terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

MANGUE NEGRO / MUD ZOMBIES (2008) - BRASIL




ZUMBIS "MADE IN BRAZIL"

Filme de zumbi brasileiro com poucos recursos, uma câmera na mão e muita garra. O filme se inicia com dois pescadores: Agenor dos Santos (Markus Konká) e um pescador sem nome  (Alzir Vaillant). Agenor conta que o manguezal, outrora um local de várias espécies, hoje é um lugar sem vida e fonte de histórias sobrenaturais. 



Batista (Reginaldo Secundo) é pescador de caranguejos no manguezal e encontra um corpo no local. Inesperadamente  é atacado pelo morto transformando-se em um Zumbi. Paralelamente, outras pessoas passam a ser atacadas pelo que parece ser uma criatura que habita o mangue.
Luis (Walderrama Dos Santos)  é apaixonado por Raquel (Kika Oliveira), que vive com seu pai (Ricardo Araújo) leproso,  (se não for, é culpa da maquiagem!), que parece ter saído do filme “Papillon”, e sua mãe cega que fica em uma cama. A epidemia aproximará o casal que tentará fugir do local tendo os zumbis em seu encalço.



Fosse uma produção estrangeira, poderia dizer-se que seria um filme de terror trash de baixa qualidade. Por ser uma produção brasileira de terror, em um segmento que praticamente inexiste em nosso país, sem recursos financeiros dignos, a análise deve ser vista por outra ótica. O filme pode ser visto como uma mistura de “Evil Dead“ com as histórias de quadrinhos de terror brasileiras (meados da década de 80), junto com uma homenagem ao mestre do Stop Motion  Ray Harryhausen (de filmes como “Simbad e o Olho do Tigre” e “As Novas Viagens de Simbad”) e “REC” (a criatura do filme).

 
O filme tem várias falhas: é risível em algumas cenas (e esse parece não ser o intuito); os personagens são caricatos demais e alguns diálogos são pouco naturais. A maquiagem é boa, mas percebe-se muita "borracha" nas cenas das mortes dos Zumbis. Falando de maquiagem, o uso de atores masculinos interpretando femininos ficou ruim e os espectadores mais conhecedores do gênero, além daqueles  que assistem muitas produções, perceberão na hora. Ficou a dúvida se faltaram atores ou se foi proposital. O sangue em demasia, com excesso de mutilações, parece querer que o espectador se esqueça de que, estória, houve apenas no começo, para depois tornar-se uma montanha russa de zumbis de George Romero. 



Como pontos positivos: a iniciativa de tentar adaptar o filme  à realidade brasileira, mais particularmente, a região rural do país (neste filme as filmagens foram nos manguezais do Espírito Santo e Guarapari, apesar da intenção se parecer outro local). O uso de efeitos especiais nos bonecos, atores e stop motion (a técnica de Ray Harryhausen), em uma cena em que um cadáver tem um enorme pescoço pendurado com um crânio e ataca Luis e Raquel. 



Sangue à parte, o filme vale pela curiosidade de se fazer cinema brasileiro de terror, com Rodrigo Aragão responsável como diretor, roteirista, cenógrafo, maquiador (com outros profissionais), marionetes,  efeitos especiais e digitais. É interessante ver o uso de várias técnicas, algumas muito utilizadas há pelo menos duas décadas atrás e que funcionam, ainda que não muito satisfatoriamente. 
Como zumbi está em voga, nada mais apropriado de ser fazer um filme no mesmo tema. O custo do longa (estreia do diretor, oriundo de curtas) custou em torno de 50.000,00 reais, valores completamente irrisórios em produções estrangeiras. Não chega a pagar sequer os atores principais. Falando em atores, no filme alguns não estão bem (destaque para a boa interpretação de Markus Konká, o Agenor dos Santos). 



Quem espera ver algo como “The Walking Dead” é melhor nem se aventurar. Os amantes de filmes no estilo  Trash poderão curtir muito. As cenas de comédia (involuntárias) ficam por conta de certos confrontos com zumbis e algumas falas, decoradas e sem espontaneidade. 




Mangue Negro é cinema autoral (onde o diretor é a força motriz da produção). Rodrigo Aragão não teve a sua disposição efeitos modernos, tudo foi feito com muita criatividade, paciência e garra dos envolvidos. Contratempos, repetições exaustivas de cenas, as águas geladas do mangue. Uma gama de obstáculos que não impediu os envolvidos de tentarem entregar um produto interessante ao publico, mesmo que os mais exigentes não o aprovem como um filme merecedor de uma conferida. Na linha ame ou odeie.

Trailer:





Curiosidades:
Na Alemanha o filme foi apresentado com o título Brain Dead Zombies.

Rodrigo Aragão revelou, em seu making off, que a vovó (Mauricio Junior) do filme, foi baseada na vovó Mafalda do antigo programa do Bozo

Making Off do filme:

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