terça-feira, 3 de setembro de 2024

OPERAÇÃO FRANÇA Nº 2 / OPERAÇÃO FRANÇA 2 / FRENCH CONNECTION (1974) - ESTADOS UNIDOS


"VOCÊ JÁ TRANÇOU OS PÉS EM POUGHKEEPSIE?"

Popeye Doyle (Gene Hackman), único capaz de identificar Alain Charnier (Fernando Rey), conhecido como "The Frog", chega em Marselha, França. Sua missão é cooperar com a força policial francesa para capturar um traficante da qual eles desconhecem a real identidade. A chegada já se mostra conturbada com Popeye percebendo que sua permanência não é bem-vinda: ele não pode interferir nas investigações e não pode portar armas. O investigador americano não fala uma palavra da língua local e o único que conversa com ele em inglês é Barthélémy (Bernard Fresson) exatamente o maior opositor de sua permanência na operação. O que Popeye não sabe é que ele foi enviado por seus pares como uma isca para que Charnier “saia da toca”. E não tarda ao francês perceber a presença de Popeye. E ele não permitirá que este atrapalhe novamente sua operação de drogas.

Popeye passa a ser acompanhado de perto por agentes da polícia francesa, não apenas por seu comportamento arredio e de insubordinação, mas também para sua própria segurança. Ao conseguir escapar do monitoramento da polícia, termina sendo capturado e levado para um local desconhecido. Popeye descobre que seu inimigo está à sua espera e que este, na verdade, não visa eliminá-lo. Ele deseja destruí-lo de dentro para fora. Popeye fica semanas cativo sendo drogado até que revele tudo o que sabe para ser finalmente devolvido, em estado precário, mas Popeye não voltará derrotado para a América. Ele ressurgirá ainda mais determinado e desta vez ele não vai apenas em busca de uma captura, ele vai em busca de vingança.

Operação França foi um sucesso de crítica e de público, além de receber cinco Oscars e o seu ousado final forneceu as condições para um segundo exemplar tardio, feito 4 anos depois. Mas nem todos os elementos foram utilizados novamente nesta sequência. O diretor William Friedkin (1935-2023) foi substituído por John Frankenheimer (1930-2002) que era conhecido principalmente pelo filme “Sob o Domínio do Mal” (1962). Gene Hackman e Fernando Rey, do elenco principal, foram os únicos que retornaram e a ação passou de Nova York para Marselha. E se o primeiro filme era baseado em fatos reais e adaptado para um roteiro aos moldes de Hollywood, o segundo filme foi praticamente todo ficcional (apenas o fato de que a heroína apreendida fora roubada nos depósitos guardados pela polícia constituía um fato real). Frankenheimer quis fazer um filme diferente, não uma mera continuação sugada do filme de 70 e foi uma escolha acertada. O roteiro resolveu explorar as diferenças culturais e linguísticas (Popeye não fala uma palavra do francês) entre os dois países e as animosidades entre franceses e americanos. Para a polícia francesa, Popeye é visto como um cowboy que chega ditando regras em um lugar ao qual não pertence, vindo de um lugar cuja corrupção e modo de atuar contra o crime são reprováveis. Já para Popeye, a polícia francesa é amadora e lenta não tendo capacidade de prender um homem como Charnier (que nem consta em seus registros).

Se o primeiro filme tinha a famosa cena de perseguição como a mais lembrada, nesse segundo filme será o sequestro de Doyle e suas posteriores consequências (as sequências de vício e abstinência de Popeye são bem reais). É uma longa sequência feita para Hackman ter uma atuação solo e brilhar. Ficou parecendo que o ator acreditava em uma nova indicação ao Oscar por sua performance (conseguiu uma para o Globo de Ouro). A sequência sequer estava no roteiro sendo incluída quando o destino do parceiro de Doyle (que seria morto em Marselha) foi descartado. Frankenheimer preferiu não legendar os diálogos franceses deixando o espectador com a sensação que Doyle tinha no filme: um peixe fora d’agua e sempre que o ator espanhol Fernado Rey falava era dublado por um ator francês. Cada filme feito é como um arremesso de dados do ponto de vista financeiro. Se um filme sensibiliza o público, uma segunda parte pode ser um investimento lucrativo, mas não há uma formula para o sucesso contínuo e Operação França 2 é um bom exemplo de 4 milhões de Orçamento rendendo pouco mais de 12 milhões. Muitos diriam que foi um sucesso ao render 3 vezes, mas o estúdio considerou um grande fracasso (ao compará-lo com a arrecadação do primeiro filme). Mas o filme foi conduzido de uma forma eficiente com uma produção bem cuidada em uma continuação que se sustenta sozinha (ainda que seja melhor ter visto o primeiro filme), pois a ousadia de ampliar a estória e levar o personagem central em um novo estágio deve ser vista como algo a ser elogiado.

Quanto ao elenco, Gene Hackman quase não fez o filme, pelo tempo passado entre as duas produções, uma das razões que considerou posteriormente como um dos motivos da baixa bilheteria. Mas o velho Popeye continua em forma: língua ferina, sarcástico, desobediente, obstinado e acreditando que seu jeito é o jeito certo. Ver seu personagem perambulando pelas ruas da cidade francesa tentando se comunicar sem sucesso trouxe um ar de novidade. E vê-lo sofrer, ter seu ego humilhado, para se recuperar das sequelas de seu sequestro nos mostra como Hackman é um ator muito acima da média. O ator, sem dúvida carregou o filme nas costas e as melhores cenas sempre são as que ele está presente. Fernando Rey continua com aquele ar aristocrático, um “cidadão acima de qualquer suspeita”, escorregadio e metódico quanto aos seus planos. Faltou um pouco do jogo de gato e rato do primeiro filme, mas as cenas que compartilham juntos, principalmente a final, deve ter ficado na memória de muitos. Bernard Fresson fez um Barthélémy que precisa lidar não apenas com o problema das drogas em seu país, mas também com a presença indisciplinada de alguém que não deseja ali, mas que se solidariza com o mesmo a partir de determinado ponto. O filme investe na forma sarcástica como Barthélémy e Popeye dirigem-se um ao outro e da incapacidade inicial de trabalharem juntos. Ed Lauter (General Brian) surgiu rapidamente em cena talvez apenas para lembrar que a droga que chega à América tem vários caminhos. Philippe Léotard interpreta Jacques, um dos homens de Charnier e Cathleen Nesbitt (1888-1982) fez idosa que conversa com Popeye em seu cativeiro. André Penvern fez o Bartender francês que não entende o que seu cliente deseja beber, mas entende perfeitamente quando este lhe oferece drinks de graça.

Operação França II (agora sem o “The” French Connection) foi uma continuação que infelizmente poucos viram e ainda nos dias atuais é pouco exibido. Tem sua narrativa própria (de altos e baixos) e o mérito de não ser um filme preguiçoso elaborado apenas para ser um caça-níqueis.  Não se compara com o primeiro, mas como filme policial está muito à frente de várias produções lançadas posteriormente fazendo jus ao gênero policial.  É um segundo round para aqueles que desejavam uma contenda definitiva entre os personagens.

 

Trailer:

 


 

Curiosidades:

Este é o primeiro filme na história de Hollywood a ter um título e apenas um número depois dele (ou seja, 2) – The French Connection II. O Poderoso Chefão Parte II foi a primeira sequência a ter um número, mas isso foi precedido por "Parte".

Eddie Egan , o policial de Nova York da vida real que foi a base para o personagem Jimmy Doyle, realmente fez um teste para os Yankees em sua juventude e jogou ao lado de um então desconhecido Mickey Mantle .

Depois deste filme, a "20th Century Fox" estava planejando um terceiro filme "French Connection". Gene Hackman interpretaria "Popeye" Doyle mais uma vez e seria escalado com o comediante Richard Pryor como seu parceiro na tela. Planejado para ser lançado em 1979, o filme nunca aconteceu - provavelmente porque esta sequência foi um fracasso inesperado de bilheteria.

A cena no bar com Andre Penvern como o Barman foi completamente improvisada. Foi também a cena final filmada na última noite de filmagem.

A bebida verde que o barman serve é um licor de Bayonne, França, chamado Green Izarra.

Ed Lauter e Gene Hackman foram os únicos membros americanos do elenco.

O roteiro original envolvia uma trama onde Doyle e Russo (Roy Scheider) viajavam para a França e quando Russo fosse morto pelos homens de Charnier, Doyle buscaria vingança contra Charnier. Roy Scheider, no entanto, já estava na produção de Jaws e, portanto, não estava disponível, então o roteiro foi alterado e o enredo do vício em heroína de Popeye foi introduzido no roteiro.

Gene Hackman e André Penvern trabalhariam juntos novamente em Marcha ou Morre (1977)

Doyle se refere aos dois detetives que o seguem como Sacco e Vanzetti. Nicola Sacco e Bartolomeo Vanzetti foram anarquistas imigrantes italianos que foram condenados pelo assassinato de dois homens durante um assalto à mão armada. Ambos foram executados na cadeira elétrica, apesar de muitos apelos e evidências conflitantes. Em 1977, o governador de Massachusetts, Michael Dukakis , emitiu uma proclamação de que Sacco e Vanzetti haviam sido injustamente julgados e condenados.

Jean-Claude Killy foi um esquiador francês que alcançou fama internacional quando ganhou 3 medalhas de ouro nas Olimpíadas de Inverno de 1968. Ele também ganhou seis medalhas de ouro no Campeonato Mundial - 2 em 1966 e 4 em 1968.

Ao planejar a perseguição em que Doyle persegue Charnier por Marselha, o diretor John Frankenheimer não sabia que Gene Hackman sofria de problemas no joelho. Apesar disso, Hackman foi em frente e filmou a perseguição inteira sem um dublê, inflamando gravemente seu joelho quando terminou. Ele disse que as expressões de dor e determinação de Doyle conforme a perseguição progredia não exigiam muita atuação.

O laboratório de processamento de heroína foi construído pela máfia corsa e era tão realista que todo o set tinha que ser guardado pela polícia francesa quando não estava sendo usado pela equipe de filmagem. A máfia também aconselhou sobre os métodos usados ​​por traficantes de drogas para obter heroína nos EUA (escondendo a droga em pesos de cargueiros) e, de acordo com John Frankenheimer , organizou as autorizações para o engarrafamento durante a perseguição no final do filme.

Foi exibido nos cinemas brasileiros em janeiro de 1976 como “Operação França nº 2”

Houve um filme feito para a tevê, em 1986, chamado no Brasil de “Operação Oriente Médio” (“Popeye Doyle”), com Ed O'Neill (do seriado “Um Amor de Família”) no papel principal. Muitos o chamam de “French Connection 3”

 

Cartazes:

 


 










Filmografias Parciais:

Gene Hackman





Bonnie e Clyde - Uma Rajada de Balas (1967); Operação França (1971); O Destino do Poseidon (1972); A Conversação (1974); Operação França II (1975); Superman: O Filme (1978); Superman II - A Aventura Continua (1980); Sob Fogo Cerrado (1983); De Volta Para o Inferno (1983); Superman IV: Em Busca da Paz (1987); Inimigo do Estado (1988), Entrega Mortal (1989); Mississipi em Chamas (1989); De Frente Para o Perigo (1990); Os Imperdoáveis (1992); A Firma (1993); Geronimo - Uma Lenda Americana (1993); Rápida e Mortal (1995); Maré Vermelha (1995); Medidas Extremas (1996); Poder Absoluto (1997); Os Excêntricos Tenenbaums (2001); Atrás das Linhas Inimigas (2001); O Júri (2003).

 


Fernando Rey (1917-1994)


 

 


Rainha Santa (1947); Delírio de Amor (1948); Senhora de Fátima (1951); Marcelino Pão e Vinho (1955);  Os Amores de Dom Juan (1956); Horas de Pânico (1957); Os Últimos Dias de Pompéia (1959); A Revolta dos Escravos (1960); Golias Contra o Gigante (1961); Odisseia de um Bravo (1963); O Califa de Bagdá (1963); Cerimônia Macabra (1963); A Nova Cinderela (1964); O Filho do Pistoleiro (1965); Viva Gringo (1965); A Volta dos Sete Homens (1966); O Jovem Rebelde (1967); A Revolta dos Sete Homens (1969); O Preço do Poder (1969); Tristana, Uma Paixão Mórbida (1970); O Farol do Fim do Mundo (1971); Operação França (1971); À Sombra das Pirâmides (1972); O Discreto Charme da Burguesia (1972); Presas Brancas (1973); Operação França II (1975); A Viagem dos Condenados (1976); Jesus de Nazaré (1977); Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977); Quinteto (1979); A Dama das Camélias (1981); Monsenhor (1982); O Cavaleiro Estelar (1985); Luar sobre Parador (1988); 1492: A Conquista do Paraíso (1992); Madregilda (1993) 


Bernard Fresson (1931-2002)

 

 

 

  

Hiroshima, Meu Amor (1959), O Testamento do Dr Cordelier (1959), Mulheres na Vitrina (1961), Torneio de Amor (1961), O Mais Longo dos Dias (1962), A Guerra Acabou (1966), Paris Está em Chamas? (1966), Espionagem Internacional (1966), A Bela da Tarde (1967), A Flor da Vida (1968), Eu te Amo, Eu te Amo (1968), Adeus, Amigo (1968), A Prisioneira (1968), Z (1969), Ó, Sol (1970), O Chefão (1970), A Garota no Automóvel - Com Óculos e um Rifle (1970), Sublime Renúncia (1971), Um Pouco de Sol na Água Fria (1971), Não Há Fumaça sem Fogo (1973), Operação França II (1975), Chove Sobre Santiago (1975), Caninos Brancos (1976), O Inquilino (1976), Mado, um Amor Impossível (1976), Madame Claude 2 (1981), Garçom! (1983), Clash (1984), Margem Direita, Margem Esquerda (1984), Doces Mentiras (1987), Uma Rua Sem Volta (1989), Sem Tempo Para a Justiça (1990), O Poder do Dinheiro (1991), Germinal (1993), Meu Homem (1996), Juliette (1999), O Pacto dos Lobos (2001), O Adversário (2002) 

 

Ed Lauter (1938–2013):





A Fúria dos 7 Homens (1972); Os Novos Centuriões (1972); Assassinato de um Presidente (1973); Golpe Baixo (1974); O Triângulo do Diabo (1975); Operação França II (1975); King Kong (1976); O Grande Búfalo Branco (1977); Jim Jones: A Tragédia da Guyana (1980); Operação Vingança (1981); Perseguição Mortal (1981); O Cavaleiro do Tempo (1982); Lassiter - Um Ladrão Quase Perfeito (1984); Desejo de Matar 3 (1985); Jogo Bruto (1986); Nascido em 4 de Julho (1989); Despedida em Las Vegas (1995); Rastro de Pavor (1996); O Preço da Traição (1996); Treze Dias Que Abalaram o Mundo (2000); Não é Mais um Besteirol Americano (2001); Golpe Baixo (2005); Número 23 (2007); Camille - Um Amor do Outro Mundo (2008); O Artista (2011); Assassino Invisível (2014).


Philippe Léotard (1940-2001) 


 

 

 

Domicilio Conjugal (1970), Sublime Renúncia (1971), As Duas Inglesas e o Amor (1971), Uma Jovem tão Bela Quanto Eu (1972), O Dia do Chacal (1973), Ferida Aberta (1974), Amantes no Meio do Mundo (1974), Operação França II (1975), Sanguinários E Corruptos (1977), A Primeira Comunhão (1977), Um Olhar Para a Vida (1980), Tangos - O Exílio de Gardel (1985), A Obra em Negro (1988), Tem Dias de Lua Cheia (1990), Sem Tempo Para a Justiça (1990), Nos Olhos da Serpente (1990), Morte na Bósnia (1990), A Carne (1991), Elisa, Em Sua Honra (1995), Os Miseráveis (1995), Pandora (1995) 

 

Cathleen Nesbitt  (1888-1982) 


 



O Desconhecido (1935), Pigmalião (1938), Quarto dos Horrores (1940), Amor nas Sombras (1944), César e Cleópatra (1945), As Vidas e Aventuras de Nicholas Nickleby (1947), Jassy, A Feiticeira (1947), Loucuras do Coração (1949), Angústia de uma Alma (1950), A Fonte dos Desejos (1954), A Viúva Negra (1954), Désirée, o Amor de Napoleão (1954), Tarde Demais para Esquecer (1957), Vidas Separadas (1958), O Grande Amor de Nossas Vidas (1961), A Deliciosa Viuvinha (1966), O Triângulo Mortal (1966), Os Delicados (1969), O Vilão (1971), Operação França II (1975), Trama Macabra (1976), Demônio Com Cara de Anjo (1977), Júlia (1977)


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