GAROTA EXEMPLAR - GONE GIRL (2014) - ESTADOS UNIDOS

"DECIFRA-ME OU TE DEVORO"

Nick Dunne (Ben Affleck) e  Amy Dunne (Rosamund Pike) protagonizam o casal perfeito. Conheceram-se, apaixonaram-se, viveram ótimos momentos durante o namoro, noivaram e casaram vivendo felizes para sempre. Ops ! Não tão felizes assim ! No dia do quinto aniversário de casamento, Nick descobre que sua mulher desapareceu misteriosamente. Chama a polícia e, de acordo com que o filme avança, novos fatos surgem, através de um diário ou pela mídia que começa a traçar um perfil nada simpático de Nick.

O tempo passa e Amy parece ter realmente desaparecido. A detetive Rhonda Boney (Kim Dickens do filme "O Homem Sem Sombra" de 2009) faz uma policial que tenta desvendar o mistério, de uma forma imparcial. Mas alguns elementos da investigação  a intrigam:  Nick Dunne apresenta um comportamento que varia entre ingênuo, esperto e dissimulado. Não conhece nada da mulher depois de cinco anos de casado, sequer quem é a sua melhor amiga.

O diário de Amy é encontrado. O caso é coberto maciçamente pela imprensa porque Amy é uma espécie de celebridade desde pequena, sendo sempre comparada a sua própria criação: uma personagem infantil que vendeu inúmeros livros.  Uma personagem perfeita, sem falhas. A “Garota Exemplar” se tornou a “Mulher Exemplar”. Em meio tudo isso os programas de fofocas começam a exacerbar o seu lado tendencioso, manipulando informações e tentando transformar Nick em um incontestável vilão. Surgem campanhas feitas pela família, pelo marido e por fãs. Tudo aponta que Nick matou a esposa, mas qual o motivo? Aonde está o corpo ?

Garota Exemplar é um filme muito peculiar do diretor David Fincher, responsável por filmes como "Seven: Os Sete Crimes Capitais" (1995); "Clube da Luta" (1999); "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e  "A Rede Social" (2010). Ou seja: sabe como transpor boas histórias. Gillian Flynn, que assina o roteiro, foi a escritora do livro "Gone Girl", lançado em 2012,  que no Brasil recebeu o nome de "Garota Exemplar". A forma como Fincher consegue dar vida a história deve ser elogiada. Nada é o que parece, há muitas reviravoltas e muitas críticas. Mostra, por exemplo, como a mídia pode influenciar o público para alavancar audiência, pouco interessando se está destruindo ou não a vida de uma pessoa. A mídia do filme é retrata por Fincher como júri, juiz e carrasco

Aos poucos, através de um diário que Amy mantinha, descobrimos que o casamento entrou em num marasmo. O casal mudou-se para o subúrbio e passaram a se odiar. Ambos são escritores que estão na falência. Não existem mais sonhos. O casal sempre gostou de brincar,  de deixar pistas e é o que Nick passa a receber através de cartas deixadas em lugares chaves por Amy que explicariam o seu desaparecimento, enquanto a detetive Rhonda , de posse do diário, passa a crer que o bom moço, que parece não tão preocupado assim, pode ser o culpado afinal. A irmã de Nick, Margo Dunne (Carrie Coon), começa a conhecer um  irmão que até então desconhecia. Leal a Nick, ela passa a ser sua consciência, funcionando como um padre no confessionário. Ouve, sabe, mas mantém a lei do silêncio.

O tempo passa e o suspeito número 1 da América começa a elaborar uma teoria: Amy, sua  esposa, é uma sociopata que quer prejudicá-lo. Mas ele  também, de certa forma, não poderia ser? Ele esconde informações, finge uma boa imagem, manipula uma entrevista para ficar bem, esconde provas dissimuladamente que poderiam incriminá-lo. Mas ele está em uma enrascada: precisa virar o jogo. Usará a mesma mídia que vem manipulando o público para criar uma imagem de um homem bom, largado pela esposa e aflito pelo seu retorno. Se Amy está viva, onde estará? E porque não aparece? Nick contrata um advogado, Tanner Bolt (Tyler Perry), que usa de muita malandragem, treinando Nick na arte da dissimulação e respostas em entrevistas que o tornem uma pessoa que público passe a gostar e defender. No início o espectador acha que conhece os personagens. No final sabe exatamente quem eles são e do que são capazes. O diretor não mastiga a história para o público, permitindo a capacidade deste de acompanhar a história (ponto muito positivo).

O elenco funciona perfeitamente. Ben Affleck tem uma atuação excelente, num papel bem difícil.  Rosamund Pike dá um verdadeiro show. Sua personagem transmuta para algo completamente surpreendente deixando o espectador atônito. Ela parece uma mistura da louca personagem de Glenn Close no filme “Atração Fatal” com a femme fatale  de Sharon Stone em “Instinto Selvagem”. “Amy Exemplar” precisa que o mundo lhe adore, lhe ceda atenção, que a torne uma celebridade. Não aceita críticas (a cena que cospe no copo diz tudo). Tyler Perry interage muito bem na trama, como o advogado capaz de criar uma imagem de bom moço para Nick apresentar à mídia. O restante do elenco tem personagens muito bem desenvolvidos:  a policial ética,  o policial que já tem uma opinião formada antes da solução do caso, a jovem ingênua apaixonada (Emily Ratajkowski), os pais que funcionam como marionetes num jogo que não entendem, a irmã cúmplice...Todos tem sua função na história. As escolhas e atitudes dos protagonistas soam absurdas, as dos coadjuvantes parecem bem sensatas. Essa dicotomia é algo muito bem explorado pelo diretor David Fincher.

O filme é uma caixa de surpresas, cheio de reviravoltas com um final controverso. Algo raro no cinema atual, onde a indústria cinematográfica americana torce o nariz para finais que não estejam enquadrados dentro daquilo que consideram como “adequável”.

Feito parar mexer com as sensações do espectador. Virar a cabeça deste ao avesso (claro que não tanto como “Predestinado”), pois os personagens conseguem virar o jogo a todo momento. Um final que deixa múltiplas sensações: espanto, raiva, alegria, decepção ...

 Trailer:

Curiosidades (algumas contém spoilers):

Uma das canetas cor-de-rosa de Amy tem o contorno de uma cegonha carregando uma bolsa de bebê, provavelmente em referência ao tópico sobre o qual Amy está escrevendo em seu diário.

Heather Graham procurou optar pelos direitos do livro original para produzir e estrelar o papel de Amy Elliott Dunne, mas os direitos já haviam sido adquiridos pela empresa de Reese Witherspoon, Pacific Standard.

O personagem de Ben Affleck em busca de uma mulher chamada Amy lembra o título de um dos primeiros filmes de Affleck, Procura-se Amy (1997).

Rosamund Pike  foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz.

Ben Affleck possui 2 Oscars: Melhor Filme por "Argo" 2012 e Melhor Roteiro Original por "Gênio Indomável" (1998).

O filme foi orçado em  $61.000.000 e lucrou em torno de $167.735.396 (USA).

Tom Cruise e Reese Witherspoon eram inicialmente desejados para os papéis principais.

Para descobrir seu personagem, Ben Affleck pesquisou e estudou vários homens que foram acusados ​​e condenados por matar suas esposas. Ele prestou atenção especial em Scott Peterson.

David Fincher colocou Emily Ratajkowski no filme após uma recomendação de Ben Affleck que a viu no vídeo "Blurred Lines" do  cantor Robin Thicke.

David Fincher foi indicado a dois Oscars como melhor diretor: "O Curioso Caso de Benjamin Button" (2008) e "A Rede Social" (2010).

Ben Affleck adiou a direção de A Lei da Noite (2016) para trabalhar neste filme com David Fincher, chegando a afirmar: "Ele é o único diretor que conheci que pode fazer o trabalho de todo mundo melhor do que eles". No set, certo dia, Affleck mudou a configuração das lentes de uma câmera em uma quantidade quase imperceptível, apostando com um membro da equipe que Fincher não notaria. Affleck perdeu a aposta quando Fincher comentou: "Por que a câmera parece um pouco fraca?"

O peso de Ben Affleck oscila no filme, sendo ele de constituição mediana, a musculoso, por ter sido escalado para o papel de Batman em Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016).

David Fincher explicou que uma das razões pelas quais ele escalou Rosamund Pike, de 35 anos, para o papel de Amy foi que ela não tinha uma aparência muito clara e poderia se passar por uma mulher mais velha ou mais jovem. A revelação de Rosamund de que ela era filha única também provou ser um aspecto muito atraente para o personagem de Amy na opinião de Fincher.

Rosamund Pike ganhou e perdeu 13 quilos três vezes para interpretar o personagem em diferentes momentos de sua vida. Ela se entupia de hambúrgueres e maltes para ganhar peso, fazia exercícios com um boxeador profissional por até quatro horas por dia e corria oito quilômetros (em quarenta e dois minutos) para perder peso.

(Em torno de uma hora e quatorze minutos) No ponto em que o filme está exatamente pela metade, a conversa de Nick Dunne e sua irmã gêmea Margo resume a história do filme inteiro.

Rosamund Pike disse em um artigo de revista sobre fazer o filme que ela incluiu alguma leviandade durante uma cena em que ela está fazendo panquecas que não estavam no roteiro, a fim de transmitir uma amizade despreocupada a Ben Affleck. Pike disse que a natureza do relacionamento de Nick e Amy não permitia ou exigia muita (se alguma) brincadeira, mas ela queria adicionar porque poderia ser genuíno e mostrar algum afeto básico entre Nick e Amy, ou poderia ser outra parte da psicologia distorcida de Amy em relação a tudo o mais que ela diz e faz no filme.

Quando se trata de escalar papéis, David Fincher normalmente vai à internet para olhar fotos de atores para ajudá-lo a encontrar o tipo certo de ator para um papel. Ao escalar o elenco para o papel de Nick Dunne, Fincher avistou fotos de Ben Affleck e notou um sorriso particular que Affleck tinha em dezenas de fotos. De acordo com Fincher, ele capturou uma emoção particular em uma cena de Nick Dunne sorrindo que mostrou a essência do personagem. Logo depois, Fincher escalou Ben Affleck para o papel.

Ben Affleck cantava constantemente canções dos anos 80 entre as tomadas. Impressionado, Tyler Perry decidiu iniciar um jogo que acabou durando toda a duração das filmagens. Perry começava a cantar a música mais aleatória que conseguia pensar para ver se Affleck começaria a cantar junto. De acordo com Perry, Affleck sabia todas as palavras de cada música que Perry mandou para ele, incluindo as músicas da Broadway e canções de Barbra Streisand.

Para sua atuação, Rosamund Pike se inspirou na atuação de Nicole Kidman em Um Sonho sem Limites (1995) e de Sharon Stone em Instinto Selvagem (1992). Ela também estudou Carolyn Bessette-Kennedy, esposa de John F. Kennedy, Jr., por sua linguagem corporal e humor indiferente.

Originalmente, Nick deveria usar um boné dos Yankees em uma cena. Mas Ben Affleck, um fã obstinado do Red Sox, recusou-se a usá-lo. No final das contas, ele e David Fincher chegaram a um acordo, e ele usa um boné do Mets.

Rosamund Pike disse ao crítico de cinema Peter Travers que, sempre que David Fincher a pegava no set prestes a usar o celular, ele tirava uma selfie de "rosto severo" e a enviava para ela, fazendo com que ela imediatamente colocasse o telefone no bolso.

Com Rosamund Pike sendo indicada como Melhor Atriz por este filme, isso marca o quarto filme consecutivo que David Fincher dirigiu interpretações indicadas ao Oscar (Brad Pitt e Taraji P. Henson por O Curioso Caso de Benjamin Button (2008); Jesse Eisenberg por A Rede Social (2010) e Rooney Mara para Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres (2011)).

David Fincher filmou incríveis quinhentas horas de material em cem dias de filmagem, uma média de cinco horas por dia.

O filme tornou-se o filme doméstico de maior bilheteria de David Fincher, batendo o líder anterior O Curioso Caso de Benjamin Button (2008).

Reese Witherspoon, Charlize Theron, Natalie Portman, Emily Blunt, Rooney Mara, Olivia Wilde, Abbie Cornish e Julianne Hough foram considerados para o papel de Amy Dunne. Witherspoon já havia sido contratado como um dos produtores do filme.

Brad Pitt foi considerado para interpretar Nick Dunne.

Seth Rogen e Ryan Reynolds foram considerados para o papel de Nick Dunne nos estágios iniciais de pré-produção.

Originalmente, David Fincher deveria dirigir 20.000 Léguas Submarinas: Capitão Nemo, mas devido a uma parada completa no desenvolvimento da produção, Fincher desistiu do projeto e rapidamente embarcou para dirigir este filme.

O nome Schieber (do personagem Sharon Schieber) é o nome do meio da autora Gillian Flynn.

Quando Nick está jogando o jogo de tabuleiro "The Game of Life" com Margo, ele cai no bloqueio do casamento e adiciona a ligação da esposa ao seu carro. Ele então passa para Margo na vez dela, negligenciando que nas regras do jogo alguém faz outra "lua de mel" imediatamente após o casamento. Nick não sabe jogar o jogo [de tabuleiro] A vida é, na verdade, uma metáfora muito sutil para Nick não saber jogar o jogo da vida.

Depois que Amy desapareceu, Nick e o detetive vão para seu escritório para acompanhar a primeira "pista" de sua esposa. Dentro de seu escritório, na estante, há alguns livros, dois dos quais são "Manhood For Amateurs" de Michael Chabon, ensaios de não ficção sobre ser um marido e os erros e surpresas de ser pai, e "Freedom" de Jonathan Franzen , um romance americano preocupado com os temas do casamento.

Também contém spoilers do romance e do filme Acima de Qualquer Suspeita (1990): Semelhanças na trama: O personagem principal é acusado de matar um ex-amante. Neste filme, é sua esposa. Em ambos os filmes, verifica-se que a própria esposa cometeu o crime e encenou a cena do crime para implicar o marido. Em ambos os casos, um martelo está envolvido no enquadramento. Ao final dos dois filmes, o acusado decide não se divorciar de sua esposa, nem apresentar queixa, percebendo que sua própria infidelidade a levou a fazê-lo, e que isso afetaria sua imagem pública. Nick também fica com Amy porque ela está grávida. Rusty afirma que não poderia processar sua esposa porque, "Como eu poderia privar meus filhos de sua própria mãe?" Os atores que interpretaram os maridos acusados, Ben Affleck e Harrison Ford, também interpretaram Jack Ryan.

Cartaz:

Filmografia Parcial:

Ben Affleck

Campo dos Sonhos (1989);Código de Honra (1992); Jovens, Loucos e Rebeldes (1993); Procura-se Amy (1997); Gênio Indomável (1997); Armageddon (1998); Fantasmas (1998); Shakespeare Apaixonado (1998); Forças do Destino (1999); Pearl Harbor (2001); Fora de Controle (2002); A Soma de Todos os Medos (2002); Demolidor: O Homem Sem Medo (2003); O Pagamento (2003); Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009); Intrigas do Estado (2009); Argo (2012); Garota Exemplar (2014); Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016); Esquadrão Suicida (2016); O Contador (2016); Liga da Justiça (2017);  Operação Fronteira (2019); A Última Coisa que Ele Queria (2020);  O Caminho de Volta (2020);  Liga da Justiça de Zack Snyder (2021);  The Last Duel (2021);  Deep Water (2022); The Flash (2022)

Rosamund Pike

007 - Um Novo Dia Para Morrer (2002); Orgulho & Preconceito (2005); Doom: A Porta do Inferno (2005); Um Crime de Mestre (2007); Substitutos (2009); Fúria de Titãs 2 (2012); Garota Exemplar (2014);  Beirute (2018); 7 Dias em Entebbe (2018); Uma Guerra Pessoal (2018); Radioactive (2019); The Informer (2019); Eu Me Importo (2020)

Kim Dickens 

Últimas Consequências (1997); Efeito Zero (1998); Código Para o Inferno (1998); Prenda-me se Puder! (1999); O Homem Sem Sombra (2000); O Dom da Premonição (2000); Obrigado por Fumar (2005); Rastros de Vingança (2008); Um Sonho Possível (2009); Footloose: Ritmo Contagiante (2011); A Qualquer Preço (2012); O Lar das Crianças Peculiares (2016); Fear the Walking Dead (seriado 2015-2022); Estrada Sem Lei (2019); Deadwood (2019); Briarpatch (seriado 2019-2020); Land (2021)

Tyler Perry

Diário de uma Louca (2005); Por Que Eu Me Casei? (2007); Star Trek (2009); Por Que Eu Me Casei Também? (2010); As Testemunhas de Madea (2012); A Sombra do Inimigo (2012); O Natal de Madea (2013); Garota Exemplar (2014);  As Tartarugas Ninja: Fora das Sombras (2016); Vice (2018); Um Funeral em Família (2019); O Limite da Traição (2020)

Carrie Coon

Garota Exemplar (2014); The Leftovers (seriado 2014-2017); Além da Vida (2017); Fargo (seriado 2017); The Post: A Guerra Secreta (2017); Vingadores: Guerra Infinita (2018); As Viúvas (2018); The Sinner  (seriado 2018); O Refúgio (2020); Ghostbusters: Mais Além (2021); A Idade Dourada (seriado 2022)