INCONGRUENTE À PRIMEIRA VISTA
Após uma
apresentação em um teatro, um casal oferece um jantar em sua mansão. Quando a
noite termina, perto de 20 convidados não conseguem ir embora e acabam por
dormir em sofás, chão e cômodos. No dia seguinte, após tomarem o café da manhã,
percebem “uma força invisível”, como se fosse um obstáculo, a lhes impedir de ultrapassar
o umbral da sala de estar. Os dias transformam-se em semanas e o grupo continua
preso enquanto os órgãos de segurança, do lado de fora, não conseguem,
inexplicavelmente, entrar sequer no pátio da mansão e toda vez que resolvem
tomar uma atitude, simplesmente desistem, tal como os convidados da casa.
O Anjo
Exterminador é uma obra mexicana escrita e dirigida por Luis Buñuel, nascido
espanhol e naturalizado mexicano, considerado um dos mestres do surrealismo com
obras como "A Bela da Tarde" (1967) "O Discreto Charme da
Burguesia" (1972), Um Cão Andaluz (1929) , Viridiana (1961), "Esse
Obscuro Objeto do Desejo" (1977). Buñuel resolveu fazer um filme que
critica a burguesia da pré- Espanha Guerra Civil fazendo um jogo de metáforas
que se forma conscientemente ou sendo fruto da mente e dos valores do diretor. O filme
se inicia com os empregados da casa, largando inexplicavelmente seus afazeres e
deixando a casa ao passo que os convidados chegam. O único a não abandonar seus
senhorios é Julio (Claudio Brook), que passa a tentar cobrir a ausência de seus amigos (se assim
podemos considerá-los).
Buñnel, um empedernido
analista do comportamento humano, coloca o espectador, através de suas lentes
providas de furiosa ojeriza, em uma posição privilegiada, onde este assiste os
acontecimentos ao longo do filme. A ideia de utilizar uma linguagem não direta
para narrar os fatos pode confundir uma grande parcela dos espectadores,
principalmente, aqueles que não leram nada a respeito. É que o diretor, como o
gênero diz, usa situações surreais (daí o termo surrealismo) para descrever o
ambiente e atitudes dos personagens fazendo com que muitas situações passem
despercebidas de quem os assiste. Mas o filme, que aparenta ser um longo e
cansativo tema sobre malucos presos numa cela imaginária, demonstra-se um
ensaio sobre como o diretor via a elite social (burguesa) da época.
Bruñnel (1900
- 1983) fez um filme em que cada um que o assistir terá uma reação: chato,
cansativo, sem sentido, perda de tempo, profundo, genial, insólito, enigmático,
incongruente, ou seja, cada espectador terá uma visão única baseado em seus
gostos, crenças e valores. Na verdade, acredito que qualquer uma dessas
sensações seja válida, pois não creio que o diretor quisesse unanimidade em seu
trabalho, apenas que ele fosse visto e que cada um o julgasse com quisesse. Em
uma de suas declarações Bruñnel, um anticonformista congênito, teria dito que a
melhor explicação para o filme é que "não havia nenhuma"
Para os que
procuram “pelo em ovo” como muitos críticos à época alegaram, existem alguns
aspectos que poderão ser analisados. Este é o tipo de filme que por mais que
sejam dissecados seus múltiplos significados, outros ficarão sem análise, pois
como já dito, cada pessoa terá uma impressão própria e tal como a vida, sujeita
a interpretações.
Podemos dizer
que o filme não explica as causas dos acontecimentos, logo o espectador nunca
saberá o que precipitou a situação. Intervenção divina, loucura? O filme se inicia
com a saída abrupta dos empregados que não conseguem ficar nem mais um minuto
na mansão, mesmo com a ameaça de demissão. A mensagem talvez seja a de que eles
não fazem parte desse grupo burguês e a vingança não deverá recair sobre eles. O
mordomo fica na casa servindo o jantar, o que pode significar sua aristocratização
(acomodação) ao sistema burguês. Este já chegou ao ponto em que não lhe resta
mais como escapar. Durante o jantar, um dos hóspedes faz uma homenagem à
anfitriã propondo um brinde, a cena repete-se (parecendo um defeito no DVD) e agora
percebemos que ninguém presta a atenção a solicitação de brinde. Seria a
primeira cena apenas a hipocrisia e, na segunda, a verdadeiro estado de ânimo
dos convidados?
De acordo com
que o filme se desenrola vemos que: Lídia tem um amante que frequenta sua casa;
as pessoas que até então se gostavam, passam a "se aturar" até
começarem a perder seus modos polidos; palavras não são mais contidas; em
determinado momento uma das protagonistas esbofeteia duas vezes um dos
presentes. Difícil não imaginar uma metáfora do diretor esbofeteando os
simbolismos da sociedade hipócrita. Começam a faltar alimentos, água, remédios...
os conflitos não tardarão a surgir. Pose e educação dão lugar à grosseria, tranquilidade
a desespero e instintos primitivos vem à tona; pseudo-valores e crenças são
devassadas. Bruñnel costumava dizer que amava as pessoas, mas não a sociedade
que elas criaram. Aí entendemos a vertente de sua crítica social inserida em
seus filmes. A sociedade burguesa criando uma parede invisível frente as
classes consideradas inferiores e presas em sua própria armadilha.
Baseado em um
conto de Jose Bergami "Los Naufragos de la Calle de la Provedencia" o
filme recebeu o Prêmio Especial da Crítica em Cannes. No Brasil o filme, quando
lançado, foi proibido em grande circuito por "não conter mensagem
alguma" e ser um atentado a religião (um atentado? ... mas se não traz
mensagem alguma ... uma contradição) sendo liberado, posteriormente, para salas
/ cinemas que exibissem filmes de arte. É um filme em preto e branco, mas citado
em várias outras obras do cinema. Não é um filme que todo público se entreterá,
visto que sua temática e datação são um forte indício de rejeição para boa
parte do público
Trailer:
Curiosidades:
Luis Buñuel declarou publicamente que considerou o filme um fracasso e que, se o filmasse mais tarde em Paris, teria sido mais extremo
Luis Buñuel afirmou que o filme contém mais de vinte peças de repetição. Na verdade, o filme contém 27 instâncias de repetição.
Foi proibido na Rússia porque a idéia de pessoas que não tinham permissão para "deixar uma festa" era considerada ofensiva e antigovernamental.
O título foi retirado de um amigo de Luis Buñuel, José Bergamín, que estava escrevendo uma peça com esse título, mas nunca o terminou. Quando Buñuel quis nomear seu filme, ele pediu os direitos do título ao amigo, mas este respondeu que não havia problemas, porque fora retirado da Bíblia, o Livro do Apocalipse.
Luis Buñuel expressou frustração em relação ao baixo orçamento do filme e à falta de comodidades disponíveis no set no México. Como exemplo dessas dificuldades, Buñuel lembrou que o filme funcionava com um orçamento tão austero que ele nem podia comprar guardanapos de mesa finos para as cenas dos jantares, nem poderiam ser facilmente obtidos no México na época. Ele só conseguiu comprar um guardanapo de pano para uma foto em close da mesa de jantar quando a maquiadora do filme trouxe um de sua casa.
A cena em que um urso e duas ovelhas aparecem durante o jantar foi baseada em um incidente real em um jantar que Luis Buñuel esteve em Nova York.
De todos os filmes do período mexicano / espanhol de Luis Buñuel, este é o único filme sobre o qual ele tinha controle criativo completo.
O roteiro do filme foi originalmente intitulado "Os Náufragos da Rua Providence" ("Los Náufragos da Calle Providencia).
Segundo Luis Buñuel, o título veio da Bíblia, mas também foi uma referência a um culto espanhol, aos apostólicos de 1828 e a um grupo de mórmons.
Na cena da igreja - a primeira cena do filme a ser filmada - Rita Macedo aparece como "Lucía de Nobile". Ela não conseguiu terminar o filme devido à gravidez.
Incluído entre os "1001 filmes que você deve ver antes de morrer",
Filmografia Parcial:
Luis Buñuel declarou publicamente que considerou o filme um fracasso e que, se o filmasse mais tarde em Paris, teria sido mais extremo
Luis Buñuel afirmou que o filme contém mais de vinte peças de repetição. Na verdade, o filme contém 27 instâncias de repetição.
Foi proibido na Rússia porque a idéia de pessoas que não tinham permissão para "deixar uma festa" era considerada ofensiva e antigovernamental.
O título foi retirado de um amigo de Luis Buñuel, José Bergamín, que estava escrevendo uma peça com esse título, mas nunca o terminou. Quando Buñuel quis nomear seu filme, ele pediu os direitos do título ao amigo, mas este respondeu que não havia problemas, porque fora retirado da Bíblia, o Livro do Apocalipse.
Luis Buñuel expressou frustração em relação ao baixo orçamento do filme e à falta de comodidades disponíveis no set no México. Como exemplo dessas dificuldades, Buñuel lembrou que o filme funcionava com um orçamento tão austero que ele nem podia comprar guardanapos de mesa finos para as cenas dos jantares, nem poderiam ser facilmente obtidos no México na época. Ele só conseguiu comprar um guardanapo de pano para uma foto em close da mesa de jantar quando a maquiadora do filme trouxe um de sua casa.
A cena em que um urso e duas ovelhas aparecem durante o jantar foi baseada em um incidente real em um jantar que Luis Buñuel esteve em Nova York.
De todos os filmes do período mexicano / espanhol de Luis Buñuel, este é o único filme sobre o qual ele tinha controle criativo completo.
O roteiro do filme foi originalmente intitulado "Os Náufragos da Rua Providence" ("Los Náufragos da Calle Providencia).
Segundo Luis Buñuel, o título veio da Bíblia, mas também foi uma referência a um culto espanhol, aos apostólicos de 1828 e a um grupo de mórmons.
Na cena da igreja - a primeira cena do filme a ser filmada - Rita Macedo aparece como "Lucía de Nobile". Ela não conseguiu terminar o filme devido à gravidez.
Incluído entre os "1001 filmes que você deve ver antes de morrer",
Filmografia Parcial:
Luis Buñuel (1900–1983)
Um Cão Andaluz (1929); A Idade do Ouro (1930); Os Esquecidos (1950); As Aventuras de Robinson Crusoé ; Nazarin (1959); Viridiana (1961); O Anjo Exterminador (1962); O Diário de uma Camareira (1964); A Bela da Tarde (1967); Tristana, Uma Paixão Mórbida (1970); O Discreto Charme da Burguesia (1972); O Fantasma da Liberdade (1974); Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977)
Um Cão Andaluz (1929); A Idade do Ouro (1930); Os Esquecidos (1950); As Aventuras de Robinson Crusoé ; Nazarin (1959); Viridiana (1961); O Anjo Exterminador (1962); O Diário de uma Camareira (1964); A Bela da Tarde (1967); Tristana, Uma Paixão Mórbida (1970); O Discreto Charme da Burguesia (1972); O Fantasma da Liberdade (1974); Esse Obscuro Objeto do Desejo (1977)
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