domingo, 13 de março de 2016

PATTON - REBELDE OU HERÓI ? / PATTON (1970) - ESTADOS UNIDOS


O GENERAL QUE HITLER TEMIA


"Patton - Rebelde ou Herói?" foi um filme de 1970 que levou 7 Oscars, entre eles melhor filme e ator. Se inicia com George Smith Patton Jr  em frente a uma gigantesca bandeira americana onde faz um discurso de quase 5 minutos. Sua famosa frase "Nenhum miserável ganhou guerra alguma morrendo por seu país. Eles ganham a guerra fazendo outros miseráveis morrerem por seu país.” dá a conotação do que será o filme: um homem da guerra com uma personalidade fascinante.


O filme começa em 1943 quando o general (George C. Scott numa performance estupenda) chega a Tunísia (Norte da África).  A partir deste ponto, o filme mostrará o general enfrentando as tropas alemãs, seu gênio tempestivo, sua língua afiada e sua sede pela vitória, onde foi peça importante na vitória dos aliados durante a 2ª Guerra Mundial.


Patton foi soldado durante a Primeira Guerra Mundial. Ficou famoso por sua estratégia de guerra onde já previa que os próximos conflitos seriam tecnológicos e que veículos motorizados, ao contrário de cavalos, fariam toda a diferença. Sua condução de tanques de guerra (na verdade os primórdios destes: carros com couraça) fizeram a diferença no confronto. Além de Patton, surgiriam figuras que estariam nos holofotes da 2ª Grande Guerra: Stalin, Roosevelt, Churchill, Douglas MacArthur e Adolph Hitler.
 


 
A história de Patton  pode ser confusa para algumas pessoas que não conhecem bem o conflito, apesar de no geral o filme conseguir passar sua mensagem. Aqui vemos um general rígido na disciplina, que chega a exigir que um médico utilize o capacete e “faça furos” para adaptar o estetoscópio. Temos a famosa cena em que o general esbofeteia um soldado traumatizado pelos efeitos da guerra, na qual Patton considera apenas como covardia. Esse ato custou-lhe  muito caro, tanto em suas pretensões, como em sua participação subsequente no conflito, pois foi afastado pelo  General Eisenhower, comandante das forças americanas na Europa, que para readmiti-lo, o obrigou a pedir desculpas ao soldado e ao batalhão que liderava, devido o fato ter chegado ao conhecimento da imprensa que queria sua destituição. O filme resolve não entrar em um fato ocorrido antes, que explica tal ataque a Patton: em determinado momento, durante suas campanhas, fez um discurso duro onde teria dito que os soldados deveriam matar “rápido, ferozmente e sem escrúpulos”, inclusive civis, “que cometerem a estupidez de nos combater”. Por coincidência ou não dois oficiais americanos massacraram dezenas de prisioneiros alemães na Sicília. Ao encararem o conselho de guerra, citaram o célebre discurso de seu general.


                
Patton revela-se como um general que compreende a guerra, sendo temido pelo alto comando nazista (provavelmente por sua participação na primeira guerra, onde Hitler esteve e percebeu nele seu papel fundamental no conflito). A produção pecou em alguns aspectos ao colocar o general inglês Bernard Law Montgomery (Michael Bates) como um comandante fraco e que sempre recebia a melhor fatia do bolo (na vida real era tido como “áspero, seco e intratável). A participação de Montogomery foi fundamental no conflito (perseguiu implacavelmente Rommel até encurralá-lo na Tunísia). Eisenhower o classificou como “aliado difícil  e competidor”. Douglas McArthur que lutou nas Filipinas, perdeu a ilha para os japoneses e, posteriormente, a recuperou, também é pouco citado, apesar de ser também uma das grandes personalidades neste conflito e peça fundamental na primeira guerra. 




O roteiro (co-escrito por Francis Ford Coppola, que acabou levando o Oscar) revela um Patton poeta, que acredita em reencarnação e que acreditava ter sido um grande líder e guerreiro nos principais conflitos da humanidade, crendo que sempre reencarnou em uma personagem chave que estivesse inserido em uma guerra. Enquanto sua capacidade de liderança era inquestionável (com o filme passando a impressão de ser uma figura mítica), sua capacidade de seguir ordens era quase nula. O filme passa a impressão de um homem  com um ego nas alturas. Isso fica bem demonstrado na cena em que Montogmery chega cheio de pompa a Silícia e descobre Patton, com um ar triunfante ao ter chegado primeiro (na vida real Patton teria ligado para Bradley pedindo que informasse o fato aos jornais). É uma cena que tenta mostrar muito do que teria sido Patton: uma general que gostava de glórias. Que gostava que suas conquistas fossem percebidas por todos. 




Seu jeito de falar o que pensava também é um dos pontos altos do filme: em um discurso na Inglaterra, propositadamente, recusou-se a falar da Rússia como aliado, o que criou uma crise junto a Stalin e que poderia ter mudado os rumos da guerra. Aumentou a suspeita dos russos de que talvez a divisão do mundo pós guerra, entre EUA e Inglaterra, fosse verdadeira.  Sua recusa em aceitar os russos, após a vitória, mostra também sua incapacidade de demonstrar diplomacia (na vida real teria cogitado a ideia de atacá-los).

   
A produção tentou passar um Patton que queria ter suas façanhas estampadas nas capas dos jornais, mas que não entendia porque suas frases mal colocadas eram motivos de tamanha repercussão. O diretor Schaffner (O Planeta dosMacacos) disse que viu em Patton “um lado rigoroso que o fazia recusar a mentira, a hipocrisia, os conchavos”. A ideia era tirar o lado épico e mostrar o lado humano, contraditório. Um mergulho na personalidade de um homem considerado arrogante, disciplinador, sincero, grosseiro, excêntrico, estrategista, soldado, católico, aventureiro, fanático, lúcido... O diretor também teria dito que “seu código moral de outra época é hoje inaceitável e acho que ele possuía uma visão falsa das coisas, mas, ao mesmo tempo, como indivíduo, destacava-se da massa e do conformismo” e que ele “era tanto uma vítima de seus defeitos e paixões quanto de suas forças e virtudes exageradas”
Fica bem claro que Patton odiou não liderar o dia D (o desembarque das tropas aliadas a Normandia) e ver seu outrora auxiliar e agora superior, general Omar Bradley (Karl Malden, também excelente), entrar para a história. Patton teve um papel fundamental nessa conquista, pois, ao ser afastado (no incidente da bofetada) e enviado ao sudeste da Inglaterra, fez com que o comando alemão acreditasse que tudo não passasse de uma farsa e que ele seria o verdadeiro líder da missão. Foram criadas tropas fictícias americanas e até tanques feitos de borracha para passar a impressão de um regimento com força para tal. Patton ainda avançaria até a Bélgica e seria crucial na famosa Batalha das Ardenas onde avançou em meio a neve, fadiga e falta de suprimentos, conseguindo salvar as forças aliadas (o filme não segue além desse ponto, mas a guerra continuou).
 



Patton  é um bom filme, mais indicado para aqueles que gostam de cinebiografias.  Aqueles que conhecem bem os meandros desse conflito conseguirão facilmente se situar dentro do contexto da história. George C. Scott (1927-1999) conseguiu passar a imagem que o roteiro (baseado em 2 livros) lhe desenhou com incrível eficiência (bem adequada a sua fama de ator de difícil temperamento, arrogante, rebelde  e brigão). Sua presença cênica garantiu que o filme não caísse no marasmo. As cenas de combates são modestas, centrando sempre na personalidade da personagem título. A sua época, início da década de 70, apenas 25 anos passados da maior guerra que o mundo assistiu, Patton foi muito bem recebido (lembrando que foi lançado 5 anos após os EUA entrarem na Guerra do Vietnam - 1965 a 1973) na América . A transposição de um personagem vitorioso tinha tudo a ver com o panorama político que se desenrolava. Bons atores, boas cenas de ação, mas um tema atualmente um tanto desgastado do general que foi considerado o que mais conquistou vitórias, tomou mais cidades e fez mais prisioneiros que qualquer outro general na 2ª Grande Guerra.

Curiosidades:
George C. Scott indicado como coadjuvante por Anatomia de um Crime (1959) e Desafio à Corrupção (1961), finalmente o ganhou o Oscar com essa produção. No entanto, assim como Marlon Brando ( dois anos depois por "O Poderoso Chefão") não compareceu a cerimônia, preferindo assistir a um jogo de hóquei pela TV.

Burt Lancaster recusou o papel principal.

Patton teve, como menção honrosa póstuma, o batismo com o seu nome de um modelo de tanque de guerra, que foi utilizado no filme, apesar deste não existir na 2ª guerra.

O filme foi muito elogiado nos EUA, mas não foi recebido muito bem em outros países que o consideraram como uma justificativa ao belicismo.

Ganhou 7 Oscars: Filme, Ator, Diretor, Roteiro Adaptado, Direção de Arte, Edição e Som.

Os livros usados como fonte de consultas para o filme:
- Patton: ordeal and triumph de Ladislas Farago
- A soldier's story de Omar N. Bradley

Patton morreu em 1945 em um acidente de automóvel

O rapaz esbofeteado por Patton em 1943 (dizem que foram pelo menos 2 soldados) chamava-se  Charles H. Kuhl. Faleceu aos 55 anos de ataque cardíaco. Trabalhava como limpador de assoalhos nos escritórios de uma empresa chamada Bendiz Corporation. 

O filme foi rodado em Hollywood, Grécia, Espanha, Marrocos e Inglaterra

O verdadeiro General Patton

 

 











Filmografia Parcial:
George C. Scott (1927–1999)
A Árvore dos Enforcado (1959); Dr. Fantástico (1964); A Bíblia (1966); Patton - Rebelde ou Herói? (1970); Os Novos Centuriões (1972); O Dirigível Hindenburg (1975); Hardcore - No Submundo do Sexo (1979); Toque de Recolher (1981); Chamas da Vingança (1984); Os Assassinos da Rua Morgue (1986); O Exorcista III (1990); Tyson (1995); 12 Homens e uma Sentença (1997); Rocky Marciano  (1999); O Vento Será Tua Herança (1999)
 
Karl Malden (1912–2009)
Uma Rua Chamada Pecado (1951); A Tortura do Silêncio (1953); O Fantasma da Rua Morgue (1954); Sindicato de Ladrões (1954); A Árvore dos Enforcados (1959); A Face Oculta (1961); A Conquista do Oeste (1962); Patton - Rebelde ou Herói? (1970); Dramático Reencontro no Poseidon (1979); Golpe de Mestre II (1983); Querem me Enlouquecer (1987).
 


Fontes:
Jornal do Brasil
Wikipedia
IMDB
Guerras Mundiais: documentário do canal History Channel

2 comentários:

  1. Bom dia. A caracterização de George C. Scott em gen. Patton está perfeita. O filme mostra a trajetória de um comandante entusiasta da batalha, disciplinador e brilhante estrategista, bem como de um homem que não era bom com palavras (ele mesmo reconhece isso ao dizer no filme: "não sou um orador"). O protagonista rouba a cena e certamente impulsiona a assistir essa ótima obra. Abraços.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Boa noite Janerson. Sim George C. Scott está ótimo na pele de Patton. Essa visão do lado humano, em detrimento do lado histórico, permitiu ao filme ser tão bom. Obrigado pelo comentário. Abs

      Excluir

Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre