quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

A VIDA DOS OUTROS / DAS LEBEN DER ANDEREN (2006) - ALEMANHA


ESSA TAL CONDIÇÃO HUMANA

1984. Berlim Oriental. A Alemanha está dividida entre a parte Ocidental e a Oriental. Hauptmann Gerd Wiesler (Ulrich Mühe) é um capitão da Stasi, a Polícia Secreta Alemã, escalado para investigar a vida do prestigiado dramaturgo Georg Dreyman (Sebastian Koch), a pedido do Ministro da Cultura Bruno Hempf (Thomas Thieme), que confidencia acreditar que Dreyman (o único leal ao partido) estaria ligado a grupos subversivos. Gerd entra em ação e passa a vigiá-lo, colocando diversas escutas e até uma câmera no apartamento do artista, tudo sendo transcrito em uma máquina de escrever velha para ser enviado ao partido. 



Gerd é um homem altamente disciplinado, de poucas palavras, metódico, com um rosto sempre sério e atitudes medidas. Pensa, mas não deixa transparecer sua emoções. Começa a ser pressionado a encontrar uma evidência, mas algo começa a incomodá-lo: o ministro que tanto quer descobrir algo errado com o dramaturgo parece nutrir sentimentos pela namorada deste, Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck), uma famosa atriz, revelando que as reais motivações não atendem o interesse do Estado, mas de uma pessoa poderosa que usufrui de um cargo privilegiado. Gerd passa a questionar o seu papel dentro de um sistema que não deveria ser usado para tal finalidade.



Gerd se dá conta que entrou em jogo do poder perigoso: não pode inventar provas, pois seria contra sua ética, crenças e valores, mas tem que encontrar algo que o todo poderoso ministro deseja, para este ficar com a namorada do teatrólogo, além do seu chefe imediato que seria beneficiado diretamente no caso. Dreyman parece ser uma pessoa normal, criar uma prova nesse regime não seria difícil e sua carreira poderia ser bem gloriosa. Mas aprisionar um homem inocente para agradar a outro? Destruir a vida de um casal? Uma dualidade que passa a atormentar Gerd, que procura um meio de evitar que o sistema seja corrompido de dentro pra fora. Mas, e se Dreyman for culpado no final das contas?



"A Vida dos Outros" é um premiadíssimo filme que, merecidamente, levou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2007. Um retrato de como o poder pode ser desvirtuado em prol de interesses próprios. Gerd  acredita no sistema que defende e usa suas habilidades pra evitar que "opositores" desse regime possam minar aquilo que considera o melhor para sua sociedade. Seu papel é descobrir informações que identifiquem esses "inimigos do socialismo", seja através de escutas ou longos interrogatórios. O regime é duro. As pessoas são vigiadas. Uma palavra mal colocada pode levar um cidadão a ser preso ou ficar marcado pelo resto da vida.



Escrito e dirigido por Florian Henckel von Donnersmarck,  em seu primeiro longa, é um filme passado na pré-queda do Muro de Berlim e sua produção (apesar de ser baixo custo) é de primeira: estória, fotografia, direção e atores. Tudo funciona em perfeita harmonia. O filme parece caminhar em uma direção em que tudo ficará no modo de como Gerd seguirá com esta questão. Só que o filme começa a revelar outras situações que o espectador não esperava. O temido agente parece se humanizar, algo o vai lentamente transformando. Conviver com a situação do casal lhe mostra um outro mundo, um novo ponto de vista  e isso pode tornar-se muito perigoso para Gerd.



O trunfo de "A vida dos Outros" é mostrar uma estória de um modo tocante, envolvente, poético na qual o rumo  dos personagens e circunstâncias mudam constantemente. Aliado a isso temos uma performance de altíssimo nível de  Ulrich Mühe, falecido um ano depois. Se o Oscar fosse uma premiação globalizada, Ulrich, poderia levar até mesmo o prêmio de melhor ator. 




"A Vida dos Outros' não centra apenas em uma estória sobre a Alemanha Oriental e a Stasi, mas sobre personagens e seus envolvimentos dentro desse contexto,  mostrando um painel da vida daquelas pessoas e como o sistema corrupto, delator e totalitário as tratavam de um modo muitas vezes assustador e opressor. Como cereja do bolo temos um final de uma incrível sutileza.

Trailer:



Curiosidades:
Consta do livro "1001 Filmes Para Se Ver Antes de Morrer";

O ator Ulrich Mühe faleceu, aos 54 anos, de câncer no estômago. Ela era da Alemanha Oriental e teria sido também vigiado pela Stasi. Sua participação sempre foi maior no teatro que no cinema;

O filme custou em torno de $ 2.000.000,00 e faturou mais $ 77.000.000,00 ao redor do mundo;

O próprio ator Sebastian Koch tocou "Sonata Para Um Homem Bom", ao piano, no filme;

Em um livro descrevendo os bastidores do filme Ulrich revelou que sua ex-esposa,  Jenny Gröllmann (1947–2006),  seria uma suposta informante do regime;

Supõe-se que um em cada dez cidadãos estavam ligados de algum modo à Stasi;

Após a queda do Muro de Berlim os cidadãos tiveram acesso as informações sobre quem era investigado;

O símbolo da Stasi era a espada e o escudo. A Stasi foi uma das mais eficentes e implacáveis polícias secretas do bloco soviético;

O roteiro foi escrito durante o retiro do diretor em um Mosteiro. 




Fontes:
IMDB
Jornal O Globo
1001 Filmes Para se Ver Antes de Morrer
Globo.com
The New York Times
Veja.com

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