OS HORRORES QUE UMA GUERRA PROVOCA
Polônia,
dezembro de 1945. Mathilde Beaulieu (Lou de Laâge ) é uma jovem médica francesa a
serviço da Cruz Vermelha Internacional onde presta serviços apenas à
sobreviventes franceses, antes destes voltarem a sua terra natal. Sua rotina é
mudada com a chegada de uma freira polonesa que lhe solicita ajuda. A princípio
Mathilde recusa
(mesmo porque não entende o idioma do país), mas acaba seguindo com a jovem
freira ao convento beneditino. Ao chegar descobre um segredo terrível: durante
a ocupação russa o local foi invadido
por soldados e 30 freiras foram atacadas. O resultado é que várias encontram-se
grávidas e próximas de dar a luz sem nenhuma assistência. O segredo não pode
sair daquelas paredes. Mathilde resolve cumprir sua missão durante as
madrugadas em que descansaria. A época é conturbada e parte do exército russo
ainda se encontra nas redondezas e até sua integridade poderá estar em risco.
A Segunda
Guerra Mundial ocorreu entre 1 de setembro de 1939 a 2 de setembro de 1945. O
país foi um dos que mais sofreram. Hitler e Stalin queriam dividir a Polônia.
Os principais campos de concentrações se encontravam no país: Auschwitz,
Belzec, Chelmno, Maidanek, Sobibor e Treblinka. Oficiais e cidadãos comuns foram executados.
A chegada
da União Soviética, com seu Exército Vermelho, em janeiro de 1945, terminou com
o terror nazista, mas a Polônia assistiu a chegada do stalinismo. É Nesse
contexto que o filme se situa. Mas não foi apenas na Polônia que houve soldados
russos praticando estupros. Quem assistiu ao filme “Anonyma - Uma Mulher em Berlim” (baseado em
livro) viu as consequências da chegada do exército russo na Alemanha derrotada.
Outra produção que aborda o tema é “O Massacre de Nanquin” quando o exército
japonês invadiu a China. Até hoje o tema sucinta polêmicas nos dois países.
Agnus de
Deus é uma produção franco-polonesa com um tema sempre espinhoso: o estupro em
tempos de guerra e a marca física e psicológica que imprime em suas vítimas. É,
antes de tudo, um drama denso. Não esperem atuações arrebatadoras ao estilo
hollywoodiano ou diálogos com frases cheias de tiradas. O cinema europeu é bem
diferente e aqui isso pode ser bem percebido. O argumento é tratado do ponto de
vista de Mathilde Beaulieu. Mathilde não é uma religiosa e sua visão do mundo
é diferente das que ali estão. Há uma diferença de crenças, por outro lado há a
questão da fé também sendo posta à prova por algumas das freiras. O trauma por
que passaram lhe mostraram um outro mundo. Um mundo da qual tinham se isolado por
vontade própria (clausura), mas a guerra produz monstros mais terríveis do que a
ficção e ninguém está imune. Um tema de difícil análise e sempre muito doloroso
de se tocar.
Um dos
trunfos dessa produção foi colocar a direção em mãos femininas. Só a sensibilidade
feminina consegue tocar determinados temas com a delicadeza necessária, um
olhar mais apurado, onde as relações, crenças e valores vão sendo mostradas aos
poucos. Personalidades vão sendo reveladas ao público: cada uma das vítimas tem
um olhar sobre o episódio e nem todas mantém uma fé inabalável como antes. Ser
mãe nessas condições absurdas é algo dificílimo para qualquer mulher, para
freiras que vivem em um sistema de regras rígidas, onde apenas verão essas
crianças por algumas horas é uma duplo sofrimento.
A diretora
Anne Fontaine teria se baseado no diario de Mathilde que ficara
de posse da família. E os aspectos retirados daquelas páginas são inúmeros:
dor, humilhação, revolta, aborto, suicídio, abalo na fé, reforço da fé. Não que
Agnus Dei (que significa Cordeiro de Deus em latin) seja uma obra prima. É um
filme até certo ponto pesado, não nas imagens, que a diretora habilmente preferiu
não mostrar, mas na condução da história. Tudo vai de uma forma lenta, mas não se
exime de ser reflexiva. Se faltou mais ritmo à obra, sobrou sensibilidade e uma
narrativa que prende o espectador.
O elenco é,
em quase sua totalidade, composto de mulheres o que faz até muito sentido,
visto que a história é centrada nelas. O único papel de destaque masculino está
na figura de um médico francês (Vincent
Macaigne) que deseja Mathilde. A falta de química, ao meu ver, entre os atores, dificultou
este aspecto no filme e poderia ser completamente suprimido que não faria
falta. Se a intenção era mostrar Mathilde como uma mulher com um relacionamento
frio ainda assim ficou a dever.
As atrizes
poloneses estão ótimas. Cada uma transmite uma expressão diferente, tem uma
visão distinta da vida e isso é demonstrado apenas por rostos atrás de uma
batina. E tudo funciona a contento. Destaque para Agata Kulesza como a madre
superiora e para Agata Buzek como uma das freiras que descobre outro segredo perturbador.
A
fotografia acinzentada de Caroline Champetier se adequou bem. A reconstituição
apurada nos remete à época. Há varias aspectos positivos nessa produção.
Agnus Dei é
um filme denso, de inúmeras qualidades sem dúvidas, mas não é para qualquer
tipo de público. Não é uma produção movimentada, não tem atores conhecidos, mas tem
atuações que chamam a atenção. As atrizes estão quase todas no mesmo nível, excetuando-se
as três personagens principais. Essa homogeneização de atuações contribuiu para o filme funcionar.
Nada da atriz principal exigir as melhores falas. Aqui é o conjunto que
funciona. É uma produção sem efeitos, sem altos custos, mas bem realizada. Indicado
aos que gostam de produções mais cadenciadas, para os que gostam de aspectos desconhecidos
da Segunda Grande Guerra e para amantes dos raríssimos filmes de arte que ainda
surgem vez por outra no mercado brasileiro.
Trailer:
Curiosidades:
A diretora
esteve no Brasil para divulgar seu filme anterior: Gemma Bovery.
A atriz Adèle Haenel foi a primeira escolha para o papel de Mathilde.
A diretora encontrou a atriz Agata Kulesza na Polônia por ser uma admiradora, mas não via nela a personagem da Madre Superiora por ter um tipo muito sexy. Kulesza achou engraçado e perguntou se podia colocar um véu e ler uma cena. Em seguida ganhou o papel.
A diretora Anne Fontaine descobriu Agata Buzek no filme "Redenção" (2013), onde contracena ao lado de Jason Statham.
O filme custou $6.400.000,00 e arrecadou em torno de $7.400.000,00
A atriz Adèle Haenel foi a primeira escolha para o papel de Mathilde.
A diretora encontrou a atriz Agata Kulesza na Polônia por ser uma admiradora, mas não via nela a personagem da Madre Superiora por ter um tipo muito sexy. Kulesza achou engraçado e perguntou se podia colocar um véu e ler uma cena. Em seguida ganhou o papel.
A diretora Anne Fontaine descobriu Agata Buzek no filme "Redenção" (2013), onde contracena ao lado de Jason Statham.
O filme custou $6.400.000,00 e arrecadou em torno de $7.400.000,00
Filmografia Parcial:
Lou de Laâge
Aconteceu em Saint-Tropez (2013); Jappeloup (2013); Respire (2014); A Espera (2015); Agnus Dei (2016).
Agata Buzek
Valerie (2006); Paparazzo (2007); Father, Son & Holy Cow (2011); Lena (2011); Redenção (2013); Fotograf (2014); 11 Minutos (2015); Agnus Dei (2016).
Agata Kulesza
Ida (2013); Secret Wars (2014); Agnus Dei (2016); I'm a Killer (2016); True Crimes (2016); Budapest Diaries (2017).
Lou de Laâge
Aconteceu em Saint-Tropez (2013); Jappeloup (2013); Respire (2014); A Espera (2015); Agnus Dei (2016).
Agata Buzek
Valerie (2006); Paparazzo (2007); Father, Son & Holy Cow (2011); Lena (2011); Redenção (2013); Fotograf (2014); 11 Minutos (2015); Agnus Dei (2016).
Agata Kulesza
Ida (2013); Secret Wars (2014); Agnus Dei (2016); I'm a Killer (2016); True Crimes (2016); Budapest Diaries (2017).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre