PRECISAMOS
FALAR SOBRE BRANDON
(contém
vários spoilers)
Um
casal que não pode ter filhos, percebe a queda de uma nave alienígena perto de
sua propriedade rural em Brightburn, Kansas, e o adota como filho. Brandon Breyer (Jackson
A. Dunn) vai crescendo com o carinho de seus pais adotivos, Kyle (David Denman)
e Tori (Elizabeth Banks), sendo um bom menino. Ao completar 12 anos estranhos
fenômenos começam a ocorrer: a nave, escondida no celeiro pelos pais, e
desconhecida de Brandon, que não sabe de sua origem alienígena, começa a enviar
sons em sub-frequências para o menino que descobre sua verdadeira
missão na terra: conquistar. Na escola, o garoto, que sempre vivia isolado,
sente-se agora único e superior, começando a desprezar os que estão ao seu
redor. Quando fere uma aluna e não evidencia remorsos, seu pai, Kyle, demonstra
preocupação, mas sua mãe prefere não ver que seu "filhinho" possa ser
uma criatura extremamente maligna.
A
inspiração em Superman é muito óbvia. Menino do espaço, casal em uma fazenda,
cidade do Kansas, superforça, supervelocidade, emissão de raios pelos olhos ...
Poderíamos dizer que é um "superboy" do mal. Quadrinhos e desenhos animados
já tentaram mostrar como seria um ser com esses poderes, num mundo onde pessoas
comuns o dominam. E o argumento era dos mais interessantes, mas o filme que
enveredou pelo gênero super-herói / horror colhendo críticas
mistas (orçado em 7 milhões, arrecadou em torno de 32
milhões)
Tendo
a direção de David Yarovesky ("A Colmeia" de 2014) e, no roteiro, o
irmão e primo de James Gunn (Guardiões da Galáxia 2), que atuou aqui como
produtor, Brightburn, que veio com um subtítulo nacional completamente
equivocado: "O Filho das Trevas", remetendo a algo sobrenatural ou
demoníaco (na verdade é o nome da cidade onde vivem) é um filme no mínimo
interessante. Por ser uma produção de baixo orçamento (para os padrões americanos)
temos que avaliá-lo como tal, caso contrário, seria até injusto com os envolvidos.
A premissa é muito boa: o que aconteceria se um alienígena caísse na terra e,
ao invés de nos ajudar, fosse uma força a dominar nosso planeta? E o filme
mostra isso de uma forma bem direta, com uma eficiência pouco comum, o que não
quer dizer que seja um grande filme, mas que o dinheiro empregado parece ter
sido muito maior. Vejam que muita coisa é contada sob a perspectiva de outros personagens
(por exemplo quando o pai cita que ele nunca se feriu), um recurso inteligente
para driblar os limites orçamentários. Ou quando vemos Brandon flutuar (repare
que vemos apenas suas pernas) ou quando o carro cai (repare que a perspectiva
em grande parte está dentro do carro - e depois nos mostra o carro caindo).
Você não o vê derrubando avião, mas vê ele nos destroços. É engenhoso, é criativo e sua mente preenche
o que falta na cena. Mas há também sub-camadas bem interessantes.
Há
uma dualidade entre racionalidade (pai) versus emoção (mãe). Enquanto a mãe até
certo momento não quer acreditar que "seu filho"
seja um abjeto causador das atrocidades que surgem, o pai demonstra muita
preocupação e sua racionalidade o leva a constatar que o "ser que
encontraram na floresta" e adotaram
pode ser, sim, algo que deva ser contido. Há também uma ênfase na questão quebra
da confiança: Brandon confia nos pais, sabe que foi adotado, mas começa a
desconfiar quando percebe que sua força e pele são diferente de seus
"semelhantes". Quando descobre não ser da terra, percebe que tudo que
até então vivera poderia ser uma mentira. A cena da relação de confiança na
escola é uma analogia de que Brandon não pode confiar em ninguém, nem na
garota (Emmie Hunter) a quem demonstrara (em sua visão) certo afeto. E isso se
estende aos pais como veremos. Fora a questão do Bullying, ao demonstrar ser
mais inteligente que os demais. Aliais, a cena em que explica a diferença entre
abelhas e vespas já é uma dica da relação que Brandon terá com seus pares. E
claro, há aquela questão implícita de que nascemos bons, maus, o ambiente nos
molda, ou ambos? Brandon nasceu mau ou foi simplesmente impelido a se tornar
mau? E se os pais do Superman enviassem seu filho a terra não para fugir de um
planeta moribundo, mas para reinar pela violência? Ou se fosse o filho de Zod? Essas respostas não serão
encontradas aqui (não nesse primeiro filme).
Durante
toda projeção senti uma forte sensação de estar lendo uma daquelas estórias em
quadrinhos que são divididas em uns 12 capítulos e lançadas mensalmente nas bancas.
Esse filme seria os três primeiros números (porque o filme é dividido em 3
atos: sua vida até 12 anos; o descobrimento de quem é; e como ele se torna o
super ser do mal). Quando vi o trailer me lembrei da revista Poder Supremo
feita pela Marvel com temática adulta (foi lançada por aqui com o selo
"Marvel Max"). Uma das melhores estórias em quadrinhos que li e há algo
de parecido: uma nave cai numa fazenda, só que a criança é capturada pelo
governo que o doutrina (lembrou de "Superman - A Foice e o
Martelo"?), logo começam a surgir outros seres numa alusão a liga da
justiça. Pena que a
Marvel cancelou o selo e não mais publicou esta e outras estórias. O
"superboy" da estória de Poder Supremo no início assusta quem cuida
dele: ele mata um animal com sua visão de raios X e não gosta de ser
contrariado. Viu alguma inspiração? Aliás poderíamos dizer que Brightburn se
passaria em uma dimensão paralela aonde a sociedade se tornou distópica (não
deu certo) e os poderosos seres que surgem não são para ajudá-la e, sim, visam
seus próprios interesses.
Se você viu "Precisamos Falar Sobre Kevin" verá como os pais podem
fechar os olhos para um filho com problemas e esse se tornar um psicopata.
Vejo
Brando Breyer (olha as iniciais BB - típica de heróis como Peter Parker, Bruce Banner, Reed Richards) como uma versão do personagem
"Bizarro" do Superman e me pergunto porque levaram tanto tempo para
produzirem um filme com essa ideia. Claro que o momento é dos mais oportunos,
com a proliferação dos filmes de heróis, nada como aproveitar e jogar um
reflexo distorcido desse glamour para o espectador. Talvez algo do tipo: se uma
pessoa tivesse poderes, ele seria íntegro? Usaria seus poderes para ajudar a
humanidade ou "com grandes poderes vem grandes responsabilidades".
Poderíamos tentar refletir porque Brandon (uma homenagem ao ator Brandon Ruth de
Superman: O Retorno?) deve dominar a terra. É uma missão dada a ele ou um "Zod"
que resolveu corromper a esperança como vingança. Espero mesmo que seja feita
uma continuação e que esse filme seja uma trilogia ou quadrilogia nos moldes de
"Corpo fechado", "Fragmentado" e "Vidro. Só no último
exemplar é que entendemos a real ideia por trás da trilogia. Nossa sociedade é
uma boa amostra, quando alguém tem poder como ela se comporta? Muitos se tornam
tiranos, maus, egoístas e egocêntricos. E se essas pessoas tivessem
superpoderes?
Quanto
ao final, há algumas considerações a serem feitas e segue agora uma explicação:
Brando sequestra a mãe da menina e a leva para o seu porão, onde disseca seu corpo
(lembra que ele tinha recortes de mulheres de biquínis e de órgãos humanos) a
colocando ao lado da espaçonave. Após matar os pais e todos que poderiam conhecer seu
segredo, derruba um avião comercial e o direciona à sua casa para que os corpos
ali mutilados deem a entender que ficaram assim com a colisão do avião. No
final, vemos Brandon incendiando locais e derrubando prédios. Vemos também o seu
(um logotipo B duplo que se refere ao seu nome) em uma
plantação (como ocorreu alguns anos em algumas plantações que tinham símbolos
misteriosos que surgiam). Há também um Youtuber (o ator Michael Hooker de
"Guardiões das Galáxias"), chamado Mr. T (seria um Lex Luthor do bem?) advertindo
as pessoas (como alguns vídeos de teorias da conspiração que vemos por aí) e
mostra o desenho de uma bruxa que enforca as pessoas com sua corda (mulher
maravilha e seu laço?), um homem que afunda um navio (Aquaman?), um homem com
uma roupa vermelha e amarela (seria o Flash?) e um homem vestido de verde ou um
ser verde (seria Ajax: O Caçador de Marte?). Esse é um gancho muito
interessante e abre um leque de questionamentos, até porque a estória é centrada
em um único personagem durante quase todo o filme e, agora, percebemos sutilmente
o surgimento de outros seres (todos maus) que estão loteando a terra e estabelecendo
seus domínios. Por isso penso que esse foi um primeiro exemplar de uma estória,
que deve se desenrolar, caso os espectadores gostem ou entendam a ideia por
trás da ideia. O logotipo B duplo, um de frente para o outro, pode significar
exatamente a inversão de tudo, por isso a segunda inicial B (de Breyer) é
escrita ao contrário. Uma sacada dos roteiristas.
Brightburn
é uma proposta criativa a ser vista com um olhar mais apurado, não pelo que
mostra, mas por aquilo que coloca nas entrelinhas. Parece uma sátira sombria,
mas pode ser algo mais. Faltou um pouco mais de luta interior entre o bem e o
mal em Brandon. Apesar de um efeito de maquiagem muito bem realizado, as cenas
são muito fortes, até porque apresentam mutilações, o que deveria elevar a faixa
etária. Quanto aos efeitos, o diretor foi bem criativo ao inverter o que
vínhamos assistindo: na Marvel para mostrar a velocidade de Mercúrio, o mostram
em câmera lenta. Aqui aceleram tanto que vemos apenas um borrão.
Achei bem apropriado. É um filme que pode agradar quem não tinha muitas
expectativas e decepcionar aqueles que o aguardavam com ansiedade. Vejo como
uma produção, ali, no meio termo. Como apresentação de um novo universo considero
um bom filme, mas se o filme se encerra neste exemplar creio que muitos
aspectos deveriam ter sido melhor explorados. Vale a conferida.
Trailer:
Trilha Sonora:
Fireflies in a Steel Mill - The Elected
Our World - Sonny Cleveland
Send Her to Me - Wayne Chance
Heaven - The Paper Chain Gang
Before the Sun Goes Down - Aron Leigh
Bad Guy - Billie Eilish
Our World - Sonny Cleveland
Send Her to Me - Wayne Chance
Heaven - The Paper Chain Gang
Before the Sun Goes Down - Aron Leigh
Bad Guy - Billie Eilish
Curiosidades:
Steve Agee, Michael Rooker, Stephen Blackehart e Terence Rosemore apareceram em "Guardiões da Galáxia Vol. 2"
Elizabeth Banks e David Denman apareceram em Power Rangers (2017).
A versão do Reino Unido é dividida em duas cenas para reduzir imagens fortes e sangrentas, a fim de obter uma classificação '15' anos
As Criaturas Comentas Por Mr. T
Filmografia Parcial:
Elizabeth Banks
Shaft (2000); Homem-Aranha (2002); Prenda-me se for Capaz (2002); Seabiscuit: Alma de Herói (2003); Homem-Aranha 2 (2004); O Virgem de 40 Anos (2005); O Invencível (2006); Homem-Aranha 3 (2007); O Grande Dave (2008); Pagando Bem, que Mal Tem? (2008); W. (2008); 72 Horas (2010); À Beira do Abismo (2012); Jogos Vorazes (2012); O Que Esperar Quando Você Está Esperando (2012); Jogos Vorazes: Em Chamas (2013); Um Passado Sombrio (2014); Um Passado Sombrio (2014); A Escolha Perfeita 2 (2015); Jogos Vorazes: A Esperança - O Final (2015); Power Rangers (2017); A Escolha Perfeita 3 (2017); Brightburn: Filho das Trevas (2019); As Panteras (2019);
David Denman
David Denman
Virando o Jogo (2000); Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas (2003); Quando um Estranho Chama (2006); Número 9 (2007); Imagens do Além (2008); Fanboys (2009); Jogo de Poder (2010); Depois da Terra (2013); Homens, Mulheres e Filhos (2014); O Presente (2015); 13 Horas: Os Soldados Secretos de Benghazi (2016); Power Rangers (2017); O Quebra-Cabeça (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019)
Jackson A. Dunn
Vingadores: Ultimato (2019); Brightburn: Filho das Trevas (2019)
Gregory Alan Willians
A Entrega Mortal (1989); Na Linha de Fogo (1993); S.O.S. Malibu (seriado 1989 a 1998); Duelo de Titãs (2000); Be Cool: O Outro Nome do Jogo (2005); W. (2008); O Colecionador de Corpos (2009); O Poder do Ritmo 2 (2010); Um Cupido no Natal (2010); Jimmy - Um Elo de Amor (2013); Arremesso de Ouro (2014); Gata em Fuga 2 (2014); O Exterminador do Futuro: Gênesis (2015); 90 Minutos no Paraiso (2015); Má Conduta (2016); O Contador (2016); Um Natal Quase Perfeito (2016); Estrelas Além do Tempo (2016); Uma Questão de Fé (2017); Deus Não Está Morto: Uma Luz na Escuridão (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019); The Banker (2019); The Warrant (2020)
Michael
Rooker
Retrato
de um Assassino (1986); Um Tira de Aluguel (1987); Nico - Acima da Lei (1988); Mississipi Em Chamas (1988); Vítimas
de uma Paixão (1989); Dias de Trovão (1990); A Metade Negra
(1993); Risco Total (1993); Tombstone - A Justiça Está Chegando (1993);
Efeito
Dominó (1996); O Massacre de Rosewood (1997); Assassinos Substitutos
(1998); Replicante (2001); O Imbatível (2002); Jumper (2008); Guardiões
da Galáxia (2014); Guardiões da Galáxia Vol. 2 (2017); Vingadores:
Guerra Infinita (2018); Brightburn: Filho das Trevas (2019); Fantasy Island (2020); Velozes e Furiosos 9 (2020)
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