A ESTRADA DA VIDA/ LA STRADA / THE ROAD (1954) - ITÁLIA

CADA UM DE NÓS PERCORRE UMA ESTRADA DA VIDA. SEJA DE FLORES, SEJA DE ESPINHOS

O filme conta a vida de Zampanó (Anthony Quinn) um homem bruto e insensível que compra Gelsomina (Giulietta Masina) da mãe que vive em condições miseráveis. Gelsomina passa a acompanhar Zampanó (Anthony Quinn 1915 - 2001), um artista itinerante, que vive de fazer shows solo e cuja maior façanha é arrebentar correntes com a força de seus pulmões inflados de ar.

Gelsomina sem ter para onde ir, vive suas noites em uma caçamba de caminhonete (improvisada como trailer por Zampanó), no meio da estrada, e até ao relento na rua. Zampanó não nutre, aparentemente, nenhum sentimento pela jovem (a atriz já estava com 33 anos na época do filme) a não ser como uma serviçal e ajudante em seus espetáculos. Ao encontrar o circo Giraffa, lhe é feito um convite para juntar-se aos saltimbancos, porém é criada uma inimizade imediata com "Il Matto" ("O Louco"), um equilibrista que caminha na corda bamba, o grande nome do circo. "Matto" começa a caçoar de Zimpanó, ao mesmo tempo em que atrai a simpatia de Gelsomina ao convidá-la para participar de um número. Após uma nova provocação de "Matto", Zimpanó o persegue com uma faca e acaba preso. Ambos são despedidos do circo, até que  certo dia acabam acidentalmente se encontrando e toda a mágoa de Zampanó vem à tona, provocando um evento que mudará para sempre a vida dos três personagens.

Filme do mestre italiano Federico Fellini (1920-1993) que soube tirar ótimas interpretações do trio central. Quinn está excelente no papel do brutamontes que acha que o mundo gira em torno de si. Masina faz a mulher sem esperanças, reduzida a uma força braçal e que não vê sentido em tudo que ocorre em sua vida e, ainda assim, não consegue largar Zampano. Basehart (o Almirante Nelson do famoso seriado “Viagem ao Fundo do Mar”) está irreconhecível como o artista zombeteiro, com uma risada histérica e com pouca instrução. Seu personagem, ainda que não seja o principal, será de suma importância na virada que a história dará.

Um filme a respeito do comportamento humano, do remorso, de não dar valor ao que se tem e as consequências de uma pessoa que rege sua vida através de bebedeiras e brigas. Atuações magistrais neste filme em preto e branco que possui um ritmo mais cadenciado, sem que o espectador saiba o que virá pela frente. As atuações de Quim e Masina (esposa de Fellini) consegue manter o espectador, enquanto o filme vai se desenrolando e mostrando qual a sua mensagem. Este é mais um filme considerado neo-realista, filmes após a 2ª guerra que utilizavam um tema de ficção com elementos do cotidiano, dois outros bons exemplos são “Ladrões de Bicicletas” e “Umberto D.”, ambos do diretor Vitorio De Sica, mas Fellini trazia algo que o distanciava do gênero: o estudo da alma humana  O filme ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (1957) e vários prêmios internacionais sendo considerado um dos melhores filmes do cineasta. Filme que vale muito a pena ser assistido.

Trailer:

Curiosidades:

Anthony Quinn estava trabalhando em um filme com Giulietta Masina quando ela o apresentou ao marido, Federico Fellini. Fellini se convenceu imediatamente de que o ator mexicano faria do Zampanò um perfeito homem forte para seu novo filme, que se tornaria A Estrada da Vida (1954), e implorou-lhe que aceitasse o papel. O ator perplexo, que não tinha ideia de quem era Fellini, inicialmente recusou, mas Fellini foi persistente, importunando-o por dias sobre o projeto. Pouco depois, Quinn passou a noite com Ingrid Bergman e seu marido, o diretor Roberto Rossellini. Após o jantar, os três assistiram ao mais recente filme de Fellini filme, a comédia-drama Os Boas Vidas (1953), e Quinn percebeu com espanto que o louco cineasta italiano que o perseguia há dias era um gênio.

Walt Disney expressou grande interesse em criar um filme de animação baseado em Gelsomina, e havia interesse de fabricantes de bonecas e empresas de doces em usar seu nome. "Eu poderia ter vivido de Gelsomina por vinte anos", disse Fellini.

Trilha sonora de Nino Rota e a fotografia preto e branco de Otello Matelli

Federico Fellini teve dificuldade para encontrar produtores que estivessem dispostos a apoiar o filme. Vários dos produtores que haviam financiado anteriormente o trabalho de Fellini sentiram que o roteiro era promissor, mas que o filme provavelmente não daria lucro. Outros apoiadores em potencial foram rejeitados pela insistência de Fellini de que sua esposa, Giulietta Masina, deveria desempenhar o papel de Gelsomina. Fellini começou a filmar o filme antes de qualquer financiador ter assinado oficialmente.

Ganhou o primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Anthony Quinn disse em uma entrevista alguns anos antes de sua morte que ele originalmente aceitou um acordo que lhe pagaria uma porcentagem dos lucros que este filme gerou em vez de um salário inicial. Quando seu agente descobriu, o agente mudou o acordo e insistiu em um salário adiantado e sem porcentagem. Quinn disse que essa decisão lhe custou vários milhões de dólares.

O diretor Federico Fellini admitiu que cada um dos personagens principais do filme representava os elementos. Zampanò representava a Terra, Gelsomina representava a Água e o Louco representava o Ar.

Muito cedo no processo de filmagem, Giulietta Masina sofreu uma grave entorse no tornozelo. Este foi potencialmente um revés bastante sério, já que o apoio financeiro do filme era tênue e os produtores inicialmente se opuseram à escolha de Masina. A lesão interrompeu a produção por várias semanas e levou a um conflito de agenda para Anthony Quinn, que havia assinado para interpretar o papel-título de A Invasão dos Bárbaros (1954). Em um movimento excepcionalmente gracioso, Quinn se ofereceu para continuar trabalhando neste filme para poupar a produção de mais contratempos. Ele suportou uma agenda extenuante, trabalhando para este filme de manhã e filmando Attila durante a noite.

Selecionado pelo Vaticano na categoria "arte" de sua lista de 45 "grandes filmes".

As vozes de Anthony Quinn e Richard Basehart foram dubladas em italiano por outros atores.

Bob Dylan disse que La Strada foi uma influência para sua música Mr. Tambourine Man.

Kris Kristofferson (Comboio) disse que este filme foi parte da inspiração para sua música "Bobby McGee".

Segundo entrevista a Giulietta Masina, ela contou que a ideia básica do filme veio de uma experiência. Ela e Fellini estavam dirigindo um carro em uma estrada de montanha, onde viram uma motocicleta na beira da estrada com um homem e uma mulher, ambos aparentemente em extrema pobreza. Essa imagem grudou neles e Fellini desenvolveu a história do filme.

O diretor Sam Peckinpah disse que La Strada era um filme que ele gostaria de ter feito.

O diretor Bille August cita "La Strada" como o filme que o fez querer trabalhar no cinema quando o viu ainda na escola.

Dino De Laurentiis e Carlo Ponti originalmente queriam Silvana Mangano (Arroz Amargo) , esposa de Dino, e Burt Lancaster como protagonistas.

Embora o filme tenha se tornado muito popular, o produtor Dino De Laurentiis menciona que não foi bem recebido em sua estreia no festival de Veneza.

Federico Fellini foi nomeado 12 vezes ao Oscar.

Cartazes:

Filmografia Parcial:

Anthony Quinn (1915-2001)

Tráfico Humano (1937); Lafitte, O Corsário (1938); O Tirano de Alcatraz (1938); A Ilha dos Renegados (1939); O Castelo Sinistro (1940); Dois Contra uma Cidade Inteira (1940); A Volta dos Mosqueteiros (1940); O Intrépido General Custer (1941); O Cisne Negro (1942); Consciências Mortas (1943); Buffalo Bill (1944); O Último Gangster (1944); Espírito Indomável (1945); Simbad, o Marujo (1947); Inferno nos Trópicos (1947); A Máscara do Vingador (1951); Viva Zapata! (1952); Contra Todas as Bandeiras (1952); Cidade Submersa (1953); A Estrada da Vida (1954); Ulysses (1954); O Salário do Pecado (1955); Sete Cidades de Ouro (1955); O Corcunda de Notre Dame (1956); Jornada Inesquecível (1957); A Orquídea Negra (1958); Minha Vontade é Lei (1959); Duelo de Titãs (1959); Sangue Sobre a Neve (1960); Os Canhões de Navarone (1961); Barrabás (1961); Réquiem Para um Lutador (1962); Lawrence da Arábia (1962); Zorba, o Grego (1964); Marco Polo, O Magnífico (1965); Os Canhões de San Sebastian (1968) As Sandálias do Pescador (1968); Maomé - O Mensageiro de Alá (1976); O Leão do Deserto (1980); Salamandra (1981); Vingança (1990); Febre da Selva (1991); Mamãe Não Quer que Eu Case (1991); Império do Crime (1991); O Último Grande Herói (1993); Hércules e as Amazonas (1994); Hércules em Busca do Reino Perdido (1994); Hércules e o Círculo de Fogo (1994); Hércules no Mundo dos Mortos (1994); Hércules E o Labirinto do Minotauro (1994); Missão Perigosa (2002).

Giulietta Masina (1921–1994)

Sem Piedade (1948); Mulheres e Luzes (1950); Janelas Fechadas (1951); Wanda, A Pecadora (1952); Tortura de Duas Almas (1953); Mulheres Proibidas (1954); A Estrada da Vida (1954); Boa Noite, Sr. Advogado (1955); A Trapaça (1955); Noites de Cabíria (1957); Inferno na Cidade (1959) Julieta dos Espíritos (1965); A Louca de Chaillot (1969); Ginger e Fred (1986); Um Dia Para Não Esquecer (1991)

Richard Basehart   (1914-1984)

A Estrada da Vida (1954); A Trapaça (1955); Moby Dick (1956);  Os Irmãos Karamazov (1958); Cidade Nua (1962); Os Reis do Sol (1963); Viagem ao Fundo do Mar (seriado 1964-1968);  O Único Sobrevivente; (1970); A Fuga dos Homens Pássaros (1971); O Caçador de Recompensas (1972); Pânico em Munique (1976); Degraus Para o Passado (1976); A Ilha do Dr. Moreau (1977);  Muito Além do Jardim (1979); Os Grandes Heróis da Bíblia (1979).

ARROZ AMARGO - RISO AMARO - BITTER RICE (1949) - ITÁLIA

O ARROZ DA DISCÓRDIA NA VISÃO DO NEORREALISMO

Roteiro escrito a seis mãos, Arroz Amargo é um filme Italiano, em preto e branco, feito no pós-guerra (1945), que participou de um movimento chamado Neorrealismo que nos brindou com filmes memoráveis como “Umberto D” e “Ladrões de Bicicletas”. Aqui, o filme começa com a dupla Walter  (Vittorio Gassman) e  Francesca (Doris Dowling), fugindo da polícia por terem roubado um valioso colar. Eles se encontram em uma estação de trem que  levará mulheres apelidadas de "mondines" para o norte da Itália onde, durante o mês de maio, de toda parte do país e profissões, são contratadas para cultivar o arroz, recebendo seu pagamento parte em dinheiro parte no próprio resultado do cultivo. As mulheres trabalham o dia inteiro, com o sol sob os ombros e água até o joelho, para a noite dormirem em colchões de palhas confeccionados por elas próprias. A polícia fica de tocaia no local e localiza Walter, que tenta escapar, deixando o produto do roubo com Francesca.

   

Tentando se ocultar na multidão, Walter vê Silvana (Silvana Mangano) dançando alegremente antes do embarque e passa a participar da dança, atraindo a atenção da jovem. Sendo desmascarado, foge e consegue falar com Francesca orientando-a para que embarque no trem com o colar que depois a localizará. Francesca trava uma amizade com Silvana que resolve ajudá-la, após ver Walter conversando com ela. Chegando ao local, tornam-se amigas e Francesca conhece o sargento Marco, que nutre sentimentos por Silvana, mas não é correspondido. Francesca sente uma atração não correspondida por Walter. Quando Francesca dá por si, percebe que Silvana lhe roubou o colar. Silvana a devolve com a intervenção de Marco que fique sabendo da origem do colar, mas resolve não revelar nada até que Walter chega ao arrozal com outras intenções em mente.

            

Na verdade Arroz Amargo não é um bom filme, muito em parte por abandonar sua primordialidade, que seria a denúncia social acerca das condições que as pessoas eram obrigadas a se sujeitarem, para enveredar pelo campo do romance melodramático, com toques de um leve suspense. Com a produção de Dino de Laurentis, o filme investiu em uma boa quantidade de extras para simular o cultivo, dando ao filme em determinados momentos o aspecto de documentário, que por sinal fica bem explícito quando o locutor da rádio (Lamberto Maggiorani , protagonista de “Ladrões de Bicicletas”) explica como se dá toda a situação da época.

A produção se apoiou no quarteto amoroso e privilegiou em closes fartos a exuberância da atriz Silvana Mangano, que se tornaria musa e símbolo sexual, sendo lembrada até hoje entre as grandes atrizes do cinema. Silvana, na época, tinha dezoito anos e foi esposa de Laurentis. Sem dúvida a beleza de Silvana foi o grande atrativo deste filme que não se define muito bem e que tem um início muito lento e sem graça. Após uns cinquenta minutos, o longa torna-se mais atrativo e gera a curiosidade de saber será o seu final, já que Silvana apaixona-se por Walter e aceita acompanhá-lo em seu planejamento de crimes. A jovem fica enfeitiçada por sua vida bandida e a possibilidade de ficar rica. 

 

 

O filme até trabalha bem essa dualidade de desejos que Silvana possui: ao mesmo tempo em que é uma pessoa de bom coração, mas com a cabeça fraca, nutre desejos de riquezas e sabe que, para isso, coisas erradas deverão ser feitas. Francesca é o oposto de Silvana: é cúmplice de um roubo por amor a Walter, que a ignora, pois não tem mais serventia. Francesca ajuda quem precisa e tentar desviar Silvana de Walter para evitar um mesmo destino que o dela ou porque ainda está presa emocionalmente ao cafajeste. Marco (Raf Vallone) é um oficial de uma guerra Itália arrasada, sem glórias, a procura de vida em mundo melhor. Percebe que seu país passa por problemas sociais sérios e deseja viver em outro continente tendo Silvana ao seu lado, mas a jovem não o vê como alguém financeiramente viável.

          

Se você chegou até este ponto, após o que foi narrado acima, o filme pode até não parecer tão ruim, mas infelizmente não é bom. As situações dos personagens são previsíveis, a atuação de Raf Vallone é, em certos momentos, teatral como se estivesse numa peça recitando uma fala. Os diversos coadjuvantes em nada contribuem e chegam a serem até chatos. Se salva o final interessante, os três protagonistas (Vittorio, Doris e Silvana), mas foge do intento: mostrar a realidade social da época, centralizada na opressão que essas mulheres vivIam,  com uma visão mais profunda e reflexiva. 

Trailer:

Curiosidades:

Silvana estreou em 1947 em “O Elixir do Amor”, um ano antes vencera o Miss Itália

Silvana morreu em 16/12/89, aos 59 anos, de parada cardíaca, em consequência de uma operação que a deixou em coma para o tratamento de um câncer mediastino (divisão membranosa entre os pulmões)

Neo-Realismo (simplificando: eram criados filmes de ficção; colocadas situações do cotidiano que visavam mostrar o panorama da época, além da critica pelo momento que o país e seus habitantes passavam)

A palavra italiana "riso" tem dois significados. Um significado é "arroz" e o outro é "riso". O título "Arroz amargo" pode ser facilmente traduzido como "riso amargo".

A atriz Lucia Bosé foi a primeira escolha do diretor Giuseppe De Santis para o papel de Silvana. Até que ele conheceu Silvana Mangano por acaso e decidiu colocá-la no filme. De Santis também queria que Mangano aparecesse em sua próxima produção, "Páscoa de Sangue" (1950), mas quando ela engravidou, foi substituída por Bosé.

Cartazes:

Filmografia Parcial:

Vittorio Gassman (1922–2000)

À Beira da Perdição (1947); A Filha do Capitão (1947); O Homem Sem Pátria (1948); O Cavaleiro Misterioso (1948); Arroz Amargo (1949); O Lobo da Montanha (1949); Giuliano, O Bandido da Sicília (1950); O Príncipe Pirata (1950); O Sonho do Zorro (1952); Mercado de Mulheres (1952); A Muralha da Esperança (1953); Jornada Cruel (1953); Rapsódia (1954); Mambo (1954); Guerra e Paz (1956); Otello (1957); O Milagre (1959); As Surpresas do Amor (1959); Sua Excelência o Trapaceiro (1960); Crime em Montecarlo (1960); Fantasmas em Roma (1961); Barrabás (1961); Alma Negra (1962); Por um Milhão de Dólares (1965); A Guerra Secreta (1965); O Incrível Exército Brancaleone (1966); Fantasmas à Italiana (1967); O Profeta (1968) A Ovelha Negra (1968); O Álibi (1969); Brancaleone nas Cruzadas (1970); Perfume de Mulher (1974); À Meia-Noite, a Ronda do Prazer (1975); O Deserto dos Tártaros (1976); Almas Perdidas (1977); Cerimônia de Casamento (1978); Quinteto (1979); A Bomba Que Desnuda (1980); Caçada em Atlanta (1981); A Família (1987); Armadilhas do Poder (1990); Sherazade (1990); Sleepers: A Vingança Adormecida (1996); O Jantar (1998); 

LADRÕES DE BICICLETA / LADRI DI BICICLETTE / BICYCLE THIEVES (1948) - ITALIA

PUNGENTE RETRATO DOS DESAFORTUNADOS DA ITÁLIA PÓS-GUERRA

Antonio Ricci (Lamberto Maggiorani) é um desempregado entre milhares em uma Itália pós-guerra.  Durante sua procura diária por uma ocupação surge uma vaga de colador de cartazes de cinema. Para tal cargo há uma exigência: o empregado deve possuir uma bicicleta.  Antonio consegue a vaga e para  reaver a bicicleta que penhorara para ajudar no sustento da casa recebe a ajuda da esposa, que vende os lençóis de casa. A vida parece começar a caminhar nos trilhos até que, durante seu trabalho, não consegue evitar que sua bicicleta seja furtada. Antonio e seu pequeno filho, Bruno (Enzo Staiola), iniciam uma peregrinação pelas ruas de Roma na tentativa de encontrar sua bicicleta.

Sempre nas listas de melhores filmes de todos os tempos, Ladrões de Bicicleta (título traduzido corretamente  para o português e erroneamente para o inglês na época) tornou-se um clássico para uma geração de cineastas. Vittorio De Sica (do excelente Umberto D) mostrou um dos mais pungentes painéis sociais de uma Itália arruinada economicamente pela guerra (1945) e a influência no cotidiano dessas pessoas. Orson Wells (Cidadão Kane) alardeou que teria sido o melhor filme que vira na vida; Etore Escola dizia que o filme foi a razão de se tornar cineasta; Woody Allen o coloca entre os 10 Melhores de Todos os Tempos;  Martin Scorsese criou uma lista de “39 filmes estrangeiros essenciais para um jovem cineasta”, onde coloca o filme em 11º.

Expoente máximo do que se classificou como neo-realismo, um movimento cinematográfico que expunha as mazelas sociais de uma forma realista, simples e com comprometimento da realidade, Ladrões de Bicicleta parte de um evento aparentemente trivial para elevar o tema à tragédia grega. Antonio vai resgatar sua bicicleta numa loja de penhores e há uma centena delas (bicicletas eram caras e penhoras eram uma saída). Tem a bicicleta roubada, vai a delegacia e a polícia apenas faz o registro. Pede ajuda a um amigo que o leva numa feira de venda bicicletas e de peças para que tente identifica-la pelo número de registro. Há milhares delas. Sem bicicleta, sem emprego.

E é na peregrinação de Antonio e do pequeno Bruno que vemos o desespero, a ansiedade e a desesperança.  Antônio tem que reaver a bicicleta a todo custo. Tem uma família, conseguira um emprego para sustenta-la, vendera o que tinha de valor em casa para usá-la e uma pessoa a furtara. Enquanto seu desespero segue uma espiral crescente, suas chances seguem inversamente proporcionais. Enzo leva o pequeno Bruno a um restaurante, De Sica mostra o contraste entre a burguesia e o povo.  Uma simples bicicleta para muitos, para Antônio significa a subsistência de sua família, uma chance de atravessar dignamente uma economia arrasada com milhares de pessoas desesperadas por um emprego.

A escolha de um elenco predominante amador fez toda a diferença. Apesar de ser uma característica básica do neo-realismo De Sica conseguiu extrair pungência da dupla central (pode ser vista também como uma grande história de pai e filho) e o espectador  não tem como ficar indiferente a inevitável tragédia que vai cercando Antônio e ao olhar de desespero do pequeno Bruno perto do final. Uma obra tocante de rara sensibilidade e que mesmo em preto e branco, dos anos 40, ainda tem uma tremenda força narrativa, pois leva a reflexão sobre o que é justiça, sobre como vemos uma situação por um ponto de vista sem conhecer completamente o seu contexto.

Trailer:

Curiosidades:

Em italiano, o título é Ladri di Biciclette / Ladrões de Bicicleta. Quando exibido nos EUA recebeu o título de “The Bicycle Thief” / O Ladrão de Bicicleta. Só que no singular seria “Ladro di bicicletta.”. Erro de tradução ou o distribuidor viu o filme e percebeu tratar-se de apenas um ladrão a furtar a bicicleta ? No Reino Unido recebeu a tradução correta: “Bicycle Thieves”. Atualmente é conhecido nos EUA como “Bicycle Thieves”

Lamberto Maggiorani era operário em uma fábrica antes do filme.

Vagamente baseado no livro de Luigi Bartolini (1946)

Enquanto buscava financiamento para o filme De Sica recebeu uma proposta do produtor David O. Selznick, de "E o Vento Levou" e "Rebecca, A Mulher Inesquecível": ter Cary Grant no papel principal. De Sica declinou da oferta por achar Grant fora do biotipo que desejava para o papel

O famoso diretor de cinema Sergio Leone trabalhou como assistente de Vittorio De Sica durante as filmagens deste filme. Ele também tem uma pequena aparição como um dos padres que estão ao lado de Bruno e Antonio durante a tempestade.

Vittorio De Sica escalou Enzo Staiola, de 8 anos, quando percebeu o garoto assistindo a produção do filme em uma rua enquanto ajudava seu pai a vender flores.

Vittorio De Sica (1901–1974)  ganhou 4 Oscars:  Vítimas da Tormenta - Oscar honorário (1948); Ladrões de Bicicleta - Oscar honorário (1950);  Ontem, Hoje e Amanhã (1965); O Jardim onde Vivemos (1972)

No início não havia no Oscar categorias separadas para filmes estrangeiros. Entre 1948 e 1956, a Academia concedeu Prêmios Honorários. A partir de 1957 foi criada uma categoria para produções estrangeiras que dura até hoje 

Enzo Staiola 

Prêmios:
Globo de Ouro 1950
BAFTA Awards 1950
Bodil Awards 1951
Cinema Writers Circle Awards, Spain 1951
Italian National Syndicate of Film Journalists 1949
Kinema Junpo Awards 1951
Locarno International Film Festival 1949
National Board of Review, USA 1949
New York Film Critics Circle Awards 1949
Online Film & Television Association 2008
 

Filmografia Parcial: 
Lamberto Maggiorani (1909–1983)
 

Ladrões de Bicicletas (1948); Mulheres Sem Nome (1950); A Rebelde (1951); Ana (1951); Humberto D. (1952); Totó Fora da Lei (1956); O Juízo Universal (1961); Mamma Roma (1962); Mar Louco (1963); Ostia (1970)


Enzo Staiola (1939 - )
 
 










Ladrões de Bicicletas (1948); Vulcão de Paixões (1949); Vulcano (1950); O Drama da Linha Branca (1950); Façam Seu Jogo Senhores (1951); Outros Tempos (1952); O Regresso de Don Camilo (1953); A Condessa Descalça (1954); La ragazza dal pigiama giallo (1977)