quarta-feira, 27 de julho de 2016

O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN / LE FABULEUX DESTIN D' AMÉLIE POULAIN (2001) - FRANÇA / ALEMANHA






LEGIÃO DE ADMIRADORES


Amélie Poulain é uma jovem solitária que tem uma dificuldade de se aproximar das pessoas. Super protegida na infância, a ponto de não poder ir a escola, perdeu a mãe ainda criança e foi criada por um pai responsável, mas praticamente nulo em afeto. Ela trabalha como garçonete em um café / restaurante no bairro idílico de Montmartre  (onde realmente foi filmado). Certo dia descobre, na parede de casa, através de um azulejo quebrado, uma caixa contendo pertences de uma antiga criança que morou no local. Ela decide descobrir o dono da misteriosa caixa e faz uma promessa a si mesma: caso o encontre o dono e este fique emocionado, ela mudará a vida das pessoas à sua volta. Amélie encontra um homem na casa dos 50 anos e faz com que este receba seu tesouro de volta. Diante da emoção apresentada pelo senhor, a jovem decide cumprir sua promessa. 





Com 13 indicações ao Cesar francês e 5 indicações ao Oscar “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” colheu críticas diversas onde foi exibido: moderadas dos críticos e exaltadas de uma enorme parcela do público, tornando-se cult. Mas o que esta comédia romântica possui de tão incrível que chegou a ter comentários entusiasmados dos então Primeiro Ministro da França, Lionel Jospin e do  Presidente Jacques Chirac?  Há uma legião de sites e blogs explicando, de modo entusiástico, o motivo e alguns fóruns com pessoas que não acharam tudo isso. Está na seleção dos 1000 Melhores Filmes pelo NY Times e sempre é citado em listas de filmes a serem vistos. Podemos citar alguns motivos: a atuação da atriz Audrey Tautou como Amélie; a excelente trilha de Yann Tiersen; as histórias paralelas que são apresentadas; as cores utilizadas no filme como palhetas de um pintor de quadros surrealistas; a ingenuidade e criatividade do roteiro e a visão positiva que o filme traz. Enfim, há tantas informações que deixaria de ser uma resenha e se transformaria em um longo artigo. Mas vou tentar dissecar um pouco do filme.




Podemos começar com o ótimo roteiro de Guillaume Laurant e Jean-Pierre Jeunet (também responsável pela direção) narrado em tom de fábula, um conto de fadas. O diretor Jeunet esteve a frente de produções conhecidas por quem assiste filmes europeus como  “Delicatessen” (1991) e “Ladrão de Sonhos” (1995), além do americano “Alien - A Ressurreição” (1997). Aqui ele acertou a mão e realizou um filme acima da média (claro que não para todos e vou explicar o porquê posteriormente). A história de Amélie já daria um filme muito interessante, mas há histórias paralelas com personagens muito interessantes e bem desenvolvidos pelo roteiro e direção. De acordo com que o filme avança, Amélie começa a interagir com seus excêntricos amigos que compartilham o seu dia a dia: uma mulher hipocondríaca, outra largada pelo marido, um cego, um pintor recluso, um poeta falido, a dona do restaurante, um feirante nada simpático e seu ajudante que sofre em suas nas mãos de forma tirânica, seu pai que vive em casa e não aproveita a vida, além de um pretenso namorado com quem a protagonista se envolve. Amélie mudará a vida de cada um desses personagens de uma forma leve, imaginativa e muito divertida.



As cores tem o seu papel no filme: o vermelho é o tom dominante, seja na roupa de Amélie, nos créditos iniciais, nas cadeiras do cinema, na roupa do pintor ou num chapéu (bem destacado). É o uso das cores para mostrar o sentimento de um (uns) personagem (ens) em cena ou a própria personalidade da protagonista naquele momento. Por isso vemos cores intensas como o amarelo, o verde e o laranja. Esse uso de cores, digitalmente acentuada, deu um certo caráter de história em quadrinhos (franceses) e parece muito com personagens que habitam a nona arte. Essa forma “artificial” da qual se utiliza Jean-Pierre Jeunet é considerado um ponto forte, por ser realmente inventivo, onde o espectador precisa, às vezes, de uma segunda olhada no filme para perceber detalhes como esse. Nas cenas do bar sempre aparecem pessoas de verde, amarelo e vermelhas. Às vezes, juntas, em destaque ou ao fundo. O espectador verá que em quase todas as cenas do filme essas cores se encontram, além do azul (mais discretamente), basta utilizar sua atenção seletiva.


 




Quanto ao elenco não há como não percebermos o corte Chanel da personagem ao estilo Louise Brooks (A Caixa de Pandora). Novamente Louise parece continuar influenciando, mesmo depois de sua morte, cineastas e artistas. Audrey Tautou (O Código Da Vinci) transita com sua felicidade por uma Paris igualmente alegre, de vizinhança simpática e de belas ruas e calçadas. Falar sobre todos os atores tornaria este tópico gigantesco, logo podemos citar alguns atores conhecidos como Jamel Debbouze (de Hollywoo) como o maltratado Rufus; Clotilde Mollet (de Intocáveis) como a garçonete Gina; Yolande Moreau (de O Novíssimo Testamento), a mulher largada pelo marido e Dominique Pinon (de Alien - A Ressurreição e Delicatessen) na pele do ciumento Joseph. Além dos citados, os demais se saem muito bem com papéis bem delineados e engraçadíssimos. Até a narração em off, que costuma causar ojeriza em algumas pessoas, foi uma decisão acertada servindo de fio condutor da história.


A trilha sonora composta por Yann Tiersen é um achado. Suas composições são de muitíssimo bom gosto. Composições clássicas que são utilizadas perfeitamente para cada cena. Novamente vemos como alguns aspectos casaram dentro do filme. Anteriormente eram as cores, agora são as melodias rápidas, lentas e alegres, mas todas inspiradíssimas. O que não falta são postagens no YouTube com as músicas do filme, mais uma prova de seu sucesso.



Não poderia deixar de citar o tom surreal da história, recheado ao longo do filme e que se adaptou agregando valor à obra. Temos os gritos de casais, no ato sexual, imaginado por Amélie; ela vê sua vida como que sendo narrada em uma tv que a critica por conduzi-la de forma tão monótona e abstrata. Temos o pretenso namorado de Amélie, como um sujeito que cata recortes de fotos, em especial, de uma pessoa que julga ter algum mistério. Ele mesmo trabalha em um lugar privé que funciona como clube de streap tease, videolocadora (sim são os famosos VHS ou, comumente conhecidas como, fitas de vídeo) e ainda trabalha em um parque de diversões. Fora os quadros que falam e o abajur que cria vida no estilo Toy Story. O leitor desta postagem deve estar pensando: Esse filme é para malucos! Mas aí é que entra a grande magia do cinema: alinhar diversos elementos díspares entre si e colocá-los de forma harmoniosa, de um jeito que tudo se encaixe e não pareça tão louco quanto aqui descrito. Isso é fazer cinema: pegar situações, personagens e trabalhá-los trazendo algo diferente ao espectador e “O Fabuloso Destino...” cumpre esse papel. Amélie mostrando ao cego, através de descrições do local por que passam dá, a este e ao espectador, a mensagem poderosa que mesmo onde há infelicidade pode-se colocar a visão de felicidade, bastando a pessoa ter um outro olhar diante da situação. É a mudança de perspectiva ou paradigma. É a visão de que a “moeda” tem dois lados.



Agora vamos a parte que desagradou alguns. Sim, o filme pode, para parte da plateia, ser excessivamente longo e  15 minutos a menos poderiam torná-lo mais dinâmico (mas poderia comprometer a história). O surrealismo nem sempre agrada a todos e algumas pessoas preferem o realismo ao conto de fadas. Absolutamente normal. O romance de Amélie e Nino terminou por ficar um pouco em segundo plano, diante dos ricos personagens e situações expostas, sendo mais dinâmico perto do final. De certa forma comprometeu o filme? Não, mas me passou uma química pouco presente entre a dupla que os outros personagens suprimiram. No fim das contas o filme quer passar apenas um pouco de felicidade e astral elevado, onde Amélie tenta encontrar o sentido de sua vida, dando sentido e esperança à vida de outras pessoas e um amor para toda vida. Um alguém muito parecido com ela.


O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme inesquecível para uns, interessante ou pouco atraente para outros. E sim, pode ser tudo isso. Um filme nunca agradará a todos. Os gostos são diferentes e não há problemas nisso. A conformidade é o maior problema e “Amélie Poulain” saiu da zona de conforto da maioria das produções e deu a cara a tapa. Independente de tudo, acredito que deva ser assistido porque há vários outros tesouros escondidos dentro dessa obra esperando  espectador mais sagaz descobrí-los.

Trailer:




Curiosidades:

Gravado no Cafe des Deux Moulins, em Montmartre, norte de Paris. O lugar hoje virou ponto turístico por causa do filme. 

Conforme reportagem do site cinema.uol, de maio de 2015, as cores vibrantes foram inspiradas nos quadros do pintor catarinense  Juarez Machado que vive em Paris há mais de 30 anos e é amigo do diretor. O pintor revela que o filme "Eterno Amor" (Un Long Dimanche de Fiançailles), de 2004, também recebeu influência de seus quadros.

O papel foi inicialmente escrito para a atriz Emily Watson  quando o diretor a viu no filme  "Ondas do Destino" (1996), dirigido pelo cineasta Lars Von Trier (Fonte: DVDteca Folha).

O título do filme é uma homenagem ao filme "Le Destin Fabuleux de Desireé Clary" (1942), de Sacha Guitry, que o diretor leu o título em um guia de cinema. 

(Fonte: DVDteca Folha).

Indicado ao Oscar nas categorias: Filme Estrangeiro, Roteiro Original, Fotografia, Direção de Arte e Som.


Filmografia Parcial:

Audrey Tautou
Instituto de Beleza Vênus (1999); O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001); Pelo Amor de Deus! (2001); Albergue Espanhol (2002); O Código Da Vinci (2006); Amar não Tem Preço (2006);Coco Antes de Chanel (2009);O Enigma Chinês (2013).

Jamel Debbouze

Pai de Aluguel (1996); O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001);  Asterix e Obelix: Missão Cleópatra (2002); Elas Me Odeiam, Mas Me Querem (2004); Um Anjo da Guarda (2005); Dias de Glória (2006); Asterix nos Jogos Olímpicos (2008); Enquanto o Sol Não Vem (2008); Fora da Lei (2010); Hollywoo (2011); A Marcha (2013); A Incrível Jornada de Jacqueline (2016); Alad'2 (2018)


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