segunda-feira, 16 de abril de 2018

UM LUGAR SILENCIOSO / A QUIET PLACE (2018) - ESTADOS UNIDOS



SILÊNCIO ATERRORIZANTE

A grande surpresa do ano, até o momento, chama-se “Um Lugar Silencioso”. Com um custo de $17.000.000 está perto de alcançar a casa dos 160 milhões e não é por acaso: o filme prende literalmente o espectador na cadeira, de tal modo que você nem escuta no cinema os sacos de pipocas. A atenção / tensão é máxima.



Dirigido por John Krasinski, em sua estreia em longa metragens (ele é mais conhecido por atuar como no seria "The Office") e com roteiro escrito por cinco pessoas é uma grata surpresa que novos diretores reciclem a indústria de cinema. Corra!, no ano passado, chegou a abocanhar um Oscar. Se esta produção seguirá o mesmo rumo, já é uma questão a ser ponderada.  Mas, sem dúvida, o surgimento de novas produções, tidas como modestas, mas com grande aceite do público, trarão influencias futuras ao cinema das próximas décadas.



O filme se inicia com uma família em meio a uma cidade fantasma em busca de suprimentos. Logo descobriremos que é, praticamente, um mundo fantasma. Essa família composta de um pai (o ator John Krasinski) mãe (a atriz Emily Blunt) e três filhos: dois pré-adolescentes (Millicent Simmonds e Noah Jupe) e um menino (Cade Woodward) se comunicam por sinais, andam descalços, evitam o mínimo ruído (quase como andar em um papel de arroz) e moram em uma fazenda isolada. E há uma explicação: há algo aterrador à espreita. Veloz e mortal. Assim como no filme “A Estrada” não há um explicação de como tudo se iniciou (mas dentro da casa, nas anotações do pai e colagens de jornais, sabemos que a pele das criaturas são impenetráveis e que nem o exército conseguiu vencê-las). Mas é realmente necessário? O que interessa é o sentimento que causa em quem o assiste e, claro, no cinema, o clima é ideal.




Aí vem a pergunta fundamental. O filme é mudo?  Não, mas há alguns porquês do uso de sinais. Aliais, logo no início, perceberemos o castigo por não ser obedecida essa regra fundamental. Daí pra frente é uma montanha russa de tensão, medo, susto, angústia pelos personagens e uma questão que sobressai aos olhos (ou devo dizer, aos ouvidos?): a jovem Regan (Millicent Simmonds) é deficiente auditiva em um mundo em que deve ter a máxima atenção para não tropeçar em algo ou derrubar um objeto (sim, um vaso caindo no chão pode atrair uma criatura a longa distância). Como sobreviver nesse mundo sem fazer sons 24 horas por dia, sete dias na semana, talvez durante o resto de sua vida? Como ter uma infância? Para onde foram os sobreviventes? Como se comunicar com eles sem fazer barulho? O ótimo roteiro vai mostrando essas facetas. E há mais surpresas que rodam esta família, surpresas que deixam as pessoas no cinema com aquela sensação de “agora ferrou tudo”.  Mas há também pequenos deslizes que o roteiro ignorou e que podiam ser facilmente evitados (como algumas atitudes “desleixadas” dos pais), mas nem isso atrapalha o filme. Basta ligarmos aquele botão em nosso cérebro chamado “supressão voluntária da descrença” que iremos ignorar alguns aspectos para que a estória flua como deva ser.




O desenvolvimento dos personagens foi algo fundamental ao sucesso do filme. Emily Blunt tem o melhor e mais difícil papel do elenco. O famoso “ser mãe é padecer no paraíso” nunca foi tão aplicável como aqui. A atriz tem que se desdobrar em múltiplas interpretações para cada cena que surge. E consegue passar um pouco de tudo: medo, ansiedade, pavor, determinação, dor, desespero. Se alguém tinha alguma dúvida quanto as capacidades da atriz, este filme foi o veículo certo para dissipá-las.  Outra que se destaca é a atriz Millicent Simmonds, como Regan. Sem pronunciar uma palavra ela passa ao espectador todas as suas expectativas, mágoas e desejos. É outra que deverá trilhar um belo caminho na carreira, nesta que é sua segunda representação no cinema. Quem viu o simpático Noah Jupe no ótimo “Extraordinário”, como o melhor amigo do protagonista, terá chance de revê-lo agora num papel de um irmão mais novo e completamente aterrorizado nesse novo mundo. John Krasinski (sim, ele aqui dirigiu, atuou e ajudou no roteiro) se sai muito bem no papel de um pai que tenta manter sua família viva, num mundo praticamente sem vida. Seu papel será também fundamental para o filme.



Não poderia deixar de citar a concepção da criatura que, no início, causará muita tensão, pois só surgirá em relances e depois trará muitas curiosidades sobre como o seu modo predatório de agir e uma singela particularidade que a torna ainda mais interessante. Alguns poderão achar a criatura parecida, em determinados ângulos com Alien, mas o bom roteiro a deixa com algumas particularidades ainda que tenha me lembrado também o filme Apocalipse / Extinction (2015) com uma criatura (bem diferente no aspecto) bem  parecida em suas particularidades. Seria a aplicação da máxima de Lavoisier, ”Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, muito utilizada no meio cinematográfico?



“Um Lugar Silencioso”, com esse título simples que esconde a dimensão da obra, é um filme a ser visto no cinema aonde seu impacto é muito maior. Uma ótima pedida para quem curte um suspense inteligente com poucos recursos e muita criatividade. Ainda que tenha um final que alguns esperassem maiores explicações, vale a pena conferir.

Trailer:



Curiosidades:
A cena da banheira, uma das mais tensas do filme, foi feita em apenas um take.

John Krasinski e Emily Blunt são casados na vida real

A atriz Millicent Simmonds é surda desde a infância, devido a uma overdose de medicamentos. 

John Krasinski fez o monstro, em um traje de captura de movimento, em algumas cenas. 

As filmagens duraram apenas 36 dias 

Em uma entrevista para o site SlashFilm, os roteiristas Scott Beck e Bryan Woods revelaram que a Paramount pretendia, originalmente, incorporar o filme na franquia de filmes "Cloverfield: Monstro" (2008), mas decidiram por continuar sua concepção original.
 
Fonte: IMDB  

Filmografia Parcial: 

Emily Blunt
 














A Rainha da Era do Bronze (2003); Meu Amor de Verão (2004); Identidade Roubada (2006); O Diabo Veste Prada (2006); O Clube de Leitura de Jane Austen (2007); A Mente que Mente (2008); A Jovem Rainha Victoria (2009); O Lobisomem (2010); As Viagens de Gulliver (2010); Looper: Assassinos do Futuro (2012); No Limite do Amanhã (2014); Sicario: Terra de Ninguém (2015); O Caçador e a Rainha do Gelo (2016); A Garota no Trem (2016); Um Lugar Silencioso (2018); O Retorno de Mary Poppins (2018)

John Krasinski
 















Táxi (2004); Soldado Anônimo (2005); Por Trás das Câmeras (2006); O Amor Não Tira Férias (2006); Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006); O Amor não tem Regras (2008); Simplesmente Complicado (2009); O Noivo da Minha Melhor Amiga (2011); O Grande Milagre (2012); erra Prometida (2012); Sob o Mesmo Céu (2015); 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016); Detroit em Rebelião (2017); Um Lugar Silencioso (2018); Jack Ryan (seriado 2018)    

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