domingo, 8 de dezembro de 2024

CINEMA PARADISO / NUOVO CINEMA PARADISO (1988) - ITÁLIA


O CREPÚSCULO DO CINEMA COMO RITUAL COLETIVO

Salvatore Di Vita (Jacques Perrin) é um famoso cineasta vivendo em Roma. Há 30 anos partira de sua cidade natal e nunca mais retornara, sequer para visitar a mãe.  Certo dia, recebe a notícia que seu grande amigo, o projecionista Alfredo (Philippe Noiret), falecera. A notícia o pega de surpresa, deixando-o insone e a recordar seus tempos de infância (Salvatore Cascio) e de adolescência (Mario Leonardi) na cabine ou na plateia do Cinema.  Ele voltará para uma última homenagem a Alfredo e para reencontrar o Paradiso.

Giuseppe Tornatore (em seu segundo longa-metragem) lançou Cinema Paradiso em seu país com a duração de 155 minutos (havia antes mostrado uma versão de 173 minutos no EuropaCinema Festival), ficando apenas uma semana em cartaz e sendo arrasado pela crítica. O diretor (na época com 33 anos) voltou à sala de montagem e cortou 22 minutos de sua obra e o inscreveu no Festival de Cannes. A nova versão, agora de 123 minutos, agradou e muito. Tornatore saiu com Prêmio Especial do Júri desbancando “Splendor” (de Ettore Scola) sua obra irmã. Ganhou um novo lançamento em sua terra natal, encantando a crítica, batendo recordes de bilheteria e fazendo sucesso mundo afora. Além disso, ganhou um Globo de Ouro de Melhor Lançamento Estrangeiro de 89. Posteriormente, ganharia o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de Língua Não Inglesa (a Itália não ganhava um Oscar desde Amacord -1973) e diversos prêmios. A Versátil lançou em 2005 a versão de 123 minutos e a de 174 minutos (Cinema Paradiso: The New Version) – uma versão do diretor (Director’s Cut), mas a versão comercial original que poucos viram foi a de 155 minutos.

Contado em flashbacks, o filme nos mostra a trajetória do Paradiso em seus anos de gloria com o pitoresco público do vilarejo (fictício) de Giancaldo na Sicília, sul da Itália, além do relacionamento entre o projecionista do Paradiso, Alfredo, e Totó, uma criança, órfã de um pai, que não voltou da Guerra, apaixonada por cinema e que apronta todas. Um pequenino cinéfilo que se transformará em cineasta depois de substituir seu velho amigo em seu métier.

Tornatore, em “Cinema Paradiso”, celebra o cinema como arte coletiva. Pelo título, o Cinema parece ser o protagonista, mas aqui é um coadjuvante de luxo. Também é uma homenagem ao projecionista, aquele que fica “escondido” sem que o espectador perceba, mas que se revela o principal responsável pelo se que passa na tela, somente lembrado quando o filme desfoca, quando a imagem congela ou perde o som; quando as luzes não se apagam no começo da projeção ou não se acendem no fim. Tudo que Alfredo faz em seu projetor à base de carvão é uma homenagem a todos os "Alfredos" do mundo que zelam pelo filme estar pronto para assistirmos quando entramos em uma sala de cinema.

A partir das memórias de infância e adolescência de Salvatore, vemos o reencontro de um cineasta com seu passado. Veremos também o padre do vilarejo, Dom Adelfio (Leopoldo Trieste), o cliente mais fiel do cinema local. Ele comparece toda semana como um relógio, a censurar os filmes e obrigar Alfredo a cortar todas as cenas (“obscenas”) de beijos dos filmes e joga-las em um canto. Tiras de celuloide agora sem vida. O balançar de sua sineta determina qual a cena que deve ser retirada (a bem da “moral e bons costumes”). Somente o padre, Alfredo e, vez por outra, Totó (escondido na cabine) sabem quais cenas são. Ali, Clark Gable nunca beijará Vivian Leigh em “E O Vento Levou”. Emoções contidas em tiras de celuloide censuradas se acumulam, mutiladas (uma crítica a não só à censura, mas uma interessante e inesperada analogia a sua própria obra da qual foi obrigado a mutilar – a vida imitando a arte).

Mas há mais: os momentos mais felizes dos moradores são entre amigos e familiares em frente à tela grande (assistir um filme era um evento social, quase um ritual coletivo); temos o louco (Nicola Di Pinto) que mora na praça e afirma que é "sua praça!”; o homem que sempre dorme nos filmes; o homem que recita os diálogos de cor.; a chuva interrompendo a projeção ao ar livre de “Ulisses”, com Kirk Douglas; quando Alfredo torce a tela de vidro projetando o filme no paredão de um cortiço; a reação da plateia a nudez de Brigite Bardot em “E Deus Criou a Mulher”; a reação dos moradores ao verem o primeiro beijo; o incêndio, a reconstrução e a demolição de Paradiso (a implosão dos seu sonhos de menino); o primeiro amor; o exército, a partida; o presente final de Alfredo; o presente do personagem Ciccio Spaccafico (Enzo Cannavale) para os moradores que se revela notavelmente generoso (e seu desalento quanto ao destino de Paradiso)... O fio de lã se desfazendo enquanto a mãe de Salvatore desce as escadas ao encontro do filho, uma forma de não a mostrar, mas de sabermos o momento que o encontrou.

ATENÇÃO SPOILERS: SE NÃO VIU O FILME, PULE ESTE PARÁGRAFO

Quanto a versão diretor, a vejo como um complemento da estória, que elucida algumas questões, como o elemento mais sacrificado do filme: o relacionamento de Salvatore e Elena, que nesta versão (173 min ou 2h53min) terá uma continuidade e uma conclusão ainda que anticlímax. Diálogos que foram cortados, como o da mãe de Salvatore com o filho, ainda que sem prejuízo à narrativa (como a explicação da mãe à Salvatore sobre as noites em que este passou à espera da janela aberta ou sobre as ligações que fazia escutando uma mulher diferente a cada ligação, menos a mulher que um dia o filho amou). As cenas do garoto que irrita a professora na sala de aula, respondendo zombeteiramente, não são por acaso: ele ressurgirá nesta versão com uma importante participação. Prefira a versão menor: a do cinema, e se tiver curiosidade busque a versão do diretor (mais cansativa e que perde um pouco do seu lirismo ao alongar situações), que para mim mudou um pouco a percepção que tinha do personagem Alfredo, que terá uma interferência ainda maior na vida futura de Salvatore.

FIM DOS SPOILERS 

Quanto ao elenco, Totó crescerá em tamanho e ofício, aprendendo a encontrar a felicidade na sala de cinema. Coroinha da igreja local, dorme nas missas, por passar horas fascinado pela tela, pela cabine, pela máquina de projeção, na qual tem em Alfredo, o grande ídolo daquela criança, que surge como um “mágico” capaz de passar os filmes. Veremos Salvatore em três fases da vida: infância (Salvatoe Cascio), adolescência (Marco Leonardi de “Como Água Para Chocolate”) e maturidade (Jaques Perrin), duas delas, com a presença viva de Alfredo. Ele filma sua paixão, Elena, seu primeiro amor, mas a vida, às vezes, é inimiga do amor ... Philippe Noiret interpretou Alfredo que “substitui” o pai de Totó, ensinando todos os segredos da profissão, repreendendo-o e rindo de suas travessuras, até influenciando-o na direção a um futuro que aquele lugar teima em negar. Alfredo sairá do cargo, cego pelo fogo que seu amor à arte acabou lhe causando, mas não sairá de cena. Agnese Nano interpretou a jovem Elena (na versão “uncut”, a adulta Elena Mendola é interpreta por Brigitte Fossey). A Personagem Maria Di Vita, mãe de Totó, foi interpretada por Antonella Attili (jovem) e Pupella Maggio (idosa). 

Cinema Paradiso é uma nostálgica carta de amor à uma pequena sala de cinema italiana. Um conto agridoce sobre amizade, uma das mais tocantes que o cinema contou. Sentimental sem cair no sentimentalismo. O apogeu e o declínio do cinema como o maior espetáculo de massa. A história de muitos projecionistas (o “homem da cabine de projeção”) de cidades pequenas que se viram na pele de Alfredo. Qualquer um que ame filmes provavelmente amará "Cinema Paradiso", um filme que envolverá você em um terno abraço e se recusará a deixa-lo partir. Poucos filmes foram capazes de apresentar tantas homenagens a filmes em cenas. Destaque para a trilha sonora original de Ennio Morricone, na qual ele colaborou com seu filho Andrea. Uma obra rica, emotiva e atemporal.


Trailer:



 

Curiosidades:

Philippe Noiret disse todas as suas falas em francês, sua língua nativa. Mais tarde, ele foi dublado em italiano por Vittorio Di Prima. Na versão francesa, Noiret dublou a si mesmo.

O filme foi filmado em Bagheria, Sicília, cidade natal de Giuseppe Tornatore. O diretor se baseou amplamente em suas experiências de infância como inspiração para o filme.

O tema de amor do filme foi composto por Andrea Morricone , embora seu pai, Ennio Morricone , que compôs a trilha sonora do resto do filme, tenha arranjado a orquestração do tema.

Quando Salvatore retorna para casa e olha para o quarto que sua mãe preparou para ele, o quadro na parede é de “Abismo de um Sonho” (1952), filme de Federico Fellini estrelado por Leopoldo Trieste.

O serviço militar de Salvatore, por problemas burocráticos, dura mais de um ano.

Giuseppe Tornatore reconheceu nos recursos especiais do DVD, que o velho Salvatore não se parecia em nada com o jovem Salvatore.

 

SPOILERS: SE NÃO VIU, O FILME PULE ESSES PARÁGRAFOS

A montagem do beijo final é uma forma de Alfredo manter uma promessa feita a Salvatore no início do filme: Alfredo promete que todas as cenas de beijo pertencem a Salvatore se ele não entrar mais na sala do projetor. Mesmo que ele não cumpra o pedido de Alfredo, ele ainda prepara o rolo para Salvatore.

O diretor Tornatore faz uma aparição como o homem que trabalha na máquina de projeção enquanto Salvatore assiste uma compilação de cenas que Alfredo fez para ele.

Enquanto o Cinema Paradiso está sendo destruído, um painel publicitário de uma motocicleta pode ser visto dizendo: "O paraíso pode esperar"

Na versão oficial levada às telas, todo o segmento com Salvatore e Elena como adultos foi eliminado - incluindo todas as cenas interpretadas por Brigitte Fossey - bem como algumas sequências da primeira parte do filme

Depois do incêndio é reconstruído agora como nome Nuovo Cinema Paradiso, título do filme

FIM DOS SPOILERS

Após a comunicação da morte do pai de Salvatore, ele e sua mãe estão caminhando por ruínas. Salvatore vê um pôster de “...E o Vento Levou” (1939) e sorri olhando para ele. Mais cedo no filme, Alfredo diz a Salvatore que seu pai o lembra Clark Gable

O pequeno Salvatore, chamado por todos de Totò, vive em Giancaldo junto com sua mãe Maria e sua irmã Lia (Roberta Lena), esperando que seu pai, um soldado desaparecido na Rússia, retorne.

Giuseppe Tornatore fotografou mais de 300 jovens sicilianos antes de escalar Salvatore Cascio para o papel.

Em algumas versões mais curtas do filme, uma cena de uma Elena muito mais velha aparece nos créditos finais (talvez intencionalmente)

Ao final do período de doze meses de 1924, toda a produção cinematográfica da Itália não havia excedido 20 títulos. Como 220 títulos foram lançados durante 1920, em 1924, o cinema italiano estava morrendo lentamente.

Antes de desse filme, Tornatore era mais conhecido por diversos documentários italianos.

O filme que Alfredo passa na faixada do cortiço é Messalina e o Bombeiro / I pompieri di Viggiù (1949)

O filme mostra a necessidade econômica dos habitantes do sul de migrarem para o norte ou para fora do país

O sucesso do filme, na época, levantou a possibilidade do renascimento do cinema italiano que vinha definhando após os anos 50 e 60

Tornatore voltou a receber nova indicação ao Oscar por Homem das Estrelas (1995)

O personagem Alfredo é inspirado no fotógrafo e projecionista da cidade de Bagheria, Mimmo Pintacuda, amigo e professor do próprio Tornatore

Entre os atores considerados para o papel de Alfredo estavam Marcello Mastroianni e Gian Maria Volonté

Gian Maria Volonté também foi considerado para o papel do adulto de Totò,

Salvatore Cascio tinha 9 anos na época da escolha para o papel

Tornatore, também o incluiu Cascio, no elenco de “Estamos Todos Bem” (1990), filme que dirigiu dois anos depois.

Para filmar o Cinema Paradiso a produção escolheu a Igreja de Maria Santissima del Carmelo

 

ALGUNS FILMES CITADOS NA OBRA:

...E Deus Criou a Mulher (Et Dieu... Créa la Femme); ...E o Vento Levou (Gone With the Wind); A Felicidade não se Compra (It's a Wonderful Life) ; A Terra Treme (La terra trema); Abismo de um Sonho (Lo Sceicco Bianco); Adeus às Armas (A Farewell to Arms); Anna (Anna); Arroz Amargo (Riso Amaro); As Aventuras de Robin Hood (The Adventures of Robin Hood); Asas (Wings); Belíssima (Bellissima); Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs); Casablanca (Casablanca); Contrastes Humanos (Sullivan's Travels); Dois Heróis (The Knockout) ; Em Busca do Ouro (The Gold Rush); Em Nome da Lei (In nome della legge); Era uma Vez... Dois Valentes (Babes in Toyland); Fúria (Fury) ; Gilda (Gilda); Jejum de Amor (His Girl Friday); Luzes da Cidade (City Lights); Mambo  (Mambo ); Messalina e o Bombeiro (I pompieri di Viggiù); Mulher Tentada (Catene) - também citado nominalmente; No Tempo das Diligências (Stagecoach) ; Noites Brancas (Le Notti Bianche) ; O Anjo Azul (Der Blaue Engel); O Caminho da Esperança (Il Cammino della Speranza); O Grito (Il Grido) ;O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde); O Morro dos Maus Espíritos (The Shepherd of the Hills); O Ouro de Nápoles (L'Oro di Napoli); O Proscrito (The Outlaw); O Submundo (Les bas-fonds); Os Boas Vidas (I vitelloni); Rio Vermelho (Red River); Sedução da Carne (Senso); Sete Noivas Para Sete Irmãos (Seven Brides for Seven Brothers); Tempos Modernos (Modern Times) também citado nominalmente; Ulysses (Ulisse); Umberto D. (Umberto D.); Verso la vita (Verso la vita)



O diretor Giuseppe Tornatore em uma participação



 

 




Cartazes:

 



 

Filmografias Parciais:

Salvatore Cascio






Cinema Paradiso (1988), Estamos Todos Bem (1990), Jackpot (1992), Padre Speranza (2002) 

Marco Leonardi 






Ultimo minuto (1987), Cinema Paradiso (1988), Armadilhas do Poder (1990), Como Água para Chocolate (1992), Le Buttane - As Prostitutas (1994), Viagem pelo Perigo (1995), Síndrome Mortal (1996), Os Cinco Sentidos (1999), Um Drink no Inferno 3: A Filha do Carrasco (1999), Texas Rangers - Acima da Lei (2001), Era Uma Vez no México (2003), Maradona, la mano di Dio (2007), Almas Negras (2014), Todo o Dinheiro do Mundo (2017), Renata Fonte (2018), O Último Refúgio (2019), Aspromonte - Terra dos esquecidos (2019), A Vinícola dos Sonhos (2019), Hitmen (2023)   

Jaques Perrin (1941-2022)


 



Portas da Noite (1946), Os Trapaceiros (1958), A Verdade (1960), As Ninfas (1961), A Moça com a Valise (1961), Dois Destinos (1962), A Corrupção (1963), Vidas Ardentes (1964), A Chance e o Amor (1964), Crime no Carro Dormitório (1965), A Fronteira (1966), Um Homem Pela Metade (1966), Duas Garotas Românticas (1967), Tropa de Choque: Um Homem a Mais (1967), Sempre Tua... Mas Infiel (1968), A Flor da Vida (1968), Viver à Noite (1968), Z (1969), O Estrangulador (1970), Pele de Asno (1970), Goya, historia de una Soledad (1971), Estado de Sítio (1972), Sessão Especial de Justiça (1975), O Deserto dos Tártaros (1976), Operação Leopardo (1980), O Ano das Medusas (1984), Desobediência (1981), Letra e Música (1984), Olhos de Tigre (1985), Cinema Paradiso (1988), Estamos Todos Bem (1990), Fuga dal Paradiso (1990), As Mãos da Morte (1992), O Vôo do Inocente (1992), Cenas de Crimes (2000), O Pacto dos Lobos (2001), A Voz do Coração (2004), Inferno (2005), Golias (2022) 

Philippe Noiret (1930-2006)




 


O Brotinho e as Respeitosas (1949), Zazie no Metrô (1960), Cyrano de Bergerac (1960), Le Capitaine Fracasse (1961), O Encontro (1961), Todo o Ouro do Mundo (1961), Amores Célebres (1961), Relato Intimo (1962), As Massagistas (1962), A Farsa do Amor e da Guerra (1966), Amante à Italiana (1966), O Adorável Canalha (1966), Quem é Polly Maggoo? (1966), A Noite dos Generais (1967), Sete Vezes Mulher (1967), Sr. Liberdade (1968), O Sindicato do Crime (1969), Topázio (1969), Seu Último Combate (1971), O Atentado (1972), A Serpente (1973), O Relojoeiro (1974), Os Alegres Subterrâneos de Paris (1974), O Jogo com o Fogo (1975), O Juiz e o Assassino (1976), O Deserto dos Tártaros (1976), Uma Mulher na Janela (1976), Minha Querida Detetive (1977), Quem está Matando os Grandes Chefes? (1978), Um Olhar Para a Vida (1980), Três Irmãos (1981), Quinteto Irreverente (1982), Golpe de Tiras (1984), Amor de Verão (1985), Tomara Que Seja Mulher (1986), Por Volta da Meia-Noite (1986), A Família (1987), Máscaras (1987), O Homem Que Plantava Árvores (1987), Três Destinos (1988), Cinema Paradiso (1988), A Volta dos Mosqueteiros (1989), A Vida e Nada Mais (1989), Socorro! Chamem o Ladrão (1990), Armadilhas do Poder (1990), Sempre aos Domingos (1991), A Filha de D'Artagnan (1994), O Carteiro e o Poeta (1994), Os Canastrões (1996), O Cavaleiro Vingador (1997)  

Agnese Nano 





Cinema Paradiso (1988), Pronto Soccorso (1990), Barocco (1991), Adelaide (1992), Fate Come Noi (2002), Milagre em Sta. Anna (2008), Aria (2009)  

Antonella Attili




 


Estamos Todos Bem (1990), Cinema Paradiso (1988), Verso Sera (1990), Declarações de Amor (1994), O Homem das Estrelas (1995), Concorrência Desleal (2001), Christine Cristina (2009), Maria, mãe de Jesus (2012), Que Estranho Chamar-se Federico (2013), Neve (2013), Quando a Roma Nevica (2015), Io che amo solo te (2015), A Música do Silêncio (2017), Uma Questão Pessoal (2017), Castelrotto (2023)  

Pupella Maggio (1910-1999)






Fora da Lei (1947), Perdidos na Escuridão (1947), O Médico dos Loucos (1954), Mulheres Perigosas (1958), Anônimas Cocottes (1960), Maridos em Perigo (1960), Duas Mulheres (1960), 4 Dias de Rebelião (1962), A Bíblia... No Início (1966), O Médico do Instituto (1968), A Fabulosa Clínica do Dr. Tersilli (1969), O Segredo da Cosa Nostra (1972), Amarcord (1973), Cinema Paradiso (1988), Sábado, Domingo e Segunda (1990)


4 comentários:

  1. Luís, td bem?
    Se eu fosse dar um subtítulo a Cinema Paradiso seria: Um tributo ao Cinema. E á vida!
    Assiste no home video. O que foi um pecado, imagino a grande experiência que perdi. Por outro lado, ninguém me viu chorar. E como! Chorei de molhar a camisa.
    Ouvi falar do filme não sei como, acho que aqui e ali haviam comentários nas locadoras. Agora percebo que não frequentava nenhum ambiente e nem tinha ninguém que me pusesse o cinema em evidência. Havia apenas o que a TV mostrava ou jornais e revistas publicavam ( lia pouco naquela época porque não tinha como frequentar banca, era estudante morando fora casa ).
    A estória era doce e terna. Tudo era tão encantador q quando se percebia — depois de uns 10 minutos — estávamos dentro da tela, dentro daquele cenário pobre, seco, pedregoso, com gente humilde pra todo lado, mas que dizia algo a todos nós. Havia ali um tio, um avô, um conhecido de algum lugar do nosso passado. Estávamos ali. Havia ali parte de nós.
    Talvez isso não valha para todas as pessoas, mas a cultura italiana é muito arraigada entre muitos no Brasil. Então, isso também ajudou nessa imersão.
    O fato é que talvez a estória só deslancha quando surge o figura de Totó menino.
    Que garoto incrível, jamais aquela espontaneidade poderia ser emulada, esse é um dos maiores milagres das artes cênicas. As cenas com Philippe Noiret apenas servem para ELE verdadeiramente brilhar e são de um encanto inesquecível.
    Foi mérito de Tornatore também ter criado um rico universo de tramas paralelas: o “dono” da praça, o mafioso local ( q infarta vendo filme de gangster ), o padre cheio de moralismos, o enamorados locais ( q vão do flerte ao matrimônio ), o lanterninha simplório, o fdp que sempre cuspia do mezanino, a meninada lá do cheira-saco. Que maravilha, não é?
    A figura sofrida da mãe achei admirável. Mulher determinada e forte. Acho q como ela vemos muitas no cinema italiano.
    E o ponto de virada na estória, mais q o acidente de Alfredo, é realmente o surgimento de Elena. Que linda estória de paixão, tão familiar a tantos, tão igual em qualquer parte do mundo e em qualquer momento da nossa passagem aqui.
    Aqui tenho q esclarecer q não vi e não conheço a versão sem cortes. Infelizmente ainda não a encontrei. Por isso a pergunta hipotética e acho que o único buraco a se esclarecer na estória. Porque ela o deixou?
    E ainda: haveria motivo para Alfredo um dia convencer Totó a partir de Giancaldo não fosse o abandono de Elena?

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  2. E quanto á estória de Totó adolescente, sem dúvida o enamoramento de Elena e sua conquista é o ponto alto desse período. Uma das mais belas imagens do filme é o beijo dos 2 , naquela noite de chuva no cais.
    Quanto ao Totó adulto, apesar do sucesso e da realização do homem, ficou para mim uma impressão de insatisfação, de uma melancolia escondida, que já existia á despeito da noite de memórias que se seguiu após a notícia da morte de Alfredo. Um vazio, algo incompleto, que dava ao personagem mais do que nostalgia.
    Talvez decepção consigo próprio?
    Por ter negado suas raízes? Por ter querido enterrar as dores do passado a qualquer custo? A sensação de ter abandonado seu povo, aqueles verdadeiramente seus? Não sei.
    E das cenas memoráveis, no final, o reencontro com os remanescentes do Paradiso, todos idosos, marcados pela vida. O velho patrão, alguns dos antigos frequentadores, a esposa de Alfredo, o louco. Enfim, só faltou o padre.
    E claro, a cena da sala de exibição.
    Meu Deus, que linda! Tocante, poética, surpreendente, emocionante.
    Durante um tempo dizia que só uma pessoa anormal ficava indiferente ao assisti-la.
    Ali se escreveu uma das mais belas páginas da história do Cinema. Mérito maior de Tornatore e dos que o ajudaram.
    E não há como falar de Cinema Paradiso sem dizer de sua trilha sonora. Como todas as grandes trilhas, um outro personagem do filme. Teve o condão de avivar todos os mais belos sentimentos em nossos corações, da alegria á paixão, do abandono ao adeus. Infinitas palmas a Enio Morricone e a sua filha, Amanda, que nos deram aquelas lindas canções para sempre ouvir e sonhar. Ás vezes com lágrimas nos olhos. Mas lágrimas que nos lavam a alma.
    Bem, disse que não vi a versão reeditada, mas nesta que tenho, nos extras, pude ver uma entrevista com Rubens Ewald Filho. Nela, ele conta da reação das pessoas em Canes quando da exibição não para o público, mas para os críticos da imprensa especializada do mundo. Esses críticos, que Rubens citava muitos até como esnobes, que normalmente preferiam um cinema mais “cabeça”, foram todos ás lágrimas, se debulharam a chorar, coisa que ele nunca viu numa platéia como aquela. Uma estória muita bacana, veja quem puder, ainda mais por rememorar o saudoso Rubens.
    Luís, tenho a impressão que algo sempre poderá ser dito sobre filmes como Cinema Paradiso, por sua grande qualidade e temática: o cinema e a vida. Que nos anos que virão possamos dividir tamanha beleza com mais e mais pessoas.
    E uma coisa muito legal que lembrei. Já falei que tenho uma pequena cinemateca, não falei?
    Pois bem. Cinema Paradiso foi o primeiro filme que comprei para esse fim.
    Um grande abraço!

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    1. Estava escrevendo o comentário das 00:08 e só quando o publiquei foi que a plataforma me mostrou este seu segundo comentário das 23:00
      Concordo quando você diz que sempre algo poderá ser dito sobre Cinema Paradiso. É um assunto que não se encerra, é daqueles filmes para se sentar com pessoas que apreciam cinema e que já passaram por muitas experiências , igual aos dos personagens como os "Alfredos" mundo afora e os Totós e Elenas. E também não se encerra em algumas poucas conversas. Talvez, para mim, o tema seja facilmente perceptível de poder ocorrer, não entre os personagens necessariamente, mas, de certa maneira, podemos reconhecer alguns desses personagens como pessoas que um dia vimos, ouvimos falar ou que sabemos existir. Seu tema universal tem algo de verdadeiro, não soa como uma fantasia sem essência, como muitos filmes tentam nos empurrar.
      Pena que a tevê a cabo e os Streaming não investem nesses filmes. Fico curioso. Há uma pesquisa de mercado ? O brasileiro, em sua maioria, não aprecia o filme ? Ou não aprecia "filmes de arte?" O gosto é mais para o popular, mais para o violento e mais para o erotismo? Alguém pode dizer: "você tem um blog de filmes e não sabe?" Acho que todos nós sabemos, mas gostaríamos que fosse diferente.
      Quanto a cinemateca, posso te dizer, gostaria sim. Tudo haver comigo, mas ainda não tive a oportunidade de ter uma (estou ainda nas estantes de livros), mas Cinema Paradiso entraria sem nenhuma dúvida. Fico muito contente em saber que você tem uma em construção. Gosto muito de saber que pessoas montam essas coleções de grandes filmes. Acredito que bons filmes, como bons livros, tem muito a nos ensinar, muito a nos trazer percepções do mundo que nos rodeia, de quebrar paradigmas, de promover associações de assuntos em nossas mentes. Um grande abraço Mário. Até a próxima.

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  3. Olá Mario. Tudo bem ?
    Para mim, assistir ao filme foi uma experiência e tanto. Agora com a moda (pelo menos no RJ) de trazerem de volta clássicos dos cinemas (estão reexibindo essa semana Seven) quem sabe estendem para outros Estados . Cinema Paradiso com certeza seria uma escolha mais do que adequada para o antigo e novo público.
    Você fez uma ótima análise do filme, concordo com suas percepções.
    Quanto a questão de Elena, aí entra a versão estendida. Por isso costumo dizer que essa primeira versão feita, de quase 3 horas, mostra o porquê da recepção tão fria dos críticos e de quem chegou a ver na época. Ela, para mim, "estraga" a história. Desconstrói, toda a poesia e lirismo que o filme criou e em sua parte final termina de um modo meio triste, meio sem emoção.
    ATENÇÃO ESSA PARTE CONTÉM SPOILERS SOBRE PARTE IMPORTANTE DO FILME
    ... E se o diretor retirou a parte onde o casal se reencontra anos depois, na versão que conhecemos, é porque quando ela lhe diz o motivo de tê-lo deixado, a percepção de alguns sobre Alfredo poderá sofrer uma mudança. Não há como deixar tais cenas, talvez, por causa deste diálogo que na versão original faz um flashback e mostra o encontro entre Alfredo e Elena. A versão "normal" resolveu deixar essa questão sem uma solução, um motivo. De certa maneira, achei que foi uma boa ideia, porque muitas vezes, na vida, é o que acontece. As pessoas nem sempre se reencontram, ou decisões tomadas nem sempre podem ser consertadas ou revertidas. Quantos optaram por suas carreiras ou foram levados a optar e deixar de lado um grande amor ? Alguns se arrependeram e outros não. E Eu diria para você "haveria alguém capaz de convencer Elena a não reencontrar Totó?"
    FIM DOS SPOILERS
    Quanto a versão estendida, você pode colocar no google "cinema paradiso" + internet archive e baixar uma das versões de 2h47mim. Infelizmente não encontrei em português na época, mas como o site permite o download, restaria baixar algumas legendas e ver a que se encaixa (se é que se encaixa ...). Seria muito bom encontrar a versão estendida a disposição, legendada em português, (eu assisti em espanhol mesmo). Taí uma compra que seu amigo poderia adicionar à locadora dele. Com certeza muitos gostariam de assistir essa "raridade". Agora se em espanhol, com legendas no mesmo idioma, já te ajuda, basta ir no YouTube e assistir pelo menos esse trecho : "Cinema Paradiso - Totò y Elena, el encuentro" que te esclarecerá muita coisa.
    Bom, é isso. Ainda estou vendo o que publicarei (um outro HD velho funcionou inesperadamente e algumas análises "perdidas" puderam ser recuperadas ou parcialmente recuperadas. Muitas estavam praticamente prontas. Eu fazia muitas análises em Word e depois ia publicando, mas como já estava preparando algumas para publicar vou ver o que farei). Essa semana ainda deve sair alguma coisa. Estou pensando em analisar o desenho Speed Racer. Tenho revisto os episódios no You Tube.
    Mario, muito obrigado por sempre comentar e adicionar ótimas impressões juntos às análises. Um grande abraço e até a próxima.

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