sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

ASCENSOR PARA O CADAFALSO / ASCENSEUR POUR L'ÉCHAFAUD (1958) - FRANÇA





TRAÍDOS POR PEQUENOS DETALHES

Julien Tavernier (Maurice Ronet), perto do final da tarde, mata o marido de sua amante, Florence (Jeanne Moreau), na empresa em que trabalha, num crime aparentemente perfeito, mas comete um erro e volta imediatamente ao local do crime incógnito ficando preso a noite toda ao desligarem a energia dos elevadores. Enquanto isso o delinquente Louis (Georges Poujouly) e a assistente de florista Véronique (Yori Bertin ) percebem que Julien deixou a chave no conversível. Roubam o veículo, se hospedam em um hotel como os nomes de Sr. e Sra. Tavernier, mas acabam cometendo um assassinato contra um turista alemão. Véronique e Louis serão também traídos por um pequeno detalhe. Agora a polícia passa a procurar Julien pelo crime que não cometeu sem saber que cometera outro. Enquanto Florence, ciente do crime que seria cometido contra o marido e sem saber que Julien se encontra preso no prédio, tenta localizar o amante nos principais locais que frequenta.


Filme de estreia do diretor Louis Malle ("Menina Bonita"; "A Baía do Ódio"; "Adeus, Meninos"; "Perdas e Danos") que durante a carreira foi indicado em três oportunidades ao Oscar. Ascensor para o Cadafalso foi um dos primeiros expoentes da "Nouvelle Vague"("Nova Onda") ainda que a maioria se lembre dos diretores François Truffaut e Jean-Luc Godard entre outros. Malle havia ganho um Oscar por seu documentário de 1956, "The Silent World". 
Realizado em 1957, "Ascenseur Pour l'Échafaud" chegou ao Brasil com um atraso de três anos (em 1960) e foi uma adaptação de Malle e Roger Nimier a partir do livro de Noël Calef, "Elevator". O cadafalso em questão seria a pena de morte que, na época do filme, ainda existia na França (foi extinta em1981). Para quem não sabe, cadafalso seria aquele estrado alto onde as vítimas à forca e guilhotina eram levadas para a execução e o "ascensor" significa "elevador". A corda esquecida pelo protagonista sugere, junto com título, uma execução na forca (que não ocorre). Tanto que o título americano é "Elevator to the Gallows" (Elevador Para a Forca)


Apesar de ser bem feito no seu todo, com uma estória que segura o espectador, acaba por descentralizar a ação em detrimento de outras situações paralelas, caminhando de forma lenta em alguns momentos, mas há a atmosfera romântica de Paris ao som do trompetista Miles Davis que fez uma bela composição de jazz que, gravada em uma única noite, tornou-se icônica e que funciona independente do filme, aliada ainda à bela fotografia cinzenta de Henri Decaë.


A estória de adúlteros assassinos que planejam a morte de um dos cônjuges e são traídos pelo fator "acaso" (aquele "pequeno detalhe") é bem recorrente no cinema e o leitor poderá ser lembrar de vários exemplos. Talvez ao fazer a opção por dirigir dois filmes em um (contando duas estórias paralelas que se entrelaçam em determinado ponto) Malle tenha perdido um pouco da dinâmica lá pelo meio do filme, mas graças ao ótimo elenco e um suspense que volta a funcionar nos últimos 25 minutos finais, o filme entrega um produto de reconhecida qualidade, na qual podemos entender que o casal principal executa o seu crime para juntos terem um novo futuro e o casal secundário o faz, paralelamente, para deixar o passado para trás. 


Quanto ao elenco, Jeanne Moreau viria a se tornar a "primeira dama" da "Nouvelle Vague", em sua primeira aparição como protagonista, no filme seguinte: "Os Amantes" (1958) novamente sob a batuta de Malle. Sua atuação, quase isenta de uma maquiagem para dar uma expressão mais real, funcionou muito bem e sua "beleza simples" encantaria muitos espectadores. Já Ronet interpretaria o protagonista de "O Fogo Interior" (1963) também de Malle. O curioso é que o casal Julien e Florence nunca se encontra no filme. Georges Poujouly (de Brinquedo Proibido) como o delinquente e sua namorada interpretada por Yori Bertin estão bem, mas o filme cresce mesmo é com a entrada do inspetor Cherrier interpretado por Lino Ventura.


Ascensor Para o Cadafalso é um thriller / suspense que chama a atenção pelo bom desenrolar da estória e como os elementos se combinam para dar um bom final ao filme. É um bom exemplo de uma produções que andam meio desaparecidas, mas que merecem ser redescobertas.

Curiosidades:

Louis Malle (1932–1995) e Jeanne Moreau estiveram juntos nos filmes: Ascensor para o Cadafalso (1958);  Amantes (1958); Trinta Anos Esta Noite (1963);  Viva Maria! (1965) 

Louis Malle e Maurice Ronet estiveram juntos em: Ascensor para o Cadafalso (1958); Trinta Anos Esta Noite (1963);  Histórias Extraordinárias (1968)


Louis Malle faz uma rápida aparição como um homem que confunde Florence com uma prostituta

Malle foi indicado ao Oscar pelas produções: Sopro no Coração (1971);  Atlantic City, USA (1980) e Adeus, Meninos (1987)

Jeanne Moreau faleceu de causas naturais em 2017

Maurice Ronet faleceu em 1983 de câncer

Georges Poujouly  faleceu em 2000 de câncer

Yori Bertin atuou no cinema até 1973


Trilha Sonora:



Filmografia Parcial
Jeanne Moreau (1928–2017)
 

 








Dormitório de Moças (1953); Grisbi, Ouro Maldito (1954); Segredos de Alcova (1954); Alma Satânica (1957); Ascensor para o Cadafalso (1958); Perversidade Satânica (1958); Amantes (1958); Os Incompreendidos (1959); Duas Almas em Suplício (1960); Assim Deus Mandou (1960); Uma Mulher É Uma Mulher (1961); Jules e Jim - Uma Mulher para Dois (1962); O Processo (1962); A Baía dos Anjos (1963); O Diário de uma Camareira (1964); Catarina da Rússia (1968); Acerto de Contas (1971); Joanna Francesa (1973); Cidadão Klein (1976); O Último Magnata (1976); Querelle (1982); Uma Estranha Mulher (1982); Nikita: Criada para Matar (1990); Até o Fim do Mundo (1991); Além das Nuvens (1995); O Regresso (1996); Para Sempre Cinderela (1998); Simplesmente Amor (2003); Roméo et Juliette (2006); Uma Dama em Paris (2012); O Gebo e a Sombra (2012); Le talent de mes amis (2015)

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