ROBÔ
SENCIENTE
Em
um futuro próximo (em 2016), em Joanesburgo (África do Sul), a criminalidade
alcança altos índices obrigando o Estado, através da empresa Tetra Vaal, a
criar unidades robóticas de combate urbano chamadas Scouts. Feitas de titânio,
essas unidades se tornam um sucesso e passam a ser usadas em massa substituindo
oficiais humanos. O seu principal idealizador Deon (Dev Patel) deseja criar uma
unidade com inteligência artificial, mas a CEO da corporação, Michelle Bradley
(Sigourney Weaver), não deslumbra um benefício militar no projeto. Deon não desiste e rouba os restos de uma
unidade parcialmente e inutilizada em combate, o Scout 22, e resolve equipá-la com um programa que o fará pensar e tornar-se autossuficiente.
Ninja,
Yo-Landi (os rappers sul-africanos do grupo Die Antwoord) e Amerika (Jose Pablo
Cantillo) devem dinheiro a um poderoso criminoso, Hippo (Brandon Auret), e resolvem elaborar um
plano: sequestrar Deon e obrigá-lo a criar um dispositivo que possa dá-lhes
controle total sobre as unidades, podendo assim voltar a praticar roubos e
pagar suas dívidas. Quando sequestram Deon descobrem que ele está com Scout 22.
Deon ativa a unidade com sucesso, mas o trio resolve que ficará com o robô,
agora chamado por Yo-Landi de
"Chappie". Deon explica que a
unidade tem a capacidade de aprender e se desenvolver como um humano (só que mais rápido) e se
propõe a ensiná-lo, pois teria a mente de um bebê. Ninja quer que Chappie (voz
e movimento de Sharlto Copley) seja utilizado para roubos e passa a educá-lo
com a ajuda de seus amigos estranhos e disfuncionais. Enquanto isso Vincent
Moore (Hugh Jackman) desenvolve um dróide, controlado através de um capacete
com comandos mentais, maior e mais mortal que considera eficiente para combater
a criminalidade e subserviente aos humanos, mas Michelle não aprova sua
invenção. Após descobrir que Deon criou uma unidade consciente, Vincent
começará a colocar seu plano em prática de mostrar que seu combatente
cibernético é o mais adequado.
Dirigido
por Neill Blomkamp e co-escrito com a esposa, Terri Tatchell (que também
colaborou em "Distrito 9"), Chappie era um filme ambicioso, mas algo
se perdeu no meio do caminho. Talvez já em sua concepção podemos entender um
pouco do que se passou. Blomkamp em seu
terceiro filme (diretor do elogiado "Distrito 9" e do decepcionante
"Elysium") quis falar sobre um filme onde um robô adquire
consciência, teme, sente, deseja, tem sentido de preservação e questiona a sua
criação em uma sociedade distópica. Mas, em entrevista, teria dito que o robô
era um elemento secundário. Se você precisa explicar isso ao espectador para
entender a real ideia por trás do filme, algo no roteiro está bem errado, até
porque a percepção é de que o elemento principal é Chappie e não a dialética
filosófica de como uma "consciência pura" evoluiria criada em um
ambiente hostil e se seria capaz de desafiar a influência negativa de seus
"pais". Então vou basear minha análise nessa premissa.
O
espectador poderá ver várias influências de obras como: Robocop (a máquina criada
por Vicente e os "noticiários" explicando a realidade local); Blade Runner (lembram que estes adquirem consciência e querem viver mais?); o
Exterminador do Futuro (os robôs com as armas e o momento em que Chappie ganha
um novo braço). Vocês podem também perceber um quê de Pinóquio, Short Circuit -
O Incrível Robô, Frankenstein, Ex-Machina, A.I - Inteligência Artificial ...
Chappie é uma "criança robô" que aprenderá na marra como o mundo
funciona. Um personagem infantil dentro de um contexto filosoficamente adulto.
Convenhamos que não é fácil elaborar uma tese, ainda mais demonstrá-la
pictoricamente em um filme de ficção científica.
Ao ser "sequestrado"
Chappie terá um outro tipo de ensino e veremos o questionamento se o meio muda
o indivíduo; se o mundo aqui fora transforma as pessoas de acordo com a
interação, ensino e experiência com pessoas. Poderia ter sido uma grande obra,
mas o diretor precisava de um filme que atraísse as plateias e pôs ação e
bandidos caricatos e um quê de ambientação das hqs (se intencional ou não é outra
questão) e a discussão ficou perdida sob uma camada que não chegou a todos. Era
para o ser o primeiro de uma trilogia, daí a estória ser contada como a origem
de Chappie, mas o diretor avisou que não haverá uma continuação. Com um
orçamento melhor, um roteiro mais maduro e set de filmagens mais interessantes
poderia dar certo. Há vários questionamentos e elementos perceptíveis na
narrativa: a mudança na linguagem corporal de Chappie (ele não tem um rosto
para demonstrar emoções) de acordo com o amadurecimento de sua consciência; o Estado passando para a iniciativa privada a manutenção da lei; a analogia a
responsabilidade paterna (Deon como um pai ora ausente e ora preocupado em dar
instrução e ensinar o correto, Ninja - um padrasto cruel e ignorante - que chama Chappie de retardado - e pensa
somente em benefício próprio; Yo, uma madrasta afetiva, mas subserviente a Ninja
e, Amerika, o tio "engraçado e pirado"); sociedade liberal versus totalitária (poderiam ter explorado melhor este aspecto); a potencialidade da
inteligência artificial em seres cibernéticos; uma máquina com consciência pode
sentir felicidade ou infelicidade?; um robô pode entender o conceito de promessa
(feita a Deon)?.
Esse
amalgama de várias produções foge do conceitualismo e coloca certa dose de violência
e ação que pode confundir o espectador naquilo que o diretor realmente
pretende mostrar. Há problemas? Sim. O trio de criminosos, meio abobado,
atrapalhou o filme que merecia um tom mais sério (mas se você não está nem aí
para filosofia, funcionaram bem dentro da estória). Sigourney Weaver foi
subaproveitada e o papel não faria muita diferença com outra atriz. Hugh
Jackman, fazendo um papel de "vilão", ficou interessante, mas perderam
uma ótima oportunidade de transformá-lo em um elemento dissonante nessa questão
filosófica ao simplificá-lo a um vilão delirante. Outra questão que ficou
estranha é uma "máquina", tão valiosa para o trio, ser simplesmente
largada à própria sorte em um local hostil para "embrutecer".
Em
certo ponto percebemos um sub-enredo onde Chappie conjectura como que dizendo:
a humanidade é isso? Pessoas selvagens ... e ambiciosas que só pensam em si e
tendem a um instinto natural de destruição mútua? E a principal pergunta: Por
que vocês fazem isso? Se o ser humano é consciente de suas ações porque aceita
que instintos primários o dominem? Com a omissão de certas situações e melhor
desenvolvimento de personagens, Chappie poderia ser um belo ensaio sobre o ser
humano imperfeito tentando criar algo (Brincar de Deus?), que está longe de
alcançar. A pergunta que fica: o ser humano foi um projeto que deu errado?
Filosófico? Sim, mas que poderia ser bem mais profundo em suas questões
Trailer legendado:
Curiosidades:
Yo-landi
e Ninja usam os próprios nomes artísticos para os seus personagens no filme.
Yo-landi Visser (nome de nascimento: Anri du Toit) e Ninja (nome de nascimento:
Watkin Tudor Jones) são membros do grupo sul-africano de rave-rap Die Antwoord.
Dev
Patel foi indicado ao Oscar por Lion (2016)
Hugh
Jackman foi indicado ao Oscar por Os Miseráveis (2013)
Sigourney
Weaver foi indicada ao Oscar por Aliens (1986); Uma Secretária de Futuro (1987)
e Nas Montanhas dos Gorilas (1988)
A
casa usada para como covil de Hippo (Brandon Auret ) era a casa de infância de
Neill Blomkamp.
O
filme é estrelado por Ninja e Yo-Landi Visser, do polêmico grupo de rap
Sul-Africano Die Antwoord (no dialeto Sul-Africano:"A Resposta"), que
são fãs do trabalho de Blomkamp. Ninja tem uma tatuagem "D9"- ou
seja, Distrito 9 (2009) - em seu lábio interior.
Brandon
Auret, que interpreta "Hippo", admitiu abertamente seu desdém por sua
co-estrela Ninja (Watkin Tudor Jones) em uma entrevista. Ele citou dizendo:
"Todo mundo sabe o relacionamento que eu tenho com Waddy. Eu não ligo
muito para ele. Eu não ligo muito para sua banda, eu não ligo muito para
qualquer coisa que ele faz, você sabe, quando alguém vem e sente que eles têm o
direito de dizer-lhe como fazer o seu trabalho? Sim, isso se tornou um problema
".
O
nome Tetravaal pode ser visto no Distrito 9 (2009) em uma parede quando Wikus e
Christopher entram nos laboratórios da MNU para roubar o combustível da
nave-mãe.
As
antenas de orelha de coelho dos robôs são inspiradas no personagem Briareos do
mangá "Appleseed" de Shirow Masamune, do qual Neill Blomkamp é fã.
Hugh
Jackman usa seu sotaque australiano natural neste filme.
Ninja
e Yo-Landi Visser lideraram os designers de produção na criação de seu cenário
para o filme, pintando os murais nas paredes e criando a maioria das ideias
originais.
Ninja
também foi a primeira escolha de Neill Blomkamp para interpretar o papel
principal no longa-metragem Elysium (2013), mas ele recusou o papel,
alegadamente porque ele não queria que seu primeiro papel na tela fosse um
personagem com sotaque.
Apesar
de ter papéis principais no filme, Ninja e Yo-Landi Visser de Die Antwoord
raramente eram vistos nas promoções do filme.
No
colete do Ninja, você pode ver um logotipo. Esse mesmo logotipo é tatuado em
seu braço direito. O logotipo é do MNU (Multi-National-United), que aparece no
Distrito 9 (2009).
Neill
Blomkamp e sua esposa Terri Tatchell escreveram o filme em duas semanas,
enquanto Blomkamp estava fazendo Elysium (2013).
Embora
semelhante ao fuzil que aparece em "O Senhor das Armas" (2005), a
arma de Hippo foi feita especialmente para a produção.
Na
vida real, Ninja e Yo-Landi Visser têm uma filha chamada Sixteen, que apareceu
nos vídeos do Die Antwoord. Eles não são um casal, no entanto.
Michael
Biehn foi convidado por Neill Blomkamp para fazer um teste para o papel que foi
para Sigourney Weaver, o co-star de Biehn, Aliens, o Resgate (1986).
No
final alternativo, a consciência de Chappie é transferida para todos os robôs
da polícia. Está incluído nos recursos especiais do Blu-ray.
Quando
os capangas do Tetra Vaal estão tentando invadir o laboratório, onde Chappie
está prestes a transferir a consciência de Deon, é Sharlto Copley que
interpreta o policial pedindo uma rebarbadora.
Filmografia
Parcial:
Dev
Patel
Quem
Quer Ser um Milionário? (2008); O Último Mestre do Ar (2010); O Exótico Hotel
Marigold (2011); Chappie (2015); O Homem que viu o Infinito (2015); Lion: Uma Jornada Para Casa (2016); Hotel Mumbai (2017).
Hugh
Jackman
X-Men:
O Filme (2000); A Senha: Swordfish (2001);X-Men 2 (2003); Van Helsing: O
Caçador de Monstros (2004); X-Men: O Confronto Final (2006); O Grande Truque
(2006); A Lista: Você Está Livre Hoje? (2008); X-Men Origens: Wolverine (2009);
X-Men: Primeira Classe (2011); Gigantes de Aço (2011); Os Miseráveis (2012);
Wolverine: Imortal (2013); X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014); X-Men:
Apocalipse (2016)
Sigourney
Weaver
Noivo
Neurótico, Noiva Nervosa (1977); Alien, o Oitavo Passageiro (1979); Testemunha
Fatal (1981); O Ano Que Vivemos em Perigo (1982); Os Caça-Fantasmas (1984);
Aliens, o Resgate (1986); Nas Montanhas dos Gorilas (1988); Uma Secretária de
Futuro (1988); Os Caça-Fantasmas
2 (1989); Alien 3 (1992); 1492: A Conquista do Paraíso (1992); Dave, Presidente
por um Dia (1993); A Morte e a Donzela (1994); Copycat: A Vida Imita a Morte
(1995) Alien, a Ressurreição (1997); Heróis Fora de Órbita (1999); A Vila
(2004); Rebobine, por Favor (2008); Ponto de Vista (2008); Avatar (2009); Um
Tira Acima da Lei (2011); Poder Paranormal (2012); O Segredo da Cabana (2012);
Vampiras (2012); Êxodo: Deuses e Reis (2014); Chappie (2015); Caça-Fantasmas
(2016); Sete Minutos Depois da Meia-Noite (2016); Vingança (2016); Avatar 2
(2020); Avatar 3 (2021); Avatar 4 (2024); Avatar 4 (2025)
Jose
Pablo Cantillo
Sob
o Domínio do Mal (2004); Os Acorrentados (2005); Bondage (2006); Adrenalina
(2006); Paranoia (2007); Evidências de um Crime (2007); Cinturão Vermelho
(2008); Adrenalina 2 (2009); Ruas de Sangue (2009); Elysium (2013); El Chicano
(2018)
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