estudos e
o indica para substituí-lo como professor de inglês de uma jovem de quem se
apaixonara. Sem possuir os requisitos básicos, Kim muda o nome para Kevin, forja
um diploma e convence a dona da casa, Sra Park (Jo Yeo-jeong), de que possui
habilidades na língua começando a dar aulas para Park Da-hye (Jung Ziso) que
imediatamente se apaixona por ele.
Kim
percebe uma maneira de tirar sua família da incômoda situação financeira que se
encontra: ele indica a irmã como se fora uma amiga, que passa a usar o nome de Jessica
(Park So-dam), para ser tutora do pequeno filho de Sra Park: Da-song (Jung
Hyeon-jun). Em pouco tempo a dupla consegue treinar seus pais em gestos e
atitudes e estes também são empregados sem revelarem seus verdadeiros
parentescos. A família parece enfim ter encontrado um paraíso, mas as coisas
começam a dar terrivelmente errado.
Parasita
é um filme difícil de ser classificado: começa com uma comédia / sátira, passa
para uma crítica social evoluindo para o trágico, tudo de uma forma bem linear em
um roteiro muito bem escrito e uma fotografia (por Kyung-pyo Hong) muito
inspirada. Temos uma família que vive quase abaixo do limite da pobreza, talvez
a analogia de morarem abaixo da rua. Kim Ki-woo consegue o emprego se passando
por algo e alguém que não é. Ele é sorridente, bajulador, manipulador... sabe o
que a Sra Park quer do novo professor e sabe dizer as palavras certas que ela
deseja ouvir. Ele consegue um emprego para a irmã, ótima falsificadora de
diplomas como o pai mesmo elogiara, que se passa por uma professora de artes convencendo
a dona da casa de que seu filho é um
talento para as artes (qual mãe não quer ouvir isso). A Sra Park, ingenuamente,
não confere as credenciais dos jovens
que astutamente conseguem mandar embora o motorista da família e colocar seu
pai desempregado (o ator Song Kang-ho) no
lugar, além de mandarem a governanta (a atriz Lee Jung-eun) de anos com a
família para a rua através de um vil ardil. Agora tempos filhos, pai e mãe
infiltrados, parasitando aquela família para qual começaram a trabalhar. E Ki-woo
& Cia conseguem cruzar o limiar para outro mundo.
O
diretor Bong Joon Ho de filmes como "O Hospedeiro" e "Expresso do Amanhã" quer
mostrar mais, seja através de diálogos ou situações: vemos a família rica
acima, nas colinas, e a de Ki-woo vivendo em bairro pobre frente a inundações
da chuva; os espaços limpos e vazios da casa do Sr Park contrastam com o apartamento
sujo e apertado da família de Kim; vemos a família dobrar as enormes pilhas de
caixas de pizza (em sua cozinha imunda) para ganhar uma ninharia do
restaurante; Sr Park elogia seu novo
motorista por não "cruzar a linha", nesse momento podemos ver o
distanciamento imposto pelas elites sociais;
os ricos sobrevivendo do trabalho dos pobres, aqui retratados na família
de Kim; de certa maneira ao entregarem suas vidas a terceiros a família Park
também parasita em torno da família de Kim virando quase uma simbiose, um
dependendo do outro; o diretor trabalha muito bem os sentimentos que os
contratados adquirem de seus contratantes: uma mistura de respeito e desprezo;
outra lição que nos é mostrada é que muitos creem que para subirem neste mundo,
alguém precisa ser derrubado. Tudo para mostrar um sistema que cria, nutre e
divide as pessoas em classes. E como esquecer o comentário do Sr Park quanto ao
odor do pai de Kim ? - é o cheiro da pobreza em si, um comentário que dói mais na
alma do que a infeliz condição social. Há muitos outros elementos contidos
nessa obra e poucas linhas para dissecá-las. Interessante notarmos que numa
nação mostrada como tendo excelência no ensino os jovens sonhem estudar e
voltar com um diploma americano que os destaque dos demais, além de mostrar que
a Coreia do Sul também possui seus contrastes sociais como qualquer outro país.
Parasita, que concorre a 6 Oscar, é um filme acima da média e não por acaso concorre ao Oscar
de Melhor Filme. A história é muito interessante e os personagens envolventes. Enquanto assistimos temos a impressão de saber para a onde o filme se encaminha e o diretor nos surpreende dando uma guinada na história ao apresentar um final bem diferente do tradicional e aí pode ser um problema: há os que
gostarão e os que não se identificarão com a proposta mostrada, mas não há como ficar indiferente. Uma boa oportunidade para assistirmos a um bom filme fora do circuito
hollywoodiano e europeu.
Trailer:
Curiosidades:
Primeiro filme coreano a vencer a Palma de Ouro no Festival de Cannes.
A ideia para Parasita existe desde 2015; o roteiro final foi escrito em três meses e meio.
Filmado em 77 dias.
Primeira produção coreana de Bong Joon Ho desde "Mother - A Busca Pela Verdade" (2009).
As "Pedras de Estudo" ou "Rochas da Paisagem" são conhecidas como "suseok" em coreano, têm uma história profunda no leste da Ásia. O pai do diretor os colecionou quando era mais jovem. A prática de coletar essas pedras de formas atraentes data de milhares de anos, mas elas se tornaram um elemento da sociedade coreana durante a dinastia Joseun (1392-1897), quando eram comumente exibidas nas mesas de escrita de estudiosos confucionistas - daí seu nome em inglês: "pedras de estudo".
Terceira colaboração do diretor Bong Joon Ho e do diretor de fotografia Kyung-pyo Hong. Hong também foi o diretor de fotografia do cinema coreano do ano passado em Cannes, "Em Chamas" (2018).
Para Joon-ho Bong, Parasita é uma tragicomédia que retrata o humor, o horror e a tristeza que surgem quando você deseja viver uma vida próspera juntos, mas depois se depara com a realidade de quão difícil isso pode ser.
Por causa de seu respeito e fascínio pela cinematografia em preto e branco, o diretor / escritor Bong anunciou que relançaria seu aclamado filme em apenas uma versão em preto e branco em janeiro de 2020. Esta apresentação especial de "Parasite" estava planejada para estrear em Roterdã. Film Festival, com exibição nos EUA em Nova York e Los Angeles.
Concorrendo ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Filme Estrangeiro, Melhor Roteiro Original, Melhor Direção de Arte e Melhor Montagem. O elenco principal venceu o principal prêmio do SAG Awards 2020.
Cometário de Joon-ho Bong para o filme: "Para pessoas de diferentes circunstâncias, viverem juntas no mesmo espaço não é fácil. É cada vez mais neste mundo triste que relacionamentos humanos baseados na coexistência ou simbiose não podem se sustentar, e um no meio desse mundo, quem pode apontar o dedo para uma família em dificuldades, travando uma luta pela sobrevivência e chamá-los de parasitas? Não é que eles eram parasitas desde o início. Eles são nossos vizinhos, amigos e colegas, que foram simplesmente empurrados à beira de um precipício.Como uma representação de pessoas comuns que caem em uma comoção inevitável, este filme é: uma comédia sem palhaços, uma tragédia sem vilões, todos os principais a um emaranhado violento e a mergulhar de cabeça nas escadas. Todos estão convidados para esta tragicomédia incontrolável e feroz ".
A música que toca em segundo plano quando os Kims se apossam da casa de Park é "In ginocchio da te", de Gianni Morandi. Na década de 1960, Morandi era uma estrela nos filmes italianos do "musicarello": geralmente era um gênero de comédia, focado nas diferenças entre classes pobres e ricas, assim como Parasite.
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