"ÀS
VEZES, MORTO É MELHOR”
(contém
spoilers)
O
Dr Louis (Jason Clarke), sua esposa Rachel (Amy
Seimetz), a filha Ellie (Jeté Laurence) e o filho Gage (Hugo e Lucas Lavoie) se
mudam de Boston para Maine com a intenção de viverem em uma cidade pequena. No primeiro dia de trabalho, Louis socorre um jovem estudante chamado Victor Pascow (Obssa Ahmed) que fora atropelado,
mas que viera a falecer em seus braços. Quando Ellie explora as cercanias de
sua casa conhece um estranho cemitério de animais e um senhor idoso chamado Jud
Crandall (John Lithgow) que inicia uma amizade com a família. No dia do aniversário
de Ellie, o gato da família, Church, é atropelado por um dos vários caminhões
que passam em alta velocidade à beira da rodovia onde a casa da família está
próxima. Solidário a dor que a menina sentiria, Jud conta a Louis que existe um local na floresta capaz de trazer de
volta à vida quem ali é enterrado. À
noite a dupla percorre o inóspito local. Mesmo com Louis tendo um sinistro presságio,
pelas aparições de Victor, lhe aconselhando a não ultrapassar "a
barreira", eles seguem com o ritual. No dia
seguinte Church reaparece bem diferente: mais sombrio e violento. Quando Louis passa pela tragédia de ter um
dos filhos mortos, resolve enterrar o corpo no mesmo local agora com a
reprovação de Jud. O que Louis descobre é que cometera o maior
erro de sua vida.
Cemitério
Maldito é uma refilmagem do filme de 1989 que era baseado no livro do escritor
americano Stephen King, com uma nova abordagem, acrescentado de novos elementos
para dar dinamismo à narrativa. Dirigido pela dupla Kevin Kölsch e Dennis Widmyer
("Feriados" "Starry Eye" e "Mama 2"), sob a
adaptação da estória por Matt Greenberg ("Reino de Fogo" e
"1408"), possui elementos suficientes para entreter
uma nova faixa de público. Sendo uma refilmagem,
não há como fugir de alguns spoilers, até pela questão da comparação entre as
duas obras.
O
problema das duas versões é o fato de Stephen King alegar ser este o seu livro
mais sombrio e mais assustador que escrevera. Então julga-se que uma nova
adaptação, após tantas tentativas erradas de transportar às telas os livros de
King, deveria ser pelo menos no nível do que foi realizado pelo escritor. Mas
não é o que acontece. Ambas as versões deixam a desejar, mas como transportar integralmente
elementos que funcionam em páginas para algo que funcione em uma tela? Poucas
adaptações são completamente fiéis. O que coloca esta última versão à frente é
que alguns filmes feitos nos anos 80 tinham um compromisso mais com a
criatividade do que o bom senso. Se
considerarmos que It (2017) veio com força total às telas, agradou público e
crítica, gerando um continuação para setembro, tornará
o espectador mais exigente e os estúdios perceberão que dá sim pra fazer filmes que
funcionem nos ricos materiais que o autor publica. Nisso, a produção optou por
fazer mudanças drásticas, seja para evitar o "já vi esse filme" ou
para fazer algo mais consideravelmente digno da obra de King.
Vamos
analisar alguns elementos: Comecemos pelo idoso Jud. Aqui houve uma mudança bem
interessante. No original Jud (Fred Gwynne) apresenta o cemitério à família. No
filme atual Ellie o descobre, mas, o local exato, ainda é apresentado por Jud
(John Lithgow) a Louis. Fred
Gwynne teve uma boa atuação no papel de Jud e John Lithgow o reproduz com a
eficiência costumaz. Já Victor Pascow ficou melhor aqui, mais enigmático e
aparecendo menos. Esse "fantasma" interpretado por Brad Greenquist parecia uma versão
do "homem morto" de "Um Lobisomem Americano em Londres" que falava com o personagem e aparecia em cenas diversas. A Zelda (a mulher
como uma deformação óssea) me assustava mais na outra versão (caso não saibam
foi interpretado por um homem: o ator Andrew Hubatsek). Agora a
personagem tem uma morte mais dramática e impactante e explica-se melhor os
assombros de Rachel que fez uma personagem bem interessante. Quanto a Louis, Jason Clarke entrega um
personagem com muito mais recursos que o de Dale Midkiff. O ator consegue passar aquela face
de dor, loucura e desamparo necessários ao papel. Agora vem a mudança drástica
no roteiro: Na primeira versão é Gage (Miko Hughes) quem volta dos mortos e
ataca a família. Agora é Annie. Mesmo que, nesse ponto, o filme dos anos 80
seja fiel ao livro, quando transportado às telas, aquela criança entre 2 e 3
anos não me passava convicção, ainda que
a diretora Mary Lambert de "Cemitério
Maldito 2" (e vários clips da cantora Madona e outros artistas) tenha
conseguido tirar água de pedra com o pequeno ator, a ponto do filme fazer
sucesso e gerar uma continuação (dispensável) em 1992. A atuação de Jeté
Laurence trouxe maior dramaticidade, sendo uma escolha mais do que acertada,
visto que a menina consegue, em um papel difícil, fazer duas versões bem
distintas: ingênua e intimidante e aterrorizante. E uma menina pode fazer
coisas que um quase bebê não conseguiria.
A
atmosfera de terror está melhor nesta nova versão, assim como o ser responsável
por trazer de volta (que só é citado, nunca aparecendo) à vida aqueles que
ousam ali enterrar seus mortos. O livro
enfatiza o luto e a incapacidade do ser humano em aceitar a morte como algo
natural, mesmo em um momento trágico e os limites que nossos corações e mentes se sustentam para
combatê-lo. Louis descobriu que ressuscitar Church não foi uma boa ideia,
mas quando as apostas se voltam a sua carne e sangue razão não é algo fácil de
se manter e a aura maligna do lugar ainda dá uma forcinha para que esse termo (razão) tenha uma definição diferente do que conhecemos. Obviamente perceberemos
que Jud, Louis e a Rachel possuem
concepções bem diferentes sobre a morte. Um dos melhores momentos acontece
quando Ellie pergunta ao pai se ele sabe de onde ela voltou e este fica
paralisado, sem saber o que lhe responder. Como um homem da ciência, que não
acredita em dogmas religiosos, responderia a essa questão? Mudar o curso
natural da vida tem, no fim das contas, o seu preço.
Trinta
anos se passaram desde a adaptação cinematográfica de 1989 de Mary Lambert e esta
nova versão tem pontos positivos como as excelentes atuações do elenco (e oito
gatos para interpretar Church); a fotografia em tons cinzentos suaves, a cargo
de Laurie Rose ("Operação
Overlord", "Stan & Ollie"); a trilha do filme a cargo do
compositor Christopher Young, um veterano no meio ("Hellraiser II: Renascido
das Trevas"; "A Experiência", "Hurricane, o Furacão", "A Filha da Luz", "A Casa de Vidro", "O Exorcismo de Emily
Rose", "Arraste-me para o Inferno", "Livrai-nos do Mal"
...); Um final completamente diferente do livro e que o espectador dificilmente
descobrirá. Fora a aura de malignidade que o filme apresenta. Até o indício
subliminar do erro de grafia na placa, "Pet Sematary" (o correto seria
Cemetery), sugere melhor ao espectador que já existia algo de errado naquele
local. O contraponto do filme talvez esteja em não aprofundar no luto, nos
traumas, sentimentos de culpa e aceitação da morte que poderiam ser aprimorados
se a duração do filme fosse um pouco
mais longa, permitindo assim uma mescla de terror psicológico com o "real".
Ainda
que a versão de 1989 divida espectadores (há quem ache trash, há quem ache cult
e há os que acham apenas "assistível"), na época, chamou a atenção e era bem
alugado nas locadoras de VHS, impulsionada pela música dos Ramones que deu
maior visibilidade a produção rendendo um pouco mais de cinco vezes o seu custo
só nos Estados Unidos. Essa versão atual me impressionou mais pelas descrições acima.
Foi prometida uma continuação em caso de sucesso financeiro. Seria interessante
descobrir como a estória seguiria ou a influência do cemitério em novos
personagens.
Trailer:
Curiosidades:
Andy Muschietti, que dirigiu It: A Coisa (2017), manifestou interesse em dirigir este filme.
Em Cemitério Maldito (1989), Ellie Creed foi interpretada por gêmeas, e neste, Gage é interpretado por gêmeos, Lucas e Hugo Lavoie.
Infelizmente em 30 de maio de 2019 o gato principal que retratou Church na fase "morto-vivo faleceu. Kir Jarrett, que o adotou depois das filmagens, anunciou a triste notícia em uma conta no Instagram dedicada ao seu amigo peludo (chamado Leo).
O filme também não especifica a doença que se abateu sobre Zelda. "É a memória de Rachel, mas nunca dizemos o que ela tem", disse Widmyer.
John Lithgow e Jason Clarke participaram da franquia Planeta dos Macacos. Lithgow em "Planeta dos Macacos: A Origem" (2011) e Clarke em "Planeta dos Macacos - O Confronto" (2014).
John Lithgow e Jason Clarke participaram da franquia Planeta dos Macacos. Lithgow em "Planeta dos Macacos: A Origem" (2011) e Clarke em "Planeta dos Macacos - O Confronto" (2014).
Há Referências aos livros de King (ou como hoje alguns gostam de falar: homenagens) e a outras produções: "O Iluminado" (1980) também de Stephen King, quando Ellie está tentando invadir o banheiro para matar Rachel; O sucesso dos Ramones (Pet Sematary) nos créditos finais (bem) interpretado agora pela banda Starcrawler; Quando Church está em cima de Gage, remete ao filme "Olhos de Gato", só que naquele filme o Gato tenta salvar a menina; Ou quando Ellie é atingida por um trailer, como Johnny em "Na Hora da Zona Morta" (1983) outra obra de king; No aniversário de Ellie, Jud comenta: "Houve um grande São Bernardo. Ele teve raiva ...". uma referência a "Cujo" (1983), outro filme baseado no livro homônimo de King.
Stephen King propôs um final alternativo, onde Gage está andando no meio da estrada, a madrugada está se aproximando, e um caminhão é ouvido vindo ", e pensa: 'Oh meu Deus, ele vai se engraxar na estrada. É assim que isso é vai acabar! '"King disse. Então, no último segundo, essa mulher o puxa para fora da estrada e o resgata, dizendo: "Onde está sua mamãe e papai?" "E é assim que você termina a coisa. Mas isso não é o que eles mostram." ele afirmou.
Múltiplas versões do final foram escritas e algumas delas foram filmadas. Um deles foi o final original do livro, e quando eles mostraram os dois finais para testar audiências, o novo teve a melhor resposta, de acordo com o produtor Lorenzo Di Bonaventura.
Quando Church e Ellie são ressuscitadas, ambos têm um olho ligeiramente fechado.
Enquanto o filme termina ambiguamente sobre o destino de Gage, o começo nos mostra as consequências da cena final, ou seja, uma pequena marca de sangue na janela do carro com um rastro de sangue que leva até a varanda da frente.
A força do mal no romance do seminário de estimação é o Wendigo, um demônio nativo americano que assombra a terra e influencia os corações dos homens.
Zelda foi baseada em uma reportagem que Widmyer leu na qual uma garçonete caiu em um aparador e quebrou o pescoço durante sua primeira semana no trabalho. "A ideia de morrer dessa maneira foi tão horrível para mim que dissemos, você sabe, e se tentássemos fazer mais com isso?" Widmyer disse. "Isso ainda me assusta quando penso nisso."
Está implícito que Church atraiu Ellie para o caminho do caminhão em vingança por Louis abandoná-lo fora da cidade.
Gage é mostrado pela primeira vez brincando com um caminhão de brinquedo
prenunciando a morte de Ellie quando ela é atingida por um caminhão.
Filmografia Parcial:
Jason Clarke
Dilemma (1997); Fugindo do Passado (1998); Praise (1998); Paixão e Sedução (2000); Confusão na Austrália (2000); Geração Roubada (2002); Uma Cilada de Mestre (2008); Corrida Mortal (2008); De Caso com o Inimigo (2008); Inimigos Públicos (2009); Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme (2010); Confiar (2010); A Hora Mais Escura (2012); O Grande Gatsby (2013); O Ataque (2013); Planeta dos Macacos: O Confronto (2014); Cavaleiro de Copas (2015); Crimes Ocultos (2015); O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015); A Maldição da Casa Winchester (2018); O Primeiro Homem (2018); Cemitério Maldito (2019); O Diabo de Cada Dia (2020)
Amy Seimetz
Paixão Suicida (2006);
Mobília Mínima (2010); A Horrible Way to Die (2010); Balas de Prata
(2011); O Prato e a Colher (2011); Você é o Próximo (2011); Possession
(2012); O Último Sacramento (2013); Buscando um Velho Amor (2013);
Alien: Covenant (2017); A Rota Selvagem (2017); Cemitério Maldito (2019)
Jeté Laurence
Jeté Laurence
Damsel (2015); Boneco de Neve (2017); The Ranger (2018); Cemitério Maldito (2019)
John Lithgow
Trágica
Obsessão (1976); O Show Deve Continuar (1979); Um Tiro na Noite (1981);
Dançando como Loucos (1982); O Mundo Segundo Garp (1982); No Limite da Realidade (1983); O Dia Seguinte ( 1983); Laços de Ternura (1984); 2010 -
O Ano Em Que Faremos Contato (1984); Jogos Fatais (1986); Um Hóspede do
Barulho (1987); Torturado Pelo Passado (1988); Memphis Belle - A
Fortaleza Voadora (1990); Sem Limite para Vingar (1991); Síndrome de
Caim (1992); Risco Total (1993); O Dossiê Pelicano (1993); Testemunha do
Silêncio (1994); A Qualquer Preço (1998); Correndo Atrás do Diploma
(2002); A Vida e Morte de Peter Sellers (2004); Os Delírios de Consumo
de Becky Bloom (2009); Planeta dos Macacos: A Origem (2011); Bem-vindo
aos 40 (2014); Dívida de Honra (2014); O Contador (2016); Pai em Dose Dupla 2 (2017); A Escolha Perfeita 3 (2017)
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