A FRAGILIDADE DO
HOMEM FRENTE AOS SEUS PRÓPRIOS ERROS
Lhei Misawa
(Akira Terao) é um Ronin (samurai sem mestre) que vaga pelo Japão feudal ao
lado da esposa, Tayo (Takashi Koizumi), em busca de dias melhores. O casal
aguarda, em uma estalagem, o fim da forte chuva que cai, impedindo-os de
atravessar o rio. Lhei conhece os hóspedes do local: pobres camponeses, humildes,
de bom coração e sem alimento suficiente para aplacar suas fomes. O Ronin
resolve sair e volta munido de comida e saquê. Os hóspedes se encantam
com a humildade e bondade do samurai, algo não muito comum, devido um grande
número causarem temor, numa época em que a espada dominava e, estes, possuíam
habilidade plena. Sua esposa o reprova ao perceber que obtivera o alimento ao
lutar por dinheiro (algo muito mal visto na época).
Após a chuva desaparecer, o ronin caminha pela floresta e presencia uma disputa de 2 homens armados rodeados por um grupo. Lhei desarma-os e impede que algo de pior venha a acontecer. Com a chegada do senhor feudal, recebe os agradecimentos deste por ter evitado uma tragédia sendo convidado a ir em sua casa. Lá lhe é oferecido o emprego de instrutor do dojo, o que gera ciúmes nos demais empregados. Antes de receber a aprovação, ele terá que lutar com oponentes pré-selecionados. Como Lhei relata ao Lord Shigeaki (Shirô Mifune), suas tentativas anteriores de trabalhar a serviço de outros mestre falharam por sua falta de percepção e tato. Na luta, Lhei mostra toda sua habilidade usando uma espada de madeira, mas o quando é confrontado a lutar com Shigeaki, munido com uma lança de verdade, as coisas se complicam
Lhei é um homem de
bom coração que não usa suas habilidades para ferir pessoas ou mostrar sua
superioridade. Se é bom com as espadas, por outro lado é ruim em perceber como
agir nas relações humanas ou situações que envolvam diplomacia (como a do lorde
feudal). As atitudes de sua esposa, de acordo com a época do Japão medieval,
são de subordinação ainda que, em determinado momento, despertará o orgulho de
seu marido e o pleno entendimento de suas ações. Tayo percebe que talvez seus
conceitos do certo e errado sejam sobrepujados pela visão de Lhei do que
realmente importa, mesmo que isto lhe custe sua honra.
O drama dirigido
por Takashi Koizumi é de uma sutileza e beleza extremamente bem-vindas. É um
filme absolutamente simples que consegue encantar por sua bela fotografia e
simpatia que os atores transmitem. Se formos analisar a história, veremos que o
diretor aproveitou muito bem o roteiro. Não há mortes em profusão e sem
sentido, apenas uma cena rápida e essencial para o andamento. O casal não se
beija, mas passa uma cumplicidade muito bonita, apesar de seus costumes serem
bem diferentes do ocidental e ainda mais do brasileiro.
A ambientação nos
remete diretamente à época, em torno do século 18. A questão do fim dos samurais
não é desenvolvida. Para o público estrangeiro, talvez fosse necessário
explicar como os antigos samurais tornaram-se Ronins. Então segue uma breve
explicação: Com a chegada das armas de fogo, os samurais ou morreram em combate
ou foram dispensados pelos seus senhores. Sem ter uma causa a empunhar com suas
espadas muitos se suicidaram, outros abandonaram suas espadas para executarem
serviços diversos em troca de comida. Alguns perambulavam e causavam problemas.
Lutar por dinheiro era desonroso, mas, muitas vezes, necessário.
Quem tiver a oportunidade de ver este filme e gostar de cinema arte esta é uma boa pedida. O filme só saiu do papel devido a produtora francesa 7 Films Cinéma aceitar co-produzir o longa. O final do filme pode ser considerado aberto, com aquela sensação de quero mais.
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