DA ÁFRICA DO SUL PARA O MUNDO
"Tsotsi"
(que significa "jovem bandido / criminoso") participa de uma gangue que
pratica assaltos em pontos da cidade Joanesburgo, África do Sul. Certo dia, o
grupo escolhe uma vítima. A ação termina com a morte deste homem que apenas se
apavorou. Um dos membros do grupo percebe a horrível ação de seu grupo, mas
Tsotsi (Presley Chweneyagae) o espanca por sua fraqueza e abandona o grupo.
Agora Tsotsi está sozinho. Sua ação o leva a roubar um BMW. O que o jovem não esperava é que no banco de trás houvesse um
bebê. Ele larga o carro e resolve levar a criança, voltando às favelas de Soweto.
Começa a cuidar do bebê e obriga uma jovem mãe solteira, Miriam (Terry Pheto),
a cuidar da criança. Só que seu mundo é muito violento e confuso.
Aos
poucos personagens começam a ser delineados. Temos Miriam, a jovem que perdeu o
marido e agora tem que cuidar de seu filho mais a criança trazida por Tostsi.
Aap (Kenneth Nkosi), um grandalhão que não consegue ter opinião própria das
coisas preferindo que sua vida seja decidida por Tostsi. Boston (Mothusi
Magano), um jovem que tentou uma vida honesta e se afogou na bebida migrando
para o crime e Butcher (Zenzo Ngqobe) o mais cruel do grupo: não hesita em
matar e não mostra arrependimento de suas ações. Tsotsi cria um vínculo
emocional com o bebê e passa a viver em prol da criança, ainda que não abandone
sua vida criminosa. Ele não mata o homem do metrô, como algumas sinopses
apontam, mas participa ativamente. Já na cena do carro sua ação é direta. Seu
encontro com um paraplégico é um momento inspirador e reflexivo.
É
um filme seco, direto e com uma direção inspiradíssima. A forma como a história
vai se desenrolando prende o espectador que passa a desenvolver inúmeras
reações: ódio, raiva, angústia, piedade ... talvez, em algumas pessoas, até
empatia, a partir do momento que passa a viver dentro daquele mundo bruto e sem
chances da qual Tostsi foi empurrado. O espectador vai se surpreendendo com as
situações que surgem e o desenrolar da estória com um Presley Chweneyagae em
uma atuação poderosa. Ver um filme sul africano, não é o mesmo que ver que ver
um filme de Hollywood sobre a África do Sul. São visões muitos distantes, realidades
completamente distintas. O modo como vemos essa nação por lentes locais é que
faz a diferença.
Há
um ar de tragédia, de realidade extrema. O fato de não ter diálogos, o tempo todo, é bem vindo
porque as imagens e ações do filme preenchem perfeita essa falta do dizer.
Há as sutilezas do modo de viver dos pais do bebê sequestrado, que vive em uma casa de
luxo, um bom carro ao som de Rhythm and blues contra os guetos ondem vivem os
personagens: apertados, sujos e confusos ao som de um interessante Rip Hop. Há
algo de pungente na estória, algo de amargo. Um mundo de crime, pobreza,
aceitação e tragédia. Não chega a ser um “Cidade de Deus”, mas em algum momento o padrão estético lembrou o filme dos diretores Fernando Meirelles e Kátia Lund. Talvez a ambientação
de Soweto com a comunidade carioca retratada no filme. Na verdade é uma estória
que poderia ser perfeitamente se passar em qualquer comunidade desse imenso Brasil.
Memórias
passadas se intercalam com a vida presente de Tsotsi revelando ao espectador
nuances que este pode ver. Só o espectador pode entender quem foi Tsotsi, os
outros, apenas veem as consequências de suas ações. Exatamente como no mundo
real. O filme não vitimiza os envolvidos, não glamouriza as ações do grupo e
não envolve a pobreza no contexto da estória. Cabe ao espectador avaliar tudo.
Essa multiplicidade de emoções funciona muito bem e abre o diálogo sobre as raízes
da violência em qualquer parte do mundo. Você é o conjunto de suas
experiências? Porque numa comunidade carente apenas alguns seguem uma vida de
crime? O Estado tem papel nessa desconstrução do ser humano que envereda pelo
caminho antinatural? Dá pra ficar insensível ao contexto mostrado? O filme não
expõe nada de inovador ou diferente. Há vários filmes estrangeiros com essa temática,
basta que o espectador os garimpe. Mas a maneira como o diretor Gavin Hood (X-Men
Origens: Wolverine), em sua estreia em longas, processou o inspirador roteiro
(onde foi coautor), foi que fez a diferença.
Ganhador
do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, Infância Roubada, se insere dentro de uma
realidade que não chega em nossos noticiários. É um filme simples com atores
com pouca ou nenhuma experiência em atuação (na época) e que entregaram um filme forte, reflexivo,
por vezes cruel, por vezes pungente. Evita a violência gratuita dos filmes
americanos e insere a dramaticidade a favor da estória. Uma ótima oportunidade de ver um filme de um
país que praticamente não recebemos nada
em nossa terra. Não sei se foi o melhor filme estrangeiro a concorrer em 2006,
mas pelo mostrado me pareceu justo o prêmio conquistado.
Trailer:
Curiosidades:
Baseado no romance de Athol Fugard
O filme escolhido para representar o Brasil no Oscar de 2006, de Melhor Filme Estrangeiro, foi "2 Filhos de Francisco" (de Breno Silveira), mas não foi selecionado pela Academia
Incluído no Livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer"
Trilha Sonora:
Mdlwembe - Zola (Ehlala)
Woof Woof - Zola
Seven - Zola
Zingu 7 - Zola
Palesa - Zola
Bhambatha - Zola
It's Your Life - Zola
Silang mabele - Mahlasela
Munt'omnyama - Mafikizolo
Benoni Blues - paw'lee'n'sparx
Skorokoro - Barvo, Zola & Tuks
E Sale Noka - Vusi Mahlasela and the A-Team
Ghetto Scandalous - Zola
C.R.A.Z.Y - Ishmael Morabe featuring Bongz
Incluído no Livro "1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer"
Trilha Sonora:
Mdlwembe - Zola (Ehlala)
Woof Woof - Zola
Seven - Zola
Zingu 7 - Zola
Palesa - Zola
Bhambatha - Zola
It's Your Life - Zola
Silang mabele - Mahlasela
Munt'omnyama - Mafikizolo
Benoni Blues - paw'lee'n'sparx
Skorokoro - Barvo, Zola & Tuks
E Sale Noka - Vusi Mahlasela and the A-Team
Ghetto Scandalous - Zola
C.R.A.Z.Y - Ishmael Morabe featuring Bongz
Filmografia Parcial:
Presley
Chweneyagae
Infância
Roubada (2005); No Futebol, Nasce uma
Esperança (2007); Menda City (2009); State of Violence (2010); Zama Zama
(2012); Mandela: O Caminho para a Liberdade (2013); The Number (2017).
Terry
Pheto
Infância
Roubada (2005); Em Nome da Honra (2006); Mandela (2007); How to Steal 2 Million
(2011); Mandela: O Caminho para a Liberdade (2013); Um Reino Unido (2016);
Faces (2018)
Zenzo
Ngqobe
Infância
Roubada (2005); Diamante de Sangue
(2006); Menda City (2009); The Forgotten Kingdom (2013); Mandela: O Caminho
para a Liberdade (2013)
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