domingo, 10 de janeiro de 2016

LUZ DEL FUEGO (1982) - BRASIL



LUZ DEL FUEGO E A ILHA DO SOL

Cinebiografia da ex-vedete do teatro de revista Dora Vivacqua (1917-1967), que notabilizou-se pelo pseudônimo Luz del Fuego (retirado de um batom argentino de sucesso na época). Luz del Fuego foi uma mulher que optou por dedicar-se a vida naturalista, através de uma concessão da marinha, comprou uma ilha nomeada de "Ilha do Sol" (as filmagens foram nas "Ilhas dos Lobos" a 100 metros da "Ilha de Paquetá") e resolveu confrontar a sociedade machista da época. O local frequentado por personalidades nacionais e internacionais da época, chamou muita atenção, devido a todos que entrassem na ilha só poderem fazê-lo se estivessem completamente despidos. Fuego criou um partido político chamado Partido Naturalista que também a trouxe aos holofotes. A atriz foi assassinada junto com seu empregado por motivo de vingança.

Dirigido por David Neves e interpretado por Lucélia Santos (aos 24 anos), Luz de Fuego estreou em 1982 rodeado de polêmicas devido a família de Dora ter impedido, ainda que provisoriamente, a transmissão do filme, acusando-o de deturpar completamente a imagem da ex-vedete.


O filme se inicia com a narração do Senador João Gaspar (Walmor Chagas) à sua enfermeira (Cristina Santos) sobre o relacionamento de longa data de Luz com ele, com o  Delegado Teodoro Dias (Ivan Cândido) que a prendera algumas vezes e com seu último relacionamento: o pescador Canário (Joel Barcellos). O filme é recheado da nudez de Lucélia Santos que, ainda fisicamente bem diferente de Luz, amplificou a sensualidade da personagem imprimindo personalidade necessária ao papel. 

 

O filme ambienta-se nas décadas de 50 e 60, época do auge do mito. Com direito a cenas de nu frontal de parte do elenco, a versão do filme pouco se aprofunda na morte da atriz, concentrando-se somente na vida e relacionamentos de Luz, que o filme chega a ousar, colocando cenas de sexo que, na época, cuasaram muito furor. Conforme entrevistas do roteirista, Joaquim Vaz de Carvalho, a ideia era fugir dos escândalos e da violência e concentrar-se no mito criado acerca de Luz, por isso a rejeição a aspectos biográficos. Apesar de tudo, a produção ainda mostra um pouco do escândalo que a figura da protagonista causou numa sociedade tida como falsa moralista: uma mulher que se mudou para uma ilha, gostava de andar nua e dançar em palcos de boates enrolada em uma cobra. Seus convidados só podiam visitar a ilha sem suas vestes. Chegou até a suscitar um debate na antiga Tv Tupi. Mas o filme também mostra uma mulher que ousou desafiar os limites estabelecidos e pagou por isso.


 


O elenco está muito bem, com participações de Monique Lafond (a advogada), Ítala Nandi (esposa de Gaspar), Nildo Parente (Frei Delgado), Wilson Grey, Guilherme Karan, Tamara Taxman, Cecil Thiré entre outros. O figurino pode ser considerado como um dos grandes destaques da produção que teria reproduzido muito bem o visual de Luz.

A ambientação, centrada nas décadas de cinquenta e sessenta foi muito bem cuidada dando a sensação de realmente estarmos nas épocas que o filme indica. Apesar de ser considerado livremente inspirado na vida de Luz, o roteiro de Joaquim Vaz Carvalho e Miguel Faria Junior (escrito em 1978) concentra-se mais no erotismo e na ficção do que nos fatos. Alguns personagens parecem ter sido incluídos no longa e suposições à morte de Luz são levantadas diferindo-se da história oficial.

O interessante é que o filme surgiu para Joaquim Vaz a partir da morte de Elvis Presley, considerado um mito. Numa associação de ideias, lembrou-se de outro mito de sua infância: Luz del Fuego e começou a elaborar o roteiro que se transformaria em filme com a ajuda do dramaturgo Aguinaldo Silva. A primeira opção para a direção seria Miguel Faria Jr ("Stelinha" e "O Xangô de Baker Street"), porém, na impossibilidade deste, resolveu dar a direção para David Neves ("Memória de Helena", "Jardim de Alah") com quem já havia trabalhado no filme "Muito Prazer". A ideia do diretor foi dividir o filme em duas partes: a primeira em tom de chanchada e a segunda mais poético. Sua definição foi de ter feito uma ”cine-ficção-biográfica”, tanto que o verdadeiro nome de Luz não é citado em nenhum momento no filme. Neste caso o Senador representaria todos os homens na vida de Luz e, o Padre, o clero. Foi uma forma de simplificar o filme e centrar-se em outros aspectos.



No mais, um filme com a excelente interpretação de Lucélia Santos e um bom filme brasileiro que arrebatou no Festival de Gramado os prêmios de Melhor Atriz (Lucélia Santos), Melhor Ator (Walmor Chagas), Melhor Cenografia (Fausto Balloni) e Melhor Fotografia (Fernando Duarte).


 


Curiosidades :

Cristina Santos, irmã de Lucélia, participa do filme como a enfermeira.




 













O livro Luz de Fuego foi escrito por Aguinaldo Silva e Joaquim Vaz de Carvalho.

Lucélia Santos foi capa da revista Playboy de novembro de 1981 vestida, na capa, como a personagem do filme.

Lucélia Santos já foi premiada como Melhor Atriz, No Festival de Brasília, com Vagas Para Moças de Fino Trato (1993) e Engraçadinha (1981). Ganhou também como Melhor Atriz, no Festival de Gramado, por Luz del Fuego (1982). Dirigiu o documentário Timor Lorosae - O Massacre Que o Mundo Não Viu (2001), que ganhou o prêmio do público no Festival de Cinema de Recife

Walmor Chagas já ganhou como Melhor Ator Coadjuvante, no Festival de Brasília, pelo filme Asa Branca - Um Sonho Brasileiro (1980). No festival de Gramado ganhou como Melhor Ator Coadjuvante pelo filme A Coleção Invisível (2012); Melhor Ator por Luz del Fuego (1982) e Asa Branca - Um Sonho Brasileiro (1980)

Ivan Cândido já foi premiado no Festival de Gramado pelos filmes: Melhor Ator Coadjuvante em Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977) e Barra Pesada (1977)


Tamara Taxman ganhou  o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Brasília por Aventuras de um Paraíba (1982)

No Jornal do Brasil de 24/04/82 Derci Gonçalves fez várias críticas a Luz, segundo a qual não dançava direito. Criticou também a forma como foi exposta na tela, revelando que Luz del Fuego nunca se apresentou nua, que utilizava uma malha por baixo e folha de Parreira. Derci afirmou que Luz trabalhou em uma de suas companhias na Praça Tiradentes.

Luz del Fuego  fez uma participação não creditada no filme "Tarzan e o Grande Rio"

Filmografia Parcial:

Lucélia Santos

Engraçadinha (1987);  Até que a Sorte nos Separe (2012) ;  O Lobo atrás da Porta (2013). (1981); Bonitinha Mas Ordinária (1981); O Sonho Não Acabou (1982); Vagas Para Moças de Fino Trato (1993); As Sete Vampiras (1986); Kuarup (1989); Lula, o Filho do Brasil (2009).

Walmor Chagas (1930–2013)
Xica da Silva (1976); Asa Branca - Um Sonho Brasileiro (1980); Luz del Fuego (1982); Parahyba Mulher Macho (1983); Patriamada (1984); Banana Split (1988); Memórias Póstumas de Brás Cubas (2001);  A Coleção Invisível (2012).

Ivan Cândido
Boca de Ouro (1963) Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977); Pra Frente, Brasil (1982);Tensão no Rio (1982);Luz del Fuego (1982); Urubus e Papagaios (1985); Pedro Mico (1985); Zuzu Angel (2006).

Tamara Taxman
Batalha dos Guararapes (1978); Cabaret Mineiro (1980); Luz del Fuego (1982); Aventuras de um Paraíba (1982); A Hora da Estrela (1985); Romance da Empregada



2 comentários:

  1. Adorei o texto,o filme é muito bom,Lucélia Santos sempre linda.

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  2. Boa Noite Ademar Amancio.
    Que bom que o texto agradou. Muito obrigado por comentar. Seja bem-vindo, volte sempre e um grande abraço.

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