PRODUÇÃO SUBESTIMADA
No ano de 922 o poeta e cortesão árabe Ahmed Ibn Fahdlan
(Antonio Banderas) se envolve com a esposa de um influente cidadão, sendo
exilado e enviado a terras longínquas do norte, como um embaixador, acompanhado
de seu tio Melchisidek (Omar
shariff). Durante a viagem, sua caravana
é perseguida por tártaros que recuam ao perceberem estarem próximos a Vikings. Por
conhecer o idioma grego, Melchisidek consegue manter um diálogo com o nórdico Herger, até que todos são surpreendidos
por uma embarcação na qual um jovem solicita ajuda a seus conterrâneos para
combater um mal sobrenatural que não pode ser falado em voz alta e que vem
dizimando sua aldeia. Uma vidente informa ao líder Buliwyf (Vladimir Kulich)
que treze homens devem se juntar para derrotarem o que vem assolando a distante
terra, mas há algo mais: o 13º guerreiro deve ser um estrangeiro. Melchisidek
informa a Ahmed (batizado de Iben pelos Vikings) que ele será o escolhido e que
devem partir o mais breve possível. “Iben” e os nórdicos terão que defender o local
com a própria vida de algo que nem ao menos conhecem.
O 13º Guerreiro foi um filme complicado em sua concepção:
o diretor John McTiernan já havia alcançado reconhecimento em filmes de ação
como “O Predador” (1987); “Duro de Matar”
(1988) e “Duro de Matar 3” (1995), mas ao resolver filmar o livro de Michael
Crichton (1942–2008) de obras como “O Enigma de Andrômeda”; “Jurassic Park: O
Parque dos Dinossauros”; “Sol Nascente” ;”Assédio Sexual”... não tinha ideia da
dor de cabeça que teria. O filme fora
produzido em 1997 e tinha o título de ”Eaters of the Dead” (“Devoradores de Mortos”),
mas o público teste reagiu negativamente. Michael Crichton assumiu como diretor,
refazendo várias cenas importantes, com o filme recebendo um novo título. O orçamento
que seria de 85 milhões, pulou para 110-115 milhões e com os custos
promocionais teria, especulam, chegado a 160 milhões, tornando-se um dos filmes
mais caros até sua estreia. A produção sofreu nas mãos da crítica especializada, que massacrou o filme, obtendo apenas 32 milhões nos EUA e 61 milhões em renda global. Ainda que os produtores aleguem que o filme tenha custado, em sua totalidade,
90 milhões, este não se pagou.
O filme vinha com Antonio Banderas (em ascensão) e Omar
Sharif (um ator muito admirado e respeitado) em rápida aparição; o livro era um
sucesso e o diretor tinha filmado um dos grandes filmes de ação dos anos 80, que
elevaria Bruce Willis ao patamar dos heróis de filmes de ação. Mas o filme
apresentava algumas falhas em sua narrativa e falta de explicação em outros
momentos. Exemplos: muitos disseram que o aprendizado do norueguês por “Iben” seria algo difícil de acontecer, mas é preciso saber que o filme não explica que
foram meses de convívio com seus amigos nórdicos até chegarem em terras escandinavas
(o filme, erroneamente, insinua que a viagem de navio durou apenas
alguns dias). Outro aspecto que levanta dúvidas é como os Wendols (que dizem,
que no livro, seriam descendentes de Neandertais), uma tribo bárbara e
involuída, vivendo em cavernas, conseguia realizar um ataque com cavalaria (aonde
estavam os cavalos? Aonde fabricavam selas e estribos?) com uma estratégia eficiente
de combate. E o próprio “Iben”, um
poeta, e não um guerreiro, que consegue lutar e sair menos ferido que os
experientes Vikings (temidos por sua fúria e violência em combate). Para um
filme que sofreu várias mudanças e acréscimos de cenas, sendo praticamente
terminado às vésperas de seu lançamento (foi a falta de tempo?), deveriam ter
observado melhor alguns aspectos.
Há, porém, pontos positivos a serem observados: o filme
tem um ritmo bem interessante, que vai crescendo aos poucos; nos revela um
pouco dessa cultura desconhecida da época no ocidente; evita um retrato estereotipado
dessa civilização; as cenas de batalhas
são boas; os códigos de conduta Viking apropriados e o mistério em torno
das “criaturas sobrenaturais” é resolvido com lógica, além da forma como cada
personagem enfrenta sua sorte. McTiernan não investiu muito no choque de
culturas, mas deixou fragmentos perceptíveis, como um árabe relutante se
adaptando a uma cultura díspar a sua e os nórdicos reconhecendo um homem de
valor junto a eles, além de “Iben” ser o representante da chegada de uma nova
era (civilização) em detrimento da antiga (a dos Wendols). Junto a isso tempos
boas locações, uma trilha sonora que chama a atenção, de Jerry Goldsmith (Graeme
Revell compôs uma trilha sonora original completa, mas com a chegada de Crichton
e a mudança de título do filme Goldsmith passou a ser a escolha definitiva), e
uma direção de arte inspirada.
O 13º Guerreiro é um daqueles filmes que divide os espectadores. Há os que veem o filme como uma fraca aventura e outros que se divertiram muito com um filme que não procura levar à reflexão, apenas ao entretenimento. É um filme subestimado, que foi prejudicado por vários aspectos. Diz ser baseado nos escritos do verdadeiro Ahmed Ibn Fahdlan, como as histórias do lendário Bewolf, mas “há controvérsias”. Um filme, candidato a épico, que ficou, no fim das contas, apenas como um passatempo divertido e simpático.
Trailer
Curiosidades:
De acordo com o livro, a versão de John McTiernan da mãe de Wendol era uma velha, interpretada pela veterana atriz Susan Willis. Quando Michael Crichton assumiu e fez as refilmagens, ele decidiu que matar brutalmente uma velha senhora não refletia muito bem nos heróis. Crichton decidiu torná-la mais jovem, mais elegante e mais resistente. No lançamento final, a mãe de Wendol é interpretada por Kristen Cloke (sem créditos), mas os créditos finais ainda listam Susan Willis como a mãe de Wendol.
O histórico Ahmed Ibn Fadlan diz que viajou como um emissário para a terra dos búlgaros do Volga para convertê-los ao Islã. Em seu caminho, ele encontrou turcos na Ásia Central e russos e varangianos (vikings do Volga). Ele voltou em 923, e nenhum registro após esta data se refere a ele.
O romance original, "Eaters of the Dead", tornou-se parte de um dos mais notórios embustes nos Círculos de Biblioteconomia. O Manuscrito Ahmad Tusi, que a bibliografia diz ser a fonte do romance, é totalmente inventado. O nome do tradutor, Fraus Dolus, é formado por duas palavras latinas que significam 'hoax' e 'fraude'. Desde que o romance foi publicado em 1976, a Universidade de Oslo, onde este manuscrito deveria ser mantido, enviou cartas dizendo aos inquiridores que eles foram vítimas de uma fraude.
Um dos navios Viking usados no filme está agora no pavilhão norueguês no EPCOT Center no Walt Disney World, onde é usado como playground para as crianças. A Disney possui a Touchstone Pictures.
Herger (Dennis Storhøi) Quase se afogou na seção subaquática. Antonio Banderas pulou na água e tirou Dennis Storhøi da água e salvou sua vida.
Adaptando "Beowulf" para seu romance e, em seguida, para este filme, Michael Crichton mudou alguns dos nomes originais para aqueles que soavam semelhantes: Beowulf é aqui chamado de Buliwyf, Hygelac se torna Hyglak, o Grendel se transforma em Wendol, etc.
Quando Ibn Fahdlan e Melchisidek entram na tenda no início do filme, Melchisidek fala grego, o que acaba levando a uma conversa com o viking Herger. Embora Herger obviamente entenda grego, ele responde em latim, que Melchisidek entende. No século 10, não havia nenhuma conexão oficial entre a Escandinávia e Bizâncio. Embora não seja explicado como um nórdico pode entender latim e grego, Herger pode ter aprendido os idiomas participando dos ataques viking na Rússia moderna (onde as primeiras cenas são filmadas), e ao sul para o que era então o Império Bizantino . A língua dominante do reino era o grego, com o latim como segunda língua. Os vikings fizeram pelo menos uma tentativa de conquistar Constantinopla, capital do Império Bizantino.
As armas de arremesso Wendols são baseadas no Plumbata Romano. O Plumbata substituiu o Pilum romano (lança de arremesso) no início do século IV nos Exércitos Legionários.
Na versão original de John McTiernan, não houve duelo final entre Bulywyf e o líder dos Wendol.
Vagamente baseado no poema épico anglo-saxão, "Beowulf", cujo autor é desconhecido.
A ideia de 13 guerreiros é tirada dos mitos escandinavos sobre o rei dinamarquês Hrolf Kraki. Reza a lenda que Hrolf Kraki tinha uma comitiva de 12 guerreiros (como Buliwyf no filme) e em algumas versões, um deles é Bödvar Bjarki, um herói que partilha paralelos com o herói Beowulf. Alguns estudiosos sugeriram que a história de Bödvar Bjarki é simplesmente outra versão da história de Beowulf.
O diretor Stuart Gordon comprou pela primeira vez os direitos do livro de Michael Crichton no início dos anos 1990 e gerou muito interesse no projeto, antes que Martha Coolidge se interessasse antes que John McTiernan fosse contratado para dirigi-lo.
Depois que Buliwyf mata o outro herdeiro aparente, a frase "Så du tennene på henne?" é ouvido falado em segundo plano. Isso é norueguês e se traduz como "Você viu os dentes dela?"
O Livro:
Trilha Sonora:
Cartazes:
Filmografia Parcial:
Antonio Banderas
Labirinto de Paixões (1982); Matador (1986); A Lei do Desejo (1987); Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (1988); Baton Rouge (1988); A Paloma Branca (1989); Ata-me (1989); Os Reis do Mambo (1992); A Casa dos Espíritos (1993); Filadélfia (1993); Entrevista Com o Vampiro (1994); A Balada do Pistoleiro (1995); Assassinos (1995); Nunca Fale com Estranhos (1995); Quero Dizer que Te Amo (1996); Evita (1996); A Máscara do Zorro (1998); O 13º Guerreiro (1999); Prenda-me se Puder! (1999); Pequenos Espiões (2001); Femme Fatale (2002); Pequenos Espiões 2: A Ilha dos Sonhos Perdidos (2002); Frida (2002); Pequenos Espiões 3-D: Game Over (2003); Era Uma Vez no México (2003); A Lenda do Zorro (2005); Vem Dançar (2006); Cidade do Silêncio (2006); O Amante (2008); Jogo Entre Ladrões (2009); A Pele que Habito (2011); O Príncipe do Deserto (2011); Machete Mata (2013); Os Mercenários 3 (2014); Agente do Futuro (2014); Os 33 (2015); Altamira (2016); Stoic (2017), Borboleta Negra (2017)
Omar Sharif (1932 - 2015)
Lawrence da Arábia (1962); Gengis Khan (1965); Doutor Jivago (1965); A Noite dos Generais (1967); Funny Girl - A Garota Genial (1968); Sementes de Tamarindo (1974); Funny Lady (1975); Ashanti (1979); Top Secret! Super Confidencial (1984); Montanhas da Lua (1990); O 13º Guerreiro (1999); Mar de Fogo (2004)
Clive Russell
O Poder de um Jovem (1992); A Nação do Medo (1994); Tempo de Inocência (1999); O 13º Guerreiro (1999); O Violinista que Veio do Mar (2004); Rei Arthur (2004); Livro de Sangue (2009); Fim da linha (2009); Sherlock Holmes (2009); O Lobisomem (2010); O Homem de Palha (2011); Sherlock Holmes: O Jogo de Sombras (2011);Thor: O Mundo Sombrio (2013); O Jovem Messias (2016); Game of Thrones (seriado 2013 e 2016).
Vladimir Kulich
O Grande Terremoto de Los Angeles (1990); Necronomicon - O Livro Proibido dos Mortos (1993); Crackerjack (1994); Escorpião Vermelho 2 (1994; Crash (1995); O 13º Guerreiro (1999); Sangue e Honra (2011); O Protetor (2014); Cão Selvagem (2017); O Cobrador de Dívidas (2018); The Debt Collector 2 (2020)
Lobos (1981); F/X: Assassinato sem Morte (1986); Ironweed (1987); Bird (1988); Chicago Hope (seriado 1994 a 1995); Os Três Desejos (1995); Fogo Contra Fogo (1995); O Substituto (1996); Romeu + Julieta (1996); O Chacal (1997); Crime Verdadeiro (1999); O 13º Guerreiro (1999); Hamlet: Vingança e Tragédia (2000); Correndo Contra o Tempo (2000); Megiddo (2001); À Beira do Abismo (2004); Páginas de uma Vida (2005); Stiletto - A Vingança Nunca Foi Tão Doce (2008); O Pequeno Hércules (2009); Entre Segredos e Mentiras (2010)
Sven-Ole Thorsen
Conan, o Bárbaro (1982); Conan, o Destruidor (1984); Guerreiros de Fogo (1985); Jogo Bruto (1986); Máquina Mortífera (1987); O Predador (1987); O Sobrevivente (1987); Inferno Vermelho (1988); Irmãos Gêmeos (1988); Caçada ao Outubro Vermelho (1990); O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991); Harley Davidson e Marlboro Man - Caçada Sem Tréguas (1991); Máquina Mortífera 3 (1992); Nemesis - O Exterminador de Androides (1992); Vencer ou Morrer (1993); Dragão: A História de Bruce Lee (1993); O Último Grande Herói (1993); O Alvo (1993); Em Terreno Selvagem (1994); Rápida e Mortal (1995); Ameaça Nuclear (1996); Queima de Arquivo (1996); George: O Rei da Floresta (1997); Kull - O Conquistador (1997); Best of the Best 4 - Sem Aviso (1998); O 13º Guerreiro (1999); O Fim dos Dias (1999); Gladiador (2000); Efeito Colateral (2002); Timecop 2 - O Guardião do Tempo (2003); Refém (2005);
Caraca amigo, tu faz um baita trabalho, é um post muito completo e legal de ser lido. Parabéns!
ResponderExcluirBoa tarde Ruan Fröhlich
ResponderExcluirSim, determinados posts chegam a consumir alguns dias até ficarem prontos, porque demanda pesquisa em publicações oficiais estrangeiras e nacionais da época, além de rever novamente o filme para compreendê-lo agora numa visão analítica. Que bom que você gostou. Ainda há muito a ser postado (atualmente há 763 postagens, quem sabe consigo chegar a 1000?). Muito obrigado pelo comentário e volte sempre.
Sou fã dessa obra! Muito bom seu post, parabéns pelo trabalho, nunca parei para ouvir a trilha sonora, estou a conhecer agora.
ResponderExcluirBoa Noite "Eu, Eu mesmo ..."
ResponderExcluirObrigado pelo comentário e que legal que o post agradou. A trilha sonora é bem legal sim. Muito obrigado por comentar, volte sempre e um Feliz Natal !