ENTRE
A JUSTIÇA E A VINGANÇA
Katja
(Diane Kruger de "Troia" e "Forças Especiais") é alemã, vive uma vida feliz ao lado
do marido de origem turca, Nuri (Numan Acar) e seu filho de seis anos, Rocco, em Hamburgo. Certo dia, antes de ir ao encontro da irmã
grávida, vai ao escritório do marido e o deixa com Rocco. Ao voltar encontra a
polícia e barricadas: um atentado em frente ao escritório causou mortes e
explosões. Logo Katja recebe uma informação estarrecedora: um homem e uma
criança foram mortos pela explosão e seus corpos foram de tal forma mutilados que
precisam ser colhidas amostras de DNA para a identificação. Os dias passam
e o passado de Nuri vem à tona levando a polícia por outros caminhos. Quando os
verdadeiros culpados são presos, Kadja inicia um novo calvário: convencer a
justiça de que os culpados pela morte de sua família não saiam impunes.
O
filme é dividido em três atos ("A Família", "A Justiça" e "O Mar"): O primeiro é o cotidiano de Katja com sua
família e a vida pregressa de Nuri que foi um traficante, ficou preso, estudou,
se formou, virando um consultor de finanças e tradutor que atende sua comunidade. Uma vida de felicidade familiar e estabilidade
financeira.
O
segundo ato começa a partir do atentado mudando a vida da protagonista e levando-a a
mergulhar num inferno de desespero e desesperança. As duas pessoas que mais
amava se foram. Não há o que ser feito. Sua vida, de certa maneira, foi junto
com a explosão. A dor, o ódio e a solidão são fantasmas mais reais do que
qualquer ficção. A dor daqueles que perdem seus entes queridos para a
violência. Mesmo que desde o início Katja suspeitasse de
um grupo, a investigação prefere voltar
ao passado de seu marido que poderia (e ainda pode) estar ligado ainda a
venda de drogas. Mas fica a dúvida: qual
a motivação? O que leva pessoas a terem um ódio mortal a ponto de findarem com
vidas sem arrependimentos? Essa pergunta tenta chegar ao tribunal, mas os
meandros de um processo de tal quilate são profundos e a atribuição de culpados
nem sempre fácil de ser exposta.
No
terceiro ato temos Katja resolvendo fazer suas próprias investigações e
percebendo que as coisas são mais complicadas do que previra. Só há uma medida
a tomar e sua decisão tem que ser tomada logo. A tensão torna-se crescente e o
espectador se engaja nessa aflição.
Em
Pedaços é um filme intenso que mexe em uma ferida atual: a ascensão da extrema
direita alemã e sua relação com ataques à ódio e raça contra minorias. O seu
diretor, Faith Akin, nascido em Hamburgo e
filho de imigrantes turcos, resolveu levar às telas pesquisas a partir de um
atentado corrido em 2011 contra uma comunidade turca em que a polícia orientou, inicialmente, suas investigações, para desavenças entre turcos e curdos. Tendo também pesquisado ataques ocorridos
entre 2000 e 2007 resolveu levar um apanhado dessas histórias e
o resultado é um filme com uma temática dura e bem reflexiva para onde nosso
mundo caminha.
Há
vários elementos a serem percebidos em “Em Pedaços”: a reflexão sobre ataques a minorias de origem
muçulmana, num mundo em que muitos são levados a acreditar que todo
muçulmano é um perigo em potencial; a ascensão de grupos neonazistas,
principalmente no berço do nazismo; a justiça alemã de braços amarrados em
punir os culpados (aí cabe um maior entendimento de suas leis) com direito a ótimas
reviravoltas, a vida após um atentado... Tudo isso em meio a uma iluminação, em alguns
momentos, mais escura com chuvas como no primeiro ato e vibrantes perto do fim. Aliais o espectador
perceberá que cada ato tem sua particularidade. Até a tatuagem incompleta da protagonista tem uma conotação dentro a estória.
Quanto
ao elenco podemos dizer que foi um tiro quase certeiro. Kruger é a força motriz
do filme (não por acaso ganhou o premio de Melhor Atriz em Cannes). Com a
câmera insistentemente focando em seu rosto, Kruger oferece a melhor interpretação
de sua carreira e justamente em sua língua natal. Mas há outros a destacar: Denis Moschitto como o advogado de acusação e Johannes Krisch como
o sarcástico advogado de defesa elevam a produção a uma ótima atmosfera de filme de tribunal. Já a dupla de acusados
teve um papel pouco desenvolvido e praticamente são engolidos em cena, ainda
que sua relevância para a estória seja de máxima importância. A destacar a bela fotografia de Rainer Klausmann que para cada ato utilizou uma lente de câmera diferente: áspera (em "A Família"), nítida (em "A Justiça") e antiga (em "A Praia"). tudo embalado por uma bela trilha sonora.
Em
Pedaços é um filme denso, voltado para o público mais adulto, pelo conceito / conteúdo e
por certas cenas, mas tem uma força interpretativa e narrativa muito fortes o
que levou o filme a ser o vencedor do Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro. Akin, de filmes como “Do Outro Lado” (prêmio de Melhor Roteiro em Cannes) e “Contra a Parede” (vencedor no Festival de Berlim), fez um filme para
quem gosta de produções fora do circuito de Hollywood. Um filme que te faz pensar
à saída da sessão e que pode render um ótimo bate papo.
Trailers:
Curiosidades:
Título em Portugal: "Uma Mulher Não Chora".
Título na Espanha: "En la sombra".
Foi a partir da atuação da atriz no filme "Adeus Minha Rainha" (2012), como Maria Antonieta, que o diretor descobriu sua interprete ideal.
Em entrevista a atriz revelou ter tido contato, durante 6 meses, com pessoas vítimas de violências brutais, para a preparação da personagem.
Trilha Sonora:
Lykke Li - I Know Places
Courtney Barnett - Anonymous Club
Hindi Zahra - The Blues
Faith No More - Superhero
Queen of the Stone Age - The Bronze
Joshua Homme & Michael Shuman - The Chase
Joshua Homme & Michael Shuman - Blood on the Wall
Joshua Homme & Michael Shuman -End Credits
Joshua Homme & Michael Shuman - In Slow Motion
Joshua Homme & Michael Shuman - Suicide
Joshua Homme & Michael Shuman - Dead Man Walking
Joshua Homme & Michael Shuman - I Knew
Courtney Barnett - Anonymous Club
Hindi Zahra - The Blues
Lykke Li - I Know Places
Entrevista com a atriz em Inglês ( podendo acionar legendas em inglês):
Filmografia Parcial:
Diane Kruger
O Guarda-Costas (2002); Tróia (2004); Paixão à Flor da Pele
(2004); A Lenda do Tesouro Perdido (2004); O Segredo de Beethoven (2006);
Mandela (2007); A Era da Inocência (2007); A Caçada (2007); A Lenda do Tesouro
Perdido: Livro dos Segredos (2007); Bastardos Inglórios (2009); Sr. Ninguém
(2009); Desconhecido (2011); Forças Especiais (2011); Um Plano Perfeito (2012);
Pais e Filhas (2015), Em Pedaços (2017).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre