quarta-feira, 10 de outubro de 2018

CORAÇÃO LOUCO / CRAZY HEART (2005) - ESTADOS UNIDOS



A VIDA COMO ELA É

Bad Blake (Jeff Bridges) é uma ex-estrela da música country americana. Aos 57 anos, viaja pelas estradas do sudoeste americano se apresentando em pequenos restaurantes e bares baratos para conseguir alguns trocados. Sua fama adquirida ainda lhe rende frutos, mas sua imersão no álcool roubou-lhe o que tinha de mais precioso: sua facilidade em compor músicas com profundidade, algo cada vez mais raro numa indústria que já viu grandes ídolos. Seu agente consegue pequenos shows e lhe pede que volte a compor, pois ainda há "fogo sob as cinzas", mas Blake só que viver um dia de cada vez.


Ao ser entrevistado pela bela repórter, Jean Craddock (Maggie Gyllenhaal), um interesse mútuo começa a surgir entre o casal. Blake segue com suas peregrinações  a procura de shows que lhe rendam uns trocados, mas começa a se encontrar com Jean: ele de 4 casamentos fracassados e ela mãe de um garotinho fruto de um relacionamento que também não deu certo. Jean vê em Blake alguém cujo investimento em um relacionamento sério lhe agrada muito, Blake se apaixona pela frágil repórter de bom coração, mas ele já possui uma esposa muito possessiva: a bebida


Coração Louco rendeu o Globo de Ouro e Oscar de Melhor Ator a Jeff Bridges, finalmente, em sua quinta indicação: A Última Sessão de Cinema; Starman; O Último Golpe, A Conspiração. No ano seguinte pelas mãos dos irmãos Coen quase levou seu segundo Oscar pelo faroeste "Bravura Indômita". Nada mal para um ator que, no final da década de 70, François Truffaut teria dito que só dois atores salvariam Hollywood da mesmice: John Travolta e Jeff Bridges. O diretor francês sabia como poucos, perceber grandes atores.


Bridges faz um cantor country decadente, cujo apelido é " o renegado do amor". Alcoólatra, vê-se em um declínio cada vez mais eminente, enquanto seu pupilo Tommy Sweet (Colin Farrell) tornou-se uma estrela e está no auge. Blake lançou Tommy e agora deseja (e precisa) gravar com seu pupilo, mas as gravadoras querem material novo. Blake sempre foi um ótimo letrista, mas isso ficou no passado. Agora ele é alguém que simplesmente desistiu, alguém que como muitos que vão desaparecendo no meio da breve poeira da fama. Sempre teve talento, nunca se rendeu a bilionária indústria da música, mas uma rusga entre os dois cantores os impede de serem os grandes amigos que foram no passado. Só lhe resta descobrir até quando será lembrado por seu público, mas o destino lhe coloca uma pessoa que pode mudar tudo. Uma pessoa que vê o seu lado bom, que se afeiçoa ao frágil ser humano com pose de durão. Ela vê nele algo que ele mesmo não se vê. Ela confia nele e nesse relacionamento confiança é tudo para Jean. Ela confiou em outros relacionamentos e os resultados a levaram a optar por ter uma vida solitária ao lado do pequeno filho. A felicidade finalmente parece ter surgido para ambos, mas Blake está preparado para ser feliz? Está preparado para largar a bebida que lhe cobra servidão? 
 

O fato de Bridges cantar realmente deu crivo ao filme. As canções ficaram muito bem em sua voz e o ator transmite uma simpatia com o seu personagem. O diretor Scott Cooper (em sua estreia) não tem uma filmografia muito conhecida, mas fez um filme acima da média. Ele conduz a estória de uma maneira direta sem as pieguices do gênero e transpõe para frente das câmeras uma estória que pode ser de muitos casais, com direito a um final honesto, até de certo modo lírico, onde os envolvidos foram corajosos em manter-se dentro de uma coerência. A ótima química entre Bridges e Gyllenhaal foi a base para que o filme fluísse tão bem, aliado a uma trilha sonora de ótimo gosto, onde até Colin Farrell canta em alguns momentos



Jeff Bridges está excelente. Muito justa a sua conquista da estatueta. Seu personagem não é o cara mais legal do mundo, mas é humano o suficiente para ganhar a plateia e torcer por ele (o diretor escreveu pensando no ator desde o início). Maggie Gyllenhaal (irmã do ator Jake Gyllenhaal) tem uma das melhores interpretações da carreira. A atriz sabe escolher muito bem seus papéis como em "Sherrybaby", um filme pouco citado, mas aonde demonstra também uma força de interpretação impressionante. Ela é o motivo de Blake desejar se reeger e, de certa maneira, seu desejo de redenção.  Colin Farrell é um que escolhe papéis complicados que nem sempre são adequados ao seu estilo interpretativo, mas aqui ele dá o seu recado ainda que dê a impressão que sua atuação foi meio no "piloto automático". A grata presença do ator Robert Duvall é mais um motivo para se apreciar esta produção. Duvall sempre teve um estilo único de interpretação e parece realmente não repetir interpretações algo muito raro na indústria. Quem o viu em filme como "Gerônimo", "Fenômeno"; "Um Dia de Fúria" e dezenas de outros filmes conhece bem este ator que deveria estar entre os grandes atores de sua geração. James Keane, como o agente de Blake, não é conhecido por aqui, mas já esteve em cinco filmes com Duvall:  Apocalypse Now (1979);   Resgate Infernal (1986); Um Dia de Fúria (1993);  Fenômeno (1996);  O Tango e o Assassino (2002) e  Coração Louco (2009).
 

Coração Louco apresenta um painel bem simples e direto de o quanto a bebida pode impedir a felicidade de uma pessoa. Não se perde em teorias, tragédias, ou cenas de impacto para dar o seu recado. O faz através de um simpático romance entre os personagens, igualmente simpáticos e humanos. Um filme que fica na memória de quem o assiste e sempre traz aquela vontade de dar uma nova olhadela quando surge uma reprise. Um drama feito com sensibilidade, inspiração e um ar de veracidade pouco comum nas produções atuais.


Trailer:





Curiosidades:

Oscar de Melhor Ator e Canção Original "The Weary Kind".


Jeff Bridges e Colin Farrell fizeram suas próprias vozes neste filme, com a ajuda do técnico de voz Roger Love.

Filmado em apenas vinte e quatro dias.

Jeff Bridges só concordou em interpretar o papel, se seu amigo produtor de música, T Bone Burnett, concordasse em contribuir com uma faixa para Bad tocar na tela. 

O roteirista e diretor Scott Cooper disse a Jeff Bridges que se seu personagem, Bad Blake, tivesse sido um músico da vida real, ele seria o quinto membro do "The Highwaymen", ao lado de Willie Nelson, Kris Kristofferson, Waylon Jennings e Johnny Cash. 

Jeff Bridges, em 2000, lançou um álbum chamado "Be Here Soon".


Jeff Bridges ganhou seu primeiro Oscar por este filme. Robert Duvall (Wayne) recebeu o Oscar de Melhor Ator por "A Força do Carinho" (1983), na qual interpretou um cantor country decadente.

O filme é dedicado a Stephen Bruton, que morreu antes do filme estrear.

O nome verdadeiro de Bad é Otis Blake.

Antes de atuar, Colin Farrell foi um dançarino e instrutor profissional em Dublin.  

Jeff Bridges: The Weary Kind




 Fallin' and Flyin'





Filmografia Parcial:
Jeff Bridges
 

 










Muralhas de Ódio (1970); A Última Sessão de Cinema (1971); Cidade das Ilusões (1972); Quando o Ódio Explode (1973); O Importante é Vencer (1973); O Homem de Gelo (1973); O Último Golpe (1974); O Guarda-Costas (1976); King Kong (1976); Morte no Inverno (1979); O Portal do Paraíso (1980); Tron - Uma Odisséia Eletrônica (1982); Paixões Violentas (1984); Starman - O Homem das Estrelas (1984); O Fio da Suspeita (1985); Morrer Mil Vezes (1986); A Manhã Seguinte (1986); Nadine - Um Amor à Prova de Bala (1987); Tucker - Um Homem E Seu Sonho (1988); Susie e os Baker Boys (1989);O Pescador de Ilusões (1991); Nada a Perder (1992); O Silêncio do Lago (1993); Sem Medo de Viver (1993); Contagem Regressiva (1994); O Espelho tem Duas Faces (1996); O Grande Lebowski (1998); O Suspeito da Rua Arlington (1999); A Musa (1999); Cenas do Crime (2001); K-Pax - O Caminho da Luz (2001); Homem de Ferro (2008); Coração Louco (2009); Um Caminho para Recomeçar (2009);  Os Homens que Encaravam Cabras (2009); Tron: O Legado (2010); Bravura Indômita (2010); O Doador de Memórias (2014); O Sétimo Filho (2014); A Qualquer Custo (2016); Kingsman: O Círculo Dourado (2017); Homens de Coragem (2017); Maus Momentos no Hotel Royale (2018)


Maggie Gyllenhaal 

 










Terra d'Água (1992); Uma Mulher Perigosa (1993); Ressurreição (1999); Donnie Darko (2001); Secretária (2002); 40 Dias e 40 Noites (2002); Confissões de uma Mente Perigosa (2002); O Sorriso de Mona Lisa (2003); Sherrybaby (2006); Paris, Te Amo (2006); As Torres Gêmeas (2006); Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008); Coração Louco (2009); O Ataque (2013); The Deuce (seriado 2017 - 2018)


Colin Farrell
 

 











Zona de Conflito (1999); Tigerland - A Caminho da Guerra (2000); Jovens Justiceiros (2001); A Guerra de Hart (2002); Minority Report: A Nova Lei (2002); Por Um Fio (2002); O Novato (2003); Demolidor: O Homem Sem Medo (2003); S.W.A.T.: Comando Especial (2003); Alexandre (2004); Pergunte ao Pó (2006); Miami Vice (2006); O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus (2009); Ondine (2009); Coração Louco (2009); Caminho da Liberdade (2010);  A Hora do Espanto (2011); O Vingador do Futuro (2012). 


Robert Duval
 











O Sol É Para Todos (1962); Bravura Indômita (1969); M.A.S.H (1970); THX 1138 (1971); O Poderoso Chefão (1972); Sem Lei e Sem Esperança (1972); Joe Kidd (1972); O Poderoso Chefão II (1974); Rede de Intrigas (1976); A Águia Pousou (1976); Apocalypse Now (1979); A Força do Carinho (1983); Colors - As Cores da Violência (1988); Dias de Trovão (1990); Geronimo - Uma Lenda Americana (1993); Um Dia de Fúria (1993); O Jornal (1994); A Letra Escarlate (1995); Fenômeno (1996); Impacto Profundo (1998); Um Ato de Coragem (2002); Obrigado por Fumar (2005); Bem-vindo ao Jogo (2007); Os Donos da Noite (2007); A Estrada (2009); Coração Louco (2009). 


Fontes:
IMDB
Jornal O Globo

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