quarta-feira, 8 de junho de 2022

FOGO E GELO / FIRE AND ICE (1983) - ESTADOS UNIDOS

ROTOSCOPE

Em tempos imemoriais uma poderosa rainha chamada Juliana (Eileen O'Neill) surgiu com  a intenção de estender o seu reino sob toda a terra. Seu maior aliado é Nekron (Sean Hannon), seu poderoso filho, com poderes físicos capazes de criar montanhas de gelo e poderes mentais capazes de destruir aqueles que se opõem ao seu reinado de conquista. Finalmente o Reino de Gelo alcança o reinado de Jarol (Leo Gordon), um generoso rei que defende a conhecida Fortaleza de Fogo, uma cidade construída em torno de um vulcão. 

Em sua expansão, Nekron destrói uma vila restando apenas um jovem guerreiro louro chamado Larn (Randy Norton), que consegue fugir das hordas de guerreiros sub-humanos chamados Orcs a disposição do maligno filho da Rainha Juliana. Enquanto a vila de Lar não é uma preocupação para Nekron, a resistência de Jarol é vista como um empecilho a ser resolvido. Juliana manda um emissário a Jarol (Leo Gordon) que recusa uma rendição, sem saber que a dupla já possuía outro plano em mente: sequestrar a sua filha, a jovem princesa Teegra (Cynthia Leake). O Plano dá certo com os guerreiros Orcs levando Teegra por uma floresta até o Castelo de Gelo. Quando a princesa consegue escapar, se depara com Larn também em fuga, mas é recapturada. Larn decide resgatar Teegra quando encontra Darkwolf (Steve Sandor), um poderoso guerreiro munido de um mortífero machado que o ajudará a resgatar a princesa e se vingar de Juliana e seu filho.

Fire and Ice foi uma animação bem incomum. Dirigido por Ralph Bakshi (“O Gato Fritz” - 1972 e “O Senhor dos Anéis” -1978) trazia um trio de respeito por trás do projeto: o famoso e lendário ilustrador Frank Fazetta (que também atuou como produtor) e os escritores, Roy Thomas (das Hqs de Conan ...)  e Gerry Conway, escritores de quadrinhos bem conhecidos, e ambos serviram como editor-chefe da Marvel Comics na década de 1970. Thomas assumiu o cargo de Stan Lee em 1972, e Conway ocupou brevemente em 1976.

O Grande diferencial de Fire and Ice está na sua consecução. Ralph Bakshi utilizou uma técnica chamada “Rotoscope Animation” que consiste (numa explicação bem simplória) em: filmar uma pessoa e desenhá-la no filme criando-se uma imagem de desenho animado dela. Isso significou filmar atores e atrizes ao vivo em preto e branco e “rotoscópia”, com células de animação colocadas sobre cada quadro dos membros do elenco para criar uma animação mais fluida e realista do que a animação padrão. Também se fotografa os atores em ação e se passa um papel especial por cima. Com isso, escalar um andaime vira, no desenho, escalar uma colina; guindastes levantando pessoas se transformam em monstros; jipes viram leões. Os atores precisam contracenar com esses elementos e reagir a eles conforme o proposto no roteiro. Não é uma tarefa nada fácil. Além disso, alguns desses atores não puderam emprestar suas vozes, esse trabalho foi para dubladores profissionais. E mais de mil pinturas de fundo foram feitas para este filme. Além disso, oito a dez pinturas eram feitas por dia por uma equipe ao estilo do traço de Franzetta.

Mas ainda que Fogo e Gelo apresente uma excelente animação que encha aos olhos perante outras animações feitas, mesmo posteriormente, talvez  devido ao orçamento apertado, assim como o prazo de realização e baixa metragem, os personagens carecem de desenvolvimento, tendo dado ênfase nos elementos de ação-aventura e nos visuais. E essas falhas de caracterização e narrativa mereciam um olhar mais cuidadoso: Darkwolf (parecendo um Batman pré-histórico) demonstra um ódio muito forte para com a mãe de Nekron, que nunca é desenvolvido: não sabemos sua origem e pouco sabemos de suas motivações. A Feiticeira surge na história, mas nem seus motivos nem sua “lealdade” são devidamente explorados, deixando sua presença no filme um mistério vazio. A impressão que fica é que foram removidos fragmentos da história em prol da baixa metragem (maior metragem = maior tempo de trabalho = maiores gastos = maior o orçamento).

A maioria dos atores aproveitados para esta animação é praticamente desconhecida em nosso país: Randy Norton encerrou a carreira de ator em 1986 após poucas participações em filmes e seriados.  Cynthia Leake, escalada para ser referência da animação de Teegra, encerrou a carreira de atriz em 1987. Seu trabalho mais conhecido foi no seriado Days of Our Lives (1981). Para sua personagem a voz utilizada foi a de Maggie Roswell (A Garota de Rosa-Shocking) que se especializou em emprestar sua voz para vários desenhos americanos. Sean Hannon, que fez Nekron, voltou sua carreira para a área de efeitos. Leo Gordon (Tarzan vai à Índia) talvez o ator mais conhecido foi a base para o rei Jarol. Eileen O'Neill (a rainha Juliana) só esteve nessa produção.

Animação baseada na arte de Frank Frazetta (1928-2010), mostra uma princesa em trajes bem sensuais (Frazetta era conhecido também por desenhar imagens de pin ups), um herói destemido, um grau de violência bem abaixo dos padrões atuais em uma história bem interessante que poderia ter sido melhor desenvolvida e que colheria significantes resultados. Hoje, a produção é item de coleção de vários amantes da animação e do trabalho do grande ilustrador. Uma animação que resistiu ao tempo e que volta e meia é postada em plataformas como YouTube (algumas com imagens ruins).  Vale uma olhada por adultos que gostam de animações de qualidade e que é melhor do que muitos filmes de “espada e feitiçaria” lançados nesse período.


Trailer:



Curiosidades:

De acordo com o comentário do diretor Ralph Bakshi no DVD, os animadores acharam que trabalhar para o produtor Frank Frazetta era tão assustador que alguns deles até desmaiaram quando Frazetta visitou o set.

Os cineastas tiveram muita dificuldade em encontrar uma atriz com o físico certo para interpretar Teegra para a versão live-action deste filme.

Dois jovens artistas trabalharam nos cenários para este filme. Ambos se tornaram famosos em seus campos: Thomas Kinkade (conhecido como o "Pintor da Luz") e James Gurney, criador e pintor da popular série de romances ilustrados "Dinotopia". Pintaram os fundos exclusivamente no estilo de Frank Frazetta, que foi produtor deste filme e cuja arte o inspirou.

Mesmo que os artistas do "rotoscópio" recebam o maior faturamento nos créditos de abertura, Ralph Bakshi teve algumas das vozes dos personagens dubladas com base no que ele queria e nas habilidades do elenco. 

Os dublês que interpretaram os sub-humanos acharam que trabalhar com Frank Frazetta era bastante frustrante porque ele lhes deu instruções muito específicas sobre como se mover.

A pantera de Teegra, Shaitan, é o nome árabe para Satanás.

Darkwolf nunca é chamado por esse nome nos diálogos do filme.

Os dois personagens principais, Larn e Teegra, não ficam cara a cara até os 31 minutos do filme. Eles têm aproximadamente sete minutos de tempo de tela compartilhada.

Ralph Bakshi contratou Peter Chung (da série Æon Flux) para animar os falcões de dragão.

Cenas de bastidores












Alguns trabalhos de Frank Franzetta








The Making of Fire and Ice (em inglês)




Filmografia Parcial:

Randy Norton

Alerta Noturno (1981); Uma Estrada Muito Doida (1981);  Fogo e Gelo (1983); Votos Quebrados  (1984)

Cynthia Leake

Xanadu (1980);  A Grande Farra dos Muppets (1981); Days of Our Lives  (seriado 1981); Fogo e Gelo (1983); The Bear (1984); Dallas (seriado 2 episódios - 1983 e 1985)

Leo Gordon (1922- 2000)

Átila, o Rei dos Hunos (1954); Sangue de Bárbaros (1956); O Homem Que Sabia Demais (1956); Tarzan Vai à Índia (1962); Quando um Homem É Homem (1963); Os Reis do Sol (1963); Beau Geste (1966); Alienator - A Exterminadora Indestrutível (1990); Maverick (1994).

4 comentários:

  1. Boa tarde!!
    Nunca ouvi falar dessa animação. Um desenho animado que acho parecido no que se refere ao mu ndo fantástico, é caverna do dragão; todos os episódios dele eu assistia como se fosse um filme. Pena que se transformar caverna do dragão em filme ou seriado, perde o encanto. Seria legal que escolhesse os episódios e os transformasse em filme de maneira fidedigna ao desenho. Parabéns pela análise!

    Abraço.

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  2. Boa Tarde Fabiana.
    Os anos 70 e 80 produziram animações interessantes para o cinema (na tv principalmente), esta é uma delas. Heavy Metal é outra animação que foi também para o cinema, voltada ao público adulto e sempre é citada.
    Caverna do Dragão realmente merecia uma adaptação fidedigna, até porque fazer como é feito hoje, adaptando séries famosas (ou adaptando produções famosas), tirando toda a essência e apostando em um produto que no final não dá em nada, é melhor ficar na nostalgia mesmo. Público existe, mas o tempo é um inimigo: quanto mais tempo para fazerem, mais no esquecimento a animação vai ficando. Um bom exemplo é Thundercats, no catalogo da HBO+, que já vem liderando as visualizações. O que Caverna do Dragão precisa é: um bom roteiro + uma pessoa com bom senso para perceber o que está se desviando do original + um diretor criativo e com experiência em animação. Os estúdios preferem fazer dinheiro rápido a baixo custo do que entregar um produto de qualidade. E o público fã de animação não aceita isso. Obrigado por mais esse comentário e um grande abraço.

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  3. Quando em português é muito top

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  4. Boa noite (você esqueceu e mencionar o seu nome)
    Eu assisti a versão legendada. Muito legal o seu feedback sobre a versão dublada. Muito obrigado por comentar, volte sempre e um grande abraço.

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