METAFÓRICO
Amanda Sandford (Julia Roberts), uma executiva de publicidade e Clay (Ethan Hawke), professor, alugam uma luxuosa mansão em Long Island para passar o fim de semana junto com os filhos Rose (Farrah Mackenzie) e Archie (Charlie Evans). Na praia percebem-se sem sinal de celular, mas terminam por presenciar algo insólito: um imenso navio cargueiro vem em direção aos banhistas atolando na areia. Ao anoitecer, eles ouvem uma batida em sua porta. G.H. Scott (Mahershala Ali) e sua filha Ruth (Myha'la) se dizem donos da casa e que precisaram retornar repentinamente devido a um blecaute que assolou Nova York. Amanda imediatamente desconfia, com Clay sendo mais receptivo à estória de Scott. Este não possui documentos para provar quem diz ser e mostra possuir dificuldades em abrir uma escrivaninha, pois não se lembra qual das chaves a abre. Amanda e Ruth imediatamente demostram antipatia mútua, mas Clay aceita a permanência da dupla no porão da mansão que possui acomodações.
No dia seguinte, todos percebem que as comunicações não voltaram, nem a internet. As estações de TV estão fora do ar, apenas uma vaga mensagem emergencial. Clay resolve pegar seu carro e vai em busca de informações em algum local que tenha pessoas, mas apenas encontra uma senhora que fala apenas espanhol. Enquanto Clay presencia algo muito estranho, Scott confidencia a Amanda que seu trabalho inclui a convivência com pessoas muito ricas e poderosas e que uma destas lhe confidenciou a possibilidade de uma guerra de um modo que nunca imaginariam. Enquanto Ruth fica desesperada por notícias da mãe, que estaria chegando em um voo, Archie resolve desfrutar do local e Rose passa a ver estranhos cervos rodeando a propriedade, mas sua principal necessidade é assistir o último capítulo de sua série favorita: Friends.
Adaptado do romance de Rumaan Alam e dirigido por Sam Esmail (do seriado "Mr Robot"), O Mundo Depois de Nós, vem colhendo tanto elogios quanto críticas pela forma como apresenta sua narrativa, bem como, o seu final. Se você for uma pessoa que não se importa com finais abertos que o leve a refletir profundamente tudo que foi assistido poderá apreciar, caso contrário poderá sair decepcionado.
Mas afinal do que trata o
filme? (este parágrafo conterá inevitáveis spoliers) Podemos dizer que a
narrativa tenta assinalar os problemas de nossa sociedade moderna: o racismo de
Amanda (ela não a acredita que o casal que bate à sua porta possa ser dono de
uma mansão, já que ela mora em uma casa no Brooklyn); há uma clara diferença
social entre as duas famílias que o filme deixa entrever; há a indiferença e falta de empatia de Clay
com uma senhora sozinha no meio do nada que não fala o seu idioma e que apenas
quer ir para casa (e limita-se a dizer que não fala sua língua); a própria
senhora que mora em um país da qual não aprendeu a se comunicar; a dependência
da tecnologia (Clay, em determinado ponto diz ser incapaz de dirigir sem um GPS
– pensemos o seu futuro então com a IA), uma espécie de preguiça mental que nos faz abdicar
de aprender coisas novas (deixe que a
tecnologia resolva !); há também uma crítica de como ao as comunicações caírem as pessoas se sentem
aleijadas, sem possibilidade de reação, paralisadas. Os Teslas desgovernados
(uma indicação do quanto é fraca a fé que colocamos na tecnologia que pode
ser acessada a qualquer momento e ser posta contra nós). Quando Amanda declara:
“Eu odeio as pessoas”, ela também está falando sobre si mesma. Quando dois
personagens dançam é uma indicação de que o disco, a mídia física, ainda
tem sua utilidade. O sentimento de pânico generalizado quando não temos acesso
imediato a informação (nos dias atuais visualizar uma mensagem e não responder
imediatamente pode deixar a outra pessoa tensa e até considerar uma ofensa –
Scott fala da época de cartas que levavam semanas e meses para chegarem e serem
respondidas – de imediato somente um telegrama, algo considerado como assunto
sério). Duas famílias que não se conhecem sendo obrigadas a abrigar-se sob o
mesmo teto é algo muito difícil num mundo da qual as pessoas cada vez mais
sentem menos necessidade de criarem interações físicas, talvez nem percebam que
estão perdendo a capacidade de se relacionarem (o filme utiliza essas seis pessoas
como um painel da sociedade americana frente a um possível apocalipse). Há uma
manada de alces que se reúne na floresta atrás da casa, pode ser uma alusão à estória contada pela menina sobre o envio de ajuda divina e o homem não aceitando
/ percebendo. Aqui pode ser uma referência a aliança com Deus que cada vez mais
o homem rejeita - Há um grito por parte das mulheres (a rejeição?)- e os
animais se dispersam, para não mais serem vistos – pode significar que agora
eles estarão a sua própria sorte (no livro eles se juntam apenas porque
percebem o eminente desastre – animais se juntam, seres humanos tendem a se
dividirem). Muito interessante sabermos que o filme é da Netflix e que nesse
mundo o streaming será um dos primeiros a ficar indisponível. Rose é a
representação da geração que se adapta rápido. A jovem se mostra individualista
(no bunker – pensando apenas em si) e novamente temos as mídias físicas (disco,
cds, livros, dvds) como a única coisa capaz de ser utilizada. A série que Rose tanto ama seria o
escapismo que muitos buscam para esquecerem da vida cotidiana? As mãos dadas
das mulheres, perto do final, significa a percepção de que a sobrevivência
depende da união. A questão dos dentes pode ser uma
emanação sônica ou a radiação que começa a fazer efeito. O personagem de Kevin Bacon simboliza aqueles que mantém uma cordialidade
aparente até o momento em que se sentem ameaçados. Para ele é cada um
por si (individualista), não há essa coisa de conhecidos, colegas e amigos. É
apenas ele e a família e pouco se importa com a carência alheia (desde que ele
não precise também, aí tudo pode mudar. É isento de empatia, sempre foi, mas
sempre escondeu para manter uma "boa vizinhança").
É sobre como as pessoas
abriram mão de relacionamentos (amizades, conversas, interações) para terem
amigos virtuais, muitas vezes, da qual nunca conheceram pessoalmente e nem
sabem se realmente são quem dizem ser. Hoje muitas pessoas gostam mais daqueles
que "conhecem" no mundo virtual (como, por exemplo, celebridades com quem
nunca tiveram um contato diário ou próximo - em contraponto provavelmente essas “celebridades”
não terão o menor interesse na vida real de conhecer essas pessoas) do que os que
participam de suas vidas. Na nossa sociedade atual muitas pessoas almoçam juntas no trabalho, mas
cada uma conectada em seu celular (o mundo digital e impessoal). E há os
inimigos habituais neste mundo globalizado: os estrangeiros (como na questão dos panfletos). Cogita-se
também um possível ataque cibernético, radiação, armas sônicas, desastre
ambiental, uma guerra civil impetrada um país inimigo em uma nação facilmente
manipulável, a desconfiança no próprio vizinho.
O elenco é muito bom: Julia Roberts e Ethan Hawke funcionam como um casal que vive junto, mas são muito diferentes, assim como Farrah Mackenzie que vive em um mundo próprio e Charlie Evans, um adolescente como tantos outros. Mahershala Ali e Myha'la tmbém estão muito bem, ele como um executivo bem sucedido e ela como uma adolescente de temperamento mais arredio. Kevin Bacon faz o vizinho pouco amigável e Vanessa Aspillaga a mulher na estrada.
Na verdade, o título traduzido do original "Deixe o Mundo Para Trás" talvez ajudasse mais ao espectador brasileiro a saber o que melhor esperar do filme. É uma obra interessante, que foge das produções habituais, por apresentar uma estória bem reflexiva, mas não a isenta de poder ter sido realizada de um modo mais envolvente.
Trailer:
Curiosidades:
A imagem das ondas no quarto superior muda durante o filme. A maré está subindo. O mesmo se aplica à imagem em preto e branco na sala de estar, que lembra uma imagem mutável de Rorschach.
O sobrenome do vizinho de GH é Huxley, uma homenagem a Aldous Huxley, que escreveu Admirável Mundo Novo e outros romances que pintaram imagens de futuros distópicos onde a tecnologia se tornou aquilo que corrompe a humanidade e é usada como forma de prejudicar as pessoas.
O laptop de Amanda e os kits de emergência que Danny compra na loja são feitos pela E-Corp, uma corporação fictícia que foi central na trama do projeto anterior do escritor/diretor Sam Esmail, a série "Mr. Robô: Sociedade Hacker" (2015). Um livro "Toalha de Praia" escrito por outro Sr. O personagem robô, Irving, também aparece.
Denzel Washington foi escalado, mas desistiu e foi substituído por Mahershala Ali.
O personagem de Kevin Bacon é um preparador muito detalhado. Ele tem um salgueiro crescendo em seu quintal. O ácido acetilsalicílico (AAS/aspirina) é sintetizado a partir da casca do salgueiro.
A atriz Julia Roberts (Amanda) e sua filha Farrah Mackenzie (Rose) realmente se uniram ao fazer o filme. Roberts, famosa por ser uma “garota descalça” na vida real, passou boa parte do filme descalça, e Mackenzie fez questão de seguir o exemplo, ficando descalça diante das câmeras sempre que podia. Na cena em que Rose encontra pela primeira vez a matilha de veados no quintal da sala, ela insiste em andar descalça. (Ela até recomendou a foto que mostra um close de seus pés descalços andando pelo gramado.) Mackenzie fez isso porque sentiu que seria assim que Roberts teria feito a cena.
A arte da parede do quarto principal muda cada vez que o clima se intensifica, segundo o artista Adam Hall.
O filho Archie usa uma camiseta "Obey" com a imagem de Andre The Giant. Esta é uma obra de arte de Shepard Fairey, mais conhecido por sua obra de arte "Hope" de Barack Obama. Barack e Michele Obama atuam como produtores executivos deste filme.
Ruth afirma que assistir "Friends" foi "nostálgico por uma época que nunca existiu". Esta linha é quase literal de uma composição de Jello Biafra e Mojo Nixon, "Nostalgia for an Age That Never Existed", que foi lançada em março de 1994, apenas 6 meses antes da estreia de "Friends". Embora a letra descreva as tendências de romantização das décadas passadas, é também uma condenação da idealização dos tempos atuais, sendo vista aqui aos olhos do presente exatamente como a mesma coisa.
Tanto Julia Roberts quanto Mahershala Ali são vencedores do Oscar – um prêmio para Julia e dois para Mahershala Ali – enquanto Ethan Hawke foi indicado 4 vezes, mas nenhuma vitória.
Esta é a terceira colaboração de Sam Esmail e Julia Roberts depois de Gaslit (2022) e da primeira temporada de Homecoming: De Volta à Pátria (2018).
Neste filme, Rose, filha da personagem de Julia Roberts, é obcecada por Friends. Julia Roberts não apenas estrelou um episódio de Friends, ela também namorou Matthew Perry (que estrelou como Chandler Bing) por um curto período de tempo.
Julia Roberts e Kevin Bacon já apareceram juntos em Linha Mortal (1990)
O piloto morto na praia usa um crachá que diz: "Capitão Esmail" - ele é o diretor, Sam Esmail.
Quando a personagem de Julia Roberts (Amanda) está na cozinha exigindo saber o que Scott sabe, a pintura atrás dela lembra o momento em que os folhetos vermelhos flutuam do drone para o carro de Clay.
Ao tentar descobrir a causa do barulho agudo ouvido durante o filme e a origem da doença de Archie, um personagem menciona uma arma de micro-ondas, afirmando que foi usada em Havana, Cuba. Esta é uma referência à chamada série de doenças "Síndrome de Havana" que atingiu alguns EUA. e diplomatas canadenses, militares e outros funcionários do governo em Havana (e depois em outros lugares) a partir de 2016. Grupos de pessoas relataram uma variedade de sintomas (desde náuseas, dores de cabeça e outras dores, e zumbidos nos ouvidos até disfunção cognitiva) ; alguns relataram ter ouvido um som penetrante . Os meios de comunicação aproveitaram a ideia de que um inimigo estrangeiro dos EUA pode ter usado algum tipo de arma sônica ou de micro-ondas e relatado essa especulação tão amplamente que muitos no público em geral ainda acreditam e apresentam isso como um fato. Mas investigações realizadas por sete EUA diferentes agências de inteligência relataram em 2022 e 2023 que não há evidências confiáveis de que um adversário estrangeiro como Cuba, Rússia ou China tenha sido responsável ou mesmo possua tal arma, e que entre mais de mil casos supostos, as causas de apenas cerca de duas dúzias os casos ainda eram desconhecidos.
Durante uma sequência dramática, a família Sandford é frustrada em sua tentativa de deixar Long Island por uma fila de carros parados. Mas eles logo percebem que o que parece ser um engarrafamento é mais complicado: na verdade, são centenas de Teslas que foram sequencialmente hackeados, dirigidos automaticamente e colidiram uns com os outros em uma manobra remota para inutilizar as estradas – uma clara mensagem de advertência Sobre a função autodrive, uma tecnologia que tem gerado polêmica na vida real.
Rose, a filha, fica chateada durante todo o filme porque não consegue assistir ao último episódio de Friends, intitulado "The Last One". A Parte IV do filme é chamada de “O Último”.
Os carros brancos empilhados na rodovia são todos Tesla Model 3 (isso é sugerido por sua silhueta nos créditos iniciais). Embora as informações exibidas no adesivo de fábrica sobre a direção autônoma sejam totalmente precisas, essas informações não aparecem no adesivo real.
Cartaz:
Filmografia Parcial:
Julia Roberts
Três Mulheres,
Três Amores (1988); Uma Linda Mulher (1990); Linha Mortal (1990); Dormindo com
o Inimigo (1991); Tudo por Amor (1991); Hook: A Volta do Capitão Gancho
(1991); O Dossiê Pelicano (1993); Adoro Problemas (1994); Adoro Problemas
(1994); O Segredo de Mary Reilly (1996); Michael Collins: O Preço da Liberdade
(1996); O Casamento do Meu Melhor Amigo (1997); Um Lugar Chamado Notting Hill
(1999); Noiva em Fuga (1999); Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000);
Onze Homens e um Segredo (2000); Doze Homens e Outro Segredo (2004);
Duplicidade (2009); Comer, Rezar, Amar (2010); Extraordinário (2017); O Mundo Depois de Nós (2023)
Mahershala Ali
O Curioso Caso de Benjamin Button (2008); Território Restrito (2009); Território Restrito (2010); O Lugar Onde Tudo Termina (2012); Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (2014); Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (2015); Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016); Luke Cage (seriado / 2016); Estrelas Além do Tempo (2016); Um Estado de Liberdade (2016); Roxanne Roxanne (2017); Green Book: O Guia (2018), Homem-Aranha: No Aranhaverso (narração -2018), Rosa Salazar in Alita: Anjo de Combate (2019), Mahershala Ali in True Detective (2019), O Canto do Cisne (2021), Homem-Aranha: Através do Aranhaverso (narração - 2023), O Mundo Depois de Nós (2023)
Ethan Hawke
Sociedade dos Poetas
Mortos (1989); Caninos Brancos (1991); Que Garota, Que Noite (1991); Vivos
(1993); Caindo na Real (1994); Caninos Brancos 2: A Lenda do Lobo Branco
(1994); Gattaca -
Experiência Genética (1997); Newton Boys - Irmãos Fora-da-Lei
(1998); Dia de Treinamento (2001); Assalto à 13ª Delegacia (2005); O Senhor das
Armas (2005); 2019 - O Ano da Extinção (2009); Estranha Obsessão (2011);
A Entidade (2012); Uma Noite de Crime (2013); Boyhood: Da Infância à Juventude
(2014); O Predestinado (2014); A Entidade 2 (2015); Regressão (2015); Sete
Homens e um Destino (2016); Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017).
Farrah Mackenzie
Sitter Cam (2014), Coat of Many Colors (2015), Alien Hunter (curta 2016), Selling Isobel (2016), Christmas of Many Colors: Circle of Love (2016), Fica Comigo (2017), Logan Lucky: Roubo em Família (2017), Tudo que Quero (2017), Lawless Range (2018), Ascension (2018), Utopia (série - 2020), Estados Unidos do Al (série 2021-2022), O Mundo Depois de Nós (2023)
Myha'la
Rehabilitation of the Hill (2018), Premature (2019), Plano B (2021), Morte, Morte, Morte (2022), Industry (serie 2020-2022), The Honeymoon (2022), Academy (2023), Dinheiro Fácil (2023), O Mundo Depois de Nós (2023)
Charlie Evans
Everything's Gonna Be Okay (serie 2020), O Mundo Depois de Nós (2023)
Kevin Bacon
Sexta-Feira 13
(1980); Footloose - Ritmo Louco (1984); O Ataque dos Vermes Malditos (1990);
Linha Mortal (1990); Questão
de Honra (1992); O Rio Selvagem (1994); Apollo 13 - Do Desastre ao
Triunfo (1995); Sleepers - A Vingança Adormecida (1996); Ecos do Além (1999); O
Homem Sem Sombra (2000); Encurralada (2002); Sobre Meninos e Lobos (2003);
Sentença de Morte (2007); Trilhos
do Destino (2007); Frost / Nixon (2008); Olho por Olho (2011); X-Men: Primeira Classe
(2011), Amor a Toda Prova (2011), O Carro de Jayne Mansfield (2012),
R.I.P.D. - Agentes do Além (2013), A Viatura (2015), The Following (serie
2013-2015), Aliança do Crime (2015), A Escuridão (2016), O Dia do Atentado
(2016)
Vanessa Aspillaga
Um Amor de Verdade (1993), Stringer (1999), A Mulher do Meu Melhor Amigo (2001), Aller simple pour Manhattan (2002), Lei & Ordem (4 episódios - 1990), Amor e Outras Drogas (2010), Uma Manhã Gloriosa (2010), As Golpistas (2019), Terror no Dia das Bruxas (2019), Câmera Indiscreta (2020), Um Diário para Jordan: Memórias de Amor e Perda (2021), O Mundo Depois de Nós (2023)
Luís, td bem?
ResponderExcluirO Mundo Depois de Nós me impressionou.
Concordo também que o nome em inglês dizia mais, caberia mantê-lo ( creio que essa escolha foi por buscar mais impacto junto ao público ).
A estória não é inédita, mas está muito bem contextualizada, pois temos muitos apocalipses zumbis e virais no cinema, mas faz tempo que não aparecia uma representação no estilo bélico. E bélico tipo século XXI, com direito a toda tecnologia de ponta, desconhecida, apenas intuída e jamais vivenciada pelas populações do mundo. Dá muito medo, com certeza.
As interpretações de Marhershala Ali e de Myha’la ( rapaz, cada nome que existe hoje… ) estão muito boas, fizeram o diferencial. A personagem de Farrah Mackenzie me causou mais pena que outra coisa: sozinha no seio de uma família estruturada. Vejo isso cada vez mais em outros lugares e sempre provoca desconforto.
Esta talvez tenha sido a análise de um filme que realmente vc citou tudo — se é que isto é possível —, de modo que não me ocorre nada a acrescentar. Aprendi muito com os pontos que vc salientou, particularmente com o fato da personagem de Julia Roberts, ao dizer que não gosta das pessoas, assume que não gosta de si mesma. Muito perspicaz isto.
Senti inveja da “parede” de vinis que havia na casa, rsrs. Sim, uma clara lembrança á longa duração do analógico, muito bem observado.
A trilha sonora eu achei bem composta, muita coisa perturbadora, mas dentro do contexto.
Olha, esse filme ainda não digeri, viu?
Luís, bom dividir isto aqui. Foi um daquelas vivências que só o cinema pode dar mesmo.
Um abraço!
Olá Mário, tubo bem ?
ExcluirDesculpe a demora em responder. Acabei preso em outras tarefas e só agora acessei o blog.
O filme tem muitas nuances, o roteiro foi muito bem escrito e encaixar todas essas ideias ainda que dentro de uma metragem de quase 2h20min não é algo fácil. Quando se diz adaptado de um romance / livro, no mundo do cinema, significa que o roteiro condensou o livro (não se filmam a partir de livros, mas a partir de roteiros adaptados de livros - sei que você sabe , mas a quem vier ler essas linhas pode ser importante). E, depois dessa condensação, vem a visão do diretor através da lente da câmera: o que funciona e o que não funciona, o ator ou a atriz que não funcionou naquela cena planejada, logo, aborta-se a cena ou a reescreve em um novo conceito. Fazer um filme não é fácil, transpor todas as ideias que se pretende é a cereja do bolo. E dizem que um grande filme começa por um grande elenco. Concordo, mas as vezes no set os relacionamentos explodem e profissionais nunca mais trabalham juntos. Aqui, o elenco parece ter funcionado de acordo com a proposta e entregou um filme simples (apenas no orçamento ou locações), mas forte em ideias, em um mundo em cada vez em que as pessoas leem menos (as pessoas leem em torno de 12 livros por ano em outros países, por aqui muitos só leram na escola) seja livros, jornais (estes estão em fase terminal - uma pena) ou artigos (ou blogs). Estamos no mundo de vídeos de 30 segundos, filmes "mastigados", pegadinhas sem noção (será que há alguma noção?), noticiários sensacionalistas que visam viciar o espectador no medo, músicas com letras cada vez menos reflexivas ... e agora sites com inteligência artificial criando monografias (para os profissionais do futuro) e substituindo a curiosidade humana em descobrir como fazer as coisas. Tudo ao alcance de um clique. Pode ser um "admirável mundo novo" (não tive como não me apropriar do título, sem referências ao livro), como poderá ser um mundo de uma sociedade dependente de tecnologia e cérebros não mais acostumados a pensar. Papo de dias, por isso vou parando por aqui.
Suas ideias se encaixaram bem na análise. Muito bem pontuadas. Quanto ao personagem de Julia Roberts, aprendi um pouquinho nessa vida que "pessoas felizes (de bem com a vida) não enchem o saco de ninguém". O que quero dizer é que aquele chefe que persegue seus funcionários, aqueles funcionários que ninguém suporta, aqueles clientes que ninguém quer ter ... essas pessoas, por motivos diversos, não são felizes . Consciente ou inconscientemente espalham suas infelicidades. Fora que estamos em uma sociedade que tenta buscar culpados em tudo e se mostra cada vez menos empática (como o filme mostra ). Um exemplo: funcionários que não aceitam que seus pares tenham problemas, mas querem que seus problemas sejam levados em consideração.
Quanto aos vinis e livros, ainda os tenho, mas os vinis estão dentro de um armário (hoje tudo é praticidade - mas ainda gosto de folear um livro ou uma HQ). E sim, é um filme que se demora a digerir e isso é muito bom para pessoas, como nós , que gostamos de refletir. Acredite, muitos viram o filme, acharam confuso, e partiram para outro. E como você colocou muito bem "vivências que só o cinema pode dar"
Luís
ResponderExcluirGostaria de lhe agradecer o último comentário que vc postou na crítica de Horror nas Alturas.
Foi gentileza rever o filme para procurar a cena. E, como o tempo é tão escasso em nossas vidas, quero louvar seu esforço. Reflete o quanto vc zela pelo conteúdo do seu blog e quanto vc se preocupa com seu leitor.
Medalha de ouro pra vc!
Abraço!
Olá Mário.
ExcluirSim, eu acredito que um dos princípios de quem publica análises em um blog é a interação. E tirar uma dúvida quanto a uma cena é importante. As vezes estou cansado e posso cochilar e perder uma cena (já houve casos de assistir a um filme de forma parcelada - algo que não gosto - mas, para séries é outro papo), por isso gosto do cinema , uma imersão total, um compartilhamento de emoções genuínas com pessoas que estão ali do nosso lado e que nem conhecemos. Ou assistir durante à noite, momento que há pouco barulho, mas, às vezes, com um pouco de sono. Outro dia, uma pessoa me perguntou porque escrevia análises de filmes, sem nenhum fim lucrativo. "Apenas como uma contribuição?, não vejo porque perder o seu tempo fazendo isso...". talvez seja isso: contribuição, resgate de obras esquecidas, o prazer de escrever, disseminar um pouco de conhecimento ... Muita gente não entende e muitas pessoas como você e outras, que aqui comentam, entendem. Assim é a vida.
Muito obrigado por sempre comentar e por este dois comentários. Um grande abraço e até a próxima, que deve sair amanhã ou sexta. Tantos filmes para se comentar, tão pouco tempo para fazê-lo.
Luís
ResponderExcluirIncrível, não é? O filme é de fato simples, mas seu conteúdo não. Como explicamos isso, essa riqueza de idéias, para alguém que não lê, não ouve letras de música poéticas, não para para ver um quadro, para quem nunca se sensibiliza com qualquer filme ou peça de teatro? Como?
Como tenho minhas meninas, essa é uma pergunta que me faço dia sim, dia não. Afinal, tenho torná-las melhor. Por isso quando alguém diz que a esperança é um tipo de ilusão, eu digo que não, que é um tipo de ambição. Sim, é com essa que eu vou seguindo, com os meus e com todos que eu posso: perseverando nessa ambição de fazê-los VER.
Bom, quanto ao filme, tinha me esquecido de reconhecer os méritos dos roteiristas. Não sabia que o filme se baseava num livro ( o que realmente não quer dizer que o trabalho seja facilitado, bem lembrado ).
E empatia, então? O que faz alguém ser empático? Ora, não vamos citar, há razões que vão da inteligência emocional até á religiosidade, sem falar do pragmatismo. Mas está a empatia crescendo entre nós? Portanto, que futuro está se construindo?
Enfim…
Ha! Vc falou de Admirável Mundo Novo. E eu me lembrei de Wall-E. Essa é boa!
E quanto ao trabalho que vc tem na (boa) elaboração do seu blog, fica uma estória que ouvi do Zanin, sobre aquele livro dele que lhe falei.
Perguntaram para o crítico de cinema, ao sair da sessão, o que ele tinha achado do filme.
E ele disse: Eu não sei. Deixe-me chegar em casa e escrever sobre ele.
É isso, não é?
Luís, um abraço. Até a próxima.