Amador (Nelson Xavier) é um idoso que percorre, com sua Parati, as ruas de barro de um subúrbio em Goiás com o intuito de convencer pequenos comerciantes a alugarem uma máquina caça-níqueis, mas não possui nenhuma habilidade em vendas. Sua habilidade sempre foi outra: pistoleiro de aluguel. Amargurado e relegado ao ostracismo, esquecido na hierarquia do crime onde ninguém mais lhe dá trabalhos, guarda em recortes de jornais antigas manchetes que narram “seus serviços”, entre elas, uma famosa chacina ocorrida há muitos anos.
Amador
recebe a visita do sobrinho (Marcos de Andrade) de seu ex-parceiro em crimes
Davi (Everaldo Pontes) que se encontra em um hospital no fim de seus dias. O
jovem passa a ajudar Amador em sua atual atividade, mas o que deseja realmente
é aprender com o outrora pistoleiro. Enquanto
isso dois jovens cineastas chegam ao local querendo filmar a vida do homem responsável
por vários assassinatos, o que cria um sentimento de envaidecimento em Amador e
a preocupação no chefão da cidade chamado de “Tio” (Ge Martu), dono de
restaurante e que se passa por benfeitor da comunidade. “Tio” teme que Amador
resolva fazer um “comeback” (retorno) a sua antiga profissão.
Estreia do
goiano Erico Rasso na direção e despedida de Nelson Agostini Xavier, que faleceu
em decorrência de uma embolia pulmonar derivada de um câncer, duas semanas
antes da estreia do filme no Brasil. Por sua atuação neste filme Xavier
conquistou o premio de Melhor Ator no Fest Rio 2016, premio dividido com Júlio Andrade
pelas atuações em "Sob Pressão" e "Redemoinho". Filmado em 2013,
conforme o diretor, “a um custo de 500 mil, mas filmado com 100 mil”, Comeback
se apresenta como um faroeste “Made in Brazil”, um western incidental, apoiado
na força interpretativa do ator que já apresentava sinais de fraqueza.
Tendo como
pano de fundo o envelhecimento, o esquecimento, a solidão e um Brasil que os
brasileiros não conhecem, o filme procura não se situar em um lugar próprio,
apenas sabemos que o poder público pouco atua nessa localização quase rural e
que o poder, nestes casos, sempre estará nas mãos de alguém. E é para esse
alguém que Amador trabalha, não mais como pistoleiro como gostaria, mas ainda na
ilegalidade. Os anos passaram, a época mudou, o tempo de fama de Amador como
pistoleiro se esvaiu. Ele está idoso e os crimes são de décadas passadas aonde
o povo não se lembra mais ou não tem
mais interesse de lembrar. Amador era temido, agora seu semblante cansado e seu
caminhar curvado passam a impressão de um idoso comum, algo até observado pela
dupla de cineastas, que o julgam por sua aparência benigna, mas não desvendam
que por trás desta existe uma mente obscura e má. Amador se ressente da falta
de reconhecimento, do seu “tempo de glória” ter passado, vendo-se ainda apto a
oferecer seus serviços a quem possa interessar. Sob seu olhar não há ressentimentos do que fizera no passado, chegando até mesmo a mostrar uma
autoadmiração pelo que fazia. E não importava quem ele eliminava, afinal como
ele mesmo gosta de citar, “a maioria” era bandido. Mas será que Amador executou
todos os serviços da qual guarda em seu livro de recordações? A quantidade é
bem grande e sua veracidade começa a ser questionada. Os cineastas pedem a Amador que
consiga duas metralhadoras emprestadas para o filme se mostrar mais realista, mas “Tio”, o
possuidor de tais equipamentos, não vê razão em tal pedido. Amador, porém,
deseja mostrar que tem prestígio, que não vive à sombra de seu chefe, e que
conseguirá o que prometera à dupla. E um homem determinado e sem nada a perder
pode ser um barril de pólvora pronto para explodir.
Rodado em Goiás, Comeback é um filme que surpreende desde o início pelo modo com a qual conduz sua história. Começa com uma atmosfera até engraçada, com diálogos criativos, e depois nos revela aos poucos algo mais sombrio e muito mais inteligente do que parece guardar na superfície. Xavier nos entrega um personagem cativante e Erico Rasso uma história com impressionante desenvolvimento dramático que se aproxima de um faroeste. O cenário ajuda e a trilha sonora é adequada à ambientação que o filme propõe.
Trailer:
Trilha Sonora:
Quem Foi - Altemar Dutra
E Voltarei (Emporte Moi) - Altemar Dutra
Vuelvo a Ti - Manolo Otero
O Fim (The End) - Altemar Dutra
Principais Premiações:
Melhor Diretor - Feston Lisboa 2017
Melhor Filme - Prêmio da Crítica - Festin - Lisboa 2017
Principais Prêmios de Nelson Xavier como Ator
Newport Beach Film Festival - Chico Xavier (2010)
Mannheim-Heidelberg International Filmfestival - A Despedida (2014)
Los Angeles Brazilian Film Festival, US - A Despedida (2014)
Festival de Cinema de Gramado- A Despedida (2014)
Festival de Cinema de Gramado - O Testamento do Senhor Napumoceno (1997)
Festin Lisboa Film Festival, PT - A Despedida (2014)
FESTin - Portuguese Film Festival - A Despedida (2014)
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro - O Mágico e o Delegado (1983)
Festival de Brasília do Cinema Brasileiro - A Queda (1978)
Berlin International Film Festival - A Queda (1978) - Prêmio Especial do Juri
Cartazes:
Filmografia Parcial:
Nelson Xavier (1941–2017)
Fronteiras do Inferno (1959); Cidade Ameaçada (1960); Os Fuzis (1964);
Arrastão (1967); Desesperato (1968); Os Deuses e os Mortos (1970); É Simonal
(1970); Dois Perdidos numa Noite Suja (1971); Vai Trabalhar Vagabundo (1973); A
Rainha Diaba (1974); Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976); A Queda (1978); Amor
e Traição (1979); Eles Não Usam Black-Tie (1981); Tensão no Rio (1982); O
Mágico e o Delegado (1983); O Cangaceiro Trapalhão (1983); O Bom Burguês
(1983); Rei do Rio (1985); Luar sobre Parador (1988); Césio 137 - O Pesadelo de
Goiânia (1990); Vai Trabalhar, Vagabundo II - A Volta (1991); Brincando nos
Campos do Senhor (1991); Lamarca (1994); Boca (1994); A Garota do Rio
(2001); Narradores de Javé (2003);
Sonhos Roubados (2009); Chico Xavier (2010); Os Sonhos de um Sonhador: A
História de Frank Aguiar (2010); As Mães de Chico Xavier (2011); O Filme dos
Espíritos (2011) A Despedida (2014); Trash: A Esperança Vem do Lixo (2014); A
Floresta Que Se Move (2015); Comeback: Um Matador Nunca se Aposenta (2016)
Boa tarde!
ResponderExcluirComo é maravilhoso ver que meu estado de Goiás possui ótimos profissionais também na área cinematográfica e também ver meu estado sendo citado em filmes.
Abraço.
Olá Fabiana.
ResponderExcluirO atual cinema brasileiro, também chamado de "Retomada", vem trazendo obras cinematográficas muito significativas com essa atual leva de diretores, roteiristas, produtores, atores ... conquistando o público e trazendo um novo olhar sobre como fazer cinema. Pena que esses filmes, muitas vezes, frequentem mais festivais do que salas de cinema. Mas agora com novas plataformas de streaming como a Amazon que está com um bom catálogo de divulgação, o interesse pelo nosso cinema deve aumentar. Há boas obras a serem descobertas, assim como boas obras do passado a serem revisitadas. Quanto ao filme, vale a pena ser visto, pois possui muitas qualidades. Goiás tem apresentado muita força em curtas o que indica boas perspectivas para futuros longas. Obrigado por mais este comentário e um grande abraço.