“ODIAMOS NOSSOS MESTRES POR TRÁS DE UMA FACHADA DE AMOR OU OS AMAMOS POR TRÁS DE UMA FACHADA DE ÓDIO?”
Balram Halwai (Harshit Mahawar)
é pequeno aluno que chama a atenção, conseguindo uma bolsa de estudos em uma instituição
de prestígio em Delhi. O destino, porém o tira da sala de aula: seu pai morre de tuberculose e seu irmão foi forçado a um casamento arranjado. Sua avó (Kamlesh
Gill), agora a matriarca da família, o retira da escola para trabalhar na casa
de chá da família, martelando pedaços de carvão.
Balram (Adarsh Gourav) agora é um adulto e não deseja ter a vida destinada para ele por ser de uma casta (a “Halwai”) inferior. Quando ouve que o senhorio da vila (Mahesh Manjrekar), que com seus homens vive a colher dinheiro dos que ali moram, está procurando um segundo motorista para seu jovem filho Ashok (Rajkummar), que voltou da América, ele decide que essa pessoa será ele. Ele convence a avó a lhe emprestar o dinheiro para tirar a carteira de motorista, em troca dela receber a maior parte do seu salário e ainda se tornar uma pessoa popular no vilarejo. Balram consegue a carteira e convence o senhorio a lhe dar o cargo. Agora, ele é o segundo motorista da família, mas em breve, astutamente, se tornará o primeiro, transformando-se em motorista de Ashok e de sua esposa Pinky (Priyanka Chopra Jonas), cujo casamento a família não vê com bons olhos, pois Ashok quebrou a tradição das castas ao casar-se com Pink, uma mulher mais ativa e de decisões próprias que não deseja ficar na Índia.
Balram mostra-se totalmente subserviente, assumindo mais tarefas e continuamente se apequenando para garantir a aprovação de seus chefes, principalmente do patriarca que apelida secretamente de “Cegonha” e seu braço direito, irmão de Ashok, que apelida de “Mangusto” (Vijay Maurya). Balram limpa tapetes, dorme no chão, esfrega óleo nas panturrilhas da “cegonha”, ainda que este o trate, volta e meia, com abusos físicos, verbais e psicológicos. E ainda alega aceitar uma fração menor do baixo salário que eles oferecem. Só que um evento faz com que Balram se considere traído por aqueles a quem jurou serventia e lealdade. Ele começa a se tornar uma outra pessoa, passando a pensar apenas em si com uma forte raiva interior.
O Tigre Branco, dirigido por Ramin
Bahrani (Fahrenheit 451), foi baseado no romance de Aravind Adiga, vencedor do Prêmio
Booker de 2008. É uma história rica em várias interpretações: corrupção e
traição; a relação entre o sistema de castas que mantém os privilegiados em
lugares elevados e os pobres nas ruas e vilarejos em subempregos e a injustiça
sofrida por estes últimos em relação aos primeiros. Segundo Balram, na Índia, “o
empresário deve ser uma combinação de opostos: direto e desonesto, zombador e
crente, astuto e sincero”. Parte sátira, parte melodrama sombrio, O Tigre
Branco nos mostra, no início da narrativa, uma carta endereçada ao primeiro-ministro chinês,
que visita o país, escrita pelo protagonista (e, através de sua narração, os fatos de sua vida). Saberemos de antemão que ele se
tornou um rico empresário, saberemos que essa probabilidade seria quase nula e
saberemos que há um cartaz de Balram sendo procurado por homicídio, mas ele não
parece preocupado com esse último problema, ele aprendeu como as coisas
funcionam e como são resolvidas em seu país: o dinheiro corrompe, abre portas e
garante a segurança. E aulas de corrupção, ele teve ao vivo.
O que difere O Tigre Branco dos demais é o modo como Balram vai se transformando: ele compara seus pares a galinhas presas em um galinheiro que, inertes, esperam o dia de serem sacrificadas; ele tem uma família que lhe explora e tenta lhe conseguir um casamento arranjado: um irmão que está preso no “galinheiro” e parece que terá o mesmo destino do pai e uma avó que só pensa em dinheiro e prestígio. Um patrão, empresário e mafioso, que só lhe trata com dignidade quando quer algo dele. Ele simpatiza com o seu jovem patrão e a esposa deste, que tenta lhe mostrar que ele será aquilo que o sistema deseja, desde que ele não se rebele. Só que Balram é uma peça a ser descartada quando um grave problema surge. Ele sabe que conforme for sua atitude, toda a sua família sofrerá nas mãos da “Cegonha”, do “Mangusto” e de seus asseclas. Mas o que fazer quando Balram acredita que os fins justificam os meios?
Muitos criticaram a mensagem que o filme parece passar de que crime e violência seria a solução para uma sociedade corrompida e segregacionista. Mas os envolvidos quiseram mostrar, na verdade, que a sociedade cria seus “Baldrans” de tempos em tempos, “O Tigre Branco”, um animal albino, surge apenas de década em década. Quando criança, na escola, foi chamado de "Tigre Branco", um garoto diferente no meio de diversos. Balram considera-se uma espécie única, capaz de sair de uma sociedade que traça seu destino e cria sua própria linha de existência, do único jeito que conhece e do jeito mais fácil que aquele sistema permite. Com isso, o espectador, ao final do filme, fica com aquela sensação estranha, de que a mensagem do filme é perigosa e subversiva, mas antes de tudo é uma reflexão e um alerta para que essa sociedade de rígido código de divisão social perceba que uma ruptura pode estar mais próxima do que se imagina.
Quanto ao elenco, Adarsh Gourav fez um Baldram de múltiplas facetas, que passa do alegre ao triste e revoltado; do sorriso de ingenuidade ao sorriso de sarcasmo; ao rosto ora alegre, ora triste, ora raivoso. Mahesh Manjrekar, como o senhorio, por ser de uma casta “rica”, se apresenta como um homem que trata de forma humilhante quem considera inferior, sem se preocupar, uma sugestiva mensagem de como a sociedade funciona. Seus negócios são regidos através de subornos à empresas e ao mais alto escalão do governo. Rajkummar, interpretando Ashok, faz um jovem que estudou nos Estados Unidos e fica assustado como Balram é tratado, mas nem ele nem sua esposa salvarão Balram quando uma situação tornar-se limítrofe. Ainda que haja uma cumplicidade entre patrão e empregado, as posições sociais são bem claras quando determinadas situações surgem. O restante do elenco também está muito bem.
O Tigre Branco é um filme bem
reflexivo. Funciona por ter uma história muito bem escrita e uma condução que
nos faz parecer que estamos vendo um filme alegre, mas que começa a se tornar
sombrio a medida que avança. Sua mensagem, como já dito, pode ser assustadora para
algumas pessoas, assim como as atitudes e pensamentos do protagonista. Produção
que também trata das relações empregado e empregador. Foi indicado ao Oscar de
Melhor Filme e que também se sobressai na área técnica.
Trailer:
Curiosidades (o texto contém spoilers):
Cartazes:
Filmografias Parciais
Adarsh Gourav
Meu Nome é Khan (2010), Mãe (2017), Toothache (2017), O Tigre Branco (2021), Desencaixados (2023)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá Cinéfilos.
Obrigado por visitarem minha página.
Estejam à vontade para comentarem, tirarem dúvidas ou sugerirem análises.
Os comentários sofrem análises prévias para evitar spans. Tão logo sejam identificados, publicarei. Quaisquer dúvidas, verifiquem a Política de Conduta do blog.
Sua opinião e comentários são o termômetro do meu trabalho. Não esqueça de informar o seu nome para que possa responder.
Visitem a minha página homônima no Facebook onde coloco muitas curiosidades sobre cinema , séries e quadrinhos (se puderem curtir ajudaria). Comentários que tragam e-mails e telefones não serão postados
Bem-vindos.
Cinéfilos Para Sempre