quarta-feira, 12 de setembro de 2018

A FREIRA / THE NUN (2018) - ESTADOS UNIDOS





FEITO PARA DAR SUSTOS
(contém spoilers)

Romênia. Após um aterrador evento, uma freira comete suicídio em uma isolada abadia. Ao tomar ciência dos fatos pelos moradores, o Vaticano resolve enviar o Padre Burke (Demián Bichir), especializado em investigações e exorcismos e Irmã Irene (Taissa Farmiga), uma noviça que ainda não constituiu os votos, pois conheceria o local. Ao chegarem no vilarejo são recebidos por Frenchie (Jonas Bloquet), um franco-canadense que vive no local e a pessoa que encontrou a freira morta. Ao chegarem ao sinistro local, percebem que o mal habita a abadia e que suas vidas estão em eminente perigo.


A Freira é um spin-off (filme derivado) dos sucessos "Invocação do mal I" (2013) e "Invocação do Mal" II (2016) que conta a estória do casal de demonólogos chamados  "Warren" e a direção coube a Corin Hardy, mais conhecido pelo filme "A Maldição da Floresta" (2015). Tendo como produtor James Wann, um nome cada mais vez mais conhecido e admirado no meio, podemos considerar como um selo de qualidade.



Apesar de A Freira ter despertado a curiosidade de sua origem em "Invocação do Mal 2", espertamente, o roteiro optou por fazer uma adaptação que não necessita que o espectador esteja familiarizado com o filme de 2016.  A trama se situa em 1952, logo após a Segunda Grande Guerra (e antes dos filmes citados) onde descobrimos que o mal residiu no local, um antigo castelo habitado por um homem cuja prática era realizar atos profanos, mas fora, na idade média, contido e aprisionado. Quando o trio chega no agora convento de freiras que vivem em clausura absoluta, logo percebem que este mal libertou-se e realidade e ilusão começam a permear os sentidos dos envolvidos. Um mal extremamente perverso e diabólico que, caso consiga sair daquele local, poderá espalhar-se por toda terra, mas que apesar de liberto de sua prisão, ainda não consegue sair dos limites que cercam a abadia. E aí começa o bom o roteiro. O local era profano e foi transformado em local "santo". A guerra chegou até a Romênia e entre todos os males que essa Grande Guerra causou, foi ironicamente, agora, libertar não um mal do coração humano, mas um mal absoluto. Um ser das trevas que aguardava milênios por uma chance de se espalhar. Hardy soube conduzir uma bem desenvolvida mitologia  a partir de sua aparição em "Invocação do Mal 2".



Corin Hardy soube brincar muito bem com as luzes e sombras, aproveitando a bela fotografia de Maxime Alexandre ("Annabelle 2: A Criação do Mal") que imprime tons quase acinzentados, dando às cenas o ar de local tenebroso. Optar por filmar na Romênia trouxe uma atmosfera mais apropriada ao gênero, além de baratear significativamente os custos da produção. Há quem critique muito os "jump scares" (os famosos "pulos e sustos" que provocam gritos), mas esta franquia prova que sabendo o momento certo para se utilizar, pode ser um recurso dos mais importantes, em um filme de terror religioso, uma categoria que assusta muita gente. Outro aspecto a ser analisado é que a figura da Freira (Bonnie Aarons reprisando seu papel) e suas "aparições" poderia estragar toda expectativa criada, destruindo uma franquia que vinha oxigenando o gênero. E não faz feio. Hardy coloca a entidade num jogo de gato e rato, em momentos bem criativos, com direito a cruzes em profusão, crucifixos invertidos, rostos escondidos, escuridão, ataques repentinos, longos corredores escuros e bons movimentos de câmera. Mesmo o espectador mais calejado em evitar as cenas de susto poderá ser pego em uma ou duas cenas.


E as sutilezas estão ali quando percebemos que as duas mulheres que confrontaram a entidade possuem dons clarividentes: Irene (Taissa Farmiga) no passado e Lorraine Warren (Vera Farmiga) no "futuro". Aliais Tassia é a irmã mais nova de Vera na vida real. A roupa branca de Irene é outro ponto, um aspecto que nos conduz a percepção de pureza constrando ao impuro. É a terceira aparição da Freira, após "Annabelle 2" (2017). E James Waan com certeza tem muito cuidado com seus filmes, mesmo atuando como produtor e isso é essencial para que não perca o rumo como aconteceu com, por exemplo, a franquia "Alien". E hardy revelou que Waan dirigiu algumas externas.

O elenco está ótimo: Taissa Farmiga (do seriado American Horror Story) conseguiu passar aquela imagem de meiguice, inocência, medo e pavor que um filme necessita. Sua personagem começa frágil, meio (propositadamente) perdida e vai ganhando a força que o roteiro exigiu.  O ator mexicano Demián Bichir (de "Os Oito Odiados") encarna muito bem um Padre que, no passado, cometeu um erro que lhe persegue desde então. O ator belga Jonas Bloquet está bem funcionando com a válvula de escape cômica que o filme precisava. Sua boa atuação e o bom roteiro impediram de estragar o filme com esse artifício que às vezes pode dar muito errado.


A Freira é um um bom exemplar em um gênero que vinha cambaleando, com produções isentas de criatividade. Traz um sopro de vida através de um James Wan que atua às vezes como produtor ("Invocação do Mal  I e II"; "Sobrenatural I e II") e como diretor (de "Jogos Mortais I", "Velozes e Furiosos 7", "Aquaman"). Resta esperarmos por um "Invocação do Mal 3", já anunciado, e sabermos se a estória se encerrou por aqui, ou, futuramente, poderemos ter um novo confronto com o casal Warren, pois há um hiato, que alguns perceberão,  a ser explicado entre esse filme e os filmes dos Warren. O mais interessante que os dois filmes "Invocação do Mal" intitulam-se como baseados em fatos reais. Logo "A Freira" seria uma estória real? Dessa vez, conforme os envolvidos, trata-se de apenas um (belo) exercício de imaginação.

Trailer:




Curiosidades:

Orçado em $22.000.000

Em "Invocação do Mal  2" (2016), foi revelado que o nome real da "Freira-Demônio" seria Valak.

Os eventos acontecem antes de Annabelle: A Criação (2017), tornando-se o primeiro filme (cronologicamente) na série de filmes.

O verdadeiro nome da freira - Valak - pode ser visto na placa de registro no veículo do aldeão local pouco antes de o padre Burke, a irmã Irene e Frenchie partirem para a abadia e no parquinho onde encontramos pela primeira vez a irmã Irene no playground

O filme estava programado para chegar aos cinemas americanos em meados de julho de 2018, mas foi adiado para o halloween de setembro, na esperança de ter o mesmo sucesso nas bilheterias de It: A Coisa (2017) no ano passado, que arrecadou mais de US $ 700 milhões.    

Música: "You Belong to Me" - Jo Stafford  

SPOLIER (NÃO LEIA SE NÃO VIU AINDA O FILME)
No final de A Freira, uma cena de "Invocação do Mal" é mostrada onde Ed & Lorraine (os Warren) estão realizando um exorcismo em Maurice. Esta cena ligaria o Maurice daquele vídeo como sendo o mesmo Maurice de A Freira, mas eles editaram a cena para se encaixar na narrativa: eles editaram o ator Jonas Bloquet na cena do exorcismo. E como ele fora feito  por um ator diferente,  acrescentaram um diálogo de Ed dizendo "chamavam-lhe Frenchie", para fazer uma conexão melhor.  

Bonnie Aarons

 









  

Filmografia Parcial:
Taissa Farmiga

 











Regressão (2013); Terror nos Bastidores (2015); No Vale da Violência (2016); A Freira (2018); História de Horror Americana  (seriado 2011 a 2018); We Have Always Lived in the Castle (2018); A Mula (2018)

Demián Bichir
 











  

Hotel Colonial (1987); O Penitente (1988); Miroslava (1993); Ninguém Falará de Nós Quando Estivermos Mortos (1995); Sexo, Pudor E Lágrimas (1999); Ave María (1999); Sem Notícias de Deus (2001); Che: O Argentino (2008); Che 2: A Guerrilha (2008); Hidalgo - A História Jamais Contada (2010); Selvagens (2012); A Recompensa (2013); Machete Mata (2013); Os Oito Odiados (2015); Alien: Covenant (2017); Walden: Life in The Woods (2017); A Freira (2018); Chaos Walking (2019)

Jonas Bloquet
 

 













Tonnerre (2013); A Família (2013); 3 Dias Para Matar (2014); Elle (2016); Valerian e a Cidade dos Mil Planetas (2017); A Freira (2018)  



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