segunda-feira, 2 de março de 2020

SETEMBRO EM SHIRAZ / SEPTEMBERS OF SHIRAZ (2015) - ESTADOS UNIDOS


ECOS DA REVOLUÇÃO IRANIANA

Irã, fevereiro de 1979. A monarquia autocrática pró-Ocidente, até então comandada pelo Xá Mohammad Reza Pahlevi (1919-1980), se torna uma república islâmica teocrática sob o comando do Aiatolá Ruhollah Khomeini, através de revolução iraniana, trazendo um regime conservador aos valores islâmicos em contraposição a adaptação e aceitação aos costumes ocidentais do antigo regime. Nesse momento encontramos, entre várias famílias, a do próspero comerciante iraniano de joias, de origem judaica, Isaac Amin (Adrien Brody) e sua esposa Farnez (Salma Hayek). Isaac é preso por representar um símbolo do antigo regime e ter um irmão contrabandista de bebidas. Farnez presencia a empresa do marido ser desmantelada pelos antigos funcionários e sua casa tendo seus objetos "confiscados" pela Guarda Revolucionária. Enquanto a esposa fica desesperada com a situação de sua família e procura desesperadamente pelo marido, este é colocado em uma prisão improvisada onde passa a ser torturado fisicamente e psicologicamente pelos seus captores que rejeitam sua outrora posição social e querem a todo custo descobrir o paradeiro de seu irmão. Farnez sabe que a única saída é localizar o marido, tentar sua liberação e fugir do país o mais rápido possível.


Baseado no livro "The Septembers of Shiraz"(2007) de Dalia Sofer, "Setembro em Shiraz" tenta mostrar os acontecimentos que se sucederam  a revolução islâmica e como isso afetou diversas famílias que lá viviam.  A crítica americana foi negativa, apoiado no fato de Salma e Brody tentarem um sotaque (persa) completamente diferente ao que o filme solicitava, ou seja: um filme passado no Irã (na verdade filmado na Bulgária) na qual os interpretes falavam inglês com sotaque. Mas ao contrário do filme "Nunca Sem a Minha Filha" que uma americana vai com o marido de férias e este resolve mantê-la no país contra a sua vontade, Setembro de Shiraz (nome da quinta maior cidade do Irã) não tem estrangeiros falando em uma língua e nativos na outra. Aqui a família fala (ou deveria falar) o idioma local em inglês, males dos filmes feitos em países de língua inglesa a respeito de outras culturas. Talvez o mais adequado fosse apresentar os atores falando a língua do país (mesmo com sotaque diferente) e o filme sendo legendado, talvez evitasse a ida diretamente para o mercado de vídeo. Mas, afinal,  o filme é ruim?


O filme “passado” em Teerã discute vários aspectos interessantes: o abismo entre as classes sociais (ricos e pobres); as relações empregador-empregado; as diferenças entre os regimes Pahlevi- Khomeini; o uso de uma religião para perseguir os que não a professam;  sentimentos de ódio, inveja, ciúme. Esses elementos ainda que mostrados de uma forma condensada tornam o filme interessantíssimo e há muita reflexão, seja nos diálogos ou atitudes de todos os envolvidos, nos mostrando que certas pessoas sempre tentarão se aproveitar das situações em benefício próprio, com o intuito do enriquecimento, independente se isto prejudica a terceiros, mas  também nos mostra que em meio ao caos alguns mantém sua dignidade e capacidade de ajudar ao próximo.


Tendo um bom elenco à frente da trama eficientemente conduzidos por Adrien Brody e Salma Hayek (atriz mexicana de ascendência libanesa) que deram o melhor de si dentro do que o filme propunha, Setembro em Shiraz, apesar dos defeitos técnicos, é um espetáculo que prende do início ao fim com o elenco de coadjuvantes que acrescenta e muito ao filme como por exemplo a atriz Shohreh Aghdashloo, como Habibeh, uma governanta que começa a nutrir simpatias pelo novo regime; Shohreh Aghdashloo como o filho de Habibeh que vê na revolução a chance de roubar a família para qual outrora trabalhara e Alon Aboutboul como Mohsen, o interrogador.  Um filme com vários momentos que ficam marcados em nossas mentes  após o fim da projeção e também que vale como um registro histórico (ou estudo) através da visão dos que conseguiram fugir de um regime que levou muitos à morte.

Trailer:




Curiosidades:
Salma Hayek foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz por "Frida" (2003)
Adrien Brody conquistou o Oscar de Melhor Ator por "O Pianista" (2003)  
Shohreh Aghdashloo foi indicada ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por "Casa de Areia e Névoa" (2003)

Trilha Sonora:
Stayin' Alive - The Bee Gees 
The Voice of the Prophet - Tito Rinesi     
Call to Prayer - Ben Youcef    
Lamento Libertad - 2 Cellos 


Livro:








  










Cartaz:



















Filmografia Parcial:
Salma Hayek












Un nuevo amanecer (seriado 1988 a 1989); Teresa ( seriado 1989); Minha Vida Louca (1993); O Beco dos Milagres (1995); A Balada do Pistoleiro (1995); Grande Hotel (1995); Atração Explosiva (1995); Um Drink no Inferno (1996); A Caçada (1996); Corcunda de Notre Dame: O Filme (1997); Studio 54 (1998); Dogma (1999); As Loucas Aventuras de James West (1999); Hotel (2001); Pequenos Espiões 3: Game Over (2003); Era Uma Vez no México (2003); Ladrão de Diamantes (2004); Pergunte ao Pó (2006); Circo dos Horrores: O Aprendiz de Vampiro (2009); Gente Grande 2 (2013); Ensina-Me o Amor (2014); Jantar com Beatriz (2017); Setembro em Shiraz (2015); Linha Reta (2018); The Hitman's Wife's Bodyguard (2020); Os Eternos (2020); Bliss (2020)  

Adrien Brody











Contos de Nova York (1989);  O Inventor de Ilusões (1993); Sem Limite (1997); Além da Linha Vermelha (1998); 24 Horas Para Morrer (1999); Ruas da Liberdade (1999); O Pianista (2002); A Vila (2004); King Kong (2005); Splice - A Nova Espécie (2009); Predadores (2010); Detenção (2010); O Substituto (2011); Meia-Noite em Paris (2011); O Grande Hotel Budapeste (2014); Visões do Passado (2015); Setembro em Shiraz (2015); Alvo Triplo (2017); The French Dispatch (2020); Blonde (2020)  

Shohreh Aghdashloo









O Relatório (1977);  Casa de Areia e Névoa (2003); O Exorcismo de Emily Rose (2005); X-Men: O Confronto Final (2006); A Casa do Lago (2006); Jesus - A História do Nascimento (2006); Quatro Amigas e um Jeans Viajante 2 (2008); A Instituição (2011); A Estranha Vida de Timothy Green (2012); Os Últimos Cavaleiros (2015); Setembro em Shiraz (2015); Star Trek: Sem Fronteiras (2016); A Promessa (2016); The Cuban (seriado 2019); The Expanse (seriado 2015 - 2020); Run Sweetheart Run (2020) 

Alon Aboutboul












É Difícil Dizer Adeus (1986); Rambo III (1988); A Irmandade (2001); Munique (2005); Shiva (2008); Rede de Mentiras (2008); Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012); Setembro em Shiraz (2015); Invasão a Londres (2016);   Harmonia (2016);  Beirute (2018); MK Ultra (2019). 

2 comentários:

  1. Achei as personagens muito bem construídas, pois saíram daquele velho arquétipo do bem contra o mal. Além disso, também estranhei o fato de ser falado em inglês, mas isso é algo que já esperamos de filmes americanos, né?
    Enfim, é um ótimo filme para quem quer começar a pesquisar e entender mais a Revolução do Irã

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  2. Bom dia Carol Colaneri.
    Você tem toda razão. O filme possui personagens bem construídos e mostra um lado bem interessante da Revolução no Irã. É um filme para se refletir que não deixa de entreter. Quanto a questão do filme utilizar o idioma americano realmente não tem jeito. O americano médio é conhecido por não gostar de assistir produções que não sejam em seu idioma. Para nós seria bem interessante se isso acontecesse, mas comercialmente não traria retorno no mercado interno deles. Muito obrigado por comentar e seja bem-vinda. Um grande abraço.

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