E SE A ALEMANHA GANHASSE A GUERRA?
Produção
do canal HBO de 1994, A Nação do Medo conta a fictícia história do que
aconteceria se a Alemanha tivesse ganho a Segunda Grande Guerra: com o fracasso da invasão a
Normandia, Hitler sairia vitorioso contra o Império Britânico. Os Estados
Unidos sairiam do conflito, mas bombardeariam o Japão. Os russos continuariam
sua resistência à duras penas. O rei Eduardo VIII (que ocupou o trono entre
janeiro e dezembro de 1936 e seria simpático ao nazismo) e a rainha Wallis
ocupariam o trono inglês em 1947. Eisenhower (presidente americano de 1953 até
1961) se aposentaria sem glórias e Winston Churchill (primeiro ministro inglês)
se exilaria no Canadá, morrendo em 1953. O império germânico tomaria a
Europa.
O
tempo iria mudando e a S.S se tornaria uma polícia mais pacífica. Hitler
passaria uma imagem de líder mais moderador, com o Estado controlando as ações
dos cidadãos e da imprensa. Em 1960, iniciar-se-ia uma nova guerra com a
Alemanha, o que forçaria Hitler a tentar uma aproximação com os Estados Unidos
para formar uma aliança contra a U.R.S.S. Ainda em 1960 Joseph Kennedy (pai de
John Kennedy, que aqui não assumiria a presidência) subiria ao poder. Em 1964,
20 anos após a guerra, a Alemanha abriria suas portas aos Estados Unidos, mas
os boatos de que os judeus nunca foram realocados no Leste, incomoda a todos. É
onde começa a nossa história.
Um
grupo de repórteres é convidado a visitar e conhecer o país e cobrir o
histórico encontro de Kennedy (pai) com Hitler. Enquanto isso, um homem é morto
e um jovem presencia o despejo do corpo em um lago. Quem assume as
investigações é o major da S.S, Xavier March (Rutger Hauer), que
fica sabendo que um dos militares do mais alto escalão da Gestapo pode estar
envolvido. Charlie Maguire (Miranda Richardson) está no grupo de repórteres
credenciados a entrar no país. Ela recebe um documento entregue por um
desconhecido, contendo uma foto e um local onde deverá ir. Ao chegar ao local,
descobre tratar-se de Stuckart, líder do partido nazista, porém morto em sua cama ao lado de uma mulher. Enquanto Maguire é levada para delegacia para
esclarecimentos, March descobre que foi retirado do caso e aconselhado a
esquecer, porém acaba interrogando Maguire e entra em um novo caso. A dupla
passa a investigar juntos e descobrem que a foto que Maguire recebera foi de um
encontro militar e que todos nela estão mortos de alguma maneira. March percebe
que sua vida e da repórter corre perigo, mas o mais surpreendente está por
vir: Maguire encontra um homem que é a chave para o grande mistério que a
Alemanha nazista esconde.
Interessante
filme que aborda uma das vertentes que a história poderia ter nos mostrado: a
vitória da Alemanha na Segunda Guerra Mundial. Neste ambiente, a propaganda
nazista alcançaria o auge, alienando os cidadãos e contando a história do ponto
de vista dos vencedores. Aqui vemos um Estado totalitário onde poucos ousam
questionar o sistema ou seus representantes. A Gestapo (a polícia secreta de
Hitler) ainda funciona por debaixo dos panos e é temida por todos. Seus poderes
parecem ilimitados, funcionando como um órgão que elimina os indesejáveis e,
como queima de arquivo, aqueles que sabem demais.
March
é um representante desse Estado, porém sabe que a realidade é bem diferente e
que a liberdade é somente aparente. Ele tenta ser honesto em sua função, mas
fecha os olhos para situações que poderiam atrapalhar sua carreira. Tudo mudará
quando encontra Maguire, que percebe estar diante de algo muito grande e que,
esta verdade, pode ser o furo de reportagem de sua vida. De acordo com que o
filme avança, a improvável dupla percebe que entrou em uma conspiração que está
além de suas capacidades e que sua investigação já chamou a atenção das
autoridades. O acordo de paz está em perigo e a Alemanha não quer que seus
horrores sejam levados a público.
O
filme tem pontos altos: apesar de ser uma produção para a Tv, o cuidado com a
ambientação e figurino é um dos destaques. O telespectador entra no filme e se
sente realmente dentro do período narrado (filmado em Praga e na República
Tcheca), mesmo que este seja fictício.
A
atuação do elenco é o grande destaque: Rutger Hauer (de "A Morte Pede
Carona" e "Blade Runner"), dá um show de interpretação que lhe
valeu uma indicação ao Globo de Ouro como melhor ator de um filme para Tv, mas
quem abocanhou a estatueta foi === como melhor atriz coadjuvante
em televisão. O restante do elenco funciona a contendo.
Baseado no livro “Fatherland” de Robert Harris, A Nação do Medo não é um filme
excepcional: começa meio devagar, mas vai pegando o espectador aos poucos. Um
pouco de mistério aqui, um pouco de investigação ali e, perto do final, um
pouco de ação. Aliais o final é algo que deve ser destacado: muitas pessoas
acharam o final inverossímil e que a realidade dos acontecimentos seria outra.
A questão que fica é? Se Kennedy (lembrando que seria o pai) ficasse sabendo do
que aconteceu na Alemanha com os judeus, ele continuaria as relações diplomáticas
com a Alemanha (do filme)? Será que a aliança que venceria a Rússia seria
realizada e as descobertas arquivadas em alguma gaveta “perdida”? Esse
questionamento talvez seja um dos pontos altos que o filme deixa para o
espectador ponderar. O diretor Christopher Menaul, especialista em filmes para
a Tv, resolveu dar sua versão do que achou que aconteceria (como não li o
livro, não sei se é o mesmo do filme) e pode não agradar a todos, que podem
achar excessivamente ingênua, considerando-se os meandros políticos que
envolvem acordos e nações.
A Nação
do Medo, apesar de em alguns momentos ficar em “banho maria”, é uma boa pedida
para aqueles que ficam imaginando como seria uma Alemanha que tivesse sido
vitoriosa. Se não vale pela boa ficção, vale pela interpretação dos
protagonistas.
Curiosidades:
Miranda
Richardson foi indicada ao Oscar como Melhor Atriz por "Tom &
Viv" (1994) e Melhor Atriz Coadjuvante por "Perdas e Danos"
(1992)
Os prédios pomposos da Berlim do pós-guerra foram baseados em planos reais de Albert Speer, o arquiteto e secretário de armamentos favorito de Adolf Hitler. Entre vários outros marcos, vemos uma enorme cúpula (o Palácio dos Fóruns do Povo), um Arco do Triunfo, um Estádio Olímpico e a Chancelaria do Reich. Apenas o Estádio e a Chancelaria foram realmente construídos, mas o último foi destruído por bombardeios e finalmente saqueado e demolido pelo Exército Vermelho. O restante deles nunca foi construído, e construções como o Arco e a Cúpula eram tão grandes que os arquitetos não tinham certeza de sua viabilidade, até que uma recente simulação baseada em computador afirmou que os cálculos de Speer estavam corretos e se Hitler tivesse vencido a guerra, Berlim teria parecido como o filme mostra. Curiosamente, o filme também retrata Berlim como sombria e cinzenta. No livro, março descreve a cidade assim desde os projetos de construção sem fim.
Mike Nichols comprou o romance por um milhão de dólares, com a intenção de produzi-lo como um filme para os cinemas. Quando nenhum dos estúdios de Hollywood se interessou, a produção foi reduzida a um filme de televisão para a HBO.
Nativos tchecos mais velhos que se lembraram da Segunda Guerra Mundial participaram das filmagens de cenas de multidão com relutância. Posteriormente, eles relataram que a visão de tantas suásticas e uniformes nazistas os deixou doentes.
A insígnia de punho usada por Xavier March (Rutger Hauer) era para ser membro da Divisão de Polícia da S.S., que era a quarta divisão da Waffen-S.S. ordem de batalha. O emblema em forma de diamante em forma de "K" (destinado a denotar a participação na Polícia Criminal) foi uma invenção desse filme e não existia durante a época da Alemanha nazista.
Historicamente, a Polícia Criminal do S.S. era formada por detetives que não usavam uniformes pretos da S.S., como mostrado neste filme. O uniforme preto foi retirado da S.S. em 1941 e substituído por uma túnica cinza do tempo de guerra. O pessoal da Polícia Criminal nos países ocupados usava este uniforme, enquanto os da Alemanha continuavam a usar roupas civis.
No início do filme, quando Xavier March se veste, podemos ver algumas referências a uma sociedade doutrinada nazista: os grupos de meninos da televisão cantam a mentira de Horst-Wessel (canção de Horst-Wessel), que era o Hino oficial da SS, cantado para "os camaradas fuzilados na Frente Vermelha". Além disso, na prateleira atrás de March, há um modelo em escala do encouraçado Bismarck.
Durante a excursão de ônibus, conforme os jornalistas passam por baixo do Arco do Triunfo, o guia explica que o prédio é várias vezes maior do que o de Paris. Esta linha vem direto do livro, já que March e seu filho fazem o mesmo passeio, e March reflete em particular que, mesmo na vitória, a Alemanha ainda tinha um complexo de inferioridade, já que cada edifício na cidade é comparado como "maior, mais amplo e mais amplo "do que em outros países.
A abertura do filme afirma que a virada na guerra que fez os aliados perderem foi o fracasso dos desembarques na Normandia, e que fez os Estados Unidos se retirarem da guerra. No livro, o motivo era a Alemanha desenvolvendo armas nucleares, testando-as e depois lançando um foguete V3 vazio (uma versão aprimorada do V2, que na vida real era deixada apenas no papel) para explodir sobre Nova York. Foi só então que os Estados Unidos assinaram a paz com a Alemanha. Além disso, o romance explica que a Alemanha percebeu a violação do Código Enigma pelos britânicos, alterando-o e dizimando a Marinha Real, impedindo os desembarques na Normandia. Na realidade do livro, afirma-se também que existe uma "Guerra Fria" entre a Alemanha e os Estados Unidos, únicas potências nucleares do mundo, e isso impede que Hitler use armas atômicas na Rússia, motivo pelo qual a Alemanha busca uma aliança americana em primeiro lugar.
O filme começa com a derrota dos Aliados na Normandia em 1944, então é aqui que a realidade se distancia do fato histórico. Embora mais tarde haja várias referências a Heydrich ainda vivo, enquanto na realidade ele foi assassinado em 1942 por Patriotas Tchecos, é afirmado no romance original de Robert Harris que Heydrich sobreviveu ao ataque. Este aspecto é particularmente importante porque o romance lida com a Gestapo matando os participantes da Conferência de Wannassee e, portanto, os arquitetos da Solução Final, com Heydrich sendo aquele que realmente orquestrou os assassinatos.
Vários cartazes de propaganda no centro de Berlim têm inscrições apenas em inglês (Elliot tirando uma foto com MacGuire na frente de um, outra quando MacGuire pega um táxi para seu encontro secreto). Embora fosse altamente questionável que um governo alemão, autoconfiante com a vitória sobre os aliados, aprovasse esses pôsteres all-in-English na capital alemã, o romance explica isso pelo fato de Hitler querer mostrar uma face mais aberta aos Estados Unidos, porque está desesperado para fazer uma aliança contra a União Soviética.
Várias vezes ao longo do filme é mencionado que seis milhões de judeus morreram. Desde que a Alemanha venceu a Segunda Guerra Mundial no filme, os nazistas teriam sido capazes de completar o extermínio dos judeus da Europa, o número de vítimas teria sido de aproximadamente 12 milhões.
Filmografia Parcial:
Rutger Hauer (1944-2019)
Louca Paixão (1973); Conspiração Violenta (1975); Soldado de Laranja (1977); Os Falcões da Noite (1981); Blade Runner, O Caçador de Andróides (1982); O Casal Osterman (1983); Uma Raça a Parte ou O Senhor
das Águias (1984) O Feitiço de Áquila (1985); Conquista Sangrenta (1985); A Morte Pede Carona (1986); Exterminador Implacável (1987); A Lenda do
Santo Beberrão (1988); Fuga de Sobibor (1987); Fúria Cega (1989); Aliança Mortal (1991); O Destruidor (1992); A Nação do Medo
(1994); Sobrevivendo ao Jogo (1994); Omega Doom (1996); Linha Vermelha
(1997); Sin City: A Cidade do Pecado (2005); Batman Begins (2005); O
Ritual (2011); Dracula 3D (2012); Escorpião Rei 4: Em Busca do Poder
(2015).
Miranda Richardson
Dançando
com um Estranho (1985); Império do Sol (1987); Um Sonho de Primavera (1991);
Traídos pelo Desejo (1992); Perdas e Danos (1992); A Lenda do Cavaleiro Sem
Cabeça (1999); As Horas (2002); Harry Potter e o Cálice de Fogo (2005); Harry
Potter e o Cálice de Fogo (2005); Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1
(2010); Churchill (2016).
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