SILÊNCIO
ATERRORIZANTE
A
grande surpresa do ano, até o momento, chama-se “Um Lugar Silencioso”. Com um
custo de $17.000.000 está perto de alcançar a casa dos 160 milhões e não é por
acaso: o filme prende literalmente o espectador na cadeira, de tal modo que você nem escuta no cinema os sacos de pipocas. A atenção / tensão é
máxima.
Dirigido
por John Krasinski, em sua estreia em longa metragens (ele é mais conhecido por
atuar como no seria "The Office") e com roteiro escrito por cinco pessoas é uma grata surpresa que novos diretores reciclem a indústria de cinema.
Corra!, no ano passado, chegou a abocanhar um Oscar. Se esta produção seguirá o
mesmo rumo, já é uma questão a ser ponderada.
Mas, sem dúvida, o surgimento de novas produções, tidas como modestas,
mas com grande aceite do público, trarão influencias futuras ao cinema das
próximas décadas.
O
filme se inicia com uma família em meio a uma cidade fantasma em busca de
suprimentos. Logo descobriremos que é, praticamente, um mundo fantasma. Essa
família composta de um pai (o ator John Krasinski) mãe (a atriz Emily Blunt) e três
filhos: dois pré-adolescentes (Millicent Simmonds e Noah Jupe) e um menino (Cade
Woodward) se comunicam por sinais, andam descalços, evitam o mínimo ruído
(quase como andar em um papel de arroz) e moram em uma fazenda isolada. E
há uma explicação: há algo aterrador à espreita. Veloz e mortal. Assim como no
filme “A Estrada” não há um explicação de como tudo se iniciou (mas dentro da
casa, nas anotações do pai e colagens de jornais, sabemos que a pele das
criaturas são impenetráveis e que nem o exército conseguiu vencê-las). Mas é
realmente necessário? O que interessa é o sentimento que causa em quem o
assiste e, claro, no cinema, o clima é ideal.
Aí
vem a pergunta fundamental. O filme é mudo?
Não, mas há alguns porquês do uso de sinais. Aliais, logo no início,
perceberemos o castigo por não ser obedecida essa regra fundamental. Daí pra
frente é uma montanha russa de tensão, medo, susto, angústia pelos personagens e
uma questão que sobressai aos olhos (ou devo dizer, aos ouvidos?): a jovem Regan (Millicent Simmonds) é deficiente
auditiva em um mundo em que deve ter a máxima atenção para não tropeçar em algo
ou derrubar um objeto (sim, um vaso caindo no chão pode atrair uma criatura a longa distância). Como sobreviver nesse mundo sem fazer sons 24 horas
por dia, sete dias na semana, talvez durante o resto de sua vida? Como ter uma infância?
Para onde foram os sobreviventes? Como se comunicar com eles sem fazer barulho?
O ótimo roteiro vai mostrando essas facetas. E há mais surpresas que rodam esta
família, surpresas que deixam as pessoas no cinema com aquela sensação de “agora
ferrou tudo”. Mas há também pequenos
deslizes que o roteiro ignorou e que podiam ser facilmente evitados (como
algumas atitudes “desleixadas” dos pais), mas nem isso atrapalha o filme. Basta
ligarmos aquele botão em nosso cérebro chamado “supressão voluntária da
descrença” que iremos ignorar alguns aspectos para que a estória flua como deva
ser.
O
desenvolvimento dos personagens foi algo fundamental ao sucesso do filme. Emily
Blunt tem o melhor e mais difícil papel do elenco. O famoso “ser mãe é padecer no
paraíso” nunca foi tão aplicável como aqui. A atriz tem que se desdobrar em
múltiplas interpretações para cada cena que surge. E consegue passar um pouco
de tudo: medo, ansiedade, pavor, determinação, dor, desespero. Se alguém tinha alguma
dúvida quanto as capacidades da atriz, este filme foi o veículo certo para dissipá-las. Outra que se destaca é a atriz Millicent
Simmonds, como Regan. Sem pronunciar uma palavra ela passa ao espectador todas
as suas expectativas, mágoas e desejos. É outra que deverá trilhar um belo caminho na
carreira, nesta que é sua segunda representação no cinema. Quem viu o simpático Noah
Jupe no ótimo “Extraordinário”, como o melhor amigo do protagonista, terá chance
de revê-lo agora num papel de um irmão mais novo e completamente aterrorizado
nesse novo mundo. John Krasinski (sim, ele aqui dirigiu, atuou e ajudou no
roteiro) se sai muito bem no papel de um pai que tenta manter sua família viva,
num mundo praticamente sem vida. Seu papel será também fundamental para o
filme.
Não
poderia deixar de citar a concepção da criatura que, no início, causará muita
tensão, pois só surgirá em relances e depois trará muitas curiosidades sobre como o
seu modo predatório de agir e uma singela particularidade que a torna ainda
mais interessante. Alguns poderão achar a criatura parecida, em determinados ângulos
com Alien, mas o bom roteiro a deixa com algumas particularidades ainda que
tenha me lembrado também o filme Apocalipse / Extinction (2015) com uma criatura (bem diferente no aspecto) bem parecida em suas particularidades. Seria a aplicação
da máxima de Lavoisier, ”Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se
transforma”, muito utilizada no meio cinematográfico?
“Um
Lugar Silencioso”, com esse título simples que esconde a dimensão da obra, é um filme a
ser visto no cinema aonde seu impacto é muito maior. Uma ótima pedida para quem
curte um suspense inteligente com poucos recursos e muita criatividade. Ainda
que tenha um final que alguns esperassem maiores explicações, vale a
pena conferir.
Trailer:
Curiosidades:
A cena da banheira, uma das mais tensas do filme, foi feita em apenas um take.
John Krasinski e Emily
Blunt são casados na vida real
A atriz Millicent Simmonds é surda desde a infância, devido a uma overdose de medicamentos.
John Krasinski fez o monstro, em um traje de captura de movimento, em algumas cenas.
As filmagens duraram apenas 36 dias
Em
uma entrevista para o site SlashFilm, os roteiristas Scott Beck e Bryan
Woods revelaram que a Paramount pretendia, originalmente,
incorporar o filme na franquia de filmes "Cloverfield:
Monstro" (2008), mas decidiram por continuar sua concepção original.
Fonte: IMDB
Filmografia Parcial:
Emily Blunt
A Rainha da Era do Bronze (2003); Meu Amor de Verão (2004); Identidade Roubada (2006); O Diabo Veste Prada (2006); O Clube de Leitura de Jane Austen (2007); A Mente que Mente (2008); A Jovem Rainha Victoria (2009); O Lobisomem (2010); As Viagens de Gulliver (2010); Looper: Assassinos do Futuro (2012); No Limite do Amanhã (2014); Sicario: Terra de Ninguém (2015); O Caçador e a Rainha do Gelo (2016); A Garota no Trem (2016); Um Lugar Silencioso (2018); O Retorno de Mary Poppins (2018)
John Krasinski
Táxi (2004); Soldado Anônimo (2005); Por Trás das Câmeras (2006); O Amor Não Tira Férias (2006); Dreamgirls: Em Busca de um Sonho (2006); O Amor não tem Regras (2008); Simplesmente Complicado (2009); O Noivo da Minha Melhor Amiga (2011); O Grande Milagre (2012); erra Prometida (2012); Sob o Mesmo Céu (2015); 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016); Detroit em Rebelião (2017); Um Lugar Silencioso (2018); Jack Ryan (seriado 2018)
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