quarta-feira, 22 de setembro de 2021

ATLÂNTIDA, O CONTINENTE DESAPARECIDO / ATLANTIS: THE LOST CONTINENT (1961) - ESTADOS UNIDOS

AVENTURA ALÉM DOS PILARES DE HERCULES

O pescador grego Demetrios (Sal Ponti) avista uma jovem à deriva no mar. Mesmo contra a vontade de seu pai (Wolfe Barzell), o jovem consegue levar a estranha para o seu barco.  Quando desperta, diz chamar-se Antillia e que seria uma princesa de uma civilização além dos Pilares de Hércules chamada Atlântida. Além disso, mostra-se arrogante e desdenha das condições que Demetrios e seu pai lhe oferecem. Durante uma noite, Antillia (Joyce Taylor ), rouba o barco de seus anfitriões, mas Demetrios consegue alcançar a embarcação e faz um acordo: irá guiar a jovem durante um certo período de tempo, caso não aviste tal local narrado por ela voltará e ela se casará com ele . A jovem aceita e lhe diz que sua devolução à cidade desconhecida será recompensada em ouro e ele poderá desposá-la

Em certa parte do caminho, a dupla é resgatada por uma estranha embarcação de metal, em forma de monstro marinho, que parece navegar por sob as águas, movida por algo que Antillia chama de "ciência". Ambos chegam a cidade de Atlântida onde são separados. Antillia volta para sua vida, mas Demétrius é feito prisioneiro  e transformado em escravo, como todo forasteiro, sem que a jovem princesa saiba do incidente. Ao descobrir o verdadeiro destino de Demétrius, a apaixonada princesa tenta intervir, mas percebe que seu pai perdeu seu poder real e quem realmente governa é Zaren (Johnn Dall),  um tirano que deseja uma união com  Antillia para assim coroar-se rei. Com a ajuda de Azor (Edward Platt), Demetrios enfrentará duas terríveis provas de morte contra um gladiador gigante: a de fogo e a de água. Se vencer obterá a liberdade. Enquanto Azor percebe que uma ameaça natural se aproxima, Demetrios deve por fim aos planos de Zaren e sua ânsia de conquistar o mundo através de sua invenção de um raio mortal e, ao mesmo tempo, também por fim as transformações dos escravos da cidade em feras.

Tendo sido citada nos diálogos Timeu e Crítias, do filósofo grego Platão, desde então especula-se a existência do Continente Perdido. Livros sobre o tema aportam em livrarias todos os anos e Hollywood não poderia ficar de fora colocando-a no imaginário popular, através de filmes bem sucedidos, e algumas vezes sem nenhuma lógica, as histórias desta mística cidade que o escritor Charles Berliz apelidou de “O Oitavo Continente”. E com George Pal não foi diferente: há um prólogo demonstrando aonde teria existido tal continente e que, após seu desaparecimento, seus habitantes partiram para os quatro cantos do mundo levando consigo algum conhecimento, o que teria trazido uma evolução mais rápida à humanidade e sua conexão com as civilizações maias e egípcias por exemplo. A bem da verdade,  a crítica considerou o filme de Pal um “trabalho menor” frente a outros de seus trabalhos anteriores. Pal reaproveitaria dezenas de cenas de outros filmes como "Quo Vadis"  de 1951 (os temas musicais), "A Selva Nua" (1954), "O Filho Pródigo" de 1955 (A grande estátua do templo), "Kismet" (1944) e "A Máquina do Tempo" (erupção do vulcão). William Tuttle, o maquiador, tinha uma quantidade considerável de tinta corporal azul restante de "A Máquina do Tempo" e pode-se notar que Netuno (que aparece para Demetrios em uma alucinação) é do mesmo tom de azul que os Morlocks. E várias cenas dos atores principais, nos degraus do palácio, foram filmadas no Tribunal de "Os Três Mosqueteiros".

Baseado na peça  teatral "Atalanta, a Story of Atlantis" de Gerald Hargreaves de 1949, “O Continente Desaparecido de Atlântida" foi um filme realizado pelo cineasta George Pal, o mesmo dos clássicos “A Máquina do Tempo” e “As Sete Faces do Dr Lao”. Em sua primeira ficção-científica / aventura no formato Cinerama, Pal  recebeu maiores verbas após o sucesso de "A Máquina do Tempo" realizado um ano antes, mas ficou apenas em uma aventura simpática sobre o  mito de Atlântida. Pal queria fazer um filme sobre Atlântida em meados da década de 1950, só que o estúdio que mantinha contrato com o diretor, a Paramount, recusou o projeto.  Quando Pal foi para a MGM um dos fatores que levaram ao sinal verde produção fora o recente sucesso do lançamento nos EUA de Hércules (1958) de Pietro Francisci. Era o início do ciclo de filmes sobre heróis mitológicos gregos e romanos. Logo, fazer uma aventura nesses moldes, com um diretor que sabia trabalhar com efeitos, era quase certeza de retorno financeiro. Mas as coisas não deram totalmente certas. Mesmo não gostando do roteiro (o diretor teria posteriormente revelado que a história e os diálogos eram ruins) foi forçado a começar a produção antes da história ser melhor delineada devido a uma greve iminente dos roteiristas. E a greve ocorreu durante a produção, o que interrompeu qualquer reescrita. Por isso, temos arena de gladiadores (como nos filmes de Roma);  Homens transformados em feras como no livro de H.G Wells “A Ilha do Dr Moreau” (e também no filme homônimo); uma leve inspiração calcada no Nautilus de 20.000 Léguas Submarinas, entre outras.

Quanto ao elenco, temos algumas informações bem interessantes: Joyce Taylor teve uma carreira curta. Era muito comum entre os anos 40 e 50 que os artistas fossem “emprestados” para outros estúdios,  por isso muitos artistas nesse período oscilaram entre alguns estúdios em seus trabalhos, mas Joyce Taylor, que iniciou sua carreira como cantora, não teve a mesma sorte. Contratada da RKO Pictures, ficou presa ao estúdio, controlado pelo Magnata Howard Hughes a partir de 1948, obtendo poucas chances de trabalho. Após o fim do contrato, passou a trabalhar com outros estúdios e conseguiu o papel em “Atlântida...”. Segundo entrevista, disse que cantaria no filme, mas por influencia da namorada do diretor não pode fazê-lo. Ela chegou a testar com William Shatner (Jornada nas Estrelas) que não se viu no personagem. O próprio diretor sugeriu que ela escolhesse então outro ator: havia Richard Chamberlain (Dr. Kildare e Pássaros Feridos) e Anthony Hall . Apesar de desejar Chamberlain, sentiu-se pressionada pelo seu agente a indicar Hall. Ela credita o fato de Rod Taylor e Yvette Mimieux terem funcionado em "A Máquina do Tempo" como uma indicação de que Pal gostaria de repetir o filme com dois atores não tão populares. Aposentou-se no início dos anos 70 e passou a se dedicar a família. Salvatori Ponti começou a carreira como compositor para Frankie Avalon, como ator de teatro e fazendo participação em séries.  Foi o seu primeiro papel para os cinemas adotando um pseudônimo que utilizava: Anthony Hall.  Para este filme, Joyce Taylor confidenciou que o ator não sabia nadar, um grande problema para o papel de um pescador que  tem que cair nas águas no filme. Este foi o único papel principal em um longa-metragem de Ponti que passou a fazer participações em telefilmes e séries como "Jeannie é um Gênio" e "O Homem de Seis Milhões de Dólares".  Último papel de John Dall para o cinema (1920–1971). Muitos se lembrarão de seu personagem no filme "Festim Diabólico" de Alfred Hitchcock.  Quem assistia ao seriado "Agente 86" com certeza se lembrará do ator Edward Platt (1916–1974), como o chefe de Maxwell Smart & Cia. Aqui no papel de Azor, o alto sacerdote, que anuncia o fim da cultura pagã de Atlântida e a descoberta do Deus Único.  Outro ator que ficaria famoso é William Smith, como o Capitão da Guarda Atlante. Smith ficou famoso por seus vilões durões em muitos seriados como” Kung Fu” e “Planeta dos Macacos”. No cinema, pode ser lembrado por “Conan” (fazendo o pai do personagem) e “Punhos de Aço: Um Lutador de Rua” ao lado de Clint Eastwood.

Atlântida, O Continente Desaparecido foi projetado para ter o mesmo sucesso de "A Máquina do Tempo" (1960), mas seus problemas tornaram a produção esquecida nos dias atuais. Em sua exibição na TV teve melhores resultados, estreando por aqui na extinta TV Tupi, em 1978, no programa “Cinerama 78”, sendo reexibido em 1979. Houve exibições também pela TV Manchete nos anos 80. É um filme simpático, um pouco mais imaginativo do que deveria, com algumas falhas, mas com efeitos que surpreendem para a época. Talvez não agrade os mais novos, mas quem assistia filmes nos anos 70 e 80 talvez guarde o filme com carinho. Uma produção que anda meio desaparecida, não sendo fácil de ser encontrada.


Trailer:




Curiosidades:

Sal Ponti faleceu em 1988, aos 53 anos, de câncer;

John Dall faleceu em 1971, aos 50 anos, de ataque cardíaco; 

Edward Platt faleceu em 1974, aos 58 anos após cometer suicídio;

William Smith faleceu em 2021, aos 88 anos, de causas não reveladas;

Wolfe Barzell faleceu em 1971, aos 69 anos, de ataque cardíaco;

John Dall foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante O Coração não Envelhece (1945)

O ator Fabrizio Mioni foi escalado para fazer Demetrios, mas como o seu visto de permanencia havia expirado ele voltou para a Itália

Russell Garcia, que fez a trilha sonora do filme, reciclou os temas de "A Máquina do Tempo" chegando a reutilizar partes inteiras deste filme 



Joyce Taylor  em Suplício de uma Alma (1956)









John Dall  Festim Diabólico (1948)









Edward Platt no seriado Agente 86









William Smith  no seriado Kung Fu









Cartazes:





Filmografia Parcial:

Joyce Taylor  (1932)







Suplício de uma Alma (1956); A História do FBI (1959); Men Into Space (seriado 1959-1960); Atlântida, Continente Desaparecido (1961); Anel de Fogo (1961); A Bela e a Fera (1962); A Moderna Mata Hari (1963); Nos Domínios do Terror (1963); The Windsplitter (1971)


Sal Ponti (1935–1988)







Atlântida, Continente Desaparecido (1961); Só para Casais (1964); Goodbye, Norma Jean (1976); Goodnight, Sweet Marilyn (1989)


John Dall (1920–1971)







O Coração não Envelhece (1945); Deliciosa Mentira (1947); No Caminho da Vida (1948); Festim Diabólico (1948); Mortalmente Perigosa (1950); Por uma Mulher Má (1950); Spartacus (1960); Atlântida, Continente Desaparecido (1961)


Edward Platt (1916–1974)







Almas em Desespero (1955); Trágica Fatalidade (1955); Juventude Transviada (1955); O Tenente Era Ela (1956); Punidos pelo Próprio Sangue (1956); Serenata (1956); Palavras ao Vento (1956); A Casa dos Homens Marcados (1957); Com Lágrimas na Voz (1957); Dádiva de Amor (1958); Sangue de Pistoleiro (1958); Cavalgada para o Inferno (1958); Intriga Internacional (1959); Heróis de Barro (1959); Os Segredos da Máfia (1959); Pollyanna  (1960); Vitória dos Bravos (1961); Atlântida, Continente Desaparecido (1961); Geração Violenta (1961); Círculo do Medo (1962); Operação Matrimônio (1963); Condenado por Vingança (1964); Agente 86 (seriado 1965-1970)


William Smith:







A Alma de Frankenstein (1942); A Canção de Bernadette (1943); O Bom Pastor (1944); Gilda (1946); O Menino dos Cabelos Verdes (1948); Como Fisgar um Marido (1959); Quando Explodem as Paixões (1959); Atlântida, Continente Desaparecido (1961); Laredo (seriado 1965-1967); Motoqueiros Selvagens (1970); O Monstro de Duas Cabeças (1972); Piranha (1972); O Guerreiro do Futuro (1975); O Último Brilho do Crepúsculo (1977); Hawaii 5-O (seriado 1979-1980); Punhos de Aço- Lutador de Rua (1980); Conan, o Bárbaro (1982); Vidas Sem Rumo (1983); O Selvagem da Motocicleta (1983); Amanhecer Violento (1984); Inimigo Mortal (1986); Prova de Fogo (1987); Maniac Cop - O Exterminador (1988);  Retratos da Guerra (1988); Seqüestro em Los Angeles (1989); Instant Karma (1990); Cybernator - O Esquadrão de Extermínio (1991); América do Medo (1992);  Maverick (1994) O Mensageiro da Morte (1996); Interview with a Zombie (1997); Warriors of the Apocolypse (1998); The Elite (2001); Rock n' Roll Cops 2: The Adventure Beginse (2003); Duelo dos homens sem lei (2005);Fall Guy: The John Stewart Story (2007); Island of Witches (2014); Irresistible (2020) e participações em vários seriados.


2 comentários:

  1. A primeira vez que assisti esse filme foi em 2016; notei de imediato as sequencias "emprestadas" de Quo Vadis (1951), mas não me importei realmente (claro que senti falta do Nero de Ustinov aparecendo na sacada do palácio, mas tudo bem), o filme é bastante divertido e imaginativo.
    Nem tudo é perfeito, mas a história cativa (talvez pela simplicidade ou pode ser devido a mistura de elementos, como homens fera, arenas de gladiador, cidade em chamas, disputa por poder, etc.).
    Vale muito a pena conferir essa obra, ainda que seja muito menos memorável do que outros épicos daquela época (como o já mencionado Quo Vadis, ou até o memorável Spartacus (1960), ambos anteriores a "Atlântida, o Continente Desaparecidos").

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  2. Boa Noite Aldemir Rocha
    Bem lembrado, quanto a questão do Nero. Sim, a sensação é de que ele surgiria em cena para quem viu Quo Vadis. E o filme cativa realmente, pela ingenuidade da história, o que traz certo charme a obra. Também considero válida uma nova olhada ou, para quem nunca viu, uma conferida. Muito obrigado por visitar e comentar. Um grande abraço e volte sempre.

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