quarta-feira, 11 de outubro de 2017

O VENDEDOR DE SONHOS (2016) - BRASIL





ADAPTAÇÃO AQUÉM DA OBRA ORIGINAL, MAS QUE TEM O SEU VALOR

Júlio César (Dan Stulbach) é um renomado psicólogo que resolveu dar fim aos seus problemas da pior forma: cometendo o suicídio. Ao seu lado, na sacada do prédio, surge um misterioso homem que lhe convence a abandonar sua iniciativa. Esse homem é conhecido por seus pares como  “Mestre” (César Troncoso), uma pessoa com uma visão muito peculiar da vida que consegue inspirar outros a perceberem o estranho e cruel mundo em que todos estamos inseridos.



Há quem diga que os livros de autoajuda só ajudam (financeiramente) a quem os escreve. É uma discussão que vai longe. Saindo da conceitualidade do livro homônimo do escritor Augusto Cury e imergindo somente na obra cinematográfica há considerações positivas e negativas a serem feitas.


Adaptar uma obra, cujo autor já possui milhões de livros vendidos não é tarefa das mais fáceis, mas do ponto de vista comercial é uma chance de retorno astronômico, uma aposta a ser tentada. Se der certo, lucro à vista, caso contrário mais um filme que não logrou o êxito almejado. Vejamos a quantidade de obras de Stephen King adaptadas para o cinema e, dentre estas, as que podem ser consideradas elogiáveis. Ou “O Caçador de Pipas”, “A Menina que Roubava Livros” ou a saga” Duna” em um filme dos anos 80. A lista é imensa e há boas transposições que tocam o público e outras que perderam sua essência quando transpostas pela sétima arte.



Talvez o diretor Jayme Monjardim (muito conhecido por suas produções televisivas) lograsse maior resultado se suas lentes partissem de um ponto de vista menos conceitual. A questão das "frases feitas" como resposta para problemas complexos incomodará muita gente, mas a exposição sobre o tema é válida. Claro que um problema, muitas vezes demanda uma dialética mais profunda que não se resume a "8 ou 80", mas se o filme partisse para este caminho suas águas fluiriam por caminhos filosóficos mais densos da qual o público em geral se afastaria.


O Vendedor de Sonhos tem um quê de surreal (disfarçado) em sua narrativa para poder contar que a sociedade atual está imersa em várias doenças: o valor material, a falta de sonhos a serem realizados, os rótulos sociais, o stress destruindo a saúde de todos, a escravidão da beleza, o lucro empresarial acima dos interesses da sociedade e até celebridades imediatas com direito a seguidores, uma crítica de como o ser humano abdicou do direito de pensar e passou a seguir pessoas  que muitas vezes falam apenas o óbvio e lhes dizem como pensar e agir. 


O problema é como estas variantes são levadas para tela. A forma prejudicou o conteúdo. Há bons momentos, mas contrastam com a queda de ritmo. Essa carência de um maior dinamismo imputou ao filme um ar de monotonia, de um ritmo lento. E o cinema atual (principalmente o americano) é voltado (deixo para o leitor se é bom ou ruim) para entretenimento e não reflexão. Tudo tem que ser rápido: falas bem sacadas, atores fotogênicos, ritmo acelerado, cenas inventivas (mesmo que implausíveis) e, de preferência, de conteúdo irrelevante. O Vendedor de Sonhos abriu mão desse tipo de cinema, mas não soube encontrar um nicho para se situar. Tem bons atores, uma ótima fotografia, boa trilha sonora e situações que mereceriam ser melhor exploradas. Talvez um defeito seja o filme, em alguns momentos, se confundir com o modelo de uma novela para depois voltar ao filme. 


Há que ter em mente que por mais que o filme não agrade, seus conceitos apresentados não são falsos. A mensagem intrínseca está lá: aproveite e celebre a vida, dê valor as pequenas coisas, dê mais atenção as pessoas que estão ao seu lado, interaja , aceite a (s) perda (s), pratique a caridade...Que bom que o cinema nacional possa trazer obras mais qualificadas, mesmo que possua erros e acertos, sujeitas a aprovação e reprovação, mas pelo menos elas estão surgindo. Talvez no futuro uma nova adaptação traga o devido mérito que esta obra mereça.


Trailer:


Curiosidades:
César Troncoso é um ator uruguaio


Filmografia Parcial:

Dan Stulbach:
 

 









Cronicamente Inviável (2000); Mais Uma Vez Amor (2005); Dias e Noites (2008); Tempos de Paz (2009); A Suprema Felicidade (2010); Meu Amigo Hindu (2015); O Vendedor de Sonhos (2016)

César Troncoso
 

 








Matar a Todos (2007); XXY (2007); O Banheiro do Papa (2007); Em Teu Nome (2009); Infância Clandestina (2011); Norberto apenas tarde (2010); Hoje (2011); Circular (2011); Faroeste Caboclo (2013); Esclavo de Dios (2013); A Oeste do Fim do Mundo (2013); O Tempo e o Vento (2013); Prova de Coragem (2015); Elis (2016); O Vendedor de Sonhos (2016); A Superfície da Sombra (2017); Otra historia del mundo (2017); Ojos de madera (2017) 

Jayme Monjardim (diretor)
Olga (2004); A Princesa e o Vagabundo (2010); O Tempo e o Vento (2013); Didi e o Segredo dos Anjos (2014); O Vendedor de Sonhos (2016)


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