domingo, 30 de abril de 2023

MIRAGEM / DÉLIBÁB / MIRAGE (2014) - HUNGRIA / ESLOVÁQUIA

FAROESTE HÚNGARO

Um andarilho caminha em uma paisagem rural em tempo e local não determinado.  Esse homem chega a uma estação de trem e paga por uma passagem, embarcando em uma pequena locomotiva de carga que conduzirá apenas ele a um local. No meio do longo caminho, a locomotiva para e o andarilho constata que o idoso maquinista sofrera possivelmente um mal súbito vindo a óbito, mas ele consegue levar o veículo até a próxima estação. Os que ali estão o retém, temporariamente, até a vinda da polícia que resolve prendê-lo, mas a chegada de um pequeno grupo armado, que parecia aguardá-lo, impede sua prisão sendo conduzido para uma fazenda em troca de trabalho.

Na fazenda, o andarilho percebe que os trabalhadores são tratados de forma brutal pelos fazendeiros, assim como também percebe ao longo dos dias atividades ilegais e criminosas. Quando a única mulher do local (Orsolya Torok-Illyes) lhe deixa um bilhete informando que esses homens não são os donos reais da propriedade, ele decide fugir, mas é recapturado. Sua única chance de liberdade será confrontar os invasores fortemente armados.

Um prólogo nos apresenta a realidade em que vivem esses personagens: gangues de criminosos se espalharam pela Hungria, invadindo fazendas e trazendo de volta a escravidão às suas planícies. O que conseguimos descobrir é que o misterioso itinerante é Francis (Isaach De Bankole), um atacante da Costa do Marfim que se colocou em fuga após aceitar subornos e manipular partidas, mas terminou por parar em uma cidade remota onde uma gangue mantém pessoas em trabalhos análogos à escravidão, liderados por Cisco (Razvan Vasilescu).


Essa curiosa co-produção húngara-eslovaca agrega adereços que o aproximam de filmes como “Os Brutos Também Amam - Shane” e “Cavaleiro Solitário”, em um outro contexto, além do filme “12 Anos de Escravidão”. Dividido em atos que se unem por fade in / fade out e elementos pictóricos que ensejam apresentar ao espectador o que se seguirá, Miragem (tradução correta para Délibáb) é um filme que embora apresente uma narrativa linear parece desconexo, evasivo em alguns pontos, dando a impressão que algo se perdeu na mesa de montagem. O diretor Szabolcs Hajdu não facilita muito para os espectadores que tentam adivinhar o que exatamente está acontecendo, deixando-os a preencher as lacunas da estória. O diálogo é esparso, com longos momentos de silêncio amplificados pela paisagem desértica, assim como o andamento do filme, que foge de uma narrativa ágil, deixando a tradicional ação para o último ato, o que faz com que este faroeste contemporâneo húngaro se aproxime mais de festivais do que o circuito comercial. Apesar de ter uma bela fotografia de András Nagy (de “Post Mortem - Fotos do Além” - 2020) e uma trilha sonora bem interessante a cargo do percussionista americano de jazz Billy Martin não é suficiente para se tornar uma grande produção, mas de certa maneira atrai o espectador a continuar a acompanhar a estória (roteirizada por Jim Stark, um conhecido produtor do cineasta Jim Jarmusch, em conjunto com outros dois autores) até o seu final.

Quanto ao elenco, Isaach De Bankole, também produtor executivo deste filme, é o grande nome da produção. O ator costa-marfinense, é conhecido por filmes como “A Chave Mestra”, “007 Cassino Royale” e “Uma Noite Sobre a Terra. Seu personagem, o enigmático forasteiro que chega no local errado e na hora errada, se tornando um sopro de esperança para os que ali estão cativos, mas que não deseja se envolver, é um típico personagem dos faroestes (mais próximo dos italianos) e como tal terá sua contribuição neste contexto. O filme, dentre muitas situações não esclarecidas, nos deixa a percepção de que a fazenda seria um local de parada e trabalho para Francis continuar sua jornada, só que este não sabia que seus “empregadores” praticavam a escravidão moderna (algo que no nosso Brasil de extensões continentais nos é bem familiar, todo mês alguém surge nos noticiários salvo de uma situação análoga à escravidão) ou que a fazenda fora tomada antes de sua chegada (não é devidamente esclarecido). Em determinado momento, nosso herói descobrirá o destino de alguns párias que ali também estiveram. Orsolya Torok-Illyes (esposa do diretor Szabolcs Hajdu), curiosamente, será a principal peça na virada de mesa do filme ainda que sua personagem não tenha o desenvolvimento esperado até o momento crucial. O romeno Razvan Vasilescu faz Cisco que, com o seu trio de soldados (uma analogia aos antigos caubóis), impõe sua lei no local e fica obcecado (há um motivo) pelo desaparecimento da bola de futebol que Francis carregava consigo. O restante do elenco não compromete.

Dirigido pelo húngaro Szabolcs Hajdu, que teve filme lançado em nossos cinemas: “Cabaré Biblioteque Pascal” (2010), Miragem, exibido por aqui no canal Eurochannel (e constando no catálogo da Amazon Prime nesta data), é uma produção irregular, que pode ser considerada cult. Carrega alguns interessantes ingredientes, já citados, além de abordar muito rapidamente o preconceito e racismo (na cena do goleiro e das abelhas). Não é para todo o público, indica-se mais àqueles que buscam filmes europeus ou produções quase autorais.


Trailer:



 

Cartaz:












Isaach De Bankole em 007 - Cassino Royale


Filmografia Parcial:

Isaach De Bankole









Tornei-me um Criminoso (1984); Noir et Blanc (1986); Dane-se a Morte (1990); Uma Noite Sobre a Terra (1991);  No Coração das Trevas (1993); Casa de Lava (1994); Ghost Dog: Matador Implacável (1999); Pai de Aluguel (1999); Madrugada Mortal (2001); Sobre Café e Cigarros (2003); Manderlay (2005); A Chave Mestra (2005); Viúva Negra (2005); A Passagem (2005); Miami Vice (2006); 007: Cassino Royale (2006); O Escafandro e a Borboleta (2007); O Quinto Paciente (2007); A Batalha de Seattle (2007); A Guitarra (2008); 24 Horas: A Redenção (2008); Os Limites do Controle (2009);Minha Terra, África (2009); Miragem (2014); O Último Caçador de Bruxas (2015); Norman: Confie em Mim (2016); Pantera Negra (2018); Saída à Francesa (2020); Pantera Negra: Wakanda para Sempre (2022); Os Odiados do Casamento (2022)

2 comentários:

  1. O filme poderia explorar melhor o tema, mas torna-se cansativo e ruim.

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  2. Boa tarde (você esqueceu de mencionar o seu nome)
    Realmente, o filme ficou abaixo das expectativas.
    Muito obrigado por comentar, volte sempre e um grande abraço.

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