quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

DEPOIS DA CHUVA / AME AGARU / APRÉS LA PLUIE / AFTER THE RAIN (1999) - JAPÃO / FRANÇA


A FRAGILIDADE DO HOMEM FRENTE AOS SEUS PRÓPRIOS ERROS

Lhei Misawa (Akira Terao) é um Ronin (samurai sem mestre) que vaga pelo Japão feudal ao lado da esposa, Tayo (Takashi Koizumi), em busca de dias melhores. O casal aguarda, em uma estalagem, o fim da forte chuva que cai, impedindo-os  de atravessar o rio. Lhei conhece os hóspedes do local: pobres camponeses, humildes, de bom coração e sem alimento suficiente para aplacar suas fomes.  O Ronin  resolve sair e volta munido de comida e saquê. Os hóspedes se encantam com a humildade e bondade do samurai, algo não muito comum, devido um grande número causarem temor, numa época em que a espada dominava e, estes, possuíam habilidade plena. Sua esposa o reprova ao perceber que obtivera o alimento ao lutar por dinheiro (algo muito mal visto na época). 



Após a chuva desaparecer, o ronin caminha pela floresta e presencia uma disputa de 2 homens armados rodeados por um grupo. Lhei desarma-os e impede que algo de pior venha a acontecer. Com a chegada do senhor feudal, recebe os agradecimentos deste por ter evitado uma tragédia sendo convidado a ir em sua casa. Lá lhe é oferecido o emprego de instrutor do dojo, o que gera ciúmes nos demais empregados. Antes de receber a aprovação, ele terá que lutar com oponentes pré-selecionados. Como Lhei relata ao Lord Shigeaki (Shirô Mifune), suas tentativas anteriores de trabalhar a serviço de outros mestre falharam por sua falta de percepção e tato. Na luta, Lhei mostra toda sua habilidade usando uma espada de madeira, mas o quando é confrontado a lutar com Shigeaki, munido com uma lança de verdade, as coisas se complicam


Com roteiro de Akira Kurosawa e dirigido por Takashi Koizumi, um dos assistentes do mestre por vários anos, Depois da Chuva pode ser visto por vários ângulos: um simples conto de um ronin; a percepção de uma esposa acerca da nobreza de seu marido; a bondade e fraternidade hoje tão inerte no coração das pessoas; a fragilidade do homem frente a seus próprios erros, onde perdoar e seguir em frente talvez seja o ato mais importante ou sobre pessoas que julgam as atitudes sem analisarem as situações. 


Lhei é um homem de bom coração que não usa suas habilidades para ferir pessoas ou mostrar sua superioridade. Se é bom com as espadas, por outro lado é ruim em perceber como agir nas relações humanas ou situações que envolvam diplomacia (como a do lorde feudal). As atitudes de sua esposa, de acordo com a época do Japão medieval, são de subordinação ainda que, em determinado momento, despertará o orgulho de seu marido e o pleno entendimento de suas ações. Tayo percebe que talvez seus conceitos do certo e errado sejam sobrepujados pela visão de Lhei do que realmente importa, mesmo que isto lhe custe sua honra.



O drama dirigido por Takashi Koizumi é de uma sutileza e beleza extremamente bem-vindas. É um filme absolutamente simples que consegue encantar por sua bela fotografia e simpatia que os atores transmitem. Se formos analisar a história, veremos que o diretor aproveitou muito bem o roteiro. Não há mortes em profusão e sem sentido, apenas uma cena rápida e essencial para o andamento. O casal não se beija, mas passa uma cumplicidade muito bonita, apesar de seus costumes serem bem diferentes do ocidental e ainda mais do brasileiro. 



A ambientação nos remete diretamente à época, em torno do século 18. A questão do fim dos samurais não é desenvolvida. Para o público estrangeiro, talvez fosse necessário explicar como os antigos samurais tornaram-se Ronins. Então segue uma breve explicação: Com a chegada das armas de fogo, os samurais ou morreram em combate ou foram dispensados pelos seus senhores. Sem ter uma causa a empunhar com suas espadas muitos se suicidaram, outros abandonaram suas espadas para executarem serviços diversos em troca de comida. Alguns perambulavam e causavam problemas. Lutar por dinheiro era desonroso, mas, muitas vezes, necessário.  



Quem tiver a oportunidade de ver este filme e gostar de cinema arte esta é uma boa pedida. O filme só saiu do papel devido a produtora francesa  7 Films Cinéma aceitar co-produzir o longa. O final do filme pode ser considerado aberto, com aquela sensação de quero mais. 


Trailer (em francês):




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