UM PAINEL DOS PRIMEIROS ANOS DO HIP HOP
Kenny Kirkland (Guy Davis) é um promissor DJ. Lee (Robert Taylor) é seu irmão, o menino se revela um grande dançarino de Break. Ramon (Jon Chardiet) é um artista que grafita as ruas do sul do Bronx e vagões de metrô. Os três, além de serem amigos, possuem algo em comum: a esperança de alcançarem o sucesso através de sua arte. Quando Tracy Carlson (Rae Dawn Chong) cruza o caminho dos dois irmãos, seus sonhos podem ser transformados em realidade. Enquanto Kenny e Tracy se apaixonam, Ramon passa a ter problemas com um desconhecido pichador que vem danificando suas artes.
Produzido pelo produtor / ator / cantor e ativista político Harry Belafonte (“A Cor da Fúria”), “Beat Street – Na Onda do Break” (atualmente mais conhecido como "A Loucura do Ritmo") chegava em uma época que filmes musicais tinham grande aceitação: “Grease”, “Fama”, “Até que Enfim é Sexta-Feira”, “Os Embalos de Sábado a Noite”,”Flashdance”... já tinham seu público e “Footloose” já era aguardado. No meio dessa onda (por isso talvez o subtítulo “Na Onda do Break”) chegava um filme abordando o gênero Break, cujo principal elemento agregador é o rap (a música falada ou um cadenciado discurso musical - às vezes de improviso) e muitos consideram este o filme que melhor retrata o gênero, com os elementos principais desse estilo e com dançarinos conhecidos (Rock Steady Crew e New York City Breakers). Ainda que o filme "Breakdance" (Breakin') tenha sido lançado um mês antes nos EUA e até seja um filme interessante dentro de sua proposta, não colheu muitas críticas favoráveis na época (atualmente muitos o tem em boas memórias) por causa de seu baixo investimento, U$$ 1,2 milhões, contra U$$ 9,5 milhões de Beat Street. Curioso é que Beat.. faturou pouco mais de U$$ 16 milhões enquanto Breakdance pouco mais de U$$ 38 milhões. No Brasil, Beat Street não fez o sucesso esperado pelos distribuidores nas bilheterias, talvez pela ênfase à estética do filme, esquecendo de revesti-lo com uma profundidade dramática, ainda que tenha ganho em momentos de dança, além também dos preços dos ingressos, que andavam caros, com o público selecionando o que e onde gastar. E o movimento Hip Hop não era tão forte, como na América, em 1984. Outros talvez se lembrem de "Body Rock" (1984) que aportou por aqui timidamente somente em VHS (1986) embalado pela poderosa canção título da portuguesa Maria Vidal. Houve também o filme Krush Groove: O Mundo do Rap, lançado em1985.
Muitos viram o filme, na época, nos EUA, como uma tentativa de difundir uma moda e não percebiam o Break / Hip Hop como um fenômeno sociocultural. Muitos apelidavam esses espectadores de “geração videoclipe” talvez por causa da MTV americana (fundada em 1981) que retirava os ouvidos das rádios e colocava os olhares dos jovens na telinha vendo seus artistas prediletos produzindo clips em sucessão. Os críticos rotularam essa geração americana anos 80 como uma geração que pouco tinha de contestadora, combativa e inquieta frente a dos anos 40 e 50 (do movimento Beatnik – que criticava o conformismo, a hipocrisia e a alienação de sua época) e a dos anos 60 (os movimentos estudantis e direitos humanos). Uma geração capaz de influenciar-se de uma forma passiva com tudo que a propaganda era capaz de mostrar e veicular, jovens a mercê do consumismo aleatório, sem preocupações ou responsabilidades e a troca da ambição pelo prazer momentâneo, que viam padrões serem criados para música, dança e roupas. Tudo lançado rapidamente no mercado e sendo substituídos em igual velocidade como os videoclipes. Podemos perceber que alguns personagens do filme se enquadravam em alguns desses aspectos, mas o Break, na verdade, vinha com sua linguagem própria e ideias (ou ideais) mais próprios dos que os que ocupavam aquela área (o perigoso subúrbio do Bronx) décadas atrás. Um contraponto frente a uma sociedade que delimita os sonhos de grande parte de seus cidadãos.
Beat Street mostrava o visual cinematográfico com o estilo musical fervilhante que tomava as ruas americanas e se espalhava por vários países como o Brasil, ainda que, em nosso país, não tenha feito tanto sucesso, naquele momento, como acontecera no México, Japão e Austrália. O Filme, na verdade, é quase todo uma sucessão de músicas (quase em tempo integral), que mal permite um desenvolvimento mais sólido da estória, o que pode ser percebido quando vemos que nem todos os personagens terão um desenvolvimento mais profundo. Mas os números musicais são muito bons com acrobacias (chamadas antigamente de piruetas) em coreografias que atualmente ainda impressionam. Com o tempo esses movimentos foram nomeados, o que facilita identificá-los: Freezes (quando os dançarinos fazem uma pose e congelam); Drops (quando o dançarino se dirige ao solo de várias maneiras – de joelhos, rodopiando), Footworks, Toprocks, Power Moves ... O filme é conhecido por apresentar muitos artistas considerados naquele momento promissores: Treacherous Three e Doug E. Fresh; Melle Mel & the Furious Five, Afrika Bambaataa & Soulsonic Force, Brenda Starr e Kool Moe Dee e Tina B. Interessante é que foram lançados dois álbuns (trilhas sonoras), inclusive no Brasil, diferente dos álbuns duplos como “Os Embalos de Sábado a Noite” (Dirty Dancin’, anos depois, também lançaria duas trilhas distintas – papo para outra análise).
A atriz Rae Dawn Chong se tornou o nome mais conhecido da produção. Vinha de "A Guerra do Fogo" (1981) e logo estaria em "A Cor Purpura" (1985) e "Comando Para Matar" (1985). Ela faz a responsável pela peça de teatro inovadora que Kenny (com sua música e efeitos) e Lee (com sua dança) ajudam a melhorar. Guy Davis faz Kenny (ou "Double K"), aspirante a músico, talentoso e desejoso de viver e sua profissão que cria sons e os une nas músicas (seria hoje um Beatmaker?) em eventos underground aliado aos seus "stratch" (a técnica de inverter a rotação dos discos ou até mesmo “arranhá-los” produzindo efeitos inspirados). O ator está na ativa, mas sua filmografia é curta, voltada mais para participações em seriados. Jon Chardiet, como Ramon, tem o melhor arco de estória e se torna o ponto na curva dramática que o filme proporciona. Se o roteiro tivesse investido um pouco mais em seu personagem, o filme teria tido uma consistência maior. O ator continuou fazendo filmes, telefilmes e series. Robert Taylor, que interpreta o jovem Lee, também tem uma filmografia curta, que se encerra em 2002. Esteve no filme “A Vingança de 1 Predador” (1986). Saundra Santiago, que interpretou Carmen, esposa de Ramon nasceu no Bronx. Fez o seriado “Miami Vice” e participações em filmes como “Ao Mestre com Carinho 2”, telefilmes e seriados. Está na Ativa.
Dirigido por Stan Lathan (mais atuante em seriados e telefilmes.), Beat Street, drama musical que fala sobre o Break, que hoje (para muitos) completa 50 anos, mostra os primórdios do hip hop na tela numa estória de lutas, incertezas, esperanças e questionamentos principalmente entre os jovens latino-americanos e afro-americanos. Teve o ponto positivo de abordar o gênero de uma forma séria e responsável mostrando a contraditória sociedade de consumo e de regras onde jovens tentavam (e ainda tentam) um lugar ao sol através de sua arte. Podemos ver a opulenta Manhattan (a face rica) em contraste ao Bronx (a face pobre da América), uma analogia social que pode ser transportada para qualquer cidade do mundo. Há momentos interessantes na estória, mas são os números musicais bem estruturados que impressionam como o “duelo” no Metrô entre os Beat Streets Breakers (New York City Breakers) e os Bronx Rockers (Rock Steady); a peça de teatro; o número de natal ("Christmas Rappin” ou "Santa's Rap") e a bela música final que fecha o filme de uma forma positiva. Um filme de Break, sobre o Break, mas para todo o público.
Trailer:
Curiosidades:
A maior parte da arte do
graffiti que foi exibida ao longo do filme não foi feita por grafiteiros reais
- foi retocada por decoradores de cenários, no entanto, dois grafiteiros foram
contratados como consultores criativos para o filme, incluindo Bill Cordero -
também conhecido como "Blast", e Lonny Wood - também conhecido como
"Fase II", (que também é referenciado no filme, durante a cena do
grafite no metrô)
Cerca de 80% da filmagem do
trailer teatral original não está incluída no corte final. Os exemplos incluem
Ramo tendo sua bolsa roubada enquanto caminhava com Kenny e Charlie, várias
cenas de batalha, incluindo a cena de rock na sala de aula, Ramo em uma bateria
e um dançarino pulando contra uma parede na boate Burning Spear.
Este projeto foi patrocinado
pela Puma. Os LPs da trilha sonora original têm o logotipo da Puma impresso neles,
onde se lê: "Puma visto em 'Beat Street'".
Foi ideia dos produtores que o
elenco principal usasse chapéus Kangol e tênis Puma durante toda a produção do
filme, embora muitos dos dançarinos achassem que não era autêntico.
Vin Diesel admitiu no programa
de Jimmy Kimmel que ele foi um figurante no filme.
De acordo com Fast Break (que
apareceu na sequência Treacherous Three), houve uma cena de “batalha de rock”
na sala de aula que envolveu o New York City Breakers e o Rock Steady Crew, mas
foi cortada. Houve também mais da “batalha” climática entre essas duas equipes
na boate Roxy.
Este foi o primeiro filme
americano a ter mais de um álbum de trilha sonora de música apresentado em um
filme lançado. Originalmente, três volumes de música foram planejados, mas a
Atlantic Records lançou apenas dois deles - e o segundo volume nunca foi
lançado em CD.
O ator Kadeem Hardison foi
creditado como estudante do ensino médio no filme. Suas cenas foram cortadas
completamente junto com a cena de “batalha” da sala de aula.
Spit foi baseado em um grafiteiro da vida real chamado Cap, que apareceu no documentário “Style Wars” (1983). Cap desfigurava o trabalho de outros grafiteiros pintando seu nome sobre eles.
Crazy Legs disse mais tarde
que durante as filmagens da cena de batalha no Roxy ele queria fazê-lo ao som
da música "It's Just Begun" de Jimmy Castor, mas ficou desapontado ao
descobrir que as equipes iriam “lutar” ao som de um disco chamado
"Breaker's Revenge". "por causa de questões de direitos.
Sha-Rock, Lisa Lee e Debbie-D,
(também conhecidas como US Girls), que cantam sua faixa-título - na primeira
cena da festa em casa - também lançaram outro single sobre os breakdancers que
tocaram, "The Beat Street Rockers" no filme. .. The New York City
Breakers
Especialistas dizem que o hip hop teria nascido no dia 11 de agosto de 1973, quando o DJ Kool Herc e sua irmã Cindy Campbell organizaram uma festa, na avenida Sedwick, 1520, Bronx, em Nova York. Essa festa teria ficado marcada como o nascimento do Hip Hop. (Jornal O Globo on Line - 11 agosto 2023)
Afrika Bambaataa & The Soulsonic Force com a música "Planet Rock" fez muito sucesso no Brasil
Grand Master Flash com a musica tema "Beat Street Breakdown" ficou na 15ª lugar na parada americana e no 55º lugar na Hot 100 da Billboard
O grupo Run-DMc fez musica com Aerosmith ("Walk This Way")
The Goodfather (O Padrinho) do Soul, ou como muitos o conhecem "Mr. Dinamyte", James Brown, o reverenciado "rei do soul" e "pai do funk" é uma das influências desse estilo de música.
Cartaz:
Grandmaster Melle Mel "Beat Street Breakdown"
Beat Street Santa's Rap
Trilhas Sonoras:
Filmografia Parcial:
Rae Dawn Chong
A Guerra do Fogo
(1981); Cidade do Medo (1984); Os irmãos Corsos (1984); Comando Para Matar (1985); A Cor Púrpura (1985); Uma Escola Muito
Louca (1986); Os Trapaceiros da Loto (1987); Um
Diretor Contra Todos (1987); Contos da Escuridão (1990); O Esconderijo (1995);
Cyrus (2010); Pegasus Vs. Chimera (2012); Renascida das Trevas (2018); American Crime Story (seriado 2016); We Are Gathered Here Today (2022); A entrevista de Anne Rice com o vampiro (série 2022)
Guy Davis
Na Onda do Break (1984); Def by Temptation (1990), Final (2001)
Jon Chardiet
Na Onda do Break (1984); As Prisioneiras de Irmã Margaret (1987); Visitors from the Unknown (1991); Interceptor 2 - Projeto Secreto Aurora (1995); Too Fast Too Young (1996); Tudo por Dinheiro (1997); Tentação (1998).
Saundra Santiago
The End of August (1981); Na Onda do Break (1984); Miami Vice (1984 -1989); O Pagamento Final (1993); Um Homem Chamado Guy Hanks (1994); Deadline for Murder: From the Files of Edna Buchanan (1995); Ao Mestre, com Carinho 2 (1996); Nick and Jane (1997); Entrando na Maior Fria (1998); Mamãe Casamenteira (2012); A Guerra das Gangues (serie 2014); Sand Dollar Cove (2021); Rare Objects (2023).
Robert Taylor
Na Onda do Break (1984); Virando Adulto (1984); A Vingança de 1 Predador (1986); Mães em Luta (1996); Um Gesto a Mais (1997).
Fontes:
Jornal do Brasil
Jornal o Globo
The New York Times
IMDB
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