sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

INFERNO EM TANGER / DE HEL VAN TANGER ( 2006) - BÉLGICA.




" NÃO HÁ PESSOAS BOAS OU MÁS, APENAS SITUAÇÕES..."
(contém spoilers)

Com essa citação inicia-se este interessante filme que narra a estória de dois motoristas de ônibus belgas: Marcel Van Loock ( Filip Peeters) e Win Moreels (Axel Daeseleire) que, em 1996, resolveram fazer hora extra pela empresa de turismo em que trabalhavam levando alguns passageiros, a pedido da companhia, em uma excursão ao Marrocos. Logo foram interceptados pela polícia marroquina que encontrou rapidamente, dentro de um fundo falso do ônibus (que no momento estava sem turistas), uma quantidade de 350 kg de droga. 



Marcel percebe que fora enganado pelo dono da companhia, Jack Sholten, que também estava no país com sua esposa, a título de passar uns dias no local, mas que na verdade acompanhava tudo de perto. Ele resolve dedurar Sholten, que acaba sendo preso a caminho do aeroporto. Os três vão a julgamento e, para a surpresa da dupla, eles são condenados junto com Sholten, sendo inocentada somente a esposa deste.



O cineasta belga Frank van Mechelen, baseado do livro de Marcel, retratou as prisões marroquinas como um lugar em que os guardas ganham uma miséria e os presos não recebem nada além de comida. A mercadoria de troca dentro do presídio são os cigarros Malboro.



O cônsul da embaixada belga é o único elo de Marcel com o mudo exterior, já que a família não tem condições de visitá-lo e este não acredita em sua inocência. A família de Marcel, que tinha no sustento do marido a base de sua estabilidade financeira, fica impotente. A empresa lhes manda uma carta de demissão pelos Correios.



Marcel consegue dois amigos na prisão: um jovem, com uma pena de seis meses e Rudy (Peter Gorissen) que lhe ensina as regras do local.
Marcel e Vim descobrem que suas liberdades dependem de dinheiro, mas por não possuírem a quantia, a revisão da sentença não mudará. Marcel descobre, que sua condenação fora baseada na tese de que a dupla deveria ter percebido o ônibus mais pesado por carregar 350kg a mais de carga. A família tenta a ajuda, enquanto Marcel se deteriora fisicamente.


Rudy resolve convencer Marcel a fugir da prisão enquanto Vim, passa a se prostituir em troca de cigarros. Um lugar aonde a vida de um prisioneiro não tem valor para o Estado.



Esta surpresa, vinda da Bélgica, baseada em fatos reais, revela-se um filme competente do ponto de vista técnico. O diretor Frank Van Mechelen  preferiu dedicar-se às situações da decadência do ser humano e do desespero da família, além de pincelar com tons mais fortes a questão do papel da Bélgica no incidente, que protelou ao máximo que pode para tomar qualquer medida. Em 1999 teve que estabelecer um tratado de extradição com Marrocos. 



É claro que o filme não deve ter agradado nem aos governantes da Bélgica e tão pouco aos de Marrocos. Mas é uma boa opção para vermos que não é só no Brasil que os governantes viram as costas para seus cidadãos, seja qual for a situação. A máquina do Estado pode ser cruel em qualquer país, com qualquer indivíduo, mesmo que ele prove ser inocente. O caso de Marcel é o maior exemplo de que muitas vezes todos são culpados até que se prove o contrário e não o oposto como deveria ser. 



Produção que merece ser conferida seja pela crítica ao sistema, seja pelos fatos terem sido baseados em um acontecimento real. Excelente performance dos envolvidos em um filme que faz pensar após o final de sua projeção


Trailer:

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