quinta-feira, 18 de julho de 2019

MARCELINO PÃO E VINHO / MARCELINO PAN Y VINO (1955) - ESPANHA / ITÁLIA



DOCE ALMA ENTERNECIDA

Um bebê órfão é deixado em um mosteiro de uma aldeia espanhola com doze monges franciscanos. Os monges se afeiçoam e revezam-se na criação. Marcelino cresce e já é uma criança. Solitário, com um amigo imaginário, chamado Manuel, começa a gerar preocupação nos religiosos que percebem que o menino precisa de uma família já que deseja ir de encontro a falecida mãe.

 
A época não é favorável: as famílias possuem dificuldades no próprio sustento e outras não são candidatas adequadas para a formação de um bom caráter. Depois de algumas tentativas infrutíferas e algumas "propositadamente desinteressantes" (alguns dos religiosos se afeiçoaram ao garoto), os franciscanos  resolvem cuidar da criação do menino. Marcelino agora terá doze “pais”.
 


O governador geral fica doente e um dos substitutos é um homem que queria Marcelino, mas foi recusado pelos religiosos por ser uma pessoa rude e cruel. Essa decisão e a bagunça que Marcelino apronta em uma feira faz com que o novo governador dê um prazo para a desocupação do mosteiro enquanto Marcelino passa a subtrair comida da cozinha e levar para o seu “amigo imaginário”, “Manuel”, que fica no sótão, lugar proibido ao garoto pelos religiosos.


Marcelino Pão e Vinho é um filme religioso, em preto e branco, baseado no livro de José Maria Sanchez (responsável também pelo roteiro), que obteve imenso sucesso quando levado aos cinemas (por aqui estreou apenas em 1957). E não é para menos, até hoje, décadas depois, a história do menino de coração puro e caridoso, que queria conhecer a mãe falecida, ainda encanta gerações. Uma história de amor de Deus aos homens. A direção de terno lirismo de Ladislao Vadja, espanhol de origem húngara, deixou o filme com uma ótima condução e evitou que caísse no piegas devido a simplicidade da linguagem utilizada.   O espectador acompanha a vida daqueles simplórios religiosos que tem que lidar com as travessuras de um pequeno menino que vai encantando, aos poucos, aos personagens e aos espectadores. Há uma força poética incontida na história e há um mistério por trás do aparente “amigo imaginário” de Marcelino que um dos frades descobrirá e talvez seja esse um dos pontos de maior impacto do filme, cujo final antológico permanece nas mentes até hoje de quem o assistiu.  Houve até um álbum de "figurinhas mágicas" em que cada envelope trazia 4 figurinhas.


Do elenco, o pequeno que se agiganta em cena, Pablito Calvo, selecionado entre cinco mil candidatos, virou astro quase que imediato, com direito a pessoas o seguindo pelas ruas de Roma, mas sua carreira (em termos de sucesso) permaneceu mesmo nessa produção encerrando-a no início dos anos 60. O menino ingênuo de coração puro foi e sempre será seu maior papel. O restante do elenco também está ótimo: cada religioso fica responsável pela educação do menino. Cada um lhe ensina algo. Cada um possui uma personalidade distinta e cada um deles, muitas vezes divergem de como criá-lo. Esse é um dos pontos interessantes do roteiro. O personagem do governador  também está ótimo: mau e ameaçador.



Marcelino Pão e Vinho é um filme atemporal, mesmo que sua fotografia tenha envelhecido, ao contrário de muitas produções, mantém um certo charme, talvez por ser em preto e branco, mas é indicado a todo o público, não só aqueles que gostam de temas religiosos. Um filme, considerado por muitos, como uma obra de arte e que aos poucos foi sendo esquecido. Em um mundo tão sem amor, este amor verdadeiro de uma criança enriquecido de ingenuidade, piedade e fraternidade em uma história simples, mas exuberante, aquece os corações mais frios.

Trailer:



 
Curiosidades:
Em 1958 Pablito veio ao Rio de Janeiro e São Paulo por conta do lançamento do filme “O Garoto e o Vagabundo” do mesmo diretor. Parou de atuar aos 16 anos. Faleceu em 2000, aos 51 anos, de aneurisma cerebral.

Houve uma nova versão lançada em 1991: "Marcelino, Pão e Vinho" (Marcellino)  dirigida por  Luigi Comencini com o ator Nicolò Paolucci no papel principal



Premiações
Berlin International Film Festival 1955
Cannes Film Festival 1955
Cinema Writers Circle Awards, Spain 1956
National Syndicate of Spectacle, Spain 1955 


Cartazes;























Álbum de Figurinhas: 

La Cancion Marcelino





O Ator espanhol Fernando Rey foi o narrador (1917–1994)



Filmografia Parcial:

Pablito Calvo (1948–2000)
Marcelino Pão e Vinho (1955); O Garoto e o Vagabundo (1956); Totó e Marcelino (1958); Juanito (1960); Alerta no Céu (1961); Barcos de Papel (1962)

Fernando Rey (1917–1994) 
Rainha Santa (1947); Delírio de Amor (1948); Senhora de Fátima (1951); Marcelino Pão e Vinho (1955);  Os Amores de Dom Juan (1956); Horas de pánico (1957); Os Últimos Dias de Pompéia (1959); A Revolta dos Escravos (1960); Golias Contra o Gigante (1961); Odisséia de um Bravo (1963); O Califa de Bagdá (1963); Cerimônia Macabra (1963); A Nova Cinderela (1964); O Filho do Pistoleiro (1965); Viva Gringo (1965); A Volta dos Sete Homens (1966); O Jovem Rebelde (1967); A Revolta dos Sete Homens (1969); O Preço do Poder (1969); Tristana, Uma Paixão Mórbida (1970); O Farol do Fim do Mundo (1971); Operação França (1971); À Sombra das Pirâmides (1972); O Discreto Charme da Burguesia (1972); Presas Brancas (1973); Operação França II (1975); A Viagem dos Condenados (1976); Jesus de Nazaré (1977); Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977); Quinteto (1979); A Dama das Camélias (1981); Monsenhor (1982); O Cavaleiro Estelar (1985); Luar sobre Parador (1988); 1492: A Conquista do Paraíso (1992); Madregilda (1993)


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