sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

NAPOLEÃO / NAPOLEON (2023) - REINO UNIDO / ESTADOS UNIDOS


FRANÇA ... EXÉRCITO ... JOSÉPHINE

Paris está em convulsão. Maria Antonieta (Catherine Walker) se dirige à capitação por traição à pátria. Luís XVI fora guilhotinado. A aristocracia está perdendo a cabeça. Napoleão Bonaparte observa a tudo impassível. Ele lucrará com o caos. “Terror” é a primeira palavra claramente percebida pelo espectador.

Maximilien de Robespierre (Sam Troughton), um dos expoentes da Revolução Francesa, expõe sua lógica da violência e sua inclinação a ser juiz, júri e executor da nação e acaba sendo atacado, tentando o suicídio. Ele e seus colegas terão o mesmo destino de Maria Antonieta. Agora há um vácuo de poder a ser preenchido.

Os novos líderes da República têm medo de serem depostos pelos monarquistas reminiscentes e sofrem com a invasão dos britânicos. Napoleão, ainda jovem oficial (24 anos), elabora um audacioso e brilhante ataque noturno a um forte tomado pelos britânicos em Toulon em 1793. O sangrento ataque mostra-se um grande sucesso com Bonaparte destruindo uma frota de navios anglo-espanhola, iniciando assim sua reputação de mestre estratégico.

Joséphine de Beauharnais (Vanessa Kirby) surge em cena. Viúva com dois filhos pequenos, cujo marido perdeu a cabeça durante o “Período do Terror” (1792-1794), agora fora da prisão, atinge em cheio o coração de Napoleão. O casamento é inevitável. Ele parte para as campanhas militares iniciando sua saga de conquistas. No Egito, descobre que sua esposa tem um amante. Mesmo sob a ameaça de ser considerado desertor, volta para casa. Napoleão enfrentará austríacos, britânicos e russos. Enfrentará também as constantes crises internas, com Josephine ao seu lado, numa relação impetuosa de amor e dependência. Napoleão se consagra monarca, mas Josephine não consegue lhe dar um herdeiro que lhe suceda no trono. Ele precisa se casar novamente. Conspirações fluem ao redor e a Rússia é um problema. O breve reinado de Napoleão chega ao fim. Ele é exilado, mas retorna triunfante. Agora seus inimigos estão em sua própria terra e ele irá para o campo de batalha.

Dirigido por Ridley Scott, Napoleão apresenta duas narrativas: as conquistas e derrotas napoleônicas e o conturbado relacionamento com sua amada Josephine. Quando falamos em estilistas do cinema, Scott é um dos primeiros que veem a mente. O diretor de “Alien”, “Blade Runner”, “Gladiador” e “Cruzada”, entre dezenas de outros sucessos, conhece a fundo o “cinema batalha” com uma pitada de épico. Napoleão apresenta cenas de batalhas impressionantes (como não se impressionar com a cena do cavalo de Napoleão atingido diretamente por uma bala de canhão – acredito que essa cena ainda não havia sido feita – algo raro no cinema atual em que clichês surgem a cada momento antecipando expectativas). Scott utilizou onze câmeras, todas filmando simultaneamente para as batalhas mostradas. E o resultado impressiona. E todo filme foi rodado em 61 dias!

Há fidelidade histórica em tudo que vemos? Não. Napoleão não presenciou a decapitação de Maria Antonieta (estava no sul da França – uma licença poética do roteirista) que pela história teve seu cabelo raspado. Nem atirou na pirâmide. Napoleão tinha 35 anos quando se tornou imperador da França (uma cena que nos faz lembrar Commodus do filme “Gladiador”) em uma autocoroação. Joaquin Phoenix tinha 49 anos na época do lançamento do filme. Além disso, a verdadeira Josephine era 6 anos mais velha que Napoleão, enquanto Phoenix é 14 anos mais velho que Vanessa Kirby. Mas isso importa afinal? Para historiadores, sim (alguns poderão discordar da representação da Batalha de Austerlitz). Para estudantes também (por isso muito cuidado em estudar Napoleão por este filme). Para o público em geral, talvez nem tanto. Partes das vitoriosas campanhas de Napoleão não são retratadas no filme (Itália e Normandia são apenas citadas). O roteiro de David Scarpa (“O Dia em que a Terra Parou” (2008) e “Todo o Dinheiro do Mundo” (2017)) fez o que pode para condensar uma vida que caberia em um formato de minissérie (só a coroação de napoleão durou mais do que a metragem do filme), mas que foi condensada em duas horas e meia. Scott revelou que sua versão de quatro horas deverá sair em Streaming preenchendo algumas lacunas deixadas. Talvez repita o que aconteceu com Cruzada. A versão estendida explica muito mais e nos revela um filme bem melhor.

A verdade é que os elementos principais estão ali: loucura e narcisismo; a genialidade tática bélica, a ascensão implacável, o déspota; as constantes intrigas políticas; os campos de batalha sangrentos; o frenesi da guerra; o ódio aos ingleses (e ao seu poderio marítimo); o relacionamento com Joséphine (que o fragiliza) e o  seu segundo casamento com Marie-Louise (Anna Mawn). Como em toda guerra desse período, vemos a primeira leva de soldados (a infantaria) caminhando para serem facilmente abatidos, enquanto seus superiores apenas assistem a tudo. Há, inclusive, uma cena que deve nos levar a uma boa reflexão: Napoleão está na mira de um atirador na Batalha de Waterloo. Seria o fim do conflito, com a morte do líder máximo daquele exército, mas o general inimigo sugere que morrer dessa forma não é digna (melhor mandar os peões morrerem primeiro na guerra, pois esses são sem importância e podem morrer de forma indigna). Mas as grandes batalhas estão lá: a já citada retomada de Toulon, a Batalha de Austerlitz, o fracasso perante o rigoroso inverso russo, o exilio em Elba, Waterloo e o novo exílio em Santa Helena. Ridley Scott atravessa décadas para a avançar a história e o faz de uma maneira muito eficiente. A reconstituição de época é soberba, o figurino impecável e a quantidade de extras funciona plenamente para as complexas cenas de batalha.

Joaquim Phoenix está ótimo no papel do conquistador que flutua entre a segurança e insegurança e que gerou estimadas 3 milhões de mortes durante suas campanhas de conquista e de defesa. Vanessa Kirby interpreta Joséphine, musa inspiradora e paixão ardente de Napoleão. A única pessoa capaz de entendê-lo e confiável ainda que volta e meia em tempestuosas discussões. O elenco de apoio é muito bom. Tahar Rahim (O Profeta), o político corrupto Paul Barras; Miles Jupp interpreta o Imperador da Austria Francis I; Ludivine Sagnier  (seriado Lupin) interpreta, em rápida aparição, Theresa Cabarrus, a Marquesa de Fontenay amante de Barras; Rupert Everett como o Duque de Wellington e uma rápida aparição de Béatrice Dalle (Betty Blue) entre outros

Napoleão se apresenta como um épico com batalhas impressionantes. Tem uma narrativa linear que ajuda o espectador a acompanhar uma história. Ainda que apresente algumas licenças poéticas é muito bem dissecado. Scott apostou na forma Hollywoodiana "aventura + romance" dividindo a história e tentando explicar não só o mito Napoleão, mas o homem por trás desse mito. E Joaquim Phoenix consegue dar aquilo que Scott precisava: um ator para interpretar um dos personagens mais complexos da história. E a aposta mostrou-se acertada.


Trailer:


Curiosidades:

Vanessa Kirby foi indicada ao Oscar por Pedaços de Uma Mulher (2020)

Catherine Walker aqui retrata Maria Antonieta, a rainha consorte de Luís XVI. Catherine já havia retratado uma esposa menos conhecida (e muito mais afortunada) de um rei francês, em "Versalhes" (2015) interpretado Françoise d'Aubigné, Marquesa de Maintenon, que era a esposa morganática do "Rei Sol" Luís XIV.

No filme, Napoleão fica sabendo da morte de Josephine pela filha desta e sua enteada Hortense de Beauharnais. Hortense também era cunhada de Napoleão, casando-se com o irmão de Napoleão, Luís (um casamento desastroso). Ela se tornou Rainha da Holanda durante a ocupação francesa e deu à luz um filho, Luís Napoleão, em 1808. Luís Napoleão mais tarde se tornaria Presidente da França em 1848 e mais tarde Imperador Napoleão III em 1852.

A atriz Jodie Comer, que já trabalhou com Ridley Scott em "O Último Duelo" (2021), foi escalada como Imperatriz Joséphine, mas desistiu devido a conflitos de agenda.

Josefina é a ancestral direta de cinco famílias reais atuais na Europa, incluindo as monarquias da Suécia, Dinamarca, Noruega e Bélgica e o Grão-Duque de Luxemburgo. Ela é frequentemente chamada de “Avó da Europa”.

O filme reúne Ridley Scott com Joaquin Phoenix após Gladiador (2000). Em ambos os filmes, Phoenix interpreta uma importante figura histórica (Imperador Cômodo em 2000 e Napoleão neste filme).

Em dezembro de 2022, foi relatado à mídia que a atuação de Joaquin Phoenix como Napoleão foi tão poderosa que Ridley Scott teve que reescrever o roteiro para ajustá-lo.

Apesar da frase publicitária deste filme - "Ele veio do nada" - Napoleão nasceu na ilha da Córsega em uma família descendente da pequena nobreza italiana.

Ridley Scott disse que fez uma tentativa consciente de manter o corte de lançamento do filme nos cinemas o mais próximo possível de 2,5 horas. Ele disse pensar que este é o tempo máximo que uma pessoa comum pode tolerar assistir a um filme sem pausa antes de se sentir desconfortável no assento ou começar a pensar que o filme está se arrastando.

Ridley Scott disse que sua versão do diretor de quatro horas será lançada na Apple TV +.

A causa mais aceita para a morte de Napoleão foi câncer no estômago.

A Altura de Napoleão era 1,68m

Napoleão foi derrotado definitivamente na batalha de Waterloo, na Bélgica em junho de 1815, vencida por tropas inglesas e prussianas. Dessa vez, os ingleses o enviaram para um lugar mais distante: a ilha de Santa Helena, no Atlântico sul, onde morreu em maio de 1821.

Napoleão fundou o Banco da França e organizou O Código Civil.

As esposas de Napoleão foram: Josefina de Beauharnais (de 1796 a 1810) e Maria Luísa de Áustria (de 1810 a 1821)

A invasão de Portugal, por ordem de Napoleão Bonaparte, foi o motivo que levou a corte portuguesa a mudar-se para o Brasil (não citada nesta versão  para os cinemas).

Em 1815 Napoleão foi definitivamente derrotado em Waterloo e exilado na ilha de Santa Helena. Luís XVIII voltou a ocupar o trono e as fronteiras da França se fixaram onde estavam antes da revolução.

A história cita apenas um filho legítimo com a princesa Maria Luísa da Áustria, sua segunda esposa. No entanto, houve outros descendentes não reconhecidos oficialmente, frutos de suas relações extraconjugais.

Maria Antonieta (Catherine Walker) - Rainha da França entre 1774 e 1793. Foi um dos expoentes do declínio da monarquia francesa.

Paul Barras (Tahar Rahim) - Político corrupto  durante a Revolução Francesa. Principal líder executivo do regime do Diretório, que durou de 1795 a 1799

Arthur Wellesley (Rupert Everett) Primeiro duque de Wellington. Mais conhecido por derrotar Napoleão na Batalha de Waterloo.

Duquesa Marie-Louise (Anna Mawn) - Segunda esposa de Napoleão. Após sua abdicação em 1814, ela se tornou duquesa de Parma.

Czar Alexandre (Edouard Philipponnat) - Imperador da Rússia por mais de 20 anos.

General Davout (Youssef Kerkour) - um dos marechais de Napoleão. Seu apelido foi Marechal de Ferro devido à sua reputação de disciplinador severo.

Theresa Cabarrus (Ludivine Sagnier) Nobre e socialite francesa nascida na Espanha que se tornará Princesa de Chimay.

Talleyrand (Paul Rhys) - Principal diplomata de Napoleão durante muitas das vitórias militares do governante.

Jean-Andoche Junot (Mark Bonnar) Oficial militar francês que serviu nas Guerras Revolucionárias Francesas e nas Guerras Napoleônicas. Comandante da invasão francesa de Portugal em 1807

Lucien Bonaparte (Matthew Needham) - Segundo irmão sobrevivente de Napoleão que ajudou na eleição de Napoleão como cônsul em 1799.

Rei Luís XVIII (Ian McNeice) Se tornou rei na França depois que Napoleão abdicou como imperador em 1814


Cartaz:












Filmografias Parciais:

Joaquim Phoenix






SpaceCamp: Aventura no Espaço (1986); Corrida Contra o Tempo (1987); Testemunha Secreta (1988); O Tiro que não Saiu pela Culatra (1989); Um Sonho sem Limites (1995); Círculo de Paixões (1997);  8mm: Oito Milímetros (1999); Gladiador (2000); Contos Proibidos do Marquês de Sade (2000); Sinais (2002); A Vila (2004); Hotel Ruanda (2004); Johnny & June (2005); Os Donos da Noite (2007); Traídos pelo Destino (2007); Eu Ainda Estou Aqui (2010); O Mestre (2012); Era Uma Vez em Nova York (2013); Ela (2013); Você Nunca Esteve Realmente Aqui (2017); Maria Madalena (2018); Coringa (2019), Sempre em Frente (2021), Beau Tem Medo (2023), Napoleão (2023)


Vanessa Kirby






Love / Loss (2010), Wasteland (2012), Conquistas Perigosas (2013), Questão de Tempo (2013), Rainha & País (2014), O Destino de Júpiter (2015), Evereste (2015), O Fiel Camareiro (2015), O Mestre dos Gênios (2016), Comando Kill (2016), Como Eu Era Antes de Você (2016), Missão: Impossível - Efeito Fallout (2018), A Sombra de Stalin (2019), Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw (2019), Pedaços de Uma Mulher (2020), Um Fascinante Novo Mundo (2020), Um Filho (2022), The Crown (seriado 2016–2022), Missão: Impossível - Acerto de Contas Parte Um (2023), Napoleão (2023)


Tahar Rahim






A Invasora (2007), O Profeta (2009), A Legião Perdida (2011), Amor e Dor (2011), O Príncipe do Deserto (2011), Perder a Razão (2012), O Passado (2013), Grand Central (2013), Grand Central (2013), Gibraltar (2013), Um Amigo Muito Especial (2014), Um Amigo Muito Especial (2014), Os Anarquistas (2015), Coração e Alma (2016), O Segredo da Câmara Escura (2016), O Segredo da Câmara Escura (2016), O Preço do Sucesso (2017), Maria Madalena (2018), Apostando Alto (2018), Um Inverno em Nova York (2019), O Mauritano (2021), Napoleão (2023)

Rupert Everett






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Ludivine Sagnier

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