QUE TAL ENXERGAR O OPOSTO ?
William Kamkwamba (Maxwell Simba) é um menino de 13 anos que vive em Malawi (ou Malauí), localizado no sudeste da África, no ano de 2001, assolado por enchentes e secas. Seu pai, Trywell (Chiwetel Ejiofor), tenta a todo custo sobreviver aos intemperes que a vida lhe impõe. Sem ajuda do governo aos agricultores da região, vê todos os seus sonhos desaparecerem junto com a safra que lhes abasteceria. O ano será muito difícil: fome e miséria assombra a todos e o ataque de 11 de Setembro aos EUA repercute no mercado global, mas o pequeno William tem uma ideia: construir um cata-vento que possa gerar energia eólica e salvar a todos de um destino trágico.
Produto
da Netflix, "O Menino que Descobriu o Vento" é uma produção sem
muitos requintes, mas com uma surpreendente direção e roteiro. A história real do
menino que, com recursos limitadíssimos, utiliza energia eólica a partir de um
lixão é instigante e reflexiva. O ator Chiwetel Ejiofor ("12 Anos de Escravidão"),
estreando na direção, adaptou o romance autobiográfico de William Kamkwamba e
Bryan Mealer expondo o panorama de uma vila em uma parte da África desprovida
de igualdade de oportunidades, abandonada pelos políticos, que só desejam poder
e bajulação, além de uma crítica humana e ambiental.
Trywell
é um homem do campo. Sem estudo, junto com a esposa e filhos, vive da sobrevivência
do que a terra pode lhes dar. Sua filha mais velha conseguiu terminar os
estudos e visa uma faculdade (e a vontade de ir embora do lugar). William ainda estuda e deveria seguir o mesmo
caminho. Mas depender da sorte e do clima é algo complicado, num local em que
seus vizinhos estão vendendo as terras para a extração de madeira com o intuito
de fugirem temporariamente da miséria. Só que há um preço: sem arvores, não há
absorção das águas das chuvas. A região chove torrencialmente parte do ano e a
inundação destrói tudo. No prolongado período seco, a aldeia vive de parcos poços
artesianos e a terra se torna árida praticamente impossibilitando o cultivo
(mas não é infértil). Não há sistema de irrigação, apenas porque não sabem como
fazê-lo e não possuem condições financeiras para tal.
Trywell
quer que seus filhos sejam do "novo mundo" e com estudo possam fugir de um
destino reservado geração após geração. Mas há um problema: a escola não é
pública: se não se paga a mensalidade, não se pode frequentar e a família não
possui tal quantia. O diretor é ameaçador e irredutível (sem pagamento não há
professores, sem professores não há aulas). William se esconde na sala para assistir as
aulas. Ele deseja abrir suas asas e voar. Mas ele começa a se provar diferente:
não reclamará da própria sorte como os demais, construirá sua sorte.
William
aprendeu a consertar rádios e ganhar alguns trocados. Ao ver uma lanterna em
uma bicicleta fica intrigado como ela é alimentada e descobre uma palavra: dínamo.
E um conceito: eletricidade. Sem poder frequentar as aulas ele tem uma ideia
simples e engenhosa passando a pô-la em prática, mas há um empecilho: ninguém
consegue entender sua ideia, nem deslumbrar em como isso os ajudariam. Para
muitos, William está apenas construindo um brinquedo, mas o menino mostra que
inteligência, força de vontade e determinação independem de raça, idade ou cor
e o resultado de sua empreitada transformará em definitivo a vida de todos.
O filme não procura vitimar os que ali estão, mas critica o papel de um governo corrupto, cujas ações não são para beneficiar seus cidadãos. Quem levanta a voz sofre as punições. A educação é para poucos. Não há interesse em educar quem cuida da terra. Não há interesse em quem pense. Pensar pode modificar votos e mudar sistemas políticos e a maioria dos aldeões não entendem porque William se incomoda em estudar. O filme também mostra que para uns onde há crise, para outros há oportunidade. William encontra um livro, fonte de sua inspiração, "Using Energy", para estudar seus conceitos. Outros poderiam ter feito? Sim, há professores por ali que poderiam ensinar tal conceito a população, mas porque um menino de 13 anos foi proativo a ponto de aprender e aplicar seu sonho? O que diferencia certas pessoas de outras?
Um
pouco sobre Malauí: de acordo com FMI, o país é um dos mais economicamente
pobres do mundo. O produto de exportação é o fumo (por isso se fala da indústria
do tabaco no filme). O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) é um dos menores
do planeta: 0,385. 55% da população vive abaixo da linha da pobreza e a
mortalidade é de 80 óbitos para cada mil nascidos. Mais de 80% residem em áreas
rurais. Expectativa de vida: 47 anos. O país faz fronteira com a Tanzânia, Zâmbia
e Moçambique (Fonte: Brasil Escola)
E
aí o espectador se percebe inserido no ditado: "o que é lixo para uns é
tesouro para outros". William se utiliza, entre outras coisas, de parte de
uma bicicleta (uma das questões mais complicadas de se conseguir como veremos);
pá de ventilador, fios e árvores de eucaliptos. E embora ocorram algumas
liberdades dramáticas (elas sempre existem), o filme possui uma narrativa
tranquila de ser acompanhada, aliada a bela fotografia de Dick Pope de filmes como O Ilusionista (2006) e Mr. Turner (2014) que lhe renderam indicações ao Oscar.
A
Netflix vem logrando êxito em produções aparentemente simples, mas com
roteiros que captam a atenção o espectador pela densidade e sutilezas. O filme centra muito na questão de que a educação
é a base de crescimento de uma nação e que jovens gênios estão espalhados pelo
mundo. Alguns lograrão sucesso, outros terão suas vidas abreviadas pelas parcas
condições de existência. Esse impressionante relato de lugares onde a
tecnologia ainda não chegou, nos mostra que esta ainda é uma aliada do ser humano
e não apenas fonte de divertimento e alienação.
O ator Chiwetel Ejiofor empresta muito da sua experiência em interpretação ao filme e
deixa para o jovem ator queniano a missão de conduzir o filme, onde o faz muito bem
(mais um grande ator pode estar surgindo). A se elogiar também a direção de Ejiofor
que também demonstra talento nesse seu primeiro trabalho na área. Um filme que vale para expandir nossos horizontes.
Trailer:
Curiosidades:
Chiwetel Ejiofor teve que aprender a língua malauiana falada no filme.
Chiwetel Ejiofor comprou os direitos da história depois de ler o livro.
Joseph Marcell, do seriado "Um maluco no Pedaço"(The Fresh Prince of Bel-Air) faz uma participação como o chefe Wembe.
Chiwetel Ejiofor foi indicado ao Oscar por 12 Anos de Escravidão (2013)
O Livro:
Filmografia Parcial:
Chiwetel Ejiofor
Chiwetel Ejiofor foi indicado ao Oscar por 12 Anos de Escravidão (2013)
O Livro:
Filmografia Parcial:
Chiwetel Ejiofor
Amistad (1997); Coisas Belas E Sujas (2002); Simplesmente Amor (2003); Sombras Do Passado (2004); Quatro Irmãos (2005); Serenity: A Luta Pelo Amanhã (2005); O Crime Perfeito (2005); O Plano Perfeito (2006); Filhos da Esperança (2006); O Gângster (2007); Cinturão Vermelho (2008); 2012 (2009); 12 Anos de Escravidão (2013); Meio Sol Amarelo (2013); Os Últimos na Terra (2015); Doutor Estranho (2016); Mary Magdalene (2017); A Caminho da Fé (2018); Maria Madalena (2018); O Menino que Descobriu o Vento (2019); Malévola: Dona do Mal (2019); The Old Guard (2020); Infinite (2021); Rob Peace (2020); Doctor Strange in the Multiverse of Madness (2022)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre