sábado, 21 de setembro de 2019

BRIGHTBURN: FILHO DAS TREVAS / BRIGHTBURN (2019) - ESTADOS UNIDOS




PRECISAMOS FALAR SOBRE BRANDON
(contém vários spoilers)
 

Um casal que não pode ter filhos, percebe a queda de uma nave alienígena perto de sua propriedade rural em Brightburn, Kansas, e o adota como filho. Brandon Breyer (Jackson A. Dunn) vai crescendo com o carinho de seus pais adotivos, Kyle (David Denman) e Tori (Elizabeth Banks), sendo um bom menino. Ao completar 12 anos estranhos fenômenos começam a ocorrer: a nave, escondida no celeiro pelos pais, e desconhecida de Brandon, que não sabe de sua origem alienígena, começa a enviar sons em sub-frequências para o menino que descobre sua verdadeira missão na terra: conquistar. Na escola, o garoto, que sempre vivia isolado, sente-se agora único e superior, começando a desprezar os que estão ao seu redor. Quando fere uma aluna e não evidencia remorsos, seu pai, Kyle, demonstra preocupação, mas sua mãe prefere não ver que seu "filhinho" possa ser uma criatura extremamente maligna.


A inspiração em Superman é muito óbvia. Menino do espaço, casal em uma fazenda, cidade do Kansas, superforça, supervelocidade, emissão de raios pelos olhos ... Poderíamos dizer que é um "superboy" do mal. Quadrinhos e desenhos animados já tentaram mostrar como seria um ser com esses poderes, num mundo onde pessoas comuns o dominam. E o argumento era dos mais interessantes, mas o filme que enveredou pelo gênero super-herói / horror colhendo críticas mistas (orçado em 7 milhões, arrecadou em torno de 32 milhões)


Tendo a direção de David Yarovesky ("A Colmeia" de 2014) e, no roteiro, o irmão e primo de James Gunn (Guardiões da Galáxia 2), que atuou aqui como produtor, Brightburn, que veio com um subtítulo nacional completamente equivocado: "O Filho das Trevas", remetendo a algo sobrenatural ou demoníaco (na verdade é o nome da cidade onde vivem) é um filme no mínimo interessante. Por ser uma produção de baixo orçamento (para os padrões americanos) temos que avaliá-lo como tal, caso contrário, seria até injusto com os envolvidos. A premissa é muito boa: o que aconteceria se um alienígena caísse na terra e, ao invés de nos ajudar, fosse uma força a dominar nosso planeta? E o filme mostra isso de uma forma bem direta, com uma eficiência pouco comum, o que não quer dizer que seja um grande filme, mas que o dinheiro empregado parece ter sido muito maior. Vejam que muita coisa é contada sob a perspectiva de outros personagens (por exemplo quando o pai cita que ele nunca se feriu), um recurso inteligente para driblar os limites orçamentários. Ou quando vemos Brandon flutuar (repare que vemos apenas suas pernas) ou quando o carro cai (repare que a perspectiva em grande parte está dentro do carro - e depois nos mostra o carro caindo). Você não o vê derrubando avião, mas vê ele nos destroços.  É engenhoso, é criativo e sua mente preenche o que falta na cena. Mas há também sub-camadas bem interessantes.



Há uma dualidade entre racionalidade (pai) versus emoção (mãe). Enquanto a mãe até certo momento não quer acreditar que "seu filho" seja um abjeto causador das atrocidades que surgem, o pai demonstra muita preocupação e sua racionalidade o leva a constatar que o "ser que encontraram na floresta"  e adotaram pode ser, sim, algo que deva ser contido. Há também uma ênfase na questão quebra da confiança: Brandon confia nos pais, sabe que foi adotado, mas começa a desconfiar quando percebe que sua força e pele são diferente de seus "semelhantes". Quando descobre não ser da terra, percebe que tudo que até então vivera poderia ser uma mentira. A cena da relação de confiança na escola é uma analogia de que Brandon não pode confiar em ninguém, nem na garota (Emmie Hunter) a quem demonstrara (em sua visão) certo afeto. E isso se estende aos pais como veremos. Fora a questão do Bullying, ao demonstrar ser mais inteligente que os demais. Aliais, a cena em que explica a diferença entre abelhas e vespas já é uma dica da relação que Brandon terá com seus pares. E claro, há aquela questão implícita de que nascemos bons, maus, o ambiente nos molda, ou ambos? Brandon nasceu mau ou foi simplesmente impelido a se tornar mau? E se os pais do Superman enviassem seu filho a terra não para fugir de um planeta moribundo, mas para reinar pela violência? Ou se fosse o filho de Zod? Essas respostas não serão encontradas aqui (não nesse primeiro filme).



Durante toda projeção senti uma forte sensação de estar lendo uma daquelas estórias em quadrinhos que são divididas em uns 12 capítulos e lançadas mensalmente nas bancas. Esse filme seria os três primeiros números (porque o filme é dividido em 3 atos: sua vida até 12 anos; o descobrimento de quem é; e como ele se torna o super ser do mal). Quando vi o trailer me lembrei da revista Poder Supremo feita pela Marvel com temática adulta (foi lançada por aqui com o selo "Marvel Max"). Uma das melhores estórias em quadrinhos que li e há algo de parecido: uma nave cai numa fazenda, só que a criança é capturada pelo governo que o doutrina (lembrou de "Superman - A Foice e o Martelo"?), logo começam a surgir outros seres numa alusão a liga da justiça. Pena que a Marvel cancelou o selo e não mais publicou esta e outras estórias. O "superboy" da estória de Poder Supremo no início assusta quem cuida dele: ele mata um animal com sua visão de raios X e não gosta de ser contrariado. Viu alguma inspiração? Aliás poderíamos dizer que Brightburn se passaria em uma dimensão paralela aonde a sociedade se tornou distópica (não deu certo) e os poderosos seres que surgem não são para ajudá-la e, sim, visam seus próprios interesses.  Se você viu "Precisamos Falar Sobre Kevin" verá como os pais podem fechar os olhos para um filho com problemas e esse se tornar um psicopata.



Vejo Brando Breyer (olha as iniciais BB - típica de heróis como Peter Parker, Bruce Banner, Reed Richards) como uma versão do personagem "Bizarro" do Superman e me pergunto porque levaram tanto tempo para produzirem um filme com essa ideia. Claro que o momento é dos mais oportunos, com a proliferação dos filmes de heróis, nada como aproveitar e jogar um reflexo distorcido desse glamour para o espectador. Talvez algo do tipo: se uma pessoa tivesse poderes, ele seria íntegro? Usaria seus poderes para ajudar a humanidade ou "com grandes poderes vem grandes responsabilidades". Poderíamos tentar refletir porque Brandon (uma homenagem ao ator Brandon Ruth de Superman: O Retorno?) deve dominar a terra. É uma missão dada a ele ou um "Zod" que resolveu corromper a esperança como vingança. Espero mesmo que seja feita uma continuação e que esse filme seja uma trilogia ou quadrilogia nos moldes de "Corpo fechado", "Fragmentado" e "Vidro. Só no último exemplar é que entendemos a real ideia por trás da trilogia. Nossa sociedade é uma boa amostra, quando alguém tem poder como ela se comporta? Muitos se tornam tiranos, maus, egoístas e egocêntricos. E se essas pessoas tivessem superpoderes?



Quanto ao final, há algumas considerações a serem feitas e segue agora uma explicação: 
Brando sequestra a mãe da menina e a leva para o seu porão, onde disseca seu corpo (lembra que ele tinha recortes de mulheres de biquínis e de órgãos humanos) a colocando ao lado da espaçonave. Após matar os pais e todos que poderiam conhecer seu segredo, derruba um avião comercial e o direciona à sua casa para que os corpos ali mutilados deem a entender que ficaram assim com a colisão do avião. No final, vemos Brandon incendiando locais e derrubando prédios. Vemos também o seu (um logotipo B duplo que se refere ao seu nome) em uma plantação (como ocorreu alguns anos em algumas plantações que tinham símbolos misteriosos que surgiam). Há também um Youtuber (o ator Michael Hooker de "Guardiões das Galáxias"), chamado Mr. T (seria um Lex Luthor do bem?) advertindo as pessoas (como alguns vídeos de teorias da conspiração que vemos por aí) e mostra o desenho de uma bruxa que enforca as pessoas com sua corda (mulher maravilha e seu laço?), um homem que afunda um navio (Aquaman?), um homem com uma roupa vermelha e amarela (seria o Flash?) e um homem vestido de verde ou um ser verde (seria Ajax: O Caçador de Marte?). Esse é um gancho muito interessante e abre um leque de questionamentos, até porque a estória é centrada em um único personagem durante quase todo o filme e, agora, percebemos sutilmente o surgimento de outros seres (todos maus) que estão loteando a terra e estabelecendo seus domínios. Por isso penso que esse foi um primeiro exemplar de uma estória, que deve se desenrolar, caso os espectadores gostem ou entendam a ideia por trás da ideia. O logotipo B duplo, um de frente para o outro, pode significar exatamente a inversão de tudo, por isso a segunda inicial B (de Breyer) é escrita ao contrário. Uma sacada dos roteiristas.



Brightburn é uma proposta criativa a ser vista com um olhar mais apurado, não pelo que mostra, mas por aquilo que coloca nas entrelinhas. Parece uma sátira sombria, mas pode ser algo mais. Faltou um pouco mais de luta interior entre o bem e o mal em Brandon. Apesar de um efeito de maquiagem muito bem realizado, as cenas são muito fortes, até porque apresentam mutilações, o que deveria elevar a faixa etária. Quanto aos efeitos, o diretor foi bem criativo ao inverter o que vínhamos assistindo: na Marvel para mostrar a velocidade de Mercúrio, o mostram em câmera lenta. Aqui aceleram tanto que vemos apenas um borrão. Achei bem apropriado. É um filme que pode agradar quem não tinha muitas expectativas e decepcionar aqueles que o aguardavam com ansiedade. Vejo como uma produção, ali, no meio termo. Como apresentação de um novo universo considero um bom filme, mas se o filme se encerra neste exemplar creio que muitos aspectos deveriam ter sido melhor explorados. Vale a conferida.

Trailer:





Trilha Sonora:
Fireflies in a Steel Mill -  The Elected
Our World - Sonny Cleveland
Send Her to Me - Wayne Chance
Heaven -  The Paper Chain Gang
Before the Sun Goes Down - Aron Leigh
Bad Guy - Billie Eilish

 
Curiosidades:
Steve Agee, Michael Rooker, Stephen Blackehart e Terence Rosemore apareceram em "Guardiões da Galáxia Vol. 2"

Elizabeth Banks e David Denman apareceram em Power Rangers (2017).

A versão do Reino Unido é dividida em duas cenas para reduzir imagens fortes e sangrentas, a fim de obter uma classificação '15' anos

As Criaturas Comentas Por Mr. T




Filmografia Parcial: 
Elizabeth Banks













Shaft (2000); Homem-Aranha (2002); Prenda-me se for Capaz (2002); Seabiscuit: Alma de Herói (2003); Homem-Aranha 2 (2004); O Virgem de 40 Anos (2005); O Invencível (2006); Homem-Aranha 3 (2007); O Grande Dave (2008); Pagando Bem, que Mal Tem? (2008); W. (2008); 72 Horas (2010); À Beira do Abismo (2012); Jogos Vorazes (2012); O Que Esperar Quando Você Está Esperando (2012); Jogos Vorazes: Em Chamas (2013); Um Passado Sombrio (2014); Um Passado Sombrio (2014); A Escolha Perfeita 2 (2015); Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (2015); Power Rangers (2017); A Escolha Perfeita 3 (2017); Brightburn: Filho das Trevas (2019); As Panteras (2019);

David Denman


 









Virando o Jogo (2000); Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas (2003); Quando um Estranho Chama (2006); Número 9 (2007); Imagens do Além (2008); Fanboys (2009); Jogo de Poder (2010); Depois da Terra (2013); Homens, Mulheres e Filhos (2014); O Presente (2015); 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016); Power Rangers (2017); O Quebra-Cabeça (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019)

Jackson A. Dunn
 











Vingadores: Ultimato (2019); Brightburn: Filho das Trevas (2019)


Gregory Alan Willians


 








A Entrega Mortal (1989); Na Linha de Fogo (1993); S.O.S. Malibu  (seriado 1989 a 1998); Duelo de Titãs (2000); Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005); W. (2008); O Colecionador de Corpos (2009); O Poder do Ritmo 2 (2010); Um Cupido no Natal (2010); Jimmy - Um Elo de Amor (2013); Arremesso de Ouro (2014); Gata em Fuga 2 (2014); O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015); 90 Minutos no Paraiso (2015); Má Conduta (2016); O Contador (2016); Um Natal Quase Perfeito (2016); Estrelas Além do Tempo (2016); Uma Questão de Fé (2017); Deus Não Está Morto: Uma Luz na Escuridão (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019); The Banker (2019); The Warrant (2020) 

Michael Rooker











Retrato de um Assassino (1986); Um Tira de Aluguel (1987); Nico - Acima da Lei (1988); Mississipi Em Chamas (1988); Vítimas de uma Paixão (1989); Dias de Trovão (1990); A Metade Negra (1993); Risco Total (1993); Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993); Efeito Dominó (1996); O Massacre de Rosewood (1997); Assassinos Substitutos (1998); Replicante (2001); O Imbatível (2002); Jumper (2008); Guardiões da Galáxia (2014); Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017); Vingadores: Guerra Infinita (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019); Fantasy Island (2020); Velozes e Furiosos 9 (2020)

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