STAN & OLLIE (2018) - REINO UNIDO - CANADÁ - ESTADOS UNIDOS

HOMENAGEM ELIGÍACA

1937. Stan Laurel (Steve Coogan) e Oliver Hardy (John C. Reilly) são sucessos mundiais desde a década de 20. Os dois personagens, que se comportam como crianças e que criam problemas para si e para os outros, encantam todas as faixas etárias, mas para Laurel há um problema: eles não recebem monetariamente o prestígio que conseguiram arregimentar durante anos. Laurel cita Chaplin e Buster Keaton entre outras estrelas cômicas como exemplos. Sua proposta é bem simples: seu contrato está terminando e o que é o Gordo sem o Magro? Laurel dá a  sua cartada, mas o executivo Hal Roach do estúdio não cede. Ele espera apoio do parceiro de centenas de filmes, mas Ollie, afundado em dívidas de jogos e indenizações a ex-esposas (e pretendendo desposar uma nova), prefere a segurança do que se arriscar em novas veredas. A dupla se separa.

Após este prólogo, o filme nos deixa um hiato de dezesseis anos que nos mostra os outrora astros em três turnês nos anos 50. O tempo é um personagem muitas vezes cruel. A corrosão física e de carreira é inevitável. A dupla almeja um filme, reavivar os áureos tempos de um público que ainda os admira.  Uma  turnê em 1953 pela Grã-Bretanha se revela uma estratégia acertada, uma prévia do que a dupla pode oferecer e aguçar os sentimentos de seus fãs. Mas o prestígio já não é o mesmo: hospedagem em hotéis ruins e apresentação em teatros de terceira categoria lhes mostram a realidade. Mas a coisas começam a mudar: Ollie e Hardy começam a fazer fogo novamente  na mídia, ao mesmo tempo em que a saúde de Oliver decresce na mesma proporção. Enquanto isso Oliver aguarda ansioso o inícios das filmagens do longa, mas Laurel, silenciosamente, saboreia uma verdade amarga: os patrocinadores não estão tão animados a investirem no projeto. E o pior começa a acontecer: as rusgas daquele fatídico dia voltam a emergir e verdades finalmente serão ditas.

Cinebiografia da dupla cômica, considerada por muitos, como a maior da história. O que não está no filme: Nascido em 1890, na Inglaterra, Arthur Stanley Jefferson estreou nos palcos (com o nome artístico de Stan Laurel) aos 16 anos. Aos 23 anos juntou-se a uma companhia de teatro indo para os EUA. Em 1917 fazia seu primeiro filme (Nuts in May) assinando contrato com a Universal. Em 1926 passaria a trabalhar com Hal Roach (futuro produtor da dupla e descobridor de Harold Lloyd). Laurel chegou a fazer números com Chaplin.

Oliver Norvalle Hardy (ou "Babe Hardy" como era conhecido) nasceu na Georgia em 1892. Entrou para a escola Militar e estudou direito e canto (era praticamente um barítono). Em 1910 compraria um cinema. Três anos depois já fazia papel de vilão em comédias. Em 1917  a dupla se esbarraria pela primeira vez em "Lucky Dog",  Laurel era a vítima e Hardy o ladrão. E houve pelo menos mais dois ou três filmes (em 10 anos) que estiveram juntos em cena, mas não "atuando juntos". Muitos alegam que  "Do The Dectetives Think" seria o início definitivo da dupla que já havia feito separados uma dezena de produções. Surgem filmes de sucesso como "Olho Por Olho",  "Marujo Não Leva Desaforo", "Trânsito Atômico" (Country Hospital) uma das cenas do filme, "Dois Palermas em Oxford" (A Chump at Oxford), "Lorde Stam e seu Mordomo Oliver" e "Big Business" (muitos consideram o melhor). Curiosamente, Laurel, antes do sucesso, fizera  o longa mudo "O Mágico de Oz" (1925), onde interpretava "O Homem de Lata". O filme não teve boa acolhida por parte do público. Nossos Dom Quixote e Sancho Pança modernos só funcionavam mesmo juntos, onde Hardy (O Gordo) tinha ideias (sempre malucas) com Laurel (O Magro) sempre as desobedecendo do modo certo.

O Gordo e o Magro tiveram várias denominações mundo afora: Bucha & Estica (Portugal); Cric &  Croc (Itália);  El Gordo y el Flaco (língua espanhola) e Dick und Doof (Alemanha)... A dupla que se opunha ao humor moral mais requintado de Chaplin, não se preocupava com a moral americana, tripudiava sobre ela, de um modo quase infantil. Foi Mark Sennett que percebeu na dupla um concorrente a altura do Genial Carlitos. Uma dupla que improvisava e criava suas "gags"  ao acaso.  Não era preciso muitas linhas no texto, apenas algo como "a dupla vende árvores de natal em Julho" já criava um filme (o já citado "Big Business") ou "O Gordo e o Magro na Legião Estrangeira", bastava uma frase e a dupla criava. Mas nada funcionaria se não fossem dois excelentes atores. Oliver se despediria do teatro da existência em 1957, preso a uma cadeira de rodas, decorrente de um AVC (chamavam de "Derrame Cerebral") e Laurel, 7 anos depois, diabético, de Colapso Cardíaco. Um ano antes revelou sentir muita falta de seu eterno parceiro de filmes, o que o afastou da vida pública. Durante suas vidas enfrentaram pesos pesados do riso como "Os Irmãos Max", o próprio Chaplin, Buster Keaton e Charlie Chase. Talvez seu maior adversário tenha sido o descaso: muitos filmes se perderam e nunca foram encontrados. Laurel, o cognominado "Magro", era o cérebro da dupla, criava roteiros, sugeria ideias, interferia na produção e colaborava no trabalho de direção. A influencia de Laurel chegou a outro ícone da comédia: Jerry Lewis que o homenagearia no primeiro filme que dirigira. 

Voltando ao filme, o espectador que esperar encontrar uma mimetização da famosa dupla com suas divertidas "gags" terá uma surpresa: o filme aborda (com uma boa dose de ficção) a vida da dupla e pouquíssimo de seus filmes, o que foi um acerto. Temos ótimos momentos: a famosa dança da dupla chamada "Way Out West"; a ida de Laurel para a Fox e a inútil tentativa de forçar Hardy a fazer o mesmo (não mostra que Laurel voltaria para fazer "Dois Palermas em Oxford"); a árdua turnê que atravessaram, com Hardy sustentando um coração enfraquecido e joelhos cansados; a citação à Norman Wisdom, um comediante em ascensão; o momento que Laurel para em frente ao cartaz de um filme de Abott e Costello, a dupla criada nos mesmos moldes só que ao contrário: O Magro (Abott) era o Razinza e o Gordo (Costello), o trapalhão ingênuo que, ironicamente, após os anos 50, começavam a perder espaço para a dupla Dean Martin e Jerry Lewis. A dupla se separaria em 1957 e anos depois Costello viria a falecer; o filme que Hardy fez sem Laurel: "Zenóbia" (1939). Temos as esposas da dupla e temos feridas antigas emergindo ferozmente: o momento de colocar tudo em pratos limpos.

Há incongruências? Sim, como a inversão de datas e eventos ou diálogos criados para dar maior dramaticidade. Isso influencia negativamente o filme? Há alguns filmes que mudanças cruciais como "Joy" descaracterizam toda a história ao descobrimos os reais acontecimentos. Aqui não. As opções escolhidas funcionam como uma forma do espectador entender melhor a personalidade da dupla,  entender o contexto do que houve, bem parecido com Rocketman (que breve analisarei por aqui) em que a mudança cronológica de alguns eventos ou canções não descaracterizaram o filme, funcionaram a contendo para mostrar em uma linguagem dinâmica de como condensar a vida de um artista em 2 horas de projeção. 

Agora há algo a se destacar: a atuação de Steve Coogan e John C. Reilly . É impressionante. Dá até pra esquecer que é um filme sobre a vida de Laurel e Hardy. Suas caracterizações físicas e verbais,  isentas de caricaturismo, são perfeitas, um maneirismo tão natural e sem esforço em uma rara química. Impressionante não terem recebido uma indicação ao Oscar ou até mesmo no quesito maquiagem. A semelhança criada para os personagens é digna de elogios. O filme em algum momentos deixa de ser sobre os dois cômicos e se transformam em 4 personagens devido as excelentes performances de Shirley Henderson interpretando a rabugenta, porém afetuosa, Sra. Hardy, e Nina Arianda como Ida Kitaeva, a obstinada e dura esposa russa de Stan. As duas são um duplo acerto dentro da história e tem seus momentos que agregam à personalidade da famosa dupla cômica

Dirigido por Jon S. Baird a partir do roteiro de Jeff Pope, "Stan e Ollie" aborda parte dos áureos tempos do humor no cinema. Duas das figuras mais amadas da história do cinema com um triste fim para uma dupla que fez milhões darem gargalhadas, através de situações absurdas, terminando suas vidas em lágrimas e dor. Um filme ora melancólico, ora com belos momentos de humor, em um roteiro muito bem estruturado, que se adequa tanto a quem não conheceu a dupla como a quem assistiu aos seu filmes. Não é, ironicamente, um filme muito conhecido e divulgado, mas deveria ser, principalmente pela entrega dos atores em fazer uma linda homenagem em forma de caracterização. Um filme para se ver e rever.

Trailer:

Curiosidades:

A dupla teve até histórias em quadrinhos

Luarel e Hardy nunca enriqueceram com sua arte

O primeiro filme após a separação da dupla é Zenobia (1939) apenas com Hardy contracenando com Harry Langdon. Laurel voltaria perdendo a queda de braço com Roach e o ultimo filme para o produtor seria Saps at Sea (1940).

O primeiro filme após a separação da dupla foi  o Lutador de Kentuchy (The Fighting Kentucky) de 1949 com John Wayne em seus 42 anos de idade em que Hardy fez uma participação

 

Stan Laurel e Oliver Hardy se reuniram pela última vez no longa-metragem "A Ilha da Bagunça" (Utopia), lançado originalmente em 1951 e co-produzido na França e Itália

Os pequenos distintivos de ouro que Stan e Ollie usam em suas lapelas em grande parte do filme se relacionam com a "Grande Ordem dos Ratos da Água", uma ordem britânica através da qual os membros da indústria do entretenimento fazem doações para pessoas e instituições de caridade. Stan e Ollie eram ratos aquáticos

Um museu Laurel & Hardy, que contém muitos artefatos da carreira de Stan Laurel, está localizado em sua cidade natal, Ulverston, Cumbria. Laurel ocasionalmente aparecia para visitar seus pais. Quando ele e Oliver Hardy visitaram a cidade como parte de sua turnê no Reino Unido em 1953, uma multidão enorme os recebeu. Uma estátua de bronze de Laurel & Hardy está do lado de fora da prefeitura.

Dedicado à memória de Lois Laurel, filha de Stan Laurel, que morreu em 2017.

Quando Oliver Hardy finalmente se livrou de seu contrato com a Hal Roach Studios, ele finalmente conseguiu assinar uma ou duas gravações ao lado de Stan Laurel para outros estúdios cinematográficos. A maioria dos fãs da dupla acredita que esses filmes, com a possível exceção de "Paixonite Aguda" (1939), marcaram um declínio na qualidade da dupla. Os roteiros costumavam ser ruins e começavam a mostrar sua idade. Novos atores duplos, como Abbot & Costello, Bob Hope, Bing Crosby e Dorothy Lamour começaram a se tornar populares. Laurel e Hardy continuaram fazendo filmes, em ritmo mais lento, até 1945. Seu último filme, A Ilha da Bagunça (1951), foi mal recebido, matando suas esperanças de um retorno. 

Country Hospital   (uma das cenas do filme)

 

Hal Roach sobreviveu às suas estrelas quando morreu em novembro de 1992, aos 100 anos. Ele era apenas quatro dias mais velho que Oliver Hardy, e 18 meses mais jovem que Stan Laurel. 

Comparando os filmes

Steve Coogan e John C. Reilly foram as primeiras escolhas do diretor Jon S. Baird e do roteirista Jeff Pope para os papéis de Laurel e Hardy. 

O filme foi lançado nos Estados Unidos no aniversário de Oliver Hardy. 

Stan Laurel como "O Homem de Lata" em "O Mágico de Oz" (1925)

Após a Segunda Guerra Mundial, Laurel & Hardy abriram as ferrovias Romney, Hythe e Dymchurch, em Kent. Era o menor trem de passageiros do mundo. 

O filme "Elefante", que causou tanta tensão entre Stan Laurel e Oliver Hardy, foi oficialmente intitulado Zenóbia (1939). Hardy co-estrelou com Harry Langdon, que foi brevemente uma grande estrela de cinema de comédia silenciosa. A imprensa considerou como sendo a ruptura de Laurel & Hardy. Langdon e Hardy receberam muita publicidade, mas Roach nunca pretendeu que eles se tornassem uma equipe permanente. 

Steve Coogan usou lentes azuis para fazer Stan Laurel. 

Filmografia Parcial:

John C. Reilly

 

Pecados de Guerra (1989); Não Somos Anjos (1989); Dias de Trovão (1990); Neblina e Sombras (1991); Gilbert Grape: Aprendiz de Sonhador (1993); O Rio Selvagem (1994); Eclipse Total (1995); Boogie Nights: Prazer Sem Limites (1997); Além da Linha Vermelha (1998); Magnólia (1999); Nunca Fui Beijada (1999);  Mar em Fúria (2000); Gangues de Nova York (2002); Chicago (2002); As Horas (2002); O Aviador (2004); Água Negra (2005); A Promoção (2008); Quase Irmãos (2008); Cyrus (2010); Precisamos Falar Sobre o Kevin (2011); Deus da Carnificina (2011); Guardiões da Galáxia (2014); Os Cowboys (2015); Kong: A Ilha da Caveira (2017); Stan and Ollie (2018); Holmes and Watson (2018) 


Steve Coogan

Resurrected (1989); A Chave Mágica (1995); Amigos para Sempre (1996);  Doce Vingança (1998); Alice no País do Espelho (1998); Um Agente em Apuros (2001); Volta ao Mundo em 80 Dias: Uma Aposta Muito Louca (2004); Álibi (2006); Maria Antonieta (2006); Uma Noite no Museu (2006); Perdendo a Noção (2008); Trovão Tropical (2008); Caminhos Desconhecidos (2009); Uma Noite no Museu 2 (2009); Percy Jackson e o Ladrão de Raios (2010); Pelos Olhos de Maisie (2012); Philomena (2013); Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (2014); O Jantar (2017); Perfeita Pra Você (2018); Stan & Ollie (2018); O Gênio e o Louco (2019) 


Shirley Henderson
 
 













A Pele do Desejo (1992); Rob Roy, a Saga de uma Paixão (1995); Trainspotting: Sem Limites (1996); Encontros e Desencontros (1999); O Diário de Bridget Jones (2001); Harry Potter e a Câmara Secreta (2002); Dias Selvagens (2003); Bridget Jones, no Limite da Razão (2004); Frozen (2005); Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005); Maria Antonieta (2006); Eu Realmente Odeio o Meu Trabalho (2007); Garota Mimada (2008); Anna Karenina (2012); Em Segredo (2013); O Conto dos Contos (2015); O Bebê de Bridget Jones (2016); T2: Trainspotting (2017); Stan & Ollie (2018)


Nina Arianda
 
 













Ganhar ou Ganhar: A Vida é um Jogo (2011); Em Busca da Fé (2011); Meia-Noite em Paris (2011); Roubo nas Alturas (2011); Dois Lados do Amor: Ele (2013); Dois Lados do Amor: Ela (2013); Roubo a Máfia (2014); Dois Lados do Amor (2014); O Último Ato (2014); Florence: Quem é Essa Mulher? (2016); Stan & Ollie (2018);