CONECTADAS EM UM VÓRTICE DE
INFORTÚNIOS
(O texto
contém alguns spoilers)
Seo-yeon (Park Shin-Hye)
retorna para sua cidade natal e se muda para a antiga casa de sua família, há
muito abandonada, após descobrir que sua mãe recebera o diagnostico de câncer. Seo-yeon
considera a mãe principal responsável por
um incêndio causado na sua casa com a consequente morte de seu pai e sua atual
infelicidade. Para piorar a situação, Seo-yeon esqueceu seu celular no trem e a
pessoa que o encontrou deseja uma recompensa para sua devolução. Tendo que
recorrer a um velho telefone fixo residencial, ligações misteriosas começam surgir e, do
outro lado da linha, se apresenta Young-sook (Jong-seo Jun), uma mulher de 28 anos, em estado
de pânico, implorando por ajuda, por medo de ser
morta pela madrasta (Lee El).
Os dias se passam e Seo-yeon continua
recendo ligações da assustada Young-sook, mas há algo inusitado: o telefone parece
ter criado uma brecha na linha do tempo que permite conectar Young-sook em 1999
a Seo-yeon em 2019. Uma insólita amizade se estabelece entre as duas quando Seo-yeon
tem uma ideia: como Young-sook vive na mesma época do acidente com sua família,
ela solicita que sua amiga tente fugir das garras da madrasta e impeça que o
incêndio aconteça e talvez suas ações possam afetar a realidade.
Dito e feito, Seo-yeon tem o tempo reescrito para uma realidade feliz ao lado de seu pai vivo e sua mãe saudável. Só que Seo-yeon deixou seu relacionamento com Young-sook cair no esquecimento do passado e nas mãos de uma madrasta xamã que a tortura fisicamente acreditando que pode retirar o mal que habita em sua enteada. Quando Seo-yeon estabelece um novo contato da irritada amiga resolve pesquisar o que teria acontecido na vida de Young-sook, vindo a descobrir que esta fora morta em um ritual de exorcismo e que a madrasta terminou presa. Ao avisar Young-sook de seu destino a realidade muda drasticamente: Seo-yeon descobre que abriu a “caixa de pandora” e que Young-sook não era quem pensava ser. Passado e presente colidem e Seo-yeon descobre que as leis da realidade não deveriam ser afetadas.
Thrillers de viagem no tempo e paradoxos temporais não são exatamente novos (apesar de que aqui o tema não seja viagem no tempo, mas mudanças nas linhas do tempo), muitos são um grande quebra-cabeças, mas se você é alguém que precisa de respostas para todas as perguntas talvez este filme possa causar certa decepção, porém ao aceitarmos a supressão de algumas informações propositadamente omitidas pelo roteiro (não há, por exemplo, uma explicação lógica de como as personagens são capazes de se conectarem por um telefone com décadas de diferença ou da personagem principal estar sempre num mesmo lugar físico enquanto mudanças significativas acontecem) o filme cresce em interesse. E essa premissa relativamente simples, mas incomum, começa a se contorcer de uma forma surpreendentemente sombria e inegavelmente inesperada, mas em nenhum momento entediante.
Em sua estreia em longas, o diretor e co-roteirista Lee Chung-hyun adiciona tons sombrios, descortina rapidamente como a tradição coreana lida com o exorcismo (não esqueçamos que é um filme, ou seja, fatos fictícios), brinca com ficção-científica adicionando a este um poderoso thriller num vaivém temporal, que, ao contrário de filmes como “Predestinado” ou “Coerência”, o espectador só precisa manter-se atento para compreender como essa crescente atmosfera de indução ao pavor se concluirá, numa realidade que muda constantemente dependendo das ações de cada um dos dois lados. E, claro, o prévio desenvolvimento de uma amizade crescente, atemporal, no início, se transformará em um cruel confronto que trará muitas mortes. E quem conseguir impedir o outro de mudar as linhas do tempo será o vitorioso, mas como Seo-yeon pode enfrentar alguém que pode modificar o passado e sua vida? E como Young-sook pode enfrentar uma oponente que já possui as informações do que ocorrerá? Mas a dúvida é: o que se sabe sobre paradoxos temporais é o que realmente acontece? Como enfrentar uma serial killer, em outra época, disposta a tudo para manter-se viva? No final o filme funciona como um jogo de xadrez onde um movimento errado pode determinar o resultado do confronto.
Um dos grandes motivos do filme funcionar está na intensa interpretação das atrizes. Elas realmente entregam atuações de alto nível e a alternância de atitudes entre as personagens evita que o filme fique no famoso “já sei como termina”. Aliás, dentre as várias reviravoltas do filme, a parte final, após os créditos, deve ser bem observada, pois nos revela o que realmente aconteceu. E, conforme entrevista do diretor, que diz ter se inspirado no filme “The Caller” (2011), não há nenhuma intenção de se filmar uma continuação. Podemos também destacar a fotografia do filme que, para cada época, cria uma palheta de cores diferente.
A Ligação (título de duplo sentido) é uma produção da Netflix que voltou suas lentes acertadamente para o cinema asiático, pouco conhecido do grande público por aqui, mas que possui bastante relevância, principalmente, no Oriente e na Europa. Um conto de terror bem interessante que parece ter elementos de “O Efeito Borboleta”, “Alta Frequência”, “Sr Ninguém” e até uma possível discussão sobre “paradoxo da predestinação”, mas que possui sua própria originalidade
Trailer Dublado:
Curiosidades:
Em 1999,
Young-sook diz que nasceu em 1972 e tem 28 anos. Na Coreia do Sul,
diferente do resto do mundo, quando uma pessoa nasce já contabiliza um ano de
idade. E, após esse nascimento, a pessoa passa a comemorar mais um ano de vida
no dia do réveillon. Isso quer dizer que quem nascer no último dia do ano (31
de dezembro), mesmo com pouco menos de 24 horas, automaticamente já estará mais
velha na manhã seguinte, completando, assim, 2 anos de vida. A "idade
coreana" tem sua origem na China. Foi adotada no passado em alguns países
asiáticos, mas só permanece nesse país.
Segundo filme da atriz Jong-seo Jun
As filmagens ocorreram entre 03 de janeiro de 2019 a 02 de abril de 2019
Cartazes:
Trilha Sonora:
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