quinta-feira, 5 de maio de 2016

NO MEIO DA RUA (2006) - BRASIL






DIFERENÇAS SOCIAIS


Leonardo  (Guilherme Vieira) é um menino de classe média alta que vive com os pais Otávio (Tarcísio Filho) , Márcia (Flávia Alessandra estreando na nona arte) e sua irmã (Maria Mariana Azevedo).  Alcides (Leandro Hassum) é o motorista da família, encarregado de levar as crianças para a escola, cursos e esportes. Bem sucedidos, os pais tem pouco tempo para os filhos e querendo proporcionar um futuro adequado, lhes enchem de atividades. Sem tempo para poder brincar, Leonardo passa a travar uma amizade com o menino Kiko (Cleislay Delfino), que faz malabarismos em um sinal de trânsito em troca de algumas moedas. Leonardo resolve emprestar um game boy para Kiko se divertir. Quando sua mãe descobre, o repreende. Leonardo, no dia seguinte, foge da escola e vai à procura de Kiko para que este lhe devolva o brinquedo. Só que Kiko teve o game tomado de suas mãos por uma dupla de delinquentes que vivem em sua comunidade. Leonardo informa que não pode voltar sem o game e Kiko o convida para seguir com ele para o morro e elaborarem um plano de “resgate” do brinquedo. Leonardo dorme na casa de Kiko e seus pais, sem saberem seu paradeiro, começam a imaginar que estão diante de um sequestro.

 

   



No Meio da Rua é um drama a respeito das diferenças sociais, onde se tenta passar um painel do que ocorre entre o asfalto e a favela. Nesse contraste de realidades, o diretor Antonio Carlos da Fontoura de “Espelho de Carne” (1985) e “Somos tão Jovens”  (2013) fez um filme simpático, narrando através das vidas de Leandro e Kiko o cotidiano de cada um. Enquanto Leandro é um menino considerado “rico” por Kiko, com ótimos cursos e uma vida de conforto, a este só resta ocupar o seu tempo ganhando dinheiro para ajudar a mãe (que não aparece no filme), suas irmãs e irmão. O dinheiro que ele ganha. na forma de ajuda dos motoristas parados nos sinais, garante, pelo menos, o café da manhã da família. O filme não mostra os irmãos de Kiko indo à escola e há apenas uma menção que a mãe exige que eles “completem o primeiro grau”.

 





A comunidade (filmada no Morro do Vidigal) é mostrada de uma forma estranha: em pleno horário comercial as pessoas cantam e dançam em pagodes e festas. Um homem toca seu cavaquinho e canta tranquilamente em uma tomada quase completa. Fora esses “pormenores” há a comparação entre as realidades juvenis que permeiam nossa sociedade. Leandro só tem colegas na escola, não tendo tempo para brincar. Quando sai da escola, vai para cursos, aula de tênis. Volta para casa, faz os deveres e dorme. Possui segurança de 24 horas, seja na companhia (pouco presente) dos pais ou na figura do estressado Alcides, que sempre parece preocupado em não deixar falhas que possam comprometer seu emprego. A vida de Kiko é recheada de amigos: jogam bola, passeiam, dividem com ele suas refeições, mas este não tem um futuro. Tudo é muito incerto.




 

O porém de “No Meio da Rua” fica no ponto em que o diretor perdeu a chance de fazer um ensaio sobre o olhar que a sociedade tem dos que moram em morros e atira Leandro em meio a uma trama que envolverá o traficante Baratão e seus olheiros. Esse desvio da trama, serviu para dar ritmo e criar um clima de tensão, mas ficou a impressão que o diretor (que também acumula a função de roteirista) apostou que a vida na favela, sem a figura de um traficante, não convenceria. Se a ideia fosse concentrar o olhar sobre aqueles que lá vivem, colocando o tráfico em segundo plano, apenas mostrando rapidamente, o filme teria sido mais reflexivo e seguiria por um outro caminho. A figura de um chefe do tráfico, querendo se aproveitar da situação, apenas colocou uma justificativa para o desespero do casal Otávio e Márcia que acreditavam que o sumiço do garoto devia-se a um sequestro mediante resgate. Se o filme focasse apenas no universo infantil e o comparasse com olhar adulto, talvez as questões sociais fossem um ótimo tema de discussão.



 


Não há como negar que ter um elenco "global" atrai mais o público brasileiro do que um grupo de atores desconhecidos, visto que uma grande parcela da sociedade cultua celebridades da TV. Logo, faz todo o sentido investir no que traga retorno. Os atores estão muito bem, visto que já são conhecidos e com anos de estrada. Hassum faz um tipo de neurótico carioca, bem comum em nossos dias: sempre nervoso, lutando contra o relógio e com pouco ou nenhum humor para lidar com o dia a dia extenuante



No meio da rua é um bom filme e deveria ser mais divulgado, pois apresenta uma boa história (baseada em uma experiência pessoal do diretor) e uma boa direção. Ainda que existissem outros caminhos para a condução da história, em nada retira o mérito desta produção que acertou nos atores e no cenário,  tornando o filme uma boa pedida para quem gosta de assistir produções brasileiras de qualidade. Talvez se devesse considerar uma continuação, com os mesmos atores, já adolescentes e o caminho que cada um seguiu.

Curiosidades:
Vencedor do troféu Calunga no Cine PE - Festival do Audiovisual de Recife nas categorias:
Melhor ator: Guilherme Vieira e Cleislay Delfino
Melhor Atriz Coadjuvante: Maria Mariana Monnerat


Trailer:



Filmografia Parcial: 
Leandro Hassum
Tainá 2: A Aventura Continua (2004) ; Se Eu Fosse Você (2006); No Meio da Rua (2006); Xuxa Gêmeas (2006); Xuxa em O Mistério de Feiurinha (2009); Muita Calma Nessa Hora (2010);Até que a Sorte nos Separe (2012); Até que a Sorte nos Separe 2 (2013); O Candidato Honesto (2014); Até Que a Sorte nos Separe 3: A Falência Final (2015).


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