sábado, 7 de abril de 2018

RÉQUIEM PARA UM LUTADOR / REQUIEM FOR A HEAVYWEIGHT (1962) - ESTADOS UNIDOS




PANCADAS REAIS E METAFÓRICAS

Louis “Mountain” Rivera  (Anthony Quinn) enfrenta o jovem Cassius Clay (o próprio), sendo duramente castigado até ir a nocaute no 7º round. Ao chegar arrastado no vestiário, um médico confidencia ao seu agenciador Maish Rennick (Jackie Gleason) e a seu técnico, Army (Mickey Rooney),  que o mundo dos ringues acabou para Rivera. Ele adquiriu um dano que poderá deixa-lo cego ou inválido.  


Maish, ao sair do local, se depara com Ma Greeny (a atriz Madame Spivy) que lhe cobra pelo prejuízo da aposta na luta e lhe dá um ultimato de conseguir o dinheiro ou que isso custará sua vida. Enquanto Rivera inicia uma nova vida em busca de um emprego, Maish precisa desesperadamente arrumar um meio de ainda ganhar dinheiro com seu lutador em exibições de lutas livre (wrestling), numa queda livre para a decadência definitiva.



Muito se fala de Réquiem Para um Lutador (ou, como veio nos cinemas da época, “Réquiem Por um Lutador”) como uma obra a ser assistida por quem ama cinema. Mas, afinal, o filme vale realmente a pena?
É preciso que saibamos que o filme é uma transposição para a telona de um episódio de uma série (esquecida no tempo) chamada “Playhouse 90”. Rod Serling (sempre lembrado pela série “Além da Imaginação e por ter escrito a primeira versão de” O Planeta dos Macacos”), junto com diretor Ralph Nelson, repetiram a dobradinha e foram convidados a fazer a versão cinematográfica, trocando o protagonista que fora Jack Pallance (que foi boxeador profissional na vida real) por Anthony Quinn. Na TV, a personagem "Grace Miller" foi interpretada pela oscarizada Kim Hunter (por “Uma Rua Chamada Desejo”), mais conhecida por fazer a chimpanzé "Zira" na antiga trilogia “Planeta dos Macacos”. A versão da Tv é muito interessante, com aspectos, que em minha opinião foram melhor exploradas do que quando levada para os cinemas. 


Réquiem me impressionou logo na primeira cena. A luta de Rivera com Casius Clay (campeão olímpico na época e que seria conhecido como Muhammad Ali – “The Greatest”) é vista pelos olhos do perdedor, sendo golpeado até a visão ficar completamente embaçada. Uma grande sacada porque não mostra os lutadores se golpeando, evitando assim a possível falta de habilidade de Quinn. Aliais não estamos falando de um filme de Boxe e sim de um boxeador sem perspectivas, após a forçada aposentadoria, por isso não temos lutas (e que não fez, por incrível que pareça, falta nenhuma)


Um dos aspectos mais interessantes do filme é que ele trata com extrema delicadeza das relações humanas. O filme passa um quê de realidade crua em seus personagens que nos causa uma identificação imediata: um boxeador que nunca fez nada na vida, além de lutar, precisa trabalhar. O mundo parece um grande monstro a devorá-lo. Rivera lutou por 17 anos, chegou a 5º no ranking e terminou a carreira velho, pobre, com a fala prejudicada (pelos inúmeros golpes que sofreu) e sem títulos. Só que Maish saiu devendo a um mafioso e o seu “cofrinho” quebrou. Ele fez uma aposta errada. Uma aposta sórdida. Aos poucos ele se revela para o público e para a única pessoa que sempre o teve na mais alta consideração, mas que não é recíproco como o pobre ex-lutador vai percebendo aos poucos. O réquiem é para Rivera e sua “missa fúnebre” (lutar wrestling com uma fantasia ridícula, entregando lutas), será regida  por Maish. É a missa da morte do lutador, da esperança e dos sonhos que um dia almejaram realizar. 

O mexicano, nascido Antonio Rudolfo Oaxaca Quinn,  ou “Anthony Quinn” (1915–2001) entregou um personagem extremamente empático com o público: gentil, meio tolo, extremamente fiel a amizade, com senso de gratidão, humilde e que vai parar, forçosamente,  em um novo mundo que não se encaixa. Jackie Gleason (muitos se lembrarão por sua composição do xerife trapalhão em “Agarra-me se Puderes e “Desta Vez te Agarro”, ao lado de Burt Reynolds e Sally Fields) está excelente na pele do agenciador de caráter dúbio. Mickey Rooney, como Army, consegue apenas com olhares transmitir tudo que pensa da situação e no modo como Maish trata a devoção quase insana que Rivera lhe dedica. Julie Harris (1925–2013), como Grace Miller, é a recrutadora de uma firma de empregos que se compadece da situação daquele que vai até ela em busca de “fazer qualquer coisa”. Ela vê o homem por trás do lutador e passa a nutrir sentimentos, mas Rivera pode estar em um caminho que nem ela possa ser mais capaz de resgatá-lo. A surpresa fica por conta da personagem Ma Greeny vivida pela atriz Madame Spivy (1906 -1971), na pele do gangster que perdeu o dinheiro na aposta da luta,  culpando a  Maish, querendo ser ressarcido do prejuízo, não se abstendo de usar a violência como forma de intimidação.


Réquiem Para um Lutador é um belo filme, com características tipicamente noir, aliada a uma bela trilha sonora de Jazz, fotografia em preto e branco de luxo, roteiro caprichado (e que difere da versão da tv, principalmente em seu final), atores / atrizes entregando ótimas interpretações e diálogos inspirados. Sua força está em apresentar uma estória que se assemelha a de muitas pessoas, um mundo que pode ser bem cinza.

Trailer:




Curiosidades:

Anthony Quinn  foi indicado ao Oscar de Melhor Ator por "A Fúria da Carne" (1957) e "Zorba, o Grego" (1964). Ganhou como Melhor  Ator Coadjuvante por "Viva Zapata!" (1952) e "Sede de Viver" (1956). O ator  faleceu de pneumonia.

Em Portugal recebeu o título de "Um Homem e o seu Destino"

Jackie Gleason foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por "Desafio à Corrupção" (1961). Faleceu de Câncer.  Seu nome de batismo era John Herbert Gleason

Mickey Rooney foi indicado 4 vezes ao Oscar: "Sangue de Artista" (1939); "A Comédia Humana" (1943); "O Preço da Audácia" (1956) e "O Corcel Negro" (1979). Faleceu de causas naturais. Seu nome de batismo era Joe Yule Jr.

Julie Harris foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por "Cruel Desengano" (1952). Faleceu de insuficiência cardíaca,

O nome de batismo de Madame Spivy  era Bertha Levine.

Anthony Quinn gravou o filme durante a pausa das filmagens de "Lawrence da Arábia" (1962).


Stanley Adams (como Perelli) foi o único ator que reprisou o papel, da versão televisiva.

A presença de Michael Conrad (1925–1983), ator que fez aparições em várias séries e estrelou o seriado "Hill Street Blues" (1981-1984). O ator faz o capanga que apanha de Rivera perto do fim.


Versão televisiva (em inglês com legendas geradas automaticamente)




Filmografia Parcial

Anthony Quinn (1915–2001)

 









Tráfico Humano (1937); Lafitte, O Corsário (1938); O Tirano de Alcatraz (1938); A Ilha dos Renegados (1939); O Castelo Sinistro (1940); Dois Contra uma Cidade Inteira (1940); A Volta dos Mosqueteiros (1940); O Intrépido General Custer (1941); O Cisne Negro (1942); Consciências Mortas (1943); Buffalo Bill (1944); O Último Gangster (1944); Espírito Indomável (1945); Simbad, o Marujo (1947); Inferno nos Trópicos (1947); A Máscara do Vingador (1951); Viva Zapata! (1952); Contra Todas as Bandeiras (1952); Cidade Submersa (1953); A Estrada da Vida (1954); Ulysses (1954); O Salário do Pecado (1955); Sete Cidades de Ouro (1955); O Corcunda de Notre Dame (1956); Jornada Inesquecível (1957); A Orquídea Negra (1958); Minha Vontade é Lei (1959); Duelo de Titãs (1959); Sangue Sobre a Neve (1960); Os Canhões de Navarone (1961); Barrabás (1961); Réquiem Para um Lutador (1962); Lawrence da Arábia (1962); Zorba, o Grego (1964); Marco Polo, O Magnífico (1965); Os Canhões de San Sebastian (1968) As Sandálias do Pescador (1968); Maomé - O Mensageiro de Alá (1976); O Leão do Deserto (1980); Salamandra (1981); Vingança (1990); Febre da Selva (1991); Mamãe Não Quer que Eu Case (1991); Império do Crime (1991); O Último Grande Herói (1993); Hércules E as Amazonas (1994); Hércules em Busca do Reino Perdido (1994); Hércules e o Círculo de Fogo (1994); Hércules no Mundo dos Mortos (1994); Hércules E o Labirinto do Minotauro (1994); Missão Perigosa (2002).

Jackie Gleason (1916–1987)
 









  

Minha Secretária Brasileira (1942); O Gavião do Deserto (1950); Desafio à Corrupção (1961); Réquiem Para um Lutador (1962); Agarra-me se Puderes (1977);  Desta Vez Te Agarro (1980); O Brinquedo (1982); Golpe de Mestre II (1983); Agora Você Não Escapa (1983); Nada em Comum (1986)  

Mickey Rooney (1920–2014)
 

 









Encontro às Cegas (1934);  Mão Invisível (1934); Sonho de uma Noite de Verão (1935); Marujo Intrépido (1937); Navio Negreiro (1937); Menino de Ouro (1937); As Aventuras de Huck (1939); A Comédia Humana (1943); Punhos de Ouro (1947); Areia Movediça (1950); Mosqueteiros do Mar (1953); As Pontes de Toko-Ri (1954); O Preço da Audácia (1956); Assassino Público Número Um (1957); A Ilha das Víboras (1960); Bonequinha de Luxo (1961); Réquiem Para um Lutador (1962); Deu a Louca no Mundo (1963); 24 Horas para Matar (1965); Oitenta Passos para a Felicidade (1969); Uma Noiva para Charlie (1970); Diário de um Gângster (1972); A Magia de Lassie (1978); Aventura na Arábia (1979); O Corcel Negro (1979); O Corcel Branco (1986); As Aventuras de Erik, o Viking (1989); Natal Sangrento 5: O Horror na Loja de Brinquedos (1991); O Lobo da Montanha (1992); Sinbad: The Battle of the Dark Knights (1998); Babe - O Porquinho Atrapalhado na Cidade (1998); Uma Noite no Museu (2006); Os Muppets (2011); Uma Noite no Museu 3: O Segredo da Tumba (2014); Dr. Jekyll and Mr. Hyde (2017)


Julie Harris (1925–2013)
 

 










Vidas Amargas (1955); As Sete Mulheres de Minha Vida (1957); Réquiem Para um Lutador (1962); Desafio do Além (1963); Hamlet (1964); Caçador de Aventuras (1966); O Refúgio Secreto (1975); A Viagem dos Condenados (1976); O Aniquilador (1986); Nas Montanhas dos Gorilas (1988); Como Agarrar um Marido (1992); The Way Back Home (2006); The Golden Boys (2008); The Lightkeepers (2009)

2 comentários:

  1. A versatilidade que Anthony Quinn é notável, seja como um esperto protagonista em Zorba, o Grego, seja taciturno e desconfiado no ótimo Os Canhões de Navarone. Aqui ele mostra uma outra faceta: do homem ingênuo, saudoso de seu passado e oprimido pela situação desfavorável. Seu personagem soa clichê, mas funciona bem no filme. Trata-se do típico grandalhão desajeitado, simpático e manipulado que envelheceu sem perceber, que empobreceu sem nunca ganhar nada e que precisa, desesperadamente, achar uma saída. Também demonstra que deve favores ao seu agente livrando-o de problemas através de sua proteção pessoal, ou aceitando participar das lutas combinadas. Gleason também faz um bom papel na pele de um empresário acomodado e conformado com a decadência de seu pupilo. Bom filme para ser visto com atenção. Abraço.

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  2. Bom dia Janerson. Sim, é um filme que merece ser conferido por quem gosta de filmes onde o roteiro e atuações fazem a diferença. Obrigado por comentar mais um post. Abs

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