INVENCÍVEL / UNBROKEN (2014) - ESTADOS UNIDOS

ESPÍRITO INQUEBRANTÁVEL

Louis Zamperini (Jack O’Connell) é um pré-adolescente rebelde de uma família italiana que  vivia meio a brigas, cigarros e bebidas. Seu irmão vendo-o correr em fuga de suas traquinagens percebe que  Louis poderia ser treinado. De acordo com que avança na idade, o jovem deixa para trás o seu passado e se torna um campeão de longas distâncias que o credencia a participar das olimpíadas, na  Alemanha nazista, em 1936.  Três anos depois o mundo conheceria sua Segunda Grande Guerra Mundial (1939-1945). Em abril de 1943 vemos jovem Louis dentro de um avião bombardeiro B-24 que sobrevive aos danos de uma batalha. Mais tarde ele participa de uma missão de resgate, mas seu novo voo vira um desastre, ocorrendo a queda do aparelho em pleno pacífico.

Louis e mais um amigo conseguem sobreviver  a 47 dias em pleno mar, em um bote aberto, em meio a tubarões. Finalmente são encontrados, mas a sorte não sorri para eles: seu salvamento vem na forma de um navio japonês patrulha que os capturam e os fazem de prisioneiros. Louis, posteriormente, é separado de seu amigo e é levado a um campo de concentração japonês, que mantém soldados americanos presos. Para sua infelicidade o comandante do campo é um jovem chamado Mutsuhiro Watanabe (o guitarrista Miyavi em seu primeiro filme), um sargento sádico, também conhecido como “Bird” (pássaro), que elege Louis como sua principal vítima. Os dois travarão um embate psicológico e físico que mudará para sempre a ambos.
 

Orçado em 65 milhões de Dólares Invencível (Unbroken) gerou um pouco mais que o dobro de seu custo. É o segundo longa da famosa atriz Angelina Jolie e foi baseado no livro “Unbroken: A World War II Story of Survival, Resilience and Redemption,” (2010) de autora Laura Hillenbrand.  O roteiro a quatro mãos teve a colaboração dos famosos irmãos Joel Coen e Ethan Coen, diretores de filmes como “Fargo”, “O Grande Lebowski”, “Onde os Fracos Não tem Vez”, “Arizona Nunca Mais”, ‘Bravura Indômita” ..." e o diretor de fotografia Roger Deakins que já trabalhou em filmes como “Uma Mente Brilhante”; “A Vila”; “Um Sonho de Liberdade"; “Bravura Indômita”; “007 - Operação Skyfall”. Ou seja, a produção vem com feras do ramo cinematográfico.

Inspirado na vida de Louis Zamperini, atleta olímpico e um dentre tantos heróis da Segunda Grande Guerra, Invencível utiliza flashbacks para mostrar o presente da trama com cenas do passado. De adolescente rebelde a herói de guerra. 

Acostumados com os heróis dos quadrinhos modernos, o espectador verá o que é ser um herói de carne e osso. Se não o for para os espectadores, pelo menos o foi para aqueles que não viam mais a hipótese de reencontrar suas famílias. Mesmo sem chances de ajudarem Louis, a cada vitória na forma de sobreviver mais um dia, era um dia de vitória para aqueles homens que viviam junto a um oficial classificado por muitos como sociopata.

Ainda que Jolie trace um painel nada simpático do exército japonês, também não generaliza. Vemos na tela Mutsuhiro Watanabe como o grande algoz e causador de todos os males do herói americano. Não há vários soldados torturando prisioneiros. Tudo se concentra na figura de Louis versus Watanabe. O embate é entre os dois: um possui o poder, o outro a resistência e determinação inabaláveis. 

Clint Eastwood no excelente “Cartas Para Iwo Jima” mostra a guerra do ponto de vista dos oficiais do Império do Sol. Soldados honrados que cumpriam ordens de lutar contra seus inimigos, mas nem todos com ódio no coração. Na guerra percebemos o verdadeiro caráter e personalidade das pessoas, independente de lados. Ali se encontram os bons e os maus. Nem sempre os bons sobrevivem e muitas vezes o mal é valorizado. Jolie não disseca as raízes do ódio de Watanabe. Percebe-se por trás de uma máscara de crueldade, autoritarismo e insanidade uma mente conturbada com várias emoções misturadas, como a inveja do recém-chegado corredor olímpico que “rouba” seu status de “estrela” do campo. Louis foi alguém importante e Watanabe apenas um soldado em busca de status, mesmo que seja pelo medo e pela violência extrema. Fora o ódio que tinha por seus inimigos. O filme mostra um guarda (e depois sargento) fraco de personalidade e isso o incomodava. Ver Louis como uma pessoa de força emocional superior o levava a tentar "dobrá-lo" com castigos cruéis e assim poder sentir-se superior através da inferioridade alheia. Como não isto acontecia, Watanabe sofria por dentro o que infligia a Louis por fora. Quanto mais o atleta resistia, mas inferior o comandante se tornava perante si próprio. O filme opta, aliais, por não mostrar as outras crueldades praticadas pelo oficial japonês a outros soldados durante sua estadia frente a campos de concentração, nem cenas de violência gratuitas e assustadoras, apenas o que contribuiu para a história.

 

Há também a intenção do governo japonês de tentar tirar lucro da situação, ao possuir um prisioneiro ilustre: primeiro ao levá-lo à uma radio para enviar uma mensagem à família, mostrando que estaria vivo e sendo bem tratado. Louis aceitou. Na segunda oportunidade a estratégia já é outra: servir como instrumento de propaganda de guerra (que recusou e o levou de volta para o campo de concentração e posterior a outro campo ainda pior e com uma surpresa desagradável)

Quanto ao elenco, Jack O'Connell (300: A Ascensão do Império, seu filme comercialmente mais conhecido) tem uma ótima atuação, assim como como o pop star estreante nas telas Miyavi que mostra um bom desempenho num papel de vilão, o que é sempre complicado. Se o vilão é fraco, o filme não decola. O  restante do elenco não compromete.

Invencível é uma produção bem realizada, com alguns altos e baixos, mas em sua grande parte um espetáculo com ótima história de superação e coragem. Houve certa crítica ao filme por parte da imprensa especializada por focar demais nos protagonistas e transformar Zamperine em um herói incontestável. Sim, há uma certa razão, mas como entretenimento funciona muito bem e muitos espectadores viram o filme de uma forma oposta a crítica. Um espetáculo que deve ser visto por aqueles que gostam de histórias de superação, de fatos curiosos sobre Segunda Guerra e de heróis de carne e osso. 

Trailer Legendado:

 
Curiosidades:

A Universal Pictures comprou os direitos da história no final dos anos 50 e os direitos sobre o livro em 2011, o que permitiu a realização do filme.

Zamperine veio a falecer logo após o filme ficar pronto, aos 97 anos, de pneumonia.

O primeiro de filme de Jolie foi “Na Terra de Amor e Ódio“ (In the Land of Blood and Honey) e o terceiro “À Beira Mar” (By the Sea).

Apesar de tudo que passou Louis perdoou seu algoz e propôs um encontro quando retornou ao Japão em 1998 para uma corrida com a tocha nos Jogos Olimpicos de Inverno em Nagano. Já Watanabe recusou-se a se encontrar com sua outrora vítima e em entrevista  a rede CBS, justificou seus atos como sendo da guerra e de seus sentimentos no momento.

Watanabe foi considerado o guarda mais violento do campo de concentração pelos soldados sobreviventes.

O filme também sofreu críticas por omitir que Zamperini, após a guerra,  se tornou um evangelista, que liderava grandes eventos nos EUA. E que sua ida ao Japão foi para perdoar seus captores e espalhar o cristianismo.

A música Miracles do grupo Coldplay

 

Zamperine

 













 Watanabe

 













Filmografia Parcial:
Jack O'Connell
Sem Saída (2008); Harry Brown (2009); Assassinos de Aluguel (2012); 300: A Ascensão do Império (2014); Invencível (2014); Jogo do Dinheiro (2016).