sábado, 30 de janeiro de 2021

CRACK - CONEXÃO DA MORTE / ZABOU / THE CRACK CONNECTION (1987) - ALEMANHA OCIDENTAL

DERIVADO DA FAMOSA SÉRIE ALEMÃ

No passado, o jovem Horst Schimanski (Götz George) teve um breve e forte relacionamento com uma mulher, mostrando um afeto de pai pela pequena filha desta chamada Conny (Bettina Schüssler). Houve uma separação, os anos se passaram, Conny e Schimanski se reencontraram: a menina tornou-se mulher e o detetive agora está mais maduro. Só que Conny (Claudia Messner) se autodenomina “Zabou” e está envolvida em um mundo de drogas, tráfico e prostituição, em Hamburgo, na qual Schimanski vem investigando. O detetive tenta tirá-la desse submundo, enquanto tenta desbaratar a quadrilha que age longe dos olhos da polícia. E ele pagará caro por isso. Schimanski cai em uma armadilha, é tido como assassino de um empresário e passa a ser perseguido pela polícia e pelos que investigava. A única pessoa que pode lhe ajudar é Zabou, mas ele poderá confiar nela?

Poucos sabem, mas, Crack - Conexão da Morte, é uma produção alemã derivada de um famoso seriado no país (não transmitido por aqui) chamado “Tatort” ("cena de crime" / "cena criminal"). A ideia parecia ser lançar Götz George (um ator muito respeitado na Alemanha) no circuito internacional e quem sabe agradar este público lançando um personagem aos moldes do que Hollywood fazia na época com filmes de Chuck Norris, Charles Bronson, Stallone e Cia, os "man of action" dos anos 80, com uma dublagem em inglês que reforçou para muitos a impressão de que se tratava de uma produção de Hollywood. Para tal, foi contratado o diretor Hajo Gies, com o roteiro feito por Axel Götz e Martin Gies (este último irmão do diretor), no ritmo dos filmes de ação americanos dos anos 80, com uma trilha sonora que trazia nomes como Joe Cocker, Tina Turner e Freddie Mercury. Por aqui, o público, que não tinha como comparar com o seriado alemão (e até desconhecia essa informação), deu boa bilheteria ao filme, que ficou bom tempo em cartaz e funcionou muito bem quando foi lançado no mercado de vídeo.

Curiosamente, o filme aportou por aqui através da extinta WR Filmes, uma distribuidora brasileira criada pelo cineasta / produtor Wilson Rodrigues que traria, no ano seguinte, ao público, outro filme alemão de Götz George: Traição Fatal (Die Katze). Um filme também bem interessante que igualmente estreou em nossos cinemas em circuito reduzido. Hoje ambas são produções difíceis de serem encontradas em imagem de qualidade com legendas, mas disponíveis no YouTube com imagem de VHS. Interessante que a versão lançada em VHS  contém alguns minutos a menos, nada que comprometa o filme. A versão original alemã, estende algumas cenas. Em 1990 foi retransmitido pela televisão alemã com reedição e trilha sonora modificada. Na versão alemã que vi, a cena no quarto, após Conny tirar o detetive das águas, e  a cena na discoteca, contém alguns segundos a mais. Já a cena da perseguição do barco, possui outra canção que a do VHS brasileiro. 

Crack, Conexão da Morte se inicia em um formato bem curioso: a história do jovem Schimanski nos é mostrada através de cenas ao som de “Now That You’re Gone”, uma interpretação belíssima de Joe Cocker (1944-2014), cuja canção ressurge próximo aos créditos finais. Joe Cocker, aliás, ganhou o Oscar em um dueto com Jennifer Warnes (Dirty Dancing) pela música “Up Where we Belong”, tema de “A Força do Destino”, além de cantar a música principal do filme “A Revanche Final” (1989), “When the Night Comes” que teve Tom Selleck (Magnum) como protagonista. Obviamente, a trilha sonora visava dar visibilidade ao filme no cenário internacional e chegou a ser lançada por aqui através dos antigos discos de vinil (LP).  Curiosamente, eu comprei um desses vinis em um sebo de discos, em perfeito estado, por um preço irrisório, logo após o lançamento do filme, visto que o filme não era tão conhecido.

Mas qual são os méritos do filme? Na verdade, o filme almejava uma tentativa bem-sucedida de se apegar aos modelos de ação americanos, o que podemos dizer que foi moderadamente alcançado. Os ingredientes são bem comuns de quem via filmes policiais dos anos 80: agentes que trabalhavam a margem da lei e agiam por suas próprias regras; policiais que combatiam o crime como “lobo solitário”, com direito a perseguições de carro (aqui também, mas a perseguição de barco foi melhor); uma mulher fatal; o policial tentando provar sua inocência e aqueles famosos veículos altamente explosivos ao menor impacto. Crack ... tem todos esses elementos. Talvez o seu diferencial seja que Gotz George (falecido em 2016)  e Claudia Messner eram bons atores (em 1985 Gotz havia recebido o Prêmio do Cinema Alemão) e tiveram a química que o filme precisava; a direção era competente (ainda que com algumas cenas involuntariamente engraçadas) e o roteiro, apesar dos ingredientes triviais, conseguiu trazer o espectador para dentro da história. No país de origem do filme, há quem diga que essa ida para o cinema descaracterizou o personagem e que a série (1971 a 1991) era bem melhor que o filme. E esta foi a segunda caracterização para o cinema do personagem Shimanski, a primeira foi “Zahn um Zahn” em 1985 (não lançado por aqui).

Quanto a Götz George. apareceu em 'Der Bruch', a primeira co-produção da Alemanha Oriental-Ocidental para o cinema; fez a comédia "Os Irresistíveis Falsários" (1992), um grande sucesso na Alemanha e indicação oficial alemã ao Oscar; fez um serial killer no filme "O Assassino" (1995) e interpretou Josef Mengele no filme “Nichts als die Wahrheit' entre outros trabalhos premiados. Sua atuação como o detetive que se apaixona pela mulher que um dia foi quase sua filha adotiva, soa estranho, mas o espectador passa até a torcer por Shimanski. A austríaca Claudia Messner faz uma personagem que o espectador facilmente identificará qual o seu papel na investigação de Shimanski, mas reserva para o final uma surpresa bem interessante e diferente dos filmes americanos.  Eberhard Feik, como Thanner, parceiro de Shimanski e melhor amigo, que não sabe se dá uma chance ao detetive de provar sua inocência atrasando sua prisão ou se o prende, por achar que finalmente este meteu os pés pelas mãos, funciona a contento.


Crack - Conexão da Morte (título bem escolhido para um original pouco atraente: “Zabou”) não é um filme memorável ou uma produção que muitos recordarão como um grande filme. É  uma produção eficiente, com um bom ritmo e atores / atrizes que agregam ao filme.  Funciona mais como uma boa lembrança, de um filme esquecido dos idos das locadoras, que alguém possa rever e lembrar com carinho.

 

Curiosidades:

O filme possui dois títulos alternativos: “Shimanski II” e “The Crack Conection” (titulo internacional)

O diretor Hajo Gies dirigiu 21 episódios, de um total de 39, da nova fase da série Tatort (1977 a 2009) 

Götz George voltaria ao personagem na série "Shimanski" (1997-2013)

Claudia Messner ganhou o prêmio "Chaplin Shoe" de Melhor Jovem Atriz no "Munich Film Festival" em 1988

Götz George  foi indicado sete vezes para o German Film Awards, o equivalente alemão do Oscar, e ganhou quatro vezes.

Götz George faleceu em 2016, aos 77 anos, de causas não reveladas. O ministro da justiça alemão, Heiko Maas, disse que, com o falecimento de George, o país perdia um de seus grandes atores.

 

Cartazes:







 

















Seriados:
















Now That You’re Gone – Joe Cocker




 

Letra da Canção Now That You’re Gone – Joe Cocker

Are you still that little girl who used to talk to me?

Just look how far we've come in this world

Where did you think we'd be?


You think the world wakes up at noon

And you left it all behind

You hear the music but you've lost the tune

Oh melodies are hard to find.


Why did you go away leaving me alone?

There's nothing left to say now that you're gone

(Now that you're gone) 

Now that you're gone.


In the eyes of the woman I see you were just a child

Not the one who's walking the streets

Not the one who's running wild.

Say life has changed that much

You don't wanna know

All the love we shared in this world not so long ago.


Why did you go away leaving me alone?

There's nothing left to say now that you're gone

Why did you go away leaving me alone?

There's nothing left to say

Oh Now that you're gone  

(Now that you're gone).


Now that you're gone  (3 X)



Trilha Sonora:

Now That You're Gone - Joe Cocker

Saliors - Argandoña

Big Shot - Nex Big Error

The Vision - Pueple Schutz

Too Lonely To Win - Ian Cussick

Why Is so Hard - Talk Talk

Hold On - Freddie Mercury / Jo Dare

Later Train - Graham T. Brown

Born Beautiful - Wolf Maaahn

A Chance is Gonna Come - Tina Turner

Paradise Lost - Annie Haigis

Desperado (Intrumental) - Danny Deutschmark & Kalus Lage


LP:









 



Filmografia Parcial:

Götz George (1938–2016)







Jaqueline (1959); A Justiça em Pecado (1962); O Tesouro dos Renegados (1962); Carne para Abutres (1964); Um Homem Chamado Gringo (1965); Fu Manchu e o Beijo da Morte (1968); Comando Sullivan (1968); O Vento do Leste (1970); Crack - Conexão da Morte (1987); Traição Fatal (1988);  Blauäugig (1989); Tatort (serriado 1971 A 1991); Os Irresistíveis Falsários (1992); Der Sandmann (1995); O Assassino (1995); Rossini (1997); Nichts als die Wahrheit (1999);  Folhas e Flores (2004); Maria an Callas (2006); Die Katze (2007); Mein Kampf (2009); Schimanski: Loverboy (2013); Schimanski (seriado 1997 a 2013);  Böse Wetter (2016)


Claudia Messner (1962)







Poliziotto Senza Paura (1978);   Crack - Conexão da Morte (1987); La tribu (1991); Tödliches Schweigen (1996); Tödliche Schwesterliebe (1996); Blind Date (1998); Blind Date - Flirt mit Folgen (1998); Tatort (entre 1984 e 2007);  Duas Irmãs, Uma Paixão (2014); Katharina Luther (2017); Duas Vezes Cupido (2017);

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